O último tango do macaco-prego

Gringo, você que acha que o Brasil é um país onde macacos invadem as casas: você tem razão. Quando pequeno, tinha de fechar as janelas, senão os micos assaltavam a despensa. E não comiam só as bananas. Abriam potes de biscoito, comiam chocolate e não deixavam nem um bilhetinho de “muito obrigado”.

Na casa de uma amiga, no Jardim Botânico, o primata que dominava a região era o macaco-prego. Maior e mais esperto que o mico, o prego é um vizinho mais perigoso, porque não se limita a roubar víveres. Um dia, minha amiga cometeu o deslize de deixar a janela aberta e o café da manhã em cima da mesa. Quando abriu a porta da cozinha, o macaco tinha besuntado as partes íntimas de manteiga e se masturbava, fascinado com o advento do laticínio cremoso. Assim como o osso do macaco de Kubrick é o tataravô da nave espacial, o macaco-prego é o tataravô de Marlon Brando em “Último Tango em Paris”. A busca pelo prazer é anterior ao homem –e anterior ao macaco.

Já cantavam os Mamonas: no mundo animal, “inzeste” muita putaria. Busque Tartaruga + Crocs no YouTube. Se tudo der certo, você vai se deparar com uma tartaruga fazendo amor (não venham me dizer que aquilo é só sexo) com uma sandália Crocs. Calma. Depois você pode apagar o histórico. E essa tartaruga não é a única. Se o Crocs perdeu popularidade entre os humanos –graças a Deus, dirão alguns– entre os quelônios ele não cansou de ser sexy. A pequeníssima parcela da população que partilha do gosto duplo por tartarugas e Crocs sabe que para todo chinelo velho tem um jabuti tarado.

Uma grande parcela dos carneiros machos jamais fez sexo heterossexual e é fiel a um parceiro só –macho. Um em cada dez peixes-palhaço troca de sexo ao longo da vida. Coalas fêmeas organizam intermináveis orgias lésbicas. Golfinhos penetram no buraco de respirar de seus colegas, experimentando as delícias do prazer nasal. Há focas que preferem pinguins –embora estes raramente prefiram focas.

Freud dizia –estou parafraseando– que existem tantas sexualidades quanto existem seres humanos. Se morasse no Rio ou tivesse TV a cabo, talvez dissesse que existem tantas sexualidades quanto seres vivos (e isso sem falar nas plantas).

Os detratores da homossexualidade alegam que ela não é natural –como se o natural fosse amar um ser só, do sexo oposto, a vida inteira. De fato, parece que algumas lagostas são heterossexuais e monogâmicas. Mas quem mora no Rio de Janeiro ou assistiu a meia horinha de Discovery Channel sabe muito bem que nada é mais natural.

gregorioduvivierGregorio Duvivier – Folha de São Paulo

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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