Outro sonho sexagenário

Equipe da TV Paraná, Canal 6, nos anos 60 – Foto do arquivo da revista TV Programas

O próximo sábado, 19 de dezembro, deveria ser dia de festa, não apenas porque se comemora a Emancipação Política do Paraná, mas porque marcará sessenta anos de atividade da TV Paraná, Canal 6, hoje CNT. Considerando o atual estágio da emissora, que nada tem a ver com o seu início pioneiro e de extraordinário sucesso entre os telespectadores, certamente não haverá maior celebração, se houver alguma.

Não obstante, a TV Paraná, Canal 6, foi a segunda televisora de Curitiba e do Estado. Integrante da então poderosa rede nacional dos Diário e Emissoras Associados, de Assis Chateaubriand, quase foi a primeira, disputando o pioneirismo com a TV Paranaense, Canal 12, de Nagibe Chede, inaugurada em outubro de 1960.

Assis fora o pioneiro da TV no Brasil e na América Latina, em 1950, com o lançamento da TV Tupi de São Paulo. Depois, vieram as TVs Tupi do Rio; Itacolomi, de Belo Horizonte; Piratini, de Porto Alegre; e Rádio Clube, de Recife. Aí nasceu o Seis curitibano.

Com o suporte técnico e logístico dos Associados, a TV Paraná não sofreu os problemas de noviciado do Doze. Ainda assim, foi obrigada a valer-se do pessoal do rádio e do teatro e manter-se confinada, como a coirmã e concorrente, em minúsculas e inadequadas instalações no andar térreo do Edifício Mauá, na Rua José Loureiro, área central de Curitiba, ao lado do jornal Diário do Paraná, do mesmo grupo.

Adherbal Gaertner Stresser, que dirigia o Diário, assumiu o comando da emissora, assessorado pelo filho Ronald Sanson Stresser e pelo radialista Aluízio Finzetto na direção artística. Os demais diretores foram José Felipe Engler, Carlos Ador, Roberto Novaes e José Louro.

Nos primeiros momentos, a nova TV caracterizou-se pelo noticiário procedente do Diário do Paraná, sob a coordenação de Novaes e apresentação de Sérgio Luiz e Milton Moacir (Müller) e de algumas atrações para a garotada, como o “Cirquinho Canal 6”, mantido pela família Queirolo. Logo começariam também as jornadas esportivas, com Vinícius Coelho e Sylvio Ronald. Seguiram-se “Tevelândia”, de Clemente Chen, vindo do Canal l2; “Clube Curumim”; Por Trás da Notícia”, de Luiz Geraldo Mazza; e “Vai Acontecer”, de Luiz Renato Renato Ribas e Adherbal Fortes de Sá Jr. O colunista social Dino Almeida também foi convocado. No “switcher”, instalado em um mezanino improvisado, reinava Osni Bermudes, que viria a ser o pai das “traquitanas”.

Da Rádio Colombo, também dirigida por Ronald Stresser, chegou o elenco de atores e atrizes, entre eles Ary Fontoura, Odelair Rodrigues, Maurício Távora, Jane Martins, Joel de Oliveira, Claudete Baroni e Lala Schneider, aos quais se juntariam Glauco Sá Brito, Maria Aparecida, Aristeu Berger, Idelson Santos, Sinval Martins, Airton Müller, Aracy Pedroso, Edson D’Avila, Yara Villar, Lourdes Bergmann e tantos outros.

As garotas-propagandas foram orientadas, inicialmente, pela paulista Jane Martins, florescendo no vídeo os rostinhos de Adalgiza Portugal, Linda Saparolli, Eva Timowicz, Regina Kolberg, Xênia Rosa e Marly Terezinha. Havia também os chamados vídeo-moços, como William Sade e J.J. de Arruda Neto.

De outro lado, estrearam os seriados americanos, um para cada gosto, como “Papai Sabe Tudo”, “I Love Lucy”, “O Menino do Circo”, “Patrulheiros Toddy”, “Patrulha Rodoviária”, “O Homem do Rifle”, “Rin Tin Tin”, “O Fugitivo”, “Dom Pixote”, “Os Flintstones” e aí por diante.

A primeira grande atração da TV Paraná, campeã absoluta de audiência, no entanto, foi uma produção local, ao vivo, estrelada por Ary Fontoura e Odelair Rodrigues: Tele-Show CC”, com a presença em cena do impagável “Dr. Pomposo Ribeiro” e de seu capanga “Bide”. Mais de 90% no Ibope.

A programação nacional passou a ser fornecida pelas TVs Tupi de São Paulo e Rio, destacando-se os programas de Flávio Cavalcanti, J. Silvestre e Blota Júnior.

Mas o grande patrimônio da emissora Associada do Paraná foi o seu elenco teleteatral exclusivo, que chegou a ser o maior do Brasil e foi capaz de façanhas como a produção local do dramalhão de Félix Caignet “O Direito de Nascer”. Montada com esmero e carinho, a versão curitibana fez bonito e não ficou nada a dever à realização da Tupi. A direção foi do incansável Roberto Menghini.

Nos anos 70, com a morte de Chateaubriand e a disputa do acervo deixado pelo velho jornalista, a crise chegou ao Paraná e a TV Paraná, Canal 6, mudou de dono. Em 1980, a concessão foi transferida para Oscar Martinez e a emissora rebatizada de Rede OM e, depois, de CNT – Central Nacional de Televisão. Hoje, sobrevive de pequenos programas, de alguns noticiosos e da cessão de horários da programação para igrejas evangélicas.

O grande Canal 6 de outrora ficou na saudade, mas não pode nem deve ser esquecido. Sábado, com festa ou sem festa, fará 60 anos. E merece os nossos aplausos.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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