Zapzap

Bar. Mesão. Umas 12 pessoas conversam animadamente. Um homem, por volta dos 35 anos (vamos chamá-lo de protagonista), chega: “Opa, e aí, galera?”. Todos o cumprimentam. “E aí?!”. “Puxa uma cadeira!”. “Ó o sumido!”. Ele senta na cabeceira. “Já tá todo mundo, aí?”. Um sujeito ao lado: “É nós!”. Uma menina, na outra ponta: “Réveillon doismiledozêêê!”. O de cavanhaque: “Melhor grupo de zapzap!”. Um gordo, no meio: “Urru!”. O protagonista: “Então, pessoal, valeu aí por vir. Sei que tá puxado pra todo mundo, correria… E, tipo, é até sobre isso que eu queria falar. Eu adoro vocês, adoro o grupo, se tivesse rolado o Réveillon 2012 ia ter sido demais. Pena que caiu barreira em Caraguá, mas enfim. O que eu queria falar é que, tipo, esse ano aí eu percebi que eu tô muito sem tempo e uma das coisas que eu preciso fazer pra ter mais tempo é diminuir o número de grupos de zapzap”.

O gordo, no meio: “Mano, silencia!”. “Eu silencio, mas aí aparece os numerinhos em vermelho e eu fico curioso e entro várias vezes por dia pra ver que que cês tão falando. E que que os outros grupos tão falando. E são 23 grupos. Fora os 187 contatos avulsos. E o FB, o Twitter, o Insta, o e-mail”. A menina, na outra ponta: “Cara, cê resolveu bater uma DR coletiva pra sair do nosso grupo?”. “É, é meio isso.”. “Cê é bem louco, né?”.

A menina e o protagonista namoraram por uns meses, em 2011. Ela já o acusava de ser bem louco. Talvez ele fosse, talvez ele seja, mas ele se defendeu lá atrás e se defende aqui: “Eu não sou louco. Eu sou do século 20 e no século 20 as pessoas não saíam de uma conversa sem pedir licença. É tipo, tipo desligar telefone na cara, virar as costas numa roda”.

O gordo: “Pô, brother, ‘Réveillon 2012’ é firmeza. É o primeiro grupo de zapzap que eu entrei. A gente já tava junto no tempo do Orkut!”. O protagonista: “Eu sei, mas eu tenho trabalho. Tenho filho. Tenho um monte de livro que eu não leio e Netflix que eu não vejo. Eu fico só no celular. Ó aqui meus grupos: ‘Futebol de quinta’: precisa de grupo pro futebol? ‘Churrasco no Perê’: esse churrasco foi em 2013 e a gente ainda conversa. Neguinho bota a casa pra alugar. Pergunta se alguém indica ortopedista bom na região de Pinheiros… ‘Fly me to the moon’: ninguém nesse grupo lembra por que o grupo existe nem por que chama ‘Fly me to the moon’. Aliás, esse é o único assunto do grupo: teorias sobre a origem do grupo. Fora o ‘Família Souza’, do lado da minha mãe, o ‘Todos os Santos’, do meu pai, o ‘Turma Oswald 95’, o ‘Filhos da PUC 99’, o ‘Não vai ter golpe!’ e o ‘Porra, Dilma!’. Não dá. Não rola.”

O protagonista saca o celular. “Não são vocês, sou eu. Juro.” Aperta o botão. Os 12 olham seus celulares. “Saiu do grupo”. “É, saiu”. O protagonista se levanta: “Amo vocês! Cês são demais. Vamos tentar nos encontrar em 2016, vai rolar, eu vou ter tempo, cês vão ver, feliz Ano Novo!

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Antonio Prata – Folha de São Paulo

Sobre Solda

Luiz Antonio Solda, Itararé (SP), 1952. Cartunista, poeta, publicitário reformado, fundador da Academia Paranaense de Letraset, nefelibata, taquifágico, soníloquo e taxidermista nas horas de folga. Há mais de 50 anos tenta viver em Curitiba. É autor do pleonasmo "Se não for divertido não tem graça". Contato: luizsolda@uol.com.br
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