Hoje não vai ter sol.
Hoje não vai dar praia.
Hoje o recorte a cinzel
das montanhas, no vão
entre os prédios, não
vai ser visto, pois chove.
Hoje a perspectiva
está abolida, o primeiro
plano está decretado
e o Cristo, em obras,
sumiu entre as nuvens.
Hoje, a lama desceu
das encostas, a água
subiu da Lagoa e os
peixes morreram
no asfalto.
Hoje,
sombreiros balançam
com o vento, ondas
arrebentam com raiva
e o Morro dos Prazeres
chora. Hoje não há:
cadeiras na calçada,
turistas no Pão de Açúcar,
fim de tarde no Arpoador.
Hoje, com medo da noite,
a Alegria dorme, à espera
do dia onde vai ter sol,
da manhã onde vai dar
praia, e tudo, o lodo, a lama,
a água, o vento, o Morro,
tudo isso será esquecido.