Os desatinos do capitão

Há certos deveres/atribuições do presidente da República que, por serem inerentes explicitamente ao cargo, não são estabelecidos pela Constituição Federal nem pela legislação complementar. Unificar o país e pacificar a população brasileira, por exemplo. Pois o atual Messias Bolsonaro faz exatamente o contrário. Desde que levanta, (e provavelmente mesmo dormindo e sonhando) trata de dividir o Brasil e semear a disputa e o ódio entre os brasileiros. Nunca se viu coisa igual. Caso de internamento, sem dúvida.

Quando uma estultice dita ou feita por s. exª. é contornada por seus explicadores, outra brota imediatamente da língua incontrolável do capitão Jair. É a sina dele. Aguenta, Brasil!

Na segunda-feira, o homem acordou com raiva da OAB – Ordem dos Advogados do Brasil. Acha que a entidade não tem agido como deveria no caso do maluco Adélio Bispo, autor do atentado contra a vida dele, em outubro do ano passado.

Como não encontrou argumento contra o advogado Felipe Santa Cruz, mirou e atirou contra o pai do atual presidente da OAB, Fernando Augusto Santa Cruz de Oliveira, desaparecido em fevereiro de 1974, depois de ter sido preso no DOI-Codi, órgão de repressão da ditadura militar.

“Um dia, se o presidente da OAB quiser saber como é que o pai dele desapareceu no período militar, conto pra ele” – sapecou Bolsonaro.

Até os aliados do presidente lamentaram a inoportuna e desastrada declaração do capitão da reserva. A principal reação, porém, partiu do filho do desaparecido:

“O mandatário da República deixa patente o seu desconhecimento sobre a diferença entre público e privado, demonstrando mais uma vez traços de caráter graves em um governante: a crueldade e a falta de empatia”. E mais: “Lamentavelmente, temos um presidente que trata a perda de um pai como se fosse assunto corriqueiro – e debocha do assassinato de um jovem aos 26 anos”.

Bolsonaro garante que o pai do presidente da OAB “integrou a Ação Popular, o grupo mais sanguinário e violento da guerrilha lá de Pernambuco e veio desaparecer no Rio de Janeiro”, ainda que no relatório da Comissão Nacional da Verdade, responsável pela investigação dos casos de mortos e desaparecidos na ditadura, não haja registro de que Fernando Santa Cruz tenha participado da luta armada.

A Comissão vai pedir explicação a Jair Messias. Para a sua dirigente, Eugênia Augusta Gonzaga, a declaração dele é muito grave. E lamenta que o presidente, se sabe o que aconteceu com o aprisionado Fernando Santa Cruz, em vez de dar informações aos familiares, usa essas informações para “reiterar a tortura dos familiares”.

O que se sabe é que Fernando Santa Cruz, como vários outros ex-integrantes da organização de esquerda Ação Popular, foi assassinado numa operação executada por conhecidos militares da repressão, como então coronel do Exército Paulo Malhães, falecido em 2014. Se o capitão-presidente tem maiores esclarecimentos, está no dever de fornecê-las, apontando, inclusive, onde estão as ossadas do morto, procuradas há 45 anos pela família. Se não tem, e apenas jactou-se de saber para atingir o filho presidente da OAB, em uma de suas costumeiras bravatas, s. exª. enodoou um pouco mais a faixa presidencial e reafirmou não estar à altura de envergá-la.

Os militares têm feito o possível para que sejam esquecidos os desmandos, as torturas e os crimes da ditadura de 1964, mas o capitão reformado Jair Messias Bolsonaro não deixa.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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