Um sujeito como esse na Presidência

© Aroeira

Com o desvairado ex-capitão no Planalto, o resultado só pode ser assassinato político, ataques ao TSE e ao STF e ameaças de golpe

Ao comentar a reação de Jair Bolsonaro ao assassinato de Marcelo Arruda, Trajano foi direto ao ponto e lamentou: “Um país com mais de 200 milhões de habitantes e tem um sujeito como esse na presidência…”. É isso mesmo. O Brasil vive dias trágicos. E não merecia esse destino. Além de ser do mal, o sujeito no Planalto costuma distorcer a realidade. Nesta terça-feira, no cercadinho em frente ao Alvorada, ele responsabilizou Arruda pelo episódio. “A gente sabe qual foi o lado que começou”, disse ele, sob o argumento de que petistas jogaram pedras no carro de Jorge Guaranho. Jogaram pedras, sim, mas depois que Guaranho parou o carro em frente ao local da festa de aniversário do petista com música de Bolsonaro e aos gritos de “Aqui é Bolsonaro”.

A tal delegada bolsonarista que investigava o caso também distorceu os fatos. Quem provocou foi Jorge Guaranho, e sua mulher chegou a pedir que ele se afastasse do local. O policial bolsonarista invadiu o salão de festa com arma na mão e atirou várias vezes em Marcelo Arruda. Mesmo caído no chão, o petista ainda levou um tiro nas costas à queima-roupa. Já ferido e com esforço, ergueu o braço e atirou em Guaranho. As imagens são claras. E é ridículo alguém falar de legítima defesa. Como também é ridículo o Capitão Corona dizer que chutaram a cabeça do invasor, que poderia morrer de traumatismo craniano.

Fico aqui pensando no que aconteceria se um petista de revólver em punho invadisse a festa de aniversário de Eduardo Bolsonaro, que teve bolo decorado com revólver e munição. Seria recebido em festa? O que houve em Foz do Iguaçu foi um assassinato premeditado de forma fria. Guaranho só não matou mais gente porque foi contido pela policial civil Pamela Suellen Silva, a viúva de Marcelo Arruda. Ela também impediu as agressões a Guaranho. Para Pamela, a versão de Bolsonaro é “ridícula”. Ele tenta “distorcer o fato real”.

Não bastasse a versão mentirosa, o mais revoltante é ver Bolsonaro afirmar que estão tentando colocar a culpa nele. Novamente briga com os fatos. Não faltam pronunciamentos de Bolsonaro incitando a violência. No início de junho, ao discursar em Umuarama, ele chegou a falar de “guerra” contra a esquerda. “Eu peço que vocês cada vez mais se interessem por esse assunto. Se precisar, iremos à guerra. Mas eu quero um povo ao meu lado consciente do que está fazendo e de por quem está lutando.” Em outra fala, também recente, ele citou um ditado dos quartéis: “Se queres a paz, prepara-te para a guerra”.

O clima de violência política traz a assinatura de Bolsonaro. E certamente ele conhece outro ditado: “Quem planta vento colhe tempestade”. Mesmo assim, o tal sujeito que ocupa o Palácio do Planalto tem o desplante de ligar para irmãos de Marcelo Arruda e convidá-los para ir a Brasília. No encontro, o ex-capitão pretende mostrar aos parentes de Arruda “o que aconteceu”. E também voltará a criticar a imprensa, que tem “o objetivo de desgastar” seu governo. “Fica essa imputação em cima de mim como se eu fosse o responsável”, diz o ex-capitão. É muita cara de pau.

Bolsonaro é incorrigível. Incita a violência e depois lava as mãos. Pede o fechamento do STF e diz que respeita o Judiciário. Ataca o TSE e as urnas eletrônicas, mas garante que defende a democracia. Convoca ministros militares para discutir as eleições em reunião fora da agenda no Palácio do Planalto e afirma a seus generais que pode até mesmo não se candidatar se o TSE não se submeter às exigências das Forças Armadas. Mas garante que não está tramando um golpe. Segundo Gaspari, há no ar sinais de conspiração para criar um clima de instabilidade no país a partir da Semana da Pátria.

Como diz o Trajano, tudo pode acontecer com um sujeito como esse na Presidência…

Octavio Costa

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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