A adaptação do clássico Sonho de uma noite de verão, do dramaturgo inglês William Shakespeare é atração de junho do projeto “Aventuras Teatrais”, realizado pela Biblioteca Pública do Paraná.
A peça acontece hoje, dia 15, às 15h, no auditório Paul Garfunkel da BPP. Encenado pela Cia. do Abração, o espetáculo conta da história de quatro velhinhos, contadores de estórias, que se encontram a serviço do Sr. Milkshakespeare e se utilizam de objetos para contar a estória dos encontros e desencontros de dois casais. A idéia central da Cia do Abração, realizadora do Projeto Shakespeare para Crianças, é proporcionar aos pequenos o primeiro contato com a boa literatura, encenando o clássico shakespeareano. O projeto “Aventuras Teatrais” é uma iniciativa da Seção Infantil da BPP e reúne, mensalmente, crianças, no Auditório Paul Garfunkel, para um espetáculo teatral educativo e cheio de cores.
Serviço: Aventuras Teatrais: Sonho de uma noite de verão, Cia. do Abração. Local: Biblioteca Pública do Paraná – Auditório Paul Garfunkel, 2º andar. Horário: 15/6, às 15h. Gratuito. Informações: 3221-4980 (Seção Infantil)
Entre as boas coisas de Curitiba, uma, em especial, é o escultor e performer Hélio Leites. Não contente em ser o fundador da Associação Internacional do Botão, papa da Igreja da Graça, esta mesma que, ao contrário da Desgraça, só faz rir, a presença indissociável de todo evento que se preze na cidade, de noite de autógrafos a sessão de mágica, “condecorando-nos” com pequenos “selos” botânicos criados especialmente para a ocasião. Hélio Leites vem provando, há algum tempo, que Curitiba, ao contrário das más-linguas, tem teatro, sim, e dos bons. O seu é um teatro originalíssimo, feito no meio da rua, para platéias que não excedam a meia dúzia de pessoas e tendo como palco os exíguos centímetros quadrados de uma caixa de fósforos. Isto mesmo, gentil leitor, é numa caixa de fósforos, transformada em palco, com micropersonagens móveis esculpidos a partir de palitos de sorvete, que dá a incalculável cena, a mesma que faz brotar, do riso e da curiosidade de espectadores enfeitiçados, a poesia mais imensa. E o que é melhor – espectador que deseje, leva o teatro para casa, com a caixinha em que se deu o espetáculo, mais os personagens e o cenário que a compuseram, vendidos a preço módico. O que era teatro, pura mágica, se converte numa peça de escultura. O resto e chapéu do palhaço inventor…
Tenho aqui no estúdio do Boa Vista algumas dessas caixas de fósforos que um dia foram teatro de rua, sobretudo aquela que, segundo o próprio Hélio, é uma das mais concorridas, o que muito me honra, pois criada a partir de um texto meu, do livro “Manual de Zoofilia”. Sou o minidramaturgo deste microespetáculo todo feito à mão…
Trans-miniatura de um envelope, a caixa reproduz, frente e verso, respectivamente o espaço do destinatário e do remetente; as bordas, listradas de verde-amarelo, têm como modelo o envelope padrão nacional dos Correios, e dentro dela, em seu palco armado, vige, mínimo, espetaculoso, quase sonoro, – em torno de dois minúsculos ovinhos esculpidos em grão de arroz e esmaltados de branco! – um casal de corruíras. É que, no poema, falo da primavera já antiga em que Deus mandou notícias cá para o tugúrio na forma de um ninho de corruíras dentro da caixa de correspondência que a família mantém fincada no portão.
Outras caixas de fósforos existem, do Santo Antônio fujão às que contam a saga da imigração japonesa: das mil-e-uma-vidas do bordel da Otília na cidade d’antanho à trêfega Polaquinha de Dalton Trevisan andando os ônibus expressos de Curitiba. Caixas para todos os gostos e feitios – caixas lúgubres com o melhor do teatro noir; caixas ouro-barro, vero fulgor; e uma caixa azul, mas tão azul, que é além que os olhos de Helena Kolody, e vos narra, com minúcia de vida mínima, uma fábula polaca como não há mais.
Esse Hélio Leites é um cara muito estranho, capaz de pegar na asa da borboleta sem lhe desmanchar o desenho, ainda que, dele, as suas mãos sejam grandes, quase ríspidas. Daqui imagino o indispensável pássaro que há de morar nelas para que pintem e pinguem, pontículo brilhante, o diminuto olho de uma personagem (ainda) sem rosto e que, de dentro da caixa, logo mais, no centro da cidade, pode que se mexa, e pisque para você, de surpresa, seu olhículo aceso. Há também mãos e unhas que sendo microscópicas parece nunca existirem.
E eu, Hélio Leites, que só queria te dar notícia pública de que, reinventando a primavera, de novo as corruíras – desta vez no beiral da porta do estúdio, se decidiram por nós, e já voejam e gorgeiam, tramam e dançam um quiçá ninho indecifrável. Que notícias agora no bico do passarinho mais pequeno?
Wilson Bueno (Folha de Londrina/Folha do Paraná/3/10/1999)
Um homem. Enrugado, calvo, mão direita levantada. Seu polegar e indicador se tocam. Nesse instante, mão e olho explodem simultaneamente. Depois o braço, o lado direito do rosto, e logo após, o esquerdo. A massa pastosa de ambos (braço e rosto) mistura-se e cobre todo o corpo. O homem toma a forma de uma pasta. A pasta se transforma num rochedo. O líquido viscoso adquire consistência pétrea. Súbito, no topo do rochedo, um traço. O traço cresce até se tornar uma rachadura. A rocha, dura, então é uma casca. A casca de um grande ovo. O ovo se quebra e, do interior, minúsculo, surge ele. Um homem.
A Fundação Cultural de Curitiba lamenta a morte de Fausto Cascaes. Foto de Arquivo.
O ator, que morreu aos 84 anos, passou boa parte da vida na estrada, levando o teatro a comunidades que, na década de 50, nunca tinham assistido a uma peça. “Foi uma grande perda para o teatro paranaense. Desde criança ele era envolvido com circo e teatro. Começou no teatro de pavilhão e batalhou a vida inteira pelo teatro e pelo trabalho em que ele acreditava”, afirma Eliane Berger, coordenadora geral do Fórum das Entidades Culturais, instituição a qual Fausto era filiado há 15 anos, desde a sua criação. No Fórum, o ator representava o teatro itinerante. Com o amigo José Basso e outros companheiros percorreu o interior do Paraná.
“Fizemos um trabalho de bandeirantes, rodando no barro. Tenho orgulho de dizer que o teatro que existe no interior foi incentivado pelo nosso trabalho”, comenta Basso. E completa: “ele tinha um perfil humanitário. Sempre pronto a ajudar todo mundo. Além de atuar, tinha o dom de fabricar cenários. E vi ele fazer isso sem cobrar nada”, lembra.
A causa da morte de Fausto Cascaes foi um AVC. Há sete meses não saía da cama, depois de ter sofrido uma queda que ocasionou a quebra do fêmur. Fez cirurgia, mas não conseguia dar início à fisioterapia. Fausto será velado na Capela Vaticano – Diamante, a partir das 21h, e o corpo será cremado amanhã no Cemitério Municipal.
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