Padrelladas

Diário da Gripezinha

Em minha defesa quero esclarecer que eu não sabia que o soldado desconhecido era comunista. Ninguém me disse nada. Era só para eu acompanhar a corbélia até o monumento e depois fazer um carinho nas fitas de condolências. Ninguém me disse que a vítima era comunista. Se eu soubesse não sei se iria à cerimônia.

É nisso que dá ser mal assessorado. O filhote não podia ter me avisado? “Ói paiê, o cara é cumunista”, mas o piá parece que não sei. Eu até pensei assim: se ele era desconhecido, como alguém podia afirmar que fosse comunista? Vai ver, nem era. E se desconhecido estava, desconhecido ficou. Fui lá, mexi na fita só pra fazer fita, que sempre é de bom tom mexer na fita, tipo assim estou arrumando porque vocês não souberam arrumar. Fiz aquela cara de contrito, mas isso antes de saber que o defunto era comunista. Se eu soubesse, nem sei o que eu faria.

Certamente faria o que sempre tenho feito: nada. Mas bater continência pra bandeira vermelha, jamais. Bem que dei início ao gesto, mas daí me lembrei que o polaco de cabelo vermelho podia vir com nhenhenhe, e vocês não sabem como ele me maltrata quando fica brabo. Chegou a negar Embaixada pro meu piá, e olha que o menino frita um hambúrguer que é de virar os zoínho.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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