O filho de Dona Elza, Dieffenbachia seguine. Eduardo Cunha, também conhecido como “Comigo-ninguém-pode”. Foto de Diácono Joyce
O filho de Dona Elza, Dieffenbachia seguine. Eduardo Cunha, também conhecido como “Comigo-ninguém-pode”. Foto de Diácono Joyce
Foto de Myskiciewicz (já deve estar em Cracóvia)
Vou ver se estou ali na esquina e volto somente dia 5 de janeiro de 2016. Sozinho, entro em férias coletivas e vou descansar carregando pedras. Au revoir, ¡hasta la vista! Tschüs! Arrivederci, до свидания, εις το επανείδειν, crazy people! Solda
© Jorge Bispo
Nesses tempos raivosos, minha caixa de e-mails tornou-se um local tão perigoso quanto as ruas do Leblon, onde Chico Buarque foi abalroado pela intolerância dias atrás. Antes, costumava passear gostosamente pelas mensagens. Hoje, tropeço em textos cujos autores não querem senão despachar-me com insultos para outro lugar. “Vai à…”
As opções são variadas. Com frequência, mandam-me à presença de uma mulher que, no exercício da profissão de prostituta, impossibilitada de saber com precisão quem é o pai de seus filhos, me deu à luz. Muitos me enviam também ao excremento. E eu pergunto aos meus botões: que excremento? onde fica?
Decidi sair em férias para tentar encontrar o tal excremento. Receio, porém, que ele esteja em local inacessível. Pensar dá trabalho. E não é opcional. Cérebro vazio é a vítima preferida dos discursos sectários. Por falha da Criação, a cabeça não possui válvula excretora. Assim, o excremento ideológico vai transformando as cabeças ocas em enormes fossas. Confirmando-se tais suspeitas, restará ao repórter ecoar Chico Buarque: Vão trabalhar, vagabundos!
Quanto ao blog, voltará à ativa em 15 dias, renovado para aturar tudo, inclusive a intolerância.
Jards Macalé e a trupe de elite, em Curitiba. Foto de Maringas Maciel
Retta Rettamozo. Perhappiness 94, Agosto do poeta, Agosto do cachorro louco, Leminski 50 anos, Octavio Paz 80; para Renata Romã, Luana e todas as meninas que não saem da frente do espelho. Na realização deste livro foi usado o método “me ajudem que que faço sozinho” e o CorelDraw. Luana e Nereu na produção, Carmem na editoria, Jamil Hak na direção geral; Iolanda na direção de arte e eu e o Criador na Criação. Obrigado a todos os amigos. Quem procurar, acha. Solda
Pombo Correio, o mundo voa mas me traga uma notícia boa. (Pelourinho). Foto de Lee Swain
Nunca aprendi a rezar o Pai Nosso. Comemorávamos Natal só porque é aniversário da minha mãe. Celebrávamos a Páscoa, mas confesso com bastante vergonha que não faço ideia do que significa. Sim, sei que tem a ver com Jesus. Mas não sei qual era a relação dele com o coelho, e nem por que raios esse coelho põe ovos, e por que diabos são de chocolate.
O mais perto que tinha de religião lá em casa era a música: meus pais só veneravam deuses que soubessem tocar. Ninguém rezava antes de comer, mas minha mãe botava a gente pra dormir religiosamente cantando Noel e acordava cantando Cartola. Meu pai passava o dia no sax tocando Pixinguinha e a noite no piano tocando Nazareth. Música não era um pano de fundo, era o caminho, a verdade, a vida. Tom era o Pai, Chico, o Filho, Caetano, o Espírito Santo.
Podia falar os palavrões que eu quisesse, mas ai de mim se ousasse tocar violão com acordes simplificados. “A pessoa que fez esse arranjo devia ir presa”, dizia minha mãe. Preferiam me ver pichando muros a me ver batucando atravessado. Quando descobriram que eu fumava maconha, meus pais me disseram que não tinha nada de errado, desde que eu só fumasse em casa. Quando eu comprei um CD do LS Jack, disseram que não tinha nada de errado, desde que eu nunca ouvisse aquilo em casa.
Às vezes organizavam um sarau que parecia missa. “Silêncio, que se vai cantar o fado”, dizia a Luciana Rabello, e daí tocavam choro como quem reza. Todos se calavam como numa igreja. A criança que abrisse o bico tomava logo um tabefe. Aquilo era sagrado. Pra mim, ainda é.
Herdei deles a devoção (sem herdar, no entanto, o talento para a música). Às vezes queria me importar menos com isso. Quando vejo as agressões ao Chico –e não estou falando do bate-boca na calçada, mas da campanha difamatória da qual os ignorantes do Leblon são meros leitores–, para mim é como se chutassem uma santa ou rasgassem a Torá. Como sou a favor da liberdade total de expressão, inclusive quando ela fere o sagrado dos outros, limito-me a torcer para que passem a eternidade ouvindo Lobão e Fábio Jr., intercalados com discursos do Alexandre Frota e Cunha tocando bateria. Uma coisa é certa: a oposição e sua trilha sonora se merecem.
Gregorio Duvivier – Folha de São Paulo
Glimpsie
Foto de Lineu Filho Lebowitz
Ontem, às 21:45. Aviso aos navegantes. Este blog encerra aqui os trabalho deste ano. O retorno será no dia 12 de janeiro de 2016. Aos colaboradores e leitores, muito obrigado pela paciência e compreensão. A todos, saúde.
Foto de Ricardo Silva
Bar. Mesão. Umas 12 pessoas conversam animadamente. Um homem, por volta dos 35 anos (vamos chamá-lo de protagonista), chega: “Opa, e aí, galera?”. Todos o cumprimentam. “E aí?!”. “Puxa uma cadeira!”. “Ó o sumido!”. Ele senta na cabeceira. “Já tá todo mundo, aí?”. Um sujeito ao lado: “É nós!”. Uma menina, na outra ponta: “Réveillon doismiledozêêê!”. O de cavanhaque: “Melhor grupo de zapzap!”. Um gordo, no meio: “Urru!”. O protagonista: “Então, pessoal, valeu aí por vir. Sei que tá puxado pra todo mundo, correria… E, tipo, é até sobre isso que eu queria falar. Eu adoro vocês, adoro o grupo, se tivesse rolado o Réveillon 2012 ia ter sido demais. Pena que caiu barreira em Caraguá, mas enfim. O que eu queria falar é que, tipo, esse ano aí eu percebi que eu tô muito sem tempo e uma das coisas que eu preciso fazer pra ter mais tempo é diminuir o número de grupos de zapzap”.
O gordo, no meio: “Mano, silencia!”. “Eu silencio, mas aí aparece os numerinhos em vermelho e eu fico curioso e entro várias vezes por dia pra ver que que cês tão falando. E que que os outros grupos tão falando. E são 23 grupos. Fora os 187 contatos avulsos. E o FB, o Twitter, o Insta, o e-mail”. A menina, na outra ponta: “Cara, cê resolveu bater uma DR coletiva pra sair do nosso grupo?”. “É, é meio isso.”. “Cê é bem louco, né?”.
A menina e o protagonista namoraram por uns meses, em 2011. Ela já o acusava de ser bem louco. Talvez ele fosse, talvez ele seja, mas ele se defendeu lá atrás e se defende aqui: “Eu não sou louco. Eu sou do século 20 e no século 20 as pessoas não saíam de uma conversa sem pedir licença. É tipo, tipo desligar telefone na cara, virar as costas numa roda”.
O gordo: “Pô, brother, ‘Réveillon 2012’ é firmeza. É o primeiro grupo de zapzap que eu entrei. A gente já tava junto no tempo do Orkut!”. O protagonista: “Eu sei, mas eu tenho trabalho. Tenho filho. Tenho um monte de livro que eu não leio e Netflix que eu não vejo. Eu fico só no celular. Ó aqui meus grupos: ‘Futebol de quinta’: precisa de grupo pro futebol? ‘Churrasco no Perê’: esse churrasco foi em 2013 e a gente ainda conversa. Neguinho bota a casa pra alugar. Pergunta se alguém indica ortopedista bom na região de Pinheiros… ‘Fly me to the moon’: ninguém nesse grupo lembra por que o grupo existe nem por que chama ‘Fly me to the moon’. Aliás, esse é o único assunto do grupo: teorias sobre a origem do grupo. Fora o ‘Família Souza’, do lado da minha mãe, o ‘Todos os Santos’, do meu pai, o ‘Turma Oswald 95’, o ‘Filhos da PUC 99’, o ‘Não vai ter golpe!’ e o ‘Porra, Dilma!’. Não dá. Não rola.”
O protagonista saca o celular. “Não são vocês, sou eu. Juro.” Aperta o botão. Os 12 olham seus celulares. “Saiu do grupo”. “É, saiu”. O protagonista se levanta: “Amo vocês! Cês são demais. Vamos tentar nos encontrar em 2016, vai rolar, eu vou ter tempo, cês vão ver, feliz Ano Novo!
Antonio Prata – Folha de São Paulo
Foto do japonês da Federal
O perdão temporário para que presos possam passar as festas de fim de ano em casa trouxe um efeito inédito no sistema carcerário brasileiro. Presídios ficaram completamente vazios depois que os petistas foram embora.
Os presos culpados por crimes de menor potencial ofensivo podem sair. Há controvérsias, já que muita gente acha que a ofensa desses foi imensa.
“Eu nunca vi essa cadeia assim. Está uma paz, uma coisa boa”, disse um carcereiro, que pediu para não ser identificado.
Num dos estabelecimentos, os petistas cantaram Noite Feliz, relembrando os momentos em que dividiam a propina na Petrobras. Um carcereiro contou que viu uma meia pendurada e, dentro, um pedido de presente: “Ele pediu uma estatal”.
30 de novembro, 2008