O velhinho da charada

Precisos como o Big Ben e pontuais como os trens, os dois tomavam sempre o mesmo comboio para Londres nos mesmos dias e horários, cada um no assento da ponta do corredor, lado a lado. O velhinho de vasta cabeleira branca, aura de dignidade professoral, o Times de Londres aberto na página das palavras cruzadas, consideradas as mais difíceis do mundo; ele as percorria com os olhos, sem preencher os espaços das letras. Como o trem e como o Big Ben, em exatos três minutos o velhinho deixava as cruzadas e voltava-se para as notícias do jornal.

O vizinho de banco, ansioso e intrigado com o que assistia há meses, não se conteve e abordou o velhinho: “Quer um lápis para resolver a charada?”. ‘Não obrigado, já resolvi’, respondeu o filósofo Bertrand Russell, o velhinho da charada, prêmio Nobel, autor dos quatro volumes dos Principia Mathematica, que escreveu com Alfred North Whitehead, seu professor de Oxford.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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