Danuta Szaflarska (1915|2017), atriz de teatro e cinema polonês. Em 2008 ela foi premiada com o Złota Kaczka para a melhor atriz polonesa do século. Szaflarska participou da Revolta de Varsóvia. Foi condecorada com a Ordem da Polônia Restituta, Cruz do comandante e do Comandante Cruz com Estrela, uma das maiores ordens da Polônia e Medalha de Ouro de Gloria Artis.
Hora de Morrer|Pora Umierać |2007|Dorota Kedzierzawska|Polônia
O filme retrata a história de Aniela, uma anciã solitária, rabugenta e enérgica que vive, com sua impetuosa cadela Philadelphia, em uma grande e velha casa cercada por árvores e um balanço, tendo como vizinhos uma escola de música para crianças e um novo rico , grosseiro e arrogante, que a todo custo lhe exerce pressão para que lhe venda sua casa.
Hora de Morrer é antes de qualquer coisa uma reflexão de que a velhice não pode ser encarada como uma sentença à inutilidade e à invisibilidade. Trata-se de uma história otimista e comovente, delicada e fortemente conduzida pela atriz Danuta Szaflarska, com seus 90 e poucos anos.
Danuta conduz o filme com maestria, praticamente sozinha o tempo todo e quase que em cenário único. É impossivel não se apaixonar por sua personagem, de humor suave e inteligente, de expressão cheia de vida e de monólogos de sábia inspiração. Além de Danuta, destaque para os detalhes de direção de arte que formam o ambiente da casa, a película em preto e branco granulado e uma série de tomadas de câmera através de vidros, que imprimem uma percepção interessante do filme.
Uma boa sugestão para uma experiência visual, mas sobretudo para reflexão sobre solidão, velhice e continuidade no fim da vida.
O ex-deputado Jean Wyllys passa com a Rural que o batizou sobre o governador Eduardo Leite, do RS. Com a autoridade do sociólogo e militante gay, parceiro de Marielle Franco, acusa o governador de homofascista, um gay de direita.
É que o governador alinha-se a Ratinho Júnior e Tarcísio de Freitas para repudiar a decisão de Lula contra as escolas cívico-militares. Ele só não diz que o governador é um gay fissurado em homens de uniforme porque o clichê já foi usado por Freud e deu filme clássico de Marlon Brando e Elizabeth Taylor (Reflections On A Golden Eye, 1967, dir. John Huston). Nessa briga, em que o governador Leite engalana-se em pose e contenção de estadista para rebater o deputado, a xingação de Wyllys soa digna e elevada diante do oportunismo de manter a herança espúria do bolsonarismo que os elegeu e que exploram nesse utilitarismo que cospe na histórica luta contra o atraso, a opressão e os crimes das ditaduras militares.
O tom de Wyllys é aceitável mesmo quando chama o governador gaúcho de bee, abelhinha, um derrogatório gay. Sim, porque o governador, embora gay assumido, revela-se direitista enrustido, ao contrário dos colegas do Paraná e São Paulo, estes direitistas assumidos, também filhotes de Jair Bolsonaro. Triste que as sociedade civil paranaense, gaúcha e paulista cala-se com isso aprova a insistência dos governadores em manter as escolas cívico-militares, uma contradição nos termos, pois se o militar não for cívico não serve e o cívico dos governadores, atrelado ao militar, é atroz na ignorância do significado de pátria (sempre deturpado pelos militares e agora penetrado na deformação política dos governadores).[
O dono PL, Valdemar Costa Neto, atuou discretamente para segurar a bancada do PL no Senado contra Luís Roberto Barroso, ministro do Supremo Tribunal Federal. Para Valdemar, se partisse do partido, o pedido de impeachment do ministro prejudicaria a legenda nas ações a que responde no Tribunal Superior Eleitoral.
Durante um evento da UNE (União Nacional dos Estudantes), o ministro afirmou: “enfrentei a Ditadura e já enfrentei o bolsonarismo, não me preocupo”. A fala pegou mal. E foi criticada até pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), um insuspeito aliado dos ministros do STF. O ministro se desculpou, dizendo se referir a extremistas.
Antes da divulgação da nota do senador Rogério Marinho (PL-RN) como líder da oposição, Valdemar conversou com ele e com o líder do PL, senador Marcos Pontes (SP), para combinar o posicionamento.
Na nota, Marinho acusa Barroso de cometer “uma clara contradição com o mandato constitucional, que proíbe expressamente a atividade político-partidária aos integrantes da magistratura (parágrafo único do art. 95)”, mas nada disse sobre impeachment.
Para Valdemar, qualquer tentativa de forçar a barra numa eventual crise contra o futuro presidente do STF, não deve partir do PL do Senado.
Valêncio Xavier Niculitcheff foi um escritor, cineasta, roteirista e diretor de TV brasileiro. Paulistano de nascimento, Valêncio mudou-se para a cidade de Curitiba aos 21 anos de idade. Na capital paranaense trabalhou na TV Paranaense e na afiliada da Rede Tupi, a TV Paraná. Neste meio, escreveu dramas e chegou a dirigir episódios do Globo Repórter.
“Quando o Valêncio criou a Cinemateca, em 1975, eu e meu irmão éramos dois piazões. Íamos lá para ver filmes, mas também para namorar, fazer bagunça. Isso irritava extremamente o Valêncio, que considerava aquele lugar sagrado, um lugar de culto à imagem e de reflexão sobre a vida. Então esse foi nosso primeiro contato, com o Valêncio bravo comigo. Anos depois eu faria um documentário sobre a vida dele, As muitas vidas de Valêncio Xavier”.
*Beto Carminatti é cineasta. Dirigiu, com Pedro Megere, o longa Misteryos (2008), baseado em O mez da grippe e outros livros, de Valêncio Xavier.
Emad (Shahab Hosseini) e Rana (Taraneh Alidoosti) são casados e encenam a montagem da peça teatral “A Morte de um Caixeiro Viajante”, de Arthur Miller. Um dia, eles são surpreendidos com o alerta para que eles e todos os moradores do prédio em que vivem deixem o local imediatamente. O problema é que, devido a uma obra próxima, todo o prédio corre o risco de desabamento. Diante deste problema, Emad e Rana passam a morar, provisoriamente, em um apartamento emprestado.
É lá que Rana é surpreendida com a entrada de um estranho no banheiro, justamente quando está tomando banho. O susto faz com que ela se machuque seriamente e vá parar no hospital. Entretanto, é o trauma do ocorrido que afeta, cada vez mais, suas vidas.
Forushande, O apartamento. Direção de Asghar Farhadi, França, Irã, 2017, 2h 03min.
Esta obra-prima do rococó, de 1767, é cheia de simbolismo, e no centro de tudo está um relaciomento extraconjugal da mulher. O homem escondido nos arbustos do lado esquerdo tem uma visão privegiada das partes íntimas da mulher.
Ou leu, mas com títulos diferentes daqueles que seus autores originalmente lhes deram
Conhece o romance “O Mundo Coberto de Penas”, de 1938? Trata da seca no Nordeste. Seus personagens são uma família de retirantes famintos seguindo por uma estrada com sua cachorra Baleia, que eles acabam comendo. O autor é Graciliano Ramos. E, antes que você diga que esse livro é plágio de “Vidas Secas”, vou logo dizendo que ele é o próprio “Vidas Secas”, com o infeliz título original que lhe foi dado por Graciliano e que a Editora José Olympio fez muito bem em corrigir.
Quantos outros romances não estarão nesse caso? “A Maçã no Escuro” (1961), de Clarice Lispector, nasceu como “A Veia no Pulso”. Mas Fernando Sabino, ao lê-lo ainda no manuscrito, argumentou que poderiam entender “Aveia no Pulso”, o que não era bem a ideia. Não que o livro tenha a ver com maçãs no escuro —é só uma imagem para designar algo difícil de pegar, de apreender.
Muitos escritores já quase se estreparam no título. “A Ilha do Tesouro” (1883), de Robert Louis Stevenson, ia se chamar “O Cozinheiro do Navio”; “O Grande Gatsby” (1925), de Scott Fitzgerald, “Incidente em West Egg”; e “1984” (1949), de George Orwell, “O Último Homem na Europa”.
E há os casos de livros que tiveram seus títulos simplificados pelos leitores. “Robinson Crusoé” (1719), de Daniel Defoe, chama-se, na verdade, “A Vida e as Estranhas e Surpreendentes Aventuras de Robinson Crusoé”; “Frankenstein” (1818), de Mary Shelley, “Frankenstein, o Moderno Prometeu”; e “Alice Através do Espelho” (1871), de Lewis Carroll, “Através do Espelho… e o que Alice Encontrou Lá”.
A peça “Bonitinha, mas Ordinária” (1962), de Nelson Rodrigues, é “Otto Lara Resende, ou Bonitinha, mas Ordinária”. Ao ver aquilo, Otto implorou para que Nelson o mudasse: “Vão achar que a bonitinha mas ordinária sou eu!”. Mas Nelson não mudou e, segundo ele, Otto estava só fingindo protestar —gostou tanto que até se ofereceu para pagar o neon na fachada do teatro.
Fazer uma antologia que traga no título a expressão “Os Melhores…” é (diria o dr. Machado Penumbra) mergulhar no paradoxo e se expor ao vitupério. Tudo que não é quantificável, como é o caso da qualidade literária, fica sujeito ao que a linguagem popular denomina de “gosto”, um nó-górdio que não se deslinda e só se pode cortar com a frase (talvez inventada por Seu Lunga) “gosto não se discute”.
A função de um antologista ou de um crítico os obriga a equilibrar o seu gosto com um conjunto diferente de expectativas. Sua leitura, sem deixar de ser uma leitura pessoal, tem também uma visão coletiva, porque sua função naquele momento tem algo de normativo, de definidor de parâmetros. Uma antologia que usa a expressão “Os melhores…” tende a transformar seus contos em sinalizadores. Os escolhidos de hoje são os imitados de amanhã. Em casos assim, a preferência pessoal dá um passo atrás e cede a vez a uma preocupação mais ampla. O crítico não está premiando unicamente o que lhe agrada, mas o que lhe parece mais necessário e mais enriquecedor para o conjunto da literatura, naquele momento específico.
A antologia “Os Melhores Jovens Escritores Brasileiros”, organizada pela Editora Alfaguara e revista Granta, definiu uma série de limites para participação (autores até 40 anos, com pelo menos um conto publicado, que enviassem um conto inédito). Recebeu 247 originais, e os sete jurados (entre os quais há amigos meus) escolheram 20. Mesmo considerando que estes 20 fossem superiores aos 227 restantes, é perfeitamente justo imaginar que existem no Brasil outros 20 autores, ou outros 200, igualmente bons e que por alguma razão não se inscreveram. (Não li a antologia, e não tenho motivos para supor que os contos não sejam bons.)
Quando organizei minha antologia “Páginas de Sombra – Contos Fantásticos Brasileiros”, um amigo me sugeriu que incluísse no título o trmo “melhores”. Respondi que não podia considerar aqueles 16 contos os melhores de nossa literatura fantástica, até porque seria impossível ler e comparar os milhares de candidatos; e um leitor de bom senso iria considerar que ninguém incluiria numa antologia um conto que não merecesse ser lido. “Bobagem”, disse ele, “tanto faz.
O público quer ter a ilusão de estar levando para casa o melhor produto, porque há cem anos as agências de publicidade lhe vendem a melhor cerveja, o melhor pneu, o melhor plano de saúde ou de telefonia. Ele precisa da ilusão de que está comprando ‘o melhor’, mesmo que isto lhe seja dito pelo próprio fabricante”. Toda antologia que anuncia “Os Melhores” está com um pé na crítica literária e o outro na propaganda.
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