‘É o pessoal que fala’, diz ele

O que será que o pessoal também poderia falar sobre Bolsonaro?

Note bem, não são denúncias nem acusações. São só tiradas casuais, como as que Jair Bolsonaro solta em suas declarações, jogando veneno sobre alguém, mas de forma a poder voltar atrás se tiver de provar. “É o pessoal que fala”, diz ele. Pois o pessoal está falando que, com Bolsonaro, acabou mesmo a corrupção no Brasil. Seus atos de governo podem arruinar o país, mas beneficiam muita gente, para sua olímpica satisfação e só por isso.

Essa história dos madeireiros, por exemplo. Quilômetros de floresta caem por minuto e seus troncos saem em frotas de caminhões com documentação falsa para os navios, sob suas bênçãos. E, se alguém tentar investigar, ele demite. Não é magnânimo? O mesmo acontece com a turma da atividade pecuária, de mineração e pesqueira –Bolsonaro lhes dá livre acesso às áreas protegidas, inclusive indígenas, puramente por esporte. Se eles enriquecerem com seus decretos, é problema deles. E será verdade que os fabricantes de cloroquina são velhos amigos da família? Poxa, toda família tem fabricantes de cloroquina entre os amigos.

O pessoal admira também como Bolsonaro é uma mãe para as Forças Armadas, as igrejas evangélicas e as universidades particulares. Aos milicos confere benefícios a que nós, os otários, não fazemos jus; os bispos, dispensa-os de impostos; e aos tubarões do ensino faz vista grossa para os repasses irregulares que recebem. Eles ficam felizes, e isso alegra Bolsonaro. E, claro, os fabricantes de armas são o seu xodó —um dia, por ele, todo brasileiro sairá à rua com dois 45 no cinto. Só que, aí, não se trata de enriquecer os fabricantes, mas de armar a população no caso de ela precisar invadir o Congresso e o STF.

É o presidente mais desprendido, desinteressado e generoso que já existiu. Faz o bem sem olhar a quem, e, incrível, esses são sempre os bacanas com algum perrengue na Justiça.

Mas, enfim, eu não sei de nada. É o pessoal que fala.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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