O terrorista Bolsonaro

A evidência de que o exemplo é atributo pelo qual o poder sinaliza o comportamento do povo está nas ações da Polícia Rodoviária Federal no governo Bolsonaro – exemplo contrário, porque parte de quem só quer o poder para implantar uma ditadura. A PRF foi cooptada a tal ponto pelo presidente da República que passou a se comportar como milícia: o assassinato de Genivaldo Alves em camburão com gás não faria inveja ao melhor dispositivo da Gestapo na execução de judeus em trens na Alemanha nazista. Segundo, depois de tardia e pífia crítica do presidente da República, recebeu deste aumento salarial, negado a corporações equivalentes. Terceiro, seu chefe institucional, o ministro da Justiça, participou de reunião com o diretor da corporação e o presidente da República para articular bloqueios à chegada de eleitores às zonas eleitorais no segundo turno.

A latere, dois episódios chocantes: a declaração de voto de seu diretor geral, Silvinei Vasques, no Facebook, em Jair Bolsonaro na véspera do segundo turno; agora, para associar o insulto à injúria e à conspiração escancarada, o diretor não cumpre a ordem de desbloqueio das estradas passada pelo ministro Alexandre de Moraes; reclama – como condicionante – recursos, convocação de policiais de outras funções e tarefas administrativas para cumprir a ordem – como se o desbloqueio não fosse atividade de ofício, a ser executada incontinenti à sua ocorrência. O retardamento da ação por Silvinei Vasques tem cara da estratégia longamente ajustada no Planalto para subverter o resultado da eleição, vale dizer, garantir a permanência de Bolsonaro, por fas ou por nefas. O corpo mole de Silvinei Vasques é contágio, efeito de vaso comunicante do corpo mole de Bolsonaro no reconhecer o resultado das eleições.

Acontece que o absurdo do bloqueio, associado à histeria dos bolsonaristas, estimulada pelas milícias digitais, teve sua dinâmica atalhada pela reação de opinião pública: o bloqueio retarda atendimentos médicos, hospitalizações, decolagens de aeroportos – a continuar levará ao mesmo resultado de igual bloqueio no governo Bolsonaro, o do fornecimento de oxigênio aos doentes da Amazônia, da vacinas e do estelionato da cloroquina. Quer dizer, o bloqueio é filho da sanha homicida de um presidente psicopata, que se descontrola diante da menor contrariedade. De resto, algo que se desenhava desde que assumiu. Que o poder e aqueles que o sustentam por ambição, cegueira ou deficiência de caráter, cometa desatinos é de entender, é o lado desumano da humanidade. A democracia tolerou Bolsonaro até agora e ao que parece irá tolerá-lo até que ele lance sobre o Brasil as chamas com que destrói a Amazônia.

O presidente da República, nosso Jim Jones – por sinal evangélico e apoiado por inúmeras (e estranhamente silentes) denominações neopentecostais -, quer levar o Brasil ao genocídio, sempre: os inocentes amantes da liberdade serão mortos pelos ensandecidos que o apoiam, as Carlas Zambelis da vida (a dona do nome, por sinal, apoia os bloqueios, que podem atingir e prejudicar seus eleitores. Afinal, nada diferente se espere de quem tenta matar a tiros um homem negro, simples e desarmado, em plena rua). Para os apoiadores de Bolsonaro, ao estimular bloqueios, tolerar tiroteios (Roberto Jefferson) e contrariar a democracia do voto revela sua condição de terrorista  de Estado, digno do panteão trágico em que estão François Duvalier, Muamar Kadafi, Idi Amin, Hitler, Stalin e congêneres.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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