Odebrecht pagou imóvel para Instituto Lula, dizem delatores

SAO PAULO – SP – BRASIL, 20-12-2016, 16h20: TERRENO ALVO DA LAVA JATO. Terreno da rua Dr. Haberck Brandao, 178, que supostamente teria sido oferecido para o Instituto Lula, mas que acabou não sendo usado pela entidade. Terreno comprado pela Odebrecht onde seria construída nova sede do Instituto Lula. © Adriano Vizoni|Folha Press

Três delatores da Odebrecht prestaram depoimentos na semana passada que confirmam que a empresa comprou, em 2010, um imóvel em São Paulo que seria destinado à construção de uma nova sede do Instituto Lula.

As declarações foram feitas por Marcelo Odebrecht, ex-presidente do grupo; Alexandrino Alencar, ex-diretor de relações institucionais; e Paulo Melo, ex-diretor-superintendente da Odebrecht Realizações Imobiliárias.

A compra do imóvel na Rua Dr. Haberbeck Brandão, nº 178, em São Paulo, é ponto central na denúncia em que o ex-presidente Lula é acusado de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

Na última segunda-feira (19) o juiz Sergio Moro aceitou a denúncia do Ministério Público Federal e Lula virou réu no processo.

Com essa ação, Lula tornou-se réu em cinco ações penais –três na Operação Lava Jato, uma na Zelotes e outra na Operação Janus.

Segundo os procuradores, parte das propinas pagas pela Odebrecht em contratos da Petrobras foi destinada para a aquisição de um terreno onde seria construída a sede do Instituto Lula.

As delações de Marcelo, Alencar e Melo confirmam que o imóvel, que no papel foi adquirido pela DAG Construtora, foi na verdade pago pela Odebrecht e seria destinado à construção de uma nova sede do instituto.

A ideia, segundo os delatores, era que após a Odebrecht comprar o imóvel outras grandes empresas ajudassem a construir o prédio do Instituto Lula.

Os delatores também disseram que Lula e a ex-primeira-dama Marisa Letícia foram conhecer o terreno, mas não gostaram do local. Marcelo Odebrecht determinou então a Paulo Melo que procurasse outros imóveis. O projeto, no entanto, não foi para frente.

O fato de a nova sede não ter saído do papel não impediu que Moro aceitasse a denúncia contra Lula. De acordo com o juiz, a falta de transferência na compra do imóvel onde seria construído o instituto não prejudica a acusação de corrupção, caracterizada pela oferta e pela solicitação da propina.

Com base nas quebras de sigilos fiscais e bancários dos investigados, os procuradores apontaram que a Odebrecht pagou, em 2010, R$ 7,6 milhões para a empresa DAG Construtora, que adquiriu o imóvel investigado.

A ação ainda diz que, em buscas no sítio em Atibaia (SP) frequentado pelo ex-presidente, foram achados papéis com um projeto de uma construção no endereço do terreno investigado. Numa planilha de pagamentos da empreiteira consta o item “Prédio IL”.

A denúncia também diz que foi adquirido um apartamento vizinho à cobertura onde mora o ex-presidente, em São Bernardo do Campo (SP).

O imóvel está no nome de Glaucos da Costamarques, que, segundo a acusação, atuou como testa de ferro de Lula, em transação concebida por Roberto Teixeira, advogado e compadre do ex-presidente. O imóvel teria sido alugado por Marisa, mas a denúncia aponta que não houve pagamento do aluguel.

Moro determinou o sequestro do apartamento de São Bernardo do Campo.

Com a medida, o bem ainda pode ser usado, mas sua propriedade fica “congelada”. Caso haja condenação, o imóvel será leiloado e o dinheiro, revertido à vítima do crime.

A Folha não conseguiu confirmar se o apartamento consta da delação dos ex-executivos da Odebrecht.

Além de Lula, viraram réus na última segunda (19) Marisa, Marcelo Odebrecht e mais seis pessoas.

OUTRO LADO

O Instituto Lula disse, via sua assessoria de imprensa, que não comenta “supostas delações”. Afirmou que “delações não são prova, quanto mais supostas delações”.

A nota diz ainda que o ex-presidente não solicitou nenhuma vantagem indevida e sempre agiu dentro da lei. “O terreno nunca foi do Instituto Lula e tampouco foi colocado à sua disposição. O imóvel pertence a empresa particular que lá constrói uma revenda de automóveis. Tem dono e uso conhecido. Ou seja, a Lava Jato acusa como se fosse vantagem particular de Lula um terreno que ele nunca recebeu, nem o instituto – que não é propriedade de Lula, nem pode ser tratado como tal, porque o Instituto Lula tem uma personalidade jurídica própria.”

A assessoria do instituto finalizou afirmando que as doações feitas ao Instituto Lula estão devidamente registradas e foram feitas dentro da lei.

O advogado Cristiano Zanin, defensor de Lula e sócio de Roberto Teixeira, vem dizendo que a força-tarefa da Lava Jato tem agido por “retaliação e vingança”. A defesa questiona a imparcialidade do juiz e já pediu seu afastamento da causa.

Cristiano Zanin disse que Roberto Teixeira “agiu sempre dentro do estrito dever profissional e com a observância de todos os deveres éticos inerentes à profissão”.

A empresa DAG Construções informou que não iria se pronunciar.

A Odebrecht, em nota da assessoria de imprensa, disse que não se manifesta sobre o tema, mas reafirma seu compromisso de colaborar com a Justiça. A empresa diz em nota que está implantando as melhores práticas de compliance (medidas anticorrupção), baseadas na ética, transparência e integridade.

IMÓVEIS INVESTIGADOS

Lava Jato apura se Odebrecht pagou terreno e apartamento para Lula

BENS CITADOS

O dinheiro teria sido usado para comprar um terreno, onde seria construída uma sede do Instituto Lula, e um apartamento em frente ao que mora em São Bernardo do Campo (Grande SP)

ACUSAÇÃO

Lula é acusado de corrupção passiva e lavagem de dinheiro na Lava Jato. Segundo a investigação, ele recebeu propina da Odebrecht por intermédio do ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci

OUTRO LADO

A defesa de Lula afirma que ele aluga o apartamento vizinho ao seu. Dizem também que o Instituto Lula funciona no mesmo local há anos, no Ipiranga (zona sul), e o petista nunca foi dono do terreno em questão. Folha de São Paulo

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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