O Rio sem sol

Hoje não vai ter sol.
Hoje não vai dar praia.
 
Hoje o recorte a cinzel
das montanhas, no vão
 entre os prédios, não
vai ser visto, pois chove.
 
Hoje a perspectiva
está abolida, o primeiro
 plano está decretado
e o Cristo, em obras,
 
sumiu entre as nuvens.
Hoje, a lama desceu
 das encostas, a água
subiu da Lagoa e os
 peixes morreram
no asfalto.

Hoje,
 sombreiros balançam
com o vento, ondas
 arrebentam com raiva
e o Morro dos Prazeres
 chora. Hoje não há:
cadeiras na calçada,
 turistas no Pão de Açúcar,
fim de tarde no Arpoador.
 
Hoje, com medo da noite,
a Alegria dorme, à espera
 do dia onde vai ter sol,
da manhã onde vai dar
 praia, e tudo, o lodo, a lama,
a água, o vento, o Morro,
 tudo isso será esquecido.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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