Nove anos sem Rubem

No dia 19 de julho passado fez nove anos que Rubem Alves nos deixou. Fisicamente, porque espiritualmente continua e continuará presente. Suas lições e seus pensamentos permanecerão vivos e será sempre uma alegria usufrui-los e compartilhá-los.

É sempre bom e proveitoso lembrarmos os ensinamentos de Rubem, um mestre que morreu contrariado porque tinha um caso de amor com a vida.

Por exemplo, como educador, ele tinha a educação acima de tudo. Dizia que a educação era a paixão que queimava dentro dele. No entanto, olhava as escolas com desconfiança. Aliás, achava que as escolas, de um modo geral, não gostam dos alunos. Ou, por outra, são “burras”: “Computadores, satélites, parabólicas e televisões não substituem o cérebro. Panelas novas não transformam um cozinheiro ruim em cozinheiros bom”.

Achava, também, ser um equívoco pensar que (só) com mais verbas a educação ficará melhor, que os alunos aprenderão mais e os professores ficarão mais felizes: “Educação não se faz com dinheiro. Educação se faz com inteligência”. Até porque, no seu entender, “ser educado não significa ter diploma superior. Significa ter a capacidade de pensar”.

De um modo geral, o pensamento avançado de Rubem Alves desafiava o senso comum. Contava ele que uma vez sugeriu, em uma reunião de docentes da Unicamp, que cada estudante cursando um curso universitário ‘nobre’, “deveria, ao mesmo tempo, aprender um ofício que seria oferecido pela própria universidade: marceneiro, jardineiro, serralheiro, mecânico, pedreiro, pintor…” Acharam que era gozação dele. Não era.

Não por acaso, encontramos hoje engenheiros, advogados e professores, entre outros diplomados em cursos superiores, dirigindo úberes ou vendendo cachorro quente.

Rubem ficaria feliz se tivesse conhecido meu avô materno, Guilherme Lorenzen. Quando ele saiu de Berlim, na Alemanha, com menos de oito anos de idade, além de fazer o curso primário, já aprendia o ofício de marceneiro e a tocar harmônica de boca. Lá era obrigatório o ensino de um ofício e de um instrumento musical.

Mudando o foco da questão, o que diria hoje Rubem Alves da destruição da Amazônia e da Mata Atlântica? O que já disse um dia. Para ele, a Natureza sonha: “Montanhas, florestas, mares, ares, lagos, nuvens, cacheiras, animais, flores – todos sonham um mesmo sonho. Sonham que chegará um dia em que os seres humanos desaparecerão da face da terra. Quando isso acontecer, será a felicidade. A Natureza estará, finalmente, livre dos demônios que a destroem. A Natureza, então, tranquilamente, sem pressa, se curará das feridas que nós lhe causamos”.

Sabia Rubem que, em tempos passados, o cenário era outro: “Os campos eram matas verdes, onde corriam riachos de águas frescas, cheias de samambaias, avencas, orquídeas, bichos e aves de todo o tipo.” Justificava: “Onde há matas, há água. Onde há água, há vida. As matas foram cortadas por homens empreendedores, progressistas, amantes dos lucros e curtos de visão. Uma árvore em pé não vale nada. Uma árvore no chão vale dinheiro”.

Ah, quanta falta você nos faz, saudoso Rubem! Sobretudo neste mundo confuso e sem rumo em que vivemos.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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