O jornalismo do Paraná , aquele praticado nos últimos 40 anos no garimpo bruto da independência, tem uma dívida de gratidão com o advogado Rene Dotti, morto às vésperas do Carnaval aos 87 anos.
Sozinho, ele fez mais pela categoria do que os chamados representantes classistas, incluídos aí o próprio sindicato, as variadas associações e até a poderosa OAB, sempre tão presentes na defesa oficial da liberdade de imprensa. Rene Dotti transformou a causa em prática forense e abriu as portas o seu renomado escritório para qualquer jornalista atingido pela ira de alguma fonte poderosa em busca de reparação.
Nunca recusou defesa , nem cobrou honorário e, mais surpreendente ainda, nunca colocou em dúvida a informação publicada. Algo extremamente raro num Paraná habituado à permanente bajulação em todas as suas esferas. Criou um círculo de proteção que salvou as carreiras daqueles poucos que ousaram divulgar o Paraná com mais lucidez e coragem. Ah, dirão os críticos, mas Rene Dotti recebeu de volta o compromisso referencial da imprensa, tornou-se inatingível na areia movediça das figuras públicas. Pois que seja: como diria o velho Guimarães, a ingratidão é o pecado que o homem menos reconhece em si.Da minha parte confesso o elo crucial do agradecimento com Rene Dotti.
Em nome da liberdade de escrever, ousei. E exagerei, errei, maltratei, porque não há caminho fácil para quem busca o real das coisas. Cumpri, enfim, meu ofício. Tudo graças a ele. Obrigada Rene Dotti.