A vida vicária

Funciona assim: o casal famoso termina o casamento de 20 anos e anuncia pela internet, com a praxe da declaração de que continuam amigos que se amam pelo bem dos filhos. Depois, com a propagação em milhões de sites, o casal participa de programa de televisão de grande audiência para contar as circunstâncias da separação, do porquê de não continuarem juntos, não obstante tenham compromissos agendados para shows no Exterior, que cumprirão – em quartos separados, I presume. Da entrevista na televisão sobram fotos, a mulher desenxabida não consegue esconder a tristeza e o constrangimento; o marido faz cara de esperto, de bem com a vida, gozando os últimos momentos da fama que veio com o casamento.

Refiro-me a Sandy, a cantora e seu marido, que expuseram a intimidade que alimenta a mídia. Ainda que midiática e mercenária, a crônica da separação foi contida, diferente das de prostituição explícita e do exibicionismo sexual das celebridades no ocaso, dos dotes viris ostentados pelos cantores sertanejos e das trivialidades tolas e amenas de artistas de segunda extração. É a vida vicária, por substituição, quando o famoso sopita a frustração, nutre o sonho e aplaca a curiosidade doentia do público. P. T. Barnum, o grande empresário circense dos EUA, dizia que “nunca perdeu dinheiro quem apostou na burrice do povo dos EUA”. No Brasil também gostamos de circo – mas somos mais inteligentes.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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