O voo da alegria

Lula finalmente embarcou para a China, onde terá um encontro com o presidente chinês Xi Jinping e acompanhará a cerimônia de posse da companheira Dilma Rousseff na presidência do Brics, que não se sabe bem o que faz, mas, oficialmente, “é um grupo de países emergentes que tem como objetivo a cooperação econômica e o desenvolvimento em conjunto”, segundo a Wikipédia – quer dizer, continua-se sem saber o que ele faz. Sabe-se, no entanto, que a ex-presidenta do Brasil terá um modesto rendimento de cerca de R$ 210 mil mensais.

Mas voltemos a Luiz Inácio: a comitiva presidencial foi integrada de trinta parlamentares, quatro governadores e oito ministros, fora a Janja, e um contingente recorde de empresários (mais de uma centena), a maioria do agronegócio e até mesmo alguns bolsonaristas, entre os quais os notórios irmãos Joesley e Wesley Batista, do grupo J & F, presos em 2017, e diretores da Novonor, atual nome da Odebrecht, que levou líderes do PT, inclusive Lula, à prisão.

Estarão todos, por certo, de olho no baixo custo da mão de obra chinesa e nas regras ambientais e trabalhistas menos rígidas da China.

Também seguiram junto com o presidente representantes das centrais sindicais brasileiras, como a CUT.

Não se sabe quem pagará as despesas da festiva viagem. Diz-se que os empresários responderão por suas despesas. Mas há dúvidas. Afinal, foram convidados.

Por isso, ninguém deve se surpreender se a conta for paga pelos coitados de sempre, nós, os contribuintes.

Tudo bem, Lula está tentando recolocar o Brasil no cenário mundial. A China é o nosso principal parceiro econômico, mas Bolsonaro andou arredando-a, obrigando o Itamaraty a um trabalho de reaproximação e camaradagem. Tanto é que Lula já havia despachado ao Kremlin o assessor especial Celso Amorim, hoje uma espécie de porta-estandarte internacional do atual governo brasileiro. Lá, segundo registrou a imprensa, o ambiente esteve tão descontraído, dentro dos padrões diplomáticos, que, a certa altura, Amorim esqueceu que seu interlocutor era russo e passou a falar em português. O russo riu e o nosso ex-chanceler, corrigindo-se, afirmou que nem ele esperava tamanha receptividade.

Só que Luiz Inácio, aqui ou na China, deve continuar controlando a língua. É prevista uma conversa de Lula com o presidente chinês sobre a ideia do brasileiro para encerrar a guerra entre a Rússia e a Ucrânia, que, segundo ele, “não tem justificativa” para continuar. Espera-se, porém, que s. exª. não repita a sugestão ventilada por ele no Brasil de que a Ucrânia poderia ceder a península da Crimeia à Rússia em troca de um acordo de paz. Aí estaria dando uma de Bolsonaro.

São previstas, ainda, reuniões de Lula com o presidente do Congresso Nacional do Povo, Zhao Leji, e com o primeiro-ministro chinês Li Qiang. No sábado, reunir-se-á, em Abu Dhabi, com o líder dos Emirados Árabes Unidos, Mohamed bin Zayed.

Cuidado com os presentinhos, presidente!

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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