O PT trabalha para ter no próximo ano candidatura própria em ao menos 14 das 27 capitais. Com menos candidatos, espera trabalhar melhor nas campanhas – ora com a presença do presidente Lula, ora com a presença da primeira-dama, Janja da Silva. Mas mais de Janja.
A avaliação é que ter Lula nos palanques será mais difícil. Como presidente, ele só poderá participar nos horários fora do expediente e com cuidado para não misturar as estruturas. Já Janja, sem função oficial, poderá viajar pelo país.
As duas capitais que receberão a atenção especial do presidente, porém, não terão um petista na cabeça de chapa: São Paulo, com Guilherme Boulos, do PSOL; e Rio de Janeiro, com Eduardo Paes, do PSD. Lula já avisou o PT que faz questão de se empenhar pessoalmente nas duas.
Em 2020, os petistas tiveram candidatos em 20 capitais e não ganharam em nenhuma.
Execução de médicos escancarou que ninguém está seguro em lugar nenhum
A crise na segurança pública é um problema tão grave quanto antigo das cidades brasileiras, mas a situação demonstra ter fugido completamente ao controle do Estado.
Não é segredo que há números da violência no Brasil compatíveis com os de uma guerra civil. Olhando friamente, o fuzilamento do grupo de médicos na orla da Barra da Tijuca é mais um entre as centenas de crimes horrorosos que engordam as estatísticas.
Eles estavam no lugar errado, na hora errada —como ocorre com milhares de brasileiros nas nossas comunidades. Inocentes mortos num campo de batalha comandado por facções criminosas que disputam territórios. Onde as forças policiais perderam, abriram mão ou nunca tiveram domínio, por razões diversas.
O diferencial é que a execução dos médicos escancarou que ninguém está seguro em lugar nenhum. O crime ocorreu em área nobre da capital fluminense —não nas periferias. Para completar, a União havia acabado de anunciar um plano emergencial de segurança para o RJ. Uma conjunção de elementos que, além da comoção, mobilizou as maiores autoridades do país.
Resta saber quando a sociedade brasileira finalmente vai despertar para o fato de que, quando o Estado renuncia à prerrogativa pública de preservação da ordem para proteção das pessoas e do patrimônio, conforme previsto na Constituição, todos ficam sujeitos ao caos e à desordem.
Se “não existe fórmula mágica, bala de prata, receita pronta para resolver o problema da segurança pública no Brasil”, como disse o secretário-executivo do Ministério da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Cappelli, resta claro que a solução também não está no encarceramento em massa nem no uso indiscriminado da violência.
Pensar nos fatores sociais relacionados à criminalidade e investir em políticas públicas efetivas voltadas para educação, saúde, esporte, cultura e lazer parece uma boa maneira de começar a enfrentar o problema com profundidade.
Este singelo escritor, rude cidadão sobre o qual pairam acusações de possuir coração peludo, em vista da pouca importância que dedica aos ritos da sociedade, já esteve envolvido cem por cento nos preparativos para comparecer a um – pasme, leitor – baile de debutantes.
Deu-se que naquele ano minha prima Sônia iria debutar no Clube Joinville, com o que me convidou para ser seu padrinho. A tarefa iria demandar diversos encargos, das quais a menor seria cumprir a viagem desde Curitiba. Haveria ensaio, por exemplo.
O primeiro passo foi decidir sobre o smoking, o traje protocolar exigido para a ocasião. A solução caseira seria transformar um smoking sem uso do meu pai em algo que caísse bem no corpo do filho, 20 quilos mais magro.
O velho levou-me ao seu alfaiate de confiança, na Alfaiataria Terron & Schinzel. Terron era mestre em reformar smokings, garantiu. Passaram-se uns dias, fui fazer a prova do traje. Marcada a entrega, levei a roupa para casa, todo pimpão. Ao experimentá-la, notei que o alfaiate era mágico.
Para diminuir a circunferência das pernas da calça, Terron tratou de retirar boa parte do pano. Como as calças de smoking não tinham bolsos traseiros, foi aquele pedaço que ele cortou e emendou com a parte da frente. A estratégia deu certo, a calça caiu como uma luva. Com o detalhe de que os bolsos laterais foram parar no lugar dos inexistentes bolsos de trás. Não haveria nenhum inconveniente, se eu não tentasse enfiar as mãos nos bolsos. Caso tentasse, como tentei muitas vezes, ficaria com o corpo em uma posição estranha, como se fosse um barrigudo orgulhoso da adiposidade excessiva, com o tronco quase a 90 graus das pernas.
Comprei uma camisa de gala para ser engomada. A gravata borboleta tinha uma bossa que me pareceu um luxo: as sobras do laço formavam duas tiras que desciam uns cinco centímetros sobre o peito. Senti-me chiquíssimo, considerando que os bolsos da calça estavam invisíveis.
Clube lotado, as meninas fizeram sua entrada triunfal, dançaram a primeira valsa com os pais, depois os padrinhos fizeram seu papel. Tenho orgulho em dizer que não tropecei, não pisei no pé de ninguém, não saí do script. Entreguei a moça para seu namorado, Gerson Rodrigues Alves (com quem casou e continua a perseverar), e tratei de encantar uma amiga da minha prima, a quem eu dedicava verdadeira paixão.
Voltei otimista para Curitiba, minhas chances eram boas. A ilusão durou umas duas semanas, até o telefone tocar lá em casa. Era ela. Entre risos e bobagens, me surpreendeu:
– Preciso arrumar um namorado.
Seu interlocutor, tímido e desajeitado, ficou quieto. Se dissesse “sou eu”, ela poderia retrucar: “Gosto de você como amigo”.
Melhor não passar vergonha, engolir a paixão e tocar a vida, sem perder tempo com essas nuances do amor. Na certa haveria outro baile em que eu pudesse desfilar minha falta de charme, enfiando a mão nos bolsos traseiros do smoking e sair assoviando ‘Flying to The Moon’ todo torto, como se nada tivesse acontecido.
Sempre tive certeza de que não deveria me intrometer em assuntos tão complexos quanto bailes de debutantes. Talvez já pressentisse que temas assim iriam provocar a tal espessa pelugem que dizem envolver meu combalido coração.
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