O Procurador Santos Lima e os Ratos

Um dos principais investigadores da Lava Jato, o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima vem recorrendo a expressões fortes para descrever políticos e autoridades. Longe da posição altaneira do juiz Sérgio Moro ou das frases algo ingênuas do rei do power point, o procurador Deltan Dellagnol, Santos Lima já chamou Michel Temer de leviano e, recentemente, aludiu a políticos que investem contra o andamento da Operação o comportamento de “ratos”.

O Conselho Nacional do Ministério Público já o advertiu para amenizar a linguagem, o que não o intimidou, pelo contrário. E o Procurador está certo, certíssimo. Força de expressão não deve ser motivo para calar, intimidar, ameaçar ou processar quem quer se seja. Além de bater de frente contra a liberdade de opinião – essencial para a democracia – embaralha o limite entre o que deve e não deve ser dito e aí se entra no perigoso terreno do julgamento subjetivo.

Há que se imaginar o efeito, por exemplo, se todos os políticos empenhados em “corrigir” os rumos da Lava Jato se sentissem ofendidos pela expressão “ratos” e processassem o procurador Santos Lima por dano moral. E se uma decisão judicial favorável aos políticos surpreendesse o Procurador daqui há 12 anos, obrigando-o a pagar o equivalente à metade da própria aposentadoria.

São essas anomalias que acontecem quando a liberdade de expressão é colocada em xeque: passados 12 anos, que dano moral poderia ser reparado? Mais ainda, que dano moral se repara com dinheiro de quem se sente ofendido? Os políticos vitoriosos sairiam por aí dando R$ 1 real para cada transeunte que se lembrasse do episódio?

Por tudo isso, é preciso ter claro como o sol que nasce todos os dias: o único critério que pode subsidiar a contestação da informação é a conduta da verdade. Se os políticos que agem contra a Lava Jato reprisam o comportamento de ratos medrosos, nada a contestar. Se uma autoridade da República é cobrada, publicamente, pela imprensa, por levar anos e anos para dar um parecer sobre qualquer processo de investigação em andamento, nada a reparar.

A forma é consequência linguística, apenas. A supressão da liberdade é um atentado grave contra a Democracia.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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