Napoleão de Hospício

Ultrajano

Luiz Antonio do Nascimento

Afinal, então, o que estará planejando esse maldito mentiroso e malvisto presidente que destrói o país? As paredes do Alvorada ouvem-no roncar em noites mal dormidas e curtas, repletas de pesadelos. As do Planalto apenas escutam piadas infames para animar puxa-sacos, protestos silenciosos contra aqueles que fizeram dele um refém de ocasião e cochichos ardilosos sobre seu futuro

Estamos a menos de um ano das eleições mais aguardadas – e relevantes – na história do Brasil. Para ser exato, precisamente 11 meses. Pelo calendário oficial, o primeiro turno deve acontecer dia 2 de outubro de 2022 e o segundo, se houver necessidade, dia 30 do mesmo mês. Levando em conta todas as pesquisas e descartando as ameaças inadmissíveis de Bolsonaro de confrontar as leis, a faixa presidencial voltará ao peito de Lula no primeiro dia de 2023.

Um estudo recente revela que 12% do eleitorado não votará nem em Lula nem em Bolsonaro. E é atrás dessas migalhas que, como pombos famintos, proliferam candidatos por todo lado pregando na testa o cartaz da terceira via viável, tão cobiçada principalmente pelas elites arrependidas do apoio dado a Bolsonaro. Até o cabo Daciolo já anunciou que vai disputar a presidência novamente.

Lula está nas ruas. Percorre o Brasil para recuperar o tempo perdido por causa da armação sórdida que o tirou da campanha de 2018. E Bolsonaro? Bem, ele está na Itália como um “Napoleão de hospício” nas palavras do deputado federal Orlando Silva. Participou do G-20, reunião dos líderes das 20 maiores economias do mundo, como um bufão sem graça, completamente deslocado e desconfortável.

Nem como bufão o homem serve. É um palhaço do mal, faz chorar. Foi hostilizado nas ruas de Roma e estimulou agressões a repórteres que tentavam entrevistá-lo. Tratado como um pária na reunião, nem apareceu na foto de despedida do evento. Só conversou informalmente com a chanceler alemã, a quem confessou que seu principal problema é a inflação; e com seu similar da Turquia, a quem disparou mentiras contando que tem um apoio popular muito grande, a economia está crescendo fortemente, a vacinação está bem avançada e a Petrobras é um problema.

Problema é ele. Nesta segunda-feira, “Napoleão” deve receber o título de cidadão honorário de Anguillara Veneta, terra de seu bisavô paterno, no Norte da Itália. Não será uma cerimônia tranquila. No fim da semana, ativistas jogaram esterco e picharam a sede da prefeitura contra a homenagem. Bolsonaro retornará logo depois ao Brasil. Ele decidiu não participar da conferência do clima, na Escócia, porque, segundo o vice Mourão, “iriam jogar muitas pedras nele”.

Afinal, então, o que estará planejando esse maldito mentiroso e malvisto presidente que destrói o país? As paredes do Alvorada ouvem-no roncar em noites mal dormidas e curtas, repletas de pesadelos. As do Planalto apenas escutam piadas infames para animar puxa-sacos, protestos silenciosos contra aqueles que fizeram dele um refém de ocasião e cochichos ardilosos sobre seu futuro.

Nem partido tem. Quis criar o seu próprio, fracassou. Colocou seu nome em leilão e o resultado não foi animador. E quem o acompanhará nessa caminhada? O vice Mourão, segundo Bolsonaro, “o cunhado que você tem de aturar, não pode mandar embora”, é carta fora do baralho. Fala-se em Brasília até no nome da destrambelhada Damares Alves, ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. É mulher, conservadora, evangélica, fundamentalista religiosa e não tão rejeitada assim…

Nosso “Napoleão de hospício” joga suas últimas fichas para não perder a guerra. Anunciou com estardalhaço o Auxílio Brasil, programa eleitoreiro para substituir o Bolsa Família. Prometeu um mínimo de R$ 400 por mês. Mas vai dar um aumento médio de 17,84% sobre o valor do Bolsa Família. E ninguém sabe ainda de onde virá o dinheiro, porque furar o teto de gastos pode arrebentar de vez com a economia. Além disso, espera que os números decrescentes de mortes na pandemia o ajudem e façam as pessoas esquecerem o quanto foi omisso, incompetente e criminoso.

Há quem diga que ele nem passará do primeiro turno. Como escapar da inflação galopante, do desemprego crescente e dos crimes que lhe foram atribuídos pela CPI da Pandemia? Há quem diga também que já sabe que a guerra está perdida. Talvez por isso ande esperneando tanto e manifestando um apetite voraz pela destruição. Quer entregar um país arruinado, essa sim uma herança maldita para o próximo governo, que, por mais eficiente que seja, não conseguirá consertar tudo que foi arrasado num único mandato. E o infeliz posará como um crítico feroz atribuindo ao sucessor as mazelas em série que ele próprio produziu.

Para completar, perguntas que nem precisam de respostas sobre como o presidente cuida, protege e ajuda amigos e parentes.

– O que foi fazer o 02 na Itália? O mesmo que o 03 fez em Dubai?

– Como a filha entrou pela janela, sem concurso, no Colégio Militar de Brasília?

– Por que um avião da FAB foi usado para transportar sete parentes e mais o maquiador da primeira dama?

– E o que dizer de Pazuello, que há um ano e meio mora no Hotel de Trânsito de Oficiais do Exército, em Brasília, quando as regras determinam o tempo máximo de 30 dias?

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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