Padrelladas

Nesse tempo de encerramento doméstico, quando não se poder sair à rua nem para as necessidades básicas, como seja dar um trato nessa cabeleira que se espalha como mato ruim pensei e tornei a pensar e decidi passar na farmácia para comprar um desses produtos modernos que domesticam o cabelo. Entrei. O fantasma talvez do amor materno tomou-se as mãos, o pranto jorrou-me em ondas, mas não era amor materno, era um cara da farmácia que já foi dando esporro porque eu estava sem máscara, “Máscara do Zorro não serve” – disse ele “tem que ser do Durango Kid”.

Então, eu disse a que vinha. No caso, a que ia. Queria comprar um pacotinho de pó para fazer Gumex em casa, que sai mais em conta do que comprar o Gumex pronto. O menino tinha nascido no século XXI e não sabia o que era Gumex. Então, me traga Glostora mesmo, não gosto do perfume de flor de cemitério, mas se presta para a ocasião. Não tinha Glostora e nem sabia sabia o que era isso. ‘E Fixbril?”

Balançou a cabeça com preguiça de dizer não. Já percebi que era a fim de me empurrar aquele produto que pouca gente curte, que cria pó nas prateleiras, por isso fui logo dizendo: “Quina Petróleo não quero”. Me olhou como se eu tivesse dito que sei os segredos de Fátima, e são quatro, não os três que as pastorinhas disseram”. Vim-me embora. Me recusei a comprar esses produtos mais modernos que custam os ovos da cara.

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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