Em Cuba, como os cubanos

Beto Bruel em Santa Clara, Memorial Che Guevara. © Renata Bruel

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Todos os diabos são parecidos

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Trocadilly

Trocava um pouco as coisas. No restaurante chinês pedia carne de porco and bess e chop schinitz. Mas, até aí, tudo bem. Já na Irlanda, pensou que recebera uma cantada da Ira Furstenberg e eis que não passava de uma emboscada do I.R.A. Jogado ao mar, tini tanta sorte que foi dar numa praianinha muito calma, onde pastava um cavalo branco, não, preto, quero dizer, sim, zaino. Embora tremapé, arrastou-se como pode, cobrindo as borgonhas, até que encointreau um velho contrabandista, daqueles que opera no maior underberg, Como era boa pessoa, kirsch ajudá-lo e conduziu-o a um imenso castelo, o Château Lafite.

Ao invés de tomá-lo de mersault, como imaginara o moço, o old smugler indicou-lhe a champanha e disse: Tokay! Obediente, o jovem respondeu gin e fizz isso, provocando o aparecimento à porta, digo, ao porto, de uma mulher amada que logo lhes ofereceu leite. Recusaram porque não era de premiers crus e já estava um tanto merlot. Contentou-se, o nosso atrapalhado herói, chianti da insistência da moça, com um prato tipo queijo de beefeater com fritas, que comeu com grande gula embora fosse até bem magraux. Já o seu acompanhante, que puxava mais sobre o gordon, fazia uma appellation controle pra cima da cozinheira, que se chamava Bloody Mary ou Maria Sanguinária, se preferirem. Ela era, em que pese o nome e o aspecto brut, uma autêntica angostura com sua ferreirinha de pulso enfiada no braço. A esta altura, os dois só iam. Diga siga, gritava o contrabandista. Estou grogue, respondia o moço, steinhager um pouco aquela destilação. Como já era tarde da noite, decidiram se acampari por lá mesmo. Um gato preto ron ron nou enquanto um merino lanudíssimo aguardava a vez de entrar na tequila.

Vestindo um ponche de arrak, o old smugler aproveitava-se agora de uma pobre caipirinha que aparecera por acaso, eis sifão quando entra no aposento um ser, veja, que mais parecia um corvo velho com bourbon de três dias. Ihou-os ambassador, fez menção de sauer, deu meia vodca e um soco na porter, afirmando que não trabalhava para viúva que fazia clicquot. Absinto que ele vai nos manhattan, sussurrou apavorado o moço que trocava as coisas. E acrescentou: Estou com um medoc danado. O contrabandista não parecia perturbado: Este cara tem um jeito sauterne mas não passa de um tremendo beaujolais. A mãe dele era punta y mesmo, arrematou frisante. Ao ouvir o insulto, o velho corvo ficou vermouth de cólera e ergueu o pernod à frente. Em um pisco de olhos, encostava na fernet branca do moço o cano negroni da sua pistola. Tinha o rosto esburacado, como se houvesse contraído valpolicella. Daiquiria muito e ameaçava a vítima: Vou te fazer uma sangria, vou te levar pro jerez. Lacrima Christi, exclamava o jovem. Toma uma atitude aí. É o kümmel se… este… es… pan… talho nos liquido… ar.

Percebendo que o tempo torneira-se quentão, o contrabandista ergueu-se, agitou, mexeu, bateu o corvo velho com força, não coou nenhum golpe, reduziu-o a um amontilhado de ossos – e acabou jogando o copo fora. Ao gê-lo picado, voltaram licores à face do rapaz, que, convenhamos, cumpriu seu calvados, porém vinho um pouco verde para enfrentar esta história. E por pouco não a strega toda.

Armando Coelho Borges (1937-2013) do Livro QI 14, Coleção Guaipeca, Editora Guaratuja, 2ª Edição, 1975.

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A Gréia e a Zuêra

Todo humorista que trabalha e publica num país sob ditadura sabe que se falar mal do Grande Irmão pode ir para a cadeia, o hospital ou o cemitério.  Mesmo assim, humoristas do mundo inteiro topam correr esses riscos, e muitos se dão mal.  Tiro o chapéu para esses caras, porque se eu vivesse (como já vivi) num país sob ditadura eu provavelmente iria sair pela tangente e satirizar Nabucodonosor ou Calígula. 

E não me refiro apenas às ditaduras convencionais. O massacre do Charlie Hebdo em Paris, onde morreram vários desenhistas e funcionários do jornal, foi realizado por um tipo especial de ditadura que está crescendo no mundo.  Não é mais o ditador cuja estátua e efigie estão por toda parte, é o ditador oculto e às vezes anônimo, que quase ninguém ouviu falar. Não é a ditadura dos tanques de guerra na rua, é a ditadura de bomba na mochila.  Uma não é menos ditadura do que a outra.

Que o diga Salman Rushdie, perseguido durante anos por ordem de um aiatolá. O simples fato dele ainda estar vivo mereceria ser comemorado diariamente (inclusive porque é um ótimo escritor). A ditadura terrorista não é menos cruel nem menos absurda do que a Ditadura de Estado.  Não é onipresente como ela, mas por ser invisível parece estar a ponto de brotar em qualquer canto.

Todos devemos ter direito à Gréia (a deusa grega da Galhofa e da Esculhambação) e à Zuêra (a deusa africana da Gozação e do Escárnio). Sem elas, não poderíamos viver. Saber aguentar uma piada sem perder o sorriso e a pose é uma prova de traquejo social e de segurança íntima.  Quando o camarada reage com violência a uma piada, revela de pronto seu calcanhar de Aquiles.

Sendo o mundo o que é, porém, a piada é vista (e às vezes é feita) como mera ofensa sem humor, desaforo gratuito.  Humoristas vêm catucando onças com varas curtas desde que o mundo é mundo. Os humoristas deviam ser mortos, pelo que diziam?  Não. Deveriam ser proibidos de dizê-lo?  Não.  Mas todo humorista sabe que caminha em terreno minado; aceita o risco como o soldado que vai pra guerra está aceitando o seu. Que um cara tenha a coragem suicida de fazer isso é uma coisa admirável. Extremismos e fanatismos estão recrudescendo por toda parte. Esse humor demolidor e de escracho com símbolos alheios está sendo feito num contexto de guerra, mesmo uma guerra declarada unilateralmente, como a dos terroristas. Nosso verniz de democracia é tênue; às vezes basta o peso de um cartum para rachá-lo, e aí a verdadeira natureza do Poder se revela. Porque o país pode até ser uma democracia formal, mas o mundo, como um todo, continua sujeito à Ditadura do Terror.

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Para não esquecer

216 palavras para a imprensa definir com precisão Bolsonaro e seu governo

Todo dia a imprensa e os jornalistas fazem um esforço hercúleo para qualificar o governo do capitão Jair Messias Bolsonaro, permanentemente assediado pelas sandices do que diz e pelos absurdos do que faz na cadeira de presidente da República.

Pelo conjunto da obra, até agora, Bolsonaro pode ser considerado o chefe de Estado mais esdrúxulo entre as 206 nações hoje existentes no planeta, segundo as Nações Unidas, que considera 190 Estados soberanos e outros dezesseis ainda em disputa. No plano brasileiro, desde a proclamação da República, em 1889, Bolsonaro é com certeza o mais controverso, polêmico e contestado ocupante da Presidência. Por tudo isso, em pouco mais de seis meses de mandato, o capitão pode ser qualificado com justiça como o pior dos 38 presidentes da história republicana.

Com seu inesgotável e diário talento vocabular para produzir absurdos, espancar a verdade histórica e aturdir a consciência do país, Bolsonaro faz jus a um, alguns ou vários dos adjetivos abaixo, que a imprensa escava para tentar definir, sob variadas circunstâncias, esse bizarro momento da história brasileira.

Conferindo:
Ignorante, burro, idiota, imbecil, retardado, analfabeto, boçal, bronco, estúpido, iletrado, ignaro, ilegível, obscuro, sombrio, onagro, atrasado, inculto, obsoleto, retrógrado, beócio, rude.
Besta, animal, cavalgadura, quadrúpede, tolo, alarve, grosseiro, jalofo, lorpa, desajeitado, peco, tapado, teimoso, chucro, intratável, desalumiado, escuro, asnático, brutal, bruto, bugre.
Desaforado, descortês, duro, estólido, inepto, lambão, obtuso, palerma, sandeu, selvagem, toupeira, cavo, incapaz, insensato, incompetente, imperito, impróprio, inapto, inábil, insuficiente.
Abagualado, bárbaro, labrusco, sáfaro, insciente, inepto, insipiente, imprudente, leigo, alheio, estranho, profano, estulto, fátuo, mentecapto, pateta, toleirão, írrito, vão, oco, chocho.
Frívolo, fútil, vazio, definhado, enfezado, frustrado, abeutalhado, agreste, áspero, chambão, cavalar, desabrido, difícil, escabroso, fragoso, incivil, inclemente, indelicado, inóspito, pesado.
Roto, ríspido, rombudo, severo, silvestre, tacanho, tosco, covarde, poltrão, safado, baldo, infundado, mentido, nugativo, supervacâneo, curto, bordegão, asinário, bordalengo, calino.
Indouto, sinistro, arrogante, desinformado, alvar, atoleimado, estúpido, boçal, bronco, animal, disparatado, rude, azêmola, desajeitado, lanzudo, brutal, asselvajado, bestial, protervo.
Selvagem, truculento, violento, chulo, irracional, javardo, malcriado, desaforado, atrevido, insolente, descortês, inconveniente, indelicado, intratável, confragoso, cru, cruel, despiedado.
Difícil, implacável, penoso, tirano, triste, estólido, estouvado, néscio, abarroado, abrutalhado, achamboado achavascado, bárbaro, chaboqueiro, crasso, desabrido, grosso, labrego.
Maleducado, reles, rugoso, rústico, soez, tarimbeiro, abestalhado, aluado, babão, bobalhão, bobo, bocó, demente, descerebrado, desequilibrado, desmiolado, lerdaço, paspalhão, pastranho.
Sendeiro, toupeira, vão, bestialógico, insociável, mal-humorado, ranzinza, soberbo, panema, embotado, escabroso, inclemente, carniceiro, safado, entupido, obducto, boto, agro, balordo.

Todo santo dia, a língua solta e a cabeça mole do capitão-presidente renovam a necessidade de escavar novos adjetivos para definir sua inqualificável obra de governo. Só com a ajuda de nossos principais dicionários, Aurélio e Houaiss, é possível dar uma ideia aproximada do que representa, até agora, a desastrada administração federal de Bolsonaro e seus maus exemplos, como a estúpida agressão ao presidente da OAB e sua condenável impostura histórica sobre o desaparecimento de um preso político tragado pela violência da ditadura que o capitão-presidente sempre exalta e rememora com cúmplice nostalgia.

Os 216 adjetivos e vocábulos acima, para uma ou outra circunstância, qualificam (ou desqualificam) com mais precisão o governo Bolsonaro. Para avaliar os seus três filhos Zero — Flávio, Eduardo e Carlos —, de inegável influência sobre o pensamento (?) e os atos (!) do pai presidente, é necessária outra pesquisa nos dicionários.

*Jornalista, foi consultor da Comissão Nacional da Verdade e é autor de Operação Condor: o sequestro dos uruguaios – uma reportagem dos tempos da ditadura (L&PM, 2008).

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Perder tempo
com rosas
óperas
relógios

muda a rosa
muda o relógio
mudam as óperas
e eu aqui
surdo mudo
perdendo tempo
com o mundo

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O irritante guru do Méier

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Cruelritiba

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© Jan Saudek. Love, life & other such trifles.

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Vivi Kuanas. © Zishy

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Cada dia

Ainda que eu andasse
pelo vale das sombras da morte
onde se esgueiram negros cães feridos
e tristes mendigos não mendigam mais
e onde os poderosos passam televistos
de perfil, na maciez de seus veículos blindados
(levam no sangue os venenos que excitam
nos dedos os anéis dos crimes mais cruéis
nos olhos os punhais que nunca dormem
nos dentes as cáries domadas
a ouro, ferro, metais
que trituram na raiz todos os ais
do coração) eu não temeria mal algum
o meu amor me guarda a travessia
de cada dia.

– Abel Silva, no livro “Asas – solos de lira elétrica”. Editora Muro, 1975.

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saudek44© Jan Saudek

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