O “poço de virtudes”

Aos poucos, vai se revelando o verdadeiro “poço de virtudes” que foi o desgoverno Bolsonaro. Sabe-se, agora, que até o “cercadinho”, onde o presidente recebia a adulação dos apoiadores, era pago. Com cartão corporativo – quer dizer, com o nosso dinheiro. O mesmo aconteceu quando das “motociatas”. Os componentes recebiam lanches fartos. Pagos com o cartão corporativo da presidência. Até uma hospedagem em hotel de luxo do filhinho Carlos, em São Paulo, foi quitada com o mesmo cartão. Por nossa conta.

Soube-se também que a minuta de golpe através da decretação de estado de emergência no Tribunal Superior Eleitoral, com o objetivo de mudar o resultado da eleição presidencial, encontrada na casa de Anderson Torres, não era uma brincadeirinha, como se disse, pois já circulara por vários ministérios.

Não obstante, isso tudo é “fichinha” comparado ao cardápio de crimes arrolado pelo colunista Ruy Castro, envolvendo o capitão fugitivo: “genocídio dos yanomamis, contrabando de madeira, garimpo ilegal, assassinato de sertanistas, intimidade com milicianos, arsenais domésticos clandestinos, cocaína no avião presidencial, Viagra e próteses penianas para generais, venda de cloroquina, comissão na aquisição de vacinas, Bíblias a peso de ouro, rachadinhas, compra de mansões com dinheiro vivo, cheques para a primeira dama, militares com salários de seis dígitos, (…) empresários financiadores de terrorismo, etc. etc”, além das já citadas mamatas com o cartão corporativo.

Não por acaso, agora o “poço de virtudes” está se borrando de medo de ser preso. Mandou a mulher Michelle de volta ao Brasil e continua acoitado na Flórida. Mas ele tem outro problema: o seu visto oficial (de presidente da República) venceu no final de janeiro. E, para não regressar ao Brasil, está tentando, lá mesmo nos EUA, arrumar um visto de turista. Então surgiu mais um problema: segundo o advogado do ex-presidente, novo visto de turista é um processo demorado, que pode levar até quatro meses… E aí, como ficamos?

Como o nome do “virtuoso”, por sugestão da Procuradoria Geral da República, foi acolhido pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF, para figurar no inquérito que investiga a incentivo e autoria intelectual dos atos terroristas de 8 de janeiro, ele teme receber ordem de prisão assim que pisar novamente no Brasil.

Mas, por que o receio?! Afinal, como sempre se jactava, ele não pautou todo o seu mandato presidencial pela legalidade, probidade, combate ao crime, aos brigadistas e aos desordeiros, tal qual à pandemia; pela ajuda aos pobres e aos desvalidos, proteção aos indígenas e às minorias LGBTQIAP+, e apoio desmedido à saúde, à educação, à cultura e à segurança pública – tudo em nome do Senhor Jesus?…

Então, por que o pavor de ser preso?! Ele deveria ter medo daqueles que Ruy Castro identifica como “homens de bem”, aqueles “patriotas” que, em seu nome, vandalizaram o Supremo Tribunal Federal, o Palácio do Planalto e o Congresso Federal. Esses estão sendo presos agora e obrigados a ressarcir os cofres públicos, com o bloqueio de bens, pela invasão e depredação cometidas. Imagina se, no desespero, eles começam a “colocar a boca no trombone”!

Volta Bolsonaro! Na Terra de Pindorama, os seus saudosos apoiadores – que estão minguando a olhos vistos, pela sua ausência – o aguardam com incontida emoção. E o Judiciário também.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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