Tempo – 2004

Luis Pimentel, Ana von Rebeur e Ikenga, Salão Internacional de Humor do Piauí, 2004. © Vera Solda

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Prof. Thimpor

O fotógrafo Hanz conseguiu flagrar o Professor Thimpor (de camisa branca) em sua charrete importada da Alemanha. Além de astrólogo profissional, ele é formado em Cibernética Descartável, pela Universidade de Tarétsias, onde deixou toda a sua educação.

Antes de se tornar um dos mais renomados astrólogos deste país, levava uma vida desregrada, até ser preso nas Antilhas como contrabandista de molinhas de isqueiro. Hoje, apesar do pequeno salário que ganha, se diz um cidadão feliz, até que a morte o devore. É casado com Abigail Pires da Rosa y Gasset, com quem tentou, inutilmente, ter filhos inteligentes. Aqui ele está sem a sua famosa verve, pois tomou banho com sabonete medicinal e perdeu toda a graça.

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Sergio Cabral, o influencer

Livre da prisão domiciliar em fevereiro deste ano, o ex-governador Sergio Cabral dedica-se a carreira de influencer. No Instagram, onde tem mais de 26 mil seguidores, posta desde a sua rotina de musculação a comentários políticos.

Cabral não foi inocentado nem foram anuladas as condenações nos 23 processos já julgados. Mas eles também não tiveram seu trânsito em julgado, o que significa dizer que ainda cabem recurso. Ele está solto porque a justiça considerou que houve excesso de prazo de prisões preventivas e porque ele não oferece risco à ordem pública.

A desgraça em que caiu as forças-tarefas da Lava Jato em Curitiba e no Rio de Janeiro, em que os dois juízes, Sergio Moro e Marcelo Bretas, foram desqualificados pela justiça, despertou a esperança de seus aliados, que miram no exemplo de Lula. Acham que Cabral poderá voltar à política.

Lamentam que o Rio de Janeiro está em estado “sofrível” e lembram do “momento de graça” em que o estado viveu sobre seu mandato. Alguns mais animados especulando sobre a possibilidade de o ex-governador voltar à política.

Mesmo assim, Cabral não tem sido visto com políticos. Sempre que tentam falar com ele por meio de interlocutores. Seus indicativos é de que voltaria para “devolver a honra à sua família”.

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Os poetas de banheiro não podem morrer

Vida longa a todos os gigantes da pequena ambição no mundo da ambição gigante

Sou do tempo em que porta de banheiro era folha de papel. Ali os poetas começavam cedo a sua carreira, trancados no sanitário da escola com caneta na mão declarando seu amor ou seu desejo por algum colega em versos cheios de hormônios e erros de ortografia.

À medida que os poetas de porta de banheiro amadurecem, amadurecem seus temas. Dentro da porta do banheiro de bar, surge o A de anarquia, a letra do Renato Russo, o verso de Rimbaud, a poesia autoral de quem já aprendeu que o amor, assim como o crime, nem sempre compensa.

E que desça mais uma rodada, já que a bebida ajuda a soltar a mão dos tímidos e ferver a mão dos experientes, fazendo das portas de banheiro de bar um acontecimento literário, uma ode à musa Noite, uma dignificação das cagadas. A riqueza de certas portas é tamanha que muitos estabelecimentos as tratam como relíquia, mantendo-as por décadas longe das reformas –já soube do caso de um proprietário que tentou restaurar com Pilot o haikai de um célebre mijante.

Mas isso não é para qualquer portinhola. Nunca vi poesia atrás de porta de banheiro de avião, talvez porque ali, se flagrado em exercício, o poeta não tem para onde correr. Portas de banheiro de firma também não costumam ser brindadas com o sangue esferográfico das palavras, talvez porque simplesmente não mereçam. Se querem que a fórmica ganhe o calor de um desabafo, que paguem ao poeta maquinal uma hora extra!

Já apontam alguns donos de porta que, de uns anos para cá, a produção artística vem decaindo. Muitos poetas do gênero, tomados por uma nova e avassaladora incontinência verbal, acabam soltando os versos nas redes sociais antes de chegar ao W.C.

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Revista Ideias|março 2018|#197|Travessa dos Editores

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 O Universo é o que importa. O resto que se dane.

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Algodão doce

Todas as noites, antes de me deitar, eu fico nua e passo uma folha de alfazema pelo corpo. Separo o dedal, as agulhas, os fios e o cetim e começo a remendar os vestidos que vou usar para você. É vestimenta antiga, vem de lá longe, meu tempo de mocinha. Em alguns eu já trabalhei tanto que eles até parecem novos. Tudo pra te fazer feliz. Todas as noites, depois do perfume, eu abro a porta do quarto. Você entra de mansinho, aponta para um daqueles vestidos, eu fico bem bonita, nós saímos de mãos dadas e vamos comer algodão doce na frente da igreja do Bom Jesus.

Todas as noites eu faço de conta que você não me deixou. Então para tudo, para o relógio, a respiração, o coração. Até o tempo para, meu amor, esperando que, se um dia voltar, você não note que essas roupas escondem tantos buracos dentro e fora de mim.

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O irritante guru do Méier

Arquivo MIS

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Mural da História – 1980

porco-2

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Napoleon Potyguara Lazzarotto

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Leminski, primeira memória

© Américo Vermelho

Anos 60, Edifício Garcez, Boca Maldita. Paulo Leminski professor de História, Literatura e Redação do Curso Abreu Pré-vestibular, saindo de um treino na Academia Kodokan, convida alguns alunos, amigos meus, para ir até a casa dele. Estou ali por acaso. Não sou seu aluno, nem o conheço, mas também sou convidado.   

São mais ou menos três horas de uma daquelas tardes tediosas que costumam se arrastar sobre o fim de nossa adolescência em Curitiba, cidade chata, provinciana, acanhada.   

O apartamento fica na Doutor Muricy, no Edifício São Bernardo, a meia quadra da Biblioteca Pública. Uma caminhada, alguns degraus e estamos na sala de estar, sentados no chão em torno de um toca-disco portátil.   

Paulo acende um incenso e propõe uma audição de ópera chinesa. Antes de dar o play, faz uma breve introdução sobre o autor e a obra, que logo se revela bem mais interessante do que a peça que passamos a ouvir.   A fumaça do incenso já nos envolve em densa nuvem e estamos todos compenetrados, procurando entender aquele som absolutamente estranho, quando toca a campainha. Nenhum de nós ousa sair do lugar.   

Alguém abre a porta e a sala é invadida por dois homens carregando um colchão. Acompanhado por um indecifrável arranjo de tambores e instrumentos exóticos, o baixo chinês emite um longo gemido gutural. Incrédulos, os carregadores atravessam a sala sem desviar os olhos da cena. Depositam o colchão num canto e, ainda pasmos, vão saindo de costas para a porta. Mais um gemido do chinês e a porta se fecha rapidamente. O som da ópera é abafado pelo coro das nossas gargalhadas.   

Começou aí e assim a amizade que me ligou a Paulo Leminski – Wyatt Earp & Doc Hollyday – por mais de 25 anos. Tudo rolou com tal intensidade que ainda hoje as histórias e personagens desse tempo formam uma selva espessa em minha memória. Um dia, quem sabe, eu respiro fundo e começo a contar.   

Por enquanto, contentem-se com esta cena do primeiro encontro, emblemática da estranheza com que a cidade sempre contemplou a personalidade perigosamente fascinante do maior agitador cultural de minha geração. Certa vez, ele disse: “Ninguém pode ser muito melhor do que sua própria tribo.” Afirmação que, com o tempo, ele mesmo encarregou-se de desmentir.

Palavraria

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Flagrantes da vida real

Bárbara Kirchner, a Bárbara mais bonita da cidade. © Maringas Maciel

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Infanto-juvenil-Orlando_Página_22© Orlando Pedroso, el Flintstone

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Ulyana Orsk. ©Zishy

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