O som do violino é um sensível detector de verdades e mentiras

A vida dos seus clientes é bastante atarefada. Muitos deles não conseguem chegar em casa faz tempo. Devem estar presos em congestionamentos monstruosos ou na cadeia por desordem. Eles querem rapidez e entrega do produto certo que encomendaram. Não force entregando um violino congelado de segunda em embalagem Ferrari. Mantenha na sua loja um forno de microondas para oferecer pequenos pedaços bem crocantes de Stradivarius aos mais chegados. Não se esqueça do plantão para entregas de violinos pré-cozidos, pizzas feitas na hora e dicionários português/iídiche bem-passados.

Prepare porções individuais, pois atualmente mais músicos estão vivendo sozinhos. Alguns até embaixo de pontes. Porção individual evita desperdício de notas e gritos dos vizinhos. Peça aos seus clientes que preparem uma programação semanal para entregas não só dos violinos como também de arcos bem temperados. Ofereça brindes para clientes mais assíduos: copos de veneno, cantores de rock, jogos de futebol americano, abridores de lata, cabeça e garrafa, escort-girls aposentadas, tuba com pouco uso, etc. Sabendo que o maior problema de um violino é a afinação, tenha sempre um gato bem ranheta para testes ao vivo.

Atire o pau no gato e afine o violino pelo berrô que o gato deu. Para clientes amadores, não deixe de apresentar outros pratos menos elaborados como flauta ao molho de tomate, atabaque ao alho e óleo, tamborim al primo canto. Lembre-se, por fim, que os clientes procuram sempre e sempre vantagens. A ilusão de ganhar dez centavos na compra de um violino de terceira mão faz maravilhas na hora do concerto. Eles se sentem um Paganini sem filtro e os espectadores senteo mau cheiro na última fila. Se não der certo, mude seu negócio para Shows de Palhaços no intervalo de jogos de futebol feminino.

*Rui Werneck de Capistrano é músico de ouvidos de mercador

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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