O assédio à filha de Bolsonaro

Antibolsonaristas utilizam as mesmas ferramentas de ódio que seus opositores

O nome da filha do ex-presidente Jair Bolsonaro foi parar nos trending topics do ex-Twitter. Para quem não é letrado nos paranauês das redes sociais, significa que era um dos assuntos mais comentados, nesta segunda (16). O mundo de cabeça para baixo e uma menina vira pauta. Não recorro aqui ao erro de milhares de pessoas que expuseram uma adolescente de 13 anos, por isso não a trato pelo nome. Erro, não, pura maldade na maioria dos casos, crime em alguns.

Num vídeo em que ela aparece rodeada pelo pais, na comemoração de seu aniversário, a garota se mostra da mesma forma que a vimos desde a primeira vez, quando ainda era criança: retraída. O seu comportamento pode ser qualquer coisa, timidez, aversão a fotos e vídeos, mau humor por causa da celebração. Não importa.

Trata-se de uma menina que, diferentemente de milhares que por escolha própria usam as redes para postar o look do dia ou a dancinha do momento, vive uma exposição à revelia. Mas vira alvo de opositores de Bolsonaro, que não poupam a vulnerabilidade de sua filha, chamada de coitada, feia, rabugenta, sapatão. Os mesmos que promovem cancelamentos contra quem consideram assediadores, machistas, homofóbicos.

Comportamento torpe que viola uma meia dúzia de artigos do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), como aquele que diz ser dever da sociedade assegurar a dignidade e o respeito ou outro que aponta a necessidade de preservação de imagem e de identidade, que proíbe qualquer tratamento vexatório ou constrangedor de menores de idade. Nada disso foi garantido a uma menina que viu seu nome sair dos teclados dos animais direto para os holofotes da internet.

É desolador que parte da esquerda antibolsonarista utilize da mesmas ferramentas de ódio que seus opositores. Mas não surpreende, não é de hoje que esses extremos andam de mãos dadas. Aos amigos, justiça social. Aos inimigos, machismo, racismo, homofobia, assédio.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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