Os FDP de nosso Nixon

All great men need a son of a bitch. I’m Nixon’s son of a bitch” – de H. R. Haldeman, aliado fiel de Richard Nixon e seu chefe de gabinete na Casa Branca. HR, Harry Robbins, foi o mais eficiente SOB, o filho da puta de que Nixon precisava, daí sua decisiva participação no encobrimento do Caso Watergate, a operação coordenada de dentro da Casa Branca para fraudar na reeleição de Richard Nixon. Pelaconspiração, Haldeman foi condenado e cumpriu pena com outros importantes assessores do presidente, all the president’s men, título do livro-reportagem de Carl Bernstein e Bob Woodward, os dois repórteres do Washington Post que desvendaram o escândalo.

Condenado em impeachment, Nixon escapou da cadeia pelo perdão concedido por seu vice Gerald Ford, a quem escolheu quando seu vice Spyro Agnew renunciou em escândalo de corrupção. O perdão pesou decisivo na derrota de Ford à sucessão de Nixon. Ainda que também patife, Bolsonaro não teve a visão e o tino político de Nixon, o presidente dos EUA que tirou a China do ostracismo internacional. Bolsonaro, como Nixon, vivia cercado de filhos da puta, seus sons of bitches, entre eles um gêmeo, twin brother de Haldeman, o coronel Mauro Cid. Haldeman não delatou seu mestre, cumpriu pena e voltou à profissão de origem. Mauro Cid reluta em dedar, fiel aos anéis sauditas.

Dos SOB de Bolsonaro um só está condenado: Daniel Silveira, mais por ofender ministros do STF que por defender o chefe e úmplice. Ainda fica nisso; os demais na imunidade, como a maga patológica senadora, e os deputados, como o general-cúmplice do morticínio da Saúde, o destruidor do Ambiente e o inimigo da Cultura – este, como o procurador nazista que sacava sua Browning à simples menção de Cultura, a sobraçar fuzil após lamber as botas do 03 da estirpe genocida. Os que tentaram fraudar a eleição, que mataram por omissão de socorro e dever funcional na distribuição de vacinas, peculatários da comida dos índios, estão livres, calados fieis na omertà ao capo genocida.

E assim permanecerão, o punir esgotou-se na fantasia utilitária e na ambição cega do juiz e do procurador da República que elegeram Jair Bolsonaro. Juiz e procurador hoje desmancham no ar – resta-lhes a esperança dos da Lava Jato, que derrubaram as portas do sepulcro e acabaram santificados pelo STF. Em dois anos tudo será esquecimento. Os bandidos de Bolsonaro ainda embarcam num titanic de Lula, senhor da conciliação, que uma vez fez campanha para eleger Fernando Collor senador, a quem chamou de injustiçado no impeachment, no utilitário e indigno esquecimento da infâmia daquele que o acusou de ter proposto à namorada o aborto da filha de ambos.

Normal, no Brasil: o líder comunista Luís Carlos Prestes subiu ao palanque para eleger Getúlio Vargas presidente, obediente às ordens de Stálin, que obrigava pelo Comintern os partidos que financiava a apoiar quem afrontasse os EUA na Guerra Fria. Prestes sufocou a lembrança de que a ditadura de Getúlio o havia torturado e mantido preso debaixo de escada – Sobral Pinto, seu advogado, invocou em sua defesa a Lei de Proteção aos Animais. Em favor de Getúlio – que fez de conta não tê-lo visto no palanque (cf. as biografias de J. Lira Neto e Aarão Leis – Prestes sufocou dor pior, a de ver a mulher grávida deportada por Vargas para morrer em campo de concentração nazista.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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