Navalha na carne

O que mais ouvi ontem sobre o escândalo da carne brasileira é a disposição de ser vegetariano, na melhor hipótese derivar para o peixe. Em seguida, inevitável, a aspiração – irresponsável e imediatista – pela volta do regime militar. Dirigir a indignação para a causa associada ao escândalo da carne e prometer a retaliação correspondente, ninguém faz: votar melhor e combater os que estão por aí, alimentando-se de nossa carne.

Os calouros de medicina veterinária da PUC/PR ficaram sem graça com a queixa do professor: de 100 deles, só 5 mostraram interesse pela área de vigilância sanitária, a assessoria no abate dos frigoríficos. A imensa maioria prefere a clínica e cirurgia de animais domésticos – ou de companhia, na linguagem atual -, silvestres e selvagens. O risco, dizia o mestre, é a perda de espaço de trabalho para os engenheiros de alimentos. Nisso, nem Toni Ramos ajuda.

A bisteca de porco estava deliciosa – quando não está? Erro, só um, comentar com a moça natureba, agastada com o escândalo dos frigoríficos. Bióloga de formação, deitou a falar sobre os suínos. São os mais inteligentes e sensíveis dos animais de abate; pressentem a morte e seu guincho de dor toca o coração. O sabor da carne é tão real quanto a angústia do animal abatido. Quem já ouviu, não esquece. Que fazer, a carne é fraca.

Rogério Distéfano

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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