Baterista dos Wailers, depois Bob Marley & The Wailers. Irmão do baixista Aston Barret. Ele foi o inventor da batida característica do reggae, inigualável, depois aprimorada por Sly Dunbar. Grosby Group
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Quem foi para a rua em 2013 e viu a polícia do governador Geraldo Alckmin ligar o motor das manifestações que passaram a influenciar a política nacional estarreceu-se com o resultado da pesquisa do Datafolha feita na avenida Paulista na tarde de domingo. Há dois anos a rua foi ocupada por muita gente que ia ao centrão de São Paulo, andava de ônibus e pedia o cancelamento de um aumento de tarifas nos transportes públicos. Domingo, pediam o impedimento da presidente da República.
A manifestação de 2013 não tinha articulações políticas mas a de domingo era depositária das esperanças de Eduardo Cunha, que luta pela sobrevivência política e até mesmo pela liberdade pessoal. Além dele, o impedimento da doutora Dilma interessa à banda de deputados que controla, ao PSDB, a boa parte do PMDB e ao vice-presidente Michel Temer. Todos ajudaram a colocar Cunha na presidência da Câmara. Um verdadeiro saco de gatos onde entraram bichos de outras espécies.
Todos sabem que o impedimento da doutora depende da rua. O Datafolha mostrou a rua que estava na avenida Paulista.
Foram ouvidas 1.351 pessoas. Numa época em que é enorme a desilusão com o governo de Dilma, só 3% dos manifestantes haviam votado nela. Perto da metade das pessoas entrevistadas (44%) tinham renda familiar superior a R$ 7.880 mensais. Para 4%, ela era superior a R$ 39.400. (A renda média das famílias de São Paulo é de R$ 4.151.)
Havia 40 mil pessoas na rua, mas a rua não foi para a avenida. Elas não eram sequer um bloco representativo do eleitorado de Aécio Neves, apenas uma amostra do seu estrato superior. Mesmo assim, 40 mil manifestantes são gente para ninguém botar defeito. Em 1983, quando o PT quis mostrar sua força arrancando sozinho numa campanha pelas eleições diretas, levou 15 mil pessoas para a frente do estádio do Pacaembu.
Se o Brasil é uma Belíndia, uma parte da Bélgica saiu de casa, mas a Índia, que estava desacompanhada em 2013, faltou ao encontro.
Seria exagero espichar os números da Datafolha para concluir que a rua ficará fora de uma crise que vai se agravar, mas na Paulista viam-se alguns dos ingredientes que afastaram a Índia e uma parte da Bélgica desse domingo na avenida.
Fazia um calor de rachar e a tripulação de um dos carros de som abandonou a área ensolarada que lhe servia de palanque. Ligaram uma gravação aos alto-falantes e foram para a sombra.
Se 98% dos entrevistados pelo Datafolha queriam que Dilma fosse embora (o óbvio), só 19% faziam fé num governo de Temer (ótimo ou bom) e 28% anteviam-lhe um desempenho ruim ou péssimo. Para 72%, Temer fará melhor que Dilma mas 21% acham que vai se trocar seis por meia dúzia. (Numa próxima manifestação, seria bom procurar a percentagem das pessoas interessadas em mandar a Constituição de 1988 para o espaço.)
O pedaço da Bélgica que foi para a avenida é capaz de perder uma tarde de domingo para pedir a saída de Dilma, mas expõe sua incerteza em relação ao próximo passo. A confusão aumenta quando se vê que 91% dos manifestantes querem a cassação do mandato de Eduardo Cunha.
Em Brasília, os sábios do tucanato articulam um provável ministério de Temer, que se mantém a prudente distância de Cunha. Todos acreditam que essa armação será consagrada pelo ronco da rua.
Elio Gaspari – Folha de S.Paulo
Houve um dia em que Curitiba e Região Metropolitana pensaram em construir uma grande usina de industrialização do lixo, a que se deu o nome de Sipar. Em 2007, chegaram a abrir uma licitação internacional. A briga pelo contrato era travada entre “cachorros grandes” do setor, empenhados em explorar o serviço por 25 anos e com a expectativa de faturar bilhões. Tudo foi parar na Justiça. Recursos pra lá e pra cá durante sete anos acabaram por sepultar a licitação.
A ideia até que parecia boa: o Sipar se responsabilizaria pela coleta e destinação de 2.500 toneladas diárias de lixo de 18 municípios. Seria o fim dos atrasados aterros sanitários – do tipo, por exemplo, do polêmico lixão do Caximba – e sua substituição por processos de reciclagem e queima de resíduos, com um resultado suplementar importante: o lixo se transformaria em energia.
Na campanha de 2012, o então candidato Gustavo Fruet manifestava-se a favor de um outro jeito de fazer a mesma coisa, mais barato e menos agressivo ao meio ambiente. Segundo ele, em vez de coletar todo o lixo e transportá-lo a distâncias até superiores a 50 quilômetros, propunha implantar quatro ou cinco unidades geograficamente localizadas no entorno de Curitiba, de modo a evitar o que chamava de “passeio do lixo”.
A gestão de Fruet está quase no fim. Falta apenas um ano para acabar – mas as coisas demoram a acontecer. Salvo pela implantação das “estações de sustentabilidade” (já são 11 os contêineres espalhados pelos bairros para recolhimento de recicláveis), pouca coisa mudou.
O que de mais concreto existe é a evolução de um estudo que está sendo feito pelo Banco Mundial e que, segundo se prevê, apresentará os primeiros resultados concretos só lá por 2017. Seriam as primeiras estações de tratamento, nas quais se produziria gás e adubos orgânicos. A incineração é uma alternativa que se quer evitar, por ser poluidora.
Outra novidade que surgiu no período – isto é, desde que o Caximba foi fechado em 2011 – foi o credenciamento da empresa Estre Ambiental para que ela depositasse todo o lixo num aterro sanitário em área de sua propriedade no município de Fazenda Rio Grande. A outra novidade é que a Estre comprou a Cavo, companhia que há muitos anos faz a coleta e o transporte do lixo.
Com isto, a Estre assumiu o monopólio do lixo de Curitiba e de algumas cidades da região metropolitana – um negócio que rende milhões anualmente para o BTG – banco controlador da Estre/Cavo, de propriedade do banqueiro André Esteves, aquele que, junto com o senador Delcídio do Amaral, foi preso por tentar de atrapalhar investigações da Lava Jato.
Vai ficar mexendo com lixo enquanto não saírem do papel as primeiras novas estações de tratamento.
Celso Nascimento – Gazeta do Povo
Dieffenbachia seguine. Eduardo Cunha, também conhecido como “Comigo-ninguém-pode”.
Foto de Roberto José da Silva
Mario Benedetti. Reuters
BRASÍLIA – Na confusão do noticiário da semana passada, passou quase despercebido o pacto do PSDB pelo impeachment. Divididos desde o início do ano, os tucanos resolveram unificar o discurso a favor da deposição de Dilma Rousseff.
O acordo foi selado com uma rara visita de Fernando Henrique Cardoso a Brasília. O ex-presidente posou para uma foto com Aécio Neves e Geraldo Alckmin, que disputam o controle do partido e o direito de concorrer à Presidência de novo em 2018.
O senador mineiro, que chegou a sonhar com a convocação de novas eleições, já havia declarado apoio ao impedimento da presidente. Faltava o governador paulista, que dizia a aliados não ver base jurídica para um processo de impeachment.
Alckmin mudou de ideia depois de um encontro a portas fechadas com o vice-presidente Michel Temer. Segundo peemedebistas, ele esperava uma garantia de que o vice não pretende concorrer à reeleição caso assuma o Planalto pelos próximos três anos, em mandato-tampão no lugar de Dilma Rousseff.
O novo pacto do PSDB não muda nada no placar do impeachment. Sempre esteve claro que os 53 deputados do partido votariam a favor do pedido, que leva a assinatura do advogado tucano Miguel Reale Junior.
A novidade é que a foto com FHC liberou a sigla para dizer em público o que já admitia e negociava em privado. Os tucanos estão ansiosos, alguns ansiosíssimos, para integrar uma eventual gestão Temer.
“Se houver um novo governo, vai haver entendimento”, anunciou no domingo o senador José Serra, candidato a ministro da área econômica. “Dependendo das condições e do programa, podemos participar”, endossou o senador Aloysio Nunes.
Derrotado nas últimas quatro eleições presidenciais, o PSDB sofre há 13 anos com a distância do poder. Agora o partido parece ter encontrado, na “Ponte para o Futuro” de Temer, um caminho mais fácil para trocar a oposição pela situação.
Bernardo Mello Franco – Folha de São Paulo
Toda geração tem o seu. O da minha atendia pelo nome de Dr. Chaim.
Dr. Chaim mantinha um consultório no Leblon, e era para lá que as meninas iam cada vez que a liberdade recém-adquirida de trepar na adolescência acabava numa gravidez indesejada.
Ainda não existia a Aids, esse complicador.
Terminado o procedimento, as pacientes eram dispostas em cadeiras reclináveis, numa pequena sala comunal, à espera de que recobrassem os sentidos.
Um amigo enfrentou o dia fatídico e presenciou dois ataques histéricos na sala de recuperação. Assustadas com o peso e o caráter criminoso da decisão, as moças muitas vezes acordavam aos gritos da cirurgia.
Não conheci o Dr. Chaim, mas passei por dois abortos espontâneos e tomei a pílula do dia seguinte.
Em todas as ocasiões, senti algo parecido com dar um cavalo de pau num Fenemê acelerado. Uma vez fecundado, o óvulo se apodera do corpo, enviando ordens para o centro nervoso da gestante, a fim de garantir a imortalidade do DNA egoísta.
Indivíduo, desejo, livre arbítrio, tudo o que prega a cartilha de direitos civis passa para terceiro plano.
Vômitos, suadouro, depressão, medo, tristeza, vazio são alguns dos sintomas que experimentei.
Por isso, percebo algo falho nos slogans das campanhas pró-aborto, que afirmam que a mulher é livre para fazer o que quiser do próprio corpo. Uma gestação envolve, no mínimo, o parceiro, além de um misterioso terceiro elemento chamado embrião.
Não sei se há consciência no embrião, mas existe a vontade.
A defesa do direito ao aborto peca pelo tom libertário, assim como a da legalização das drogas, por vezes, parece esquecer da dependência trágica do vício.
É nesse ponto que a bancada conservadora se sobressai, ao se firmar como guardiã da vida, ignorando fato de que a imaculada pauta escamoteia o fracasso da política antidrogas e o mercado clandestino de aborteiros de plantão.
Sou favorável à regulamentação do aborto pelo mesmo motivo que defendo a legalização das drogas. Sua proibição acarreta mais danos do que benefícios à população.
Mas uma coisa é liberar a droga, outra é se libertar da droga. Uma coisa é legalizar o aborto, outra é controlar o sexo sem camisinha, é criar horizontes para crianças sem perspectiva de futuro.
Choca assistir ao encaminhamento de propostas ao Congresso que visam retroceder no direito ao aborto para mulheres vítimas de estupro, enquanto leis que restringem o comércio de armas se veem ameaçadas pelos interesses da indústria bélica.
É a lógica distorcida, tão bem definida em “Haiti”, de Gil e Caetano, sobre o Papa que vê tanto espírito em feto e nenhum no marginal.
O aborto, no Brasil, esbarra em crenças e convicções inarredáveis; um embate sem solução, entre ciência e religião, para precisar o momento em que a intervenção cirúrgica maquia um assassinato.
Por ora, aprovar o uso da pílula do dia seguinte já diminuiria, e muito, o sofrimento de inúmeras mulheres que arriscam a saúde em clínicas ilegais.
O lobby dos fármacos, tão poderoso quanto o das armas, poderia exercer uma pressão maior sobre o plenário do que a retórica em torno da liberdade individual.
Pragmatismo econômico no lugar de ideologia. É triste, mas é a norma do século 21.
Fernanda Torres – Folha de São Paulo
Foto de Ricardo Silva
Amy Winehouse. Grosby Group