Novo bilhete para Luiz Inácio

Companheiro presidente:

Lestes o editorial do Estadão do final de semana? O pessoal do centenário jornal paulista está tão preocupado quanto nós com a vossa atual postura, para não dizer desgoverno. “Lula ‘perdido’ da Silva” é o título do editorial.

No texto, o editorialista atinge o cerne da questão já no primeiro parágrafo: “É difícil acompanhar a política nacional e não se espantar com o fato de que o governo do Presidente Lula da Silva não completou cinco meses, mas já está imerso em confusões que fazem parecer precocemente envelhecido, como se já estivesse padecendo da fadiga de material típica de fim de mandato”.

Assinala que “Lula parece perdido”. Queria governar o país pela terceira vez, submetera-se ao desgaste de uma violenta campanha eleitoral, mas “ainda não sabe exatamente para quê”. E a publicação indaga aonde Lula quer levar o Brasil? “Qual seu plano estratégico para o País?”

É isso aí, companheiro. Estamos todos, vossos eleitores de 2022, querendo uma resposta.

Outro dia, dissestes que “não voltaria à Presidência para ser menor” do que fora nos mandatos anteriores. Mas é o que estás fazendo, Luiz Inácio. Parece ter entregue o governo para o Centrão e o comando ao Arthur Lira. Vejas o que estão tentando fazer com os ministérios do Meio Ambiente e dos Povos Indígenas, bem na vossa frente!

Enquanto isso, V. Exª. corres o mundo, levas a vossa Janja para passear, brigas com o Banco Central e preocupa-se com a guerra na Ucrânia. Por seus turnos, a garimpagem criminosa permanece nas terras yanomamis e até o MST continua fazendo das deles. Cadê a autoridade, excelência?

Pior do que isso é bajulares delinquentes como Nicoláu Maduro e depois seres repreendido, em vossa própria casa, pelos presidentes do Uruguai e do Chile…

Estás cansado, presidente? Desestimulado? Doente? Ou apenas perdestes o ânimo de governar, sem paciência para enfrentar os “picaretas” do Congresso? Se sim, faças o seguinte: entregues o bastão para o Geraldo (ele tem experiência e gana) e fiques acomodado na arquibancada, fazendo carinhos na Janja. Podes até, de vez em quando, dar uns palpites – ainda que infelizes, como a indicação do Cristiano Zanin, para o Supremo Tribunal Federal. Vossa missão principal – que era livrar o Brasil do psicopata e homicida – já foi cumprida.

P.S. I – O excelente escritor moçambicano Mia Couto, em entrevista para a revista Veja, recomenda certa paciência com Lula ainda: “Não são apenas temas de ordem política e administrativa que estão em jogo. Nos encontramos hoje diante de um Brasil profundamente rachado e isso, para mudar, leva tempo. Lula vai precisar consolidar uma democracia escutando adversários, cedendo, tecendo alianças. Será necessário estar junto daqueles que não são da mesma cor política em prol de um projeto de país. Não há espaço para cultivar a arrogância”. Entendeu, Lula?

P.S. II – Com esta coluna, o colunista entra em merecidas férias. Não sabe quando voltará. Talvez quando Lula recomeçar a governar. Ou tirar o time de campo. Os meus nove leitores nem sentirão a falta.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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