Minhas mães

mãe-e-vóMarina da Conceição Vidal Solda (Itararé/1935|Curitiba/2009 e Alzira Nunes Vidal (Itararé/1911|São Paulo/2007). Hoje, as duas, mãe e avó do cartunista que vos digita, moram em Aldebarã. Saudades. © George Leon Schpatoff

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Foto-de-Chema-Madoz© Chema Madoz

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Lá vem Mantega de novo

Depois de tentar emplacar o ex-ministro da Fazenda na Vale, agora o governo Lula ventila o responsável pela “nova matriz econômica” para o conselho administrativo da Braskem

Guido Mantega não vai sumir tão cedo enquanto Lula estiver no Palácio do Planalto. Depois de tentar empurrar o ex-ministro da Fazenda no comando da Vale, o governo ventila o nome de Mantega para o conselho administrativo da Braskem.

Folha de S.Paulo diz que o responsável pela “nova matriz econômica” esteve no Palácio do Planalto na quarta-feira, 13, para tratar do futuro com o ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa.

“Esse rodízio nós vamos fazer em outros lugares, rodízio de pessoas de um conselho para outro. Até para oxigenar os conselhos das estatais a gente vai fazer com algumas pessoas esse rodízio. Não é exclusivo da Petrobras, nós haveremos de fazer esse rodízio em outros conselhos também”, disse Costa.

“Segundo integrantes do governo, o ex-ministro da Fazenda foi chamado na véspera, terça (12), data da audiência do presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, com Lula”, informa a Folha.

No dia anterior, Costa já tinha dado uma dica do que o governo deve fazer para justificar uma posição para Mantega, au anunciar uma dança das cadeiras nos conselhos onde o Planalto tem assento.

Rodízio

“Esse rodízio nós vamos fazer em outros lugares, rodízio de pessoas de um conselho para outro. Até para oxigenar os conselhos das estatais a gente vai fazer com algumas pessoas esse rodízio. Não é exclusivo da Petrobras, nós haveremos de fazer esse rodízio em outros conselhos também”, disse Costa.

O jornal destaca também que o mandato de 10 dos 11 conselheiros da Braskem expira em abril. “A Petrobras tem direito a 4 assentos no conselho da petroquímica, todos em vacância a partir do próximo mês. Os demais são da Novonor, antiga Odebrecht”, completa a Folha.

Injustiçado?

A insistência de Lula com Mantega se justificaria pela impressão do petista de que o ex-ministro foi injustiçado por ficar estigmatizado pela crise econômica desencadeada no governo Dilma Rousseff.

“Injustiçado” é uma palavra muito forte, mas, como destacamos nesta semana, Dilma não foi a única responsável pela crise, nem Mantega. A culpa foi de todos eles, inclusive de quem empurrou Dilma para o colo dos brasileiros e tenta empurrar Mantega mais uma vez.

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Padrelladas

Uma vez assisti a um filme, até muito bonito, bem feitinho, bem dirigido, mas que era a história de um garoto de família poderosa que comeu uma menininha de treze anos. Claro que saí do cinema apavorado e chorei desbragadamente (seja lá o que isso signifique) porque o garoto não era eu.

Como é que William Shakespeare me tem coragem de escrever uma história dessas e o cinema encampar a ideia? Em que mundo estamos? Eu, por exemplo, estou na Terra Plana.

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Flagrantes da vida real

Kátia Horn. © Maringas Maciel

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Rui Werneck de Capistrano e Telma Fontoura, no Café do Teatro, no tempo em que se amarrava cachorro com linguiça. © Vera Solda

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Quem tem medo do Favreto?

Termina nesta sexta-feira (15) o prazo para que desembargadores se candidatem à vaga aberta no Superior Tribunal de Justiça. A fase seguinte é a visita a cada um dos ministros para se apresentarem e pedirem votos. Rogério Favreto, do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, é o candidato que preocupa os adversários e ministros que não o apoiam.

Fontes que participam da disputa afirmaram que Favreto, não pode entrar na lista tríplice que será votada pelo STJ, pois sua nomeação seria certa. O receio é fundamentado na sua proximidade com o PT.

Além de ter sido o responsável pela decisão solitária que soltou Lula quando a Lava Jato ainda mandava no Brasil, ele integrou a equipe de Tarso Genro no Ministério da Justiça.

Apesar de o caminho de Favreto no Planalto parecer fácil, figurar na lista do STJ será uma tarefa árdua. Vários magistrados têm ótimas relações no Judiciário. Ney Bello é um deles. O mais uma vez candidato a ministro tem o apoio de Gilmar Mendes, Flávio Dino e Reynaldo da Fonseca.

Os ministros do STF são aliados antigos de Bello; Dino, inclusive, desde a adolescência. A ligação com Fonseca se dá por aliados em comum na terra natal, o Maranhão – o ministro do STJ é tio do desembargador do TRF1 Gustavo Amorim.

O local de nascimento também ajuda Carlos Brandão, também do TRF1. Piauiense, atrai a simpatia de Kassio Nunes Marques, Wellington Dias e Marcus Vinicius Furtado Coêlho, da OAB. Fora do Piauí, o desembargador do TRF1 é muito querido por Dias Toffoli.

Ainda no Tribunal Regional Federal da 1ª Região, Marcos Augusto de Sousa, atual vice-presidente da corte tem bastante força. O mesmo vale para sua colega de tribunal, Daniele Maranhão. A corte tem bastante capilaridade política no Judiciário por ter a maior abrangência (13 estados).

Aloisio Mendes, do TRF2, conta com o apoio de Luiz Fux mais uma vez. O desembargador disputou a vaga anterior destinada à magistratura federal, em 2023. Mas foi preterido por seu colega Messod Azulay. O acordo que o excluiu do jogo envolveu os grupos de outros ministros vindos do Rio, como Luís Felipe Salomão e Luís Roberto Barroso.

O TRF3 aposta em Marisa Santos, ex-presidente da corte responsável por processos federais em São Paulo e Mato Grosso do Sul. Seis ministros do STJ são paulistas.

Pelo TRF5 na disputa está Rogério Fialho. Foi apadrinhado no STJ por Gurgel de Faria e Ribeiro Dantas, ambos egressos do Tribunal Regional Federal da 5ª Região.

A candidata do TRF6 é a presidente da corte, Mônica Sifuentes, que conta com o apoio de João Otávio de Noronha. O ministro do STJ um dos padrinhos da criação do Tribunal Regional Federal da 6ª Região. Quando vota?

O fim do prazo de inscrição para a disputa também motiva as especulações sobre a data em que a escolha será feita. Espera-se que a votação ocorra entre a segunda metade de junho e o começo de agosto, por conta do recesso judicial em julho.

Candidatos com pouca chance na disputa confessam que torcem para votação ser marcada para agosto. Apostam no maior tempo de campanha para virar votos.

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Beto, o som da city

BETO RICHA narra em longa e nada convincente explicação sua ida e desida ao PL; recebeu convite em gentil conversa com Jair Bolsonaro no dia do sonho que teve com o pai. Lembrou da lição inesquecível do velho José Richa, o adágio digno de um Francesco Guicciardini: “a inércia é inimiga da política”. Não vou criticar invencionice com violação do mandamento de não usar o nome do pai em vão; faço isso o tempo todo, com frases que o meu jamais disse ou diria. Mas meu pai é personagem de ficção, indene e inofensivo.

O AFILHADO de Ezequias ofende o pai ao tentar explicar a sofreguidão e o desassossego de deixar o ninho tucano para abrigar-se no covil do abutre. Assisti de camarote quando a campanha de Roberto Requião forjou documento para jogar sujeira na campanha do velho Richa. Qual não foi minha surpresa quando vi o governador Beto Richa como aliado preferencial do master mind do fake contra o pai. Beto devia respeitar a memória do pai, um dos líderes da redemocratização, ao defender o fiasco de sua aliança com Jair Bolsonaro.

SE a política é a arte do possível, Beto faz o impossível para torná-la a arte da sobrevivência a qualquer custo. Não leu Luís Fernando Veríssimo quando este disse legitimar, como seus artigos, alheios e apócrifos desde que falem mal de Jair Bolsonaro.

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Flagrantes da vida real – 2016

flagrantes-da-vida-real-2Carlos Fernando Mazza, o Mazzinha, prefeito da República de Curitiba, onipresente, e o jornalista Paulo Roberto Marins. Coxa-branca e atleticano, unidos vencerão.  © Maringas Maciel

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L’Apollinide Souvenirs de La Maison Close

l_apollonide_souvenirs_de_la_maison_close

O bordel L’Apollonide está vivendo seus últimos dias de funcionamento no início do século 20. Mas é neste mundo reservado que muitos homens se apaixonam e se entregam, tornando-se muitas vezes dependentes das “companheiras”, com quem dividem seus segredos, medos, dores e, claro, o prazer. Direção de Bertrand Bonello, 2001, França.

“Não devia fazer nada de mau gosto, advertiu a mulher da pousada ao ancião Eguchi. Não devia colocar o dedo na boca da mulher adormecida nem tentar nada parecido”, diz o japonês Yazunari Kawabata, vencedor do Prêmio Nobel, na obra A Casa das Belas Adormecidas. O trecho aparece na epígrafe de Memória de Minhas Putas Tristes, um dos mais belos livros de Gabriel García Márquez. As duas obras possuem uma ligação muito interessante com L’Apollonide – Os Amores da Casa de Tolerância, principalmente pela forma delicada e sensível com que tratam jovens que ganham a vida se prostituindo. 

Lucas Salgado

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Sobre a Classe Mérdea

Virou até moda, por exemplo, a proclamação de que se é um marginal da classe média. Ou mérdea. A segunda forma, num tempo em que o jogo de palavras e o uso da palavrada passaram a valer como sinal de talento, é mais elegante. Mérdea. Podendo grafar isso, então, é o fino do espírito. Compõe bem. Soa a criativo. E, útil, começa a faturar, o que é conveniente e de oportunidade boa.

Mas da classe média você não vai escapar, seu. A armadilha é inteiriça, arapuca blindada, depois que você caiu. Tem anos e anos de aperfeiçoamento, sofisticação, tecnologia, ah o cartão de crédito, o cheque especial, o financiamento do carro, da casa própria e do resto da merdalhada que for moda e, meu, sem ela você não vive. Não respira, é ninguém. Ou melhor, é nada: você já virou coisa do sistema. E não pessoa. Dane-se. Futrique-se, meu bom, meu paspalho, pague prestação pelo resto da vida. E o carro, é preciso o carro. Os donos da arapuca querem você comprando. Compre. E de carro. Ande de carro, ouça música e veja filmes no carro, coma no carro e trepe ali.

Todos os leros. Todos os embelecos, do automóvel ao secador de cabelos, principalmente você deve comprar o de que não precisa. A tevê vai te comandar a vida, meu chapa. A cores. E destas regras do jogo não vai escapulir. Bufanear a classe média, pajear, aturar e ser como ela. Quer queira, quer não.

Afinal, já não está em tempos em que possa pensar com sua cabeça. Ô, meu, você é só manada. Bem pequenininho, lá, no meio da manada. E quieto, bom comprador. Esbirro, sabujo, capacho.

João Antônio, 1937|1996

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augusto-de-campos

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Rita Pavão – 2009

No mundo somos muitas as almas e diversas – diria o nunca assaz louvado Conselheiro Acácio, com suas certezas vulgarmente conclusivas, e melancólicas. Ao embalo dessas fugacidades, fico sabendo que o melhor do acervo fotográfico da para mim imortal amiga e “ballerina” Rita Pavão (1953-2006), está agora sob a guarda oficial do Teatro Guaíra.

Painéis assinados, entre outros, por Alberto Melo Viana, Júlio Covello, Karin van der Broock, Luciana Petrelli, mágicos e oficiantes do que os jornalistas d’antanho chamavam de “a arte do clic”, foram inteligentemente doados, ao museu de nosso mais importante teatro, por Reginaldo Fernandes, ele próprio um contumaz do ofício. E dos perfis de Rita Pavão.

Rita era singular. Nosso derradeiro encontro foi no centro nervoso da city, às três da tarde. Me agarrou a pele do braço com força, numa urgência carente e aturdida, mais que o burburinho das três da tarde no centro da cidade. Contudo, leitor e leitoras, não desviemos: excitação, sim, mas criativa, cheia de sonhos, planos, delírios. Queria dançar o mundo a bailarina Rita Pavão.

Pedi a ela menos atropelo e ela me respondeu então com novas urgências, desta feita, pessoais. Nós nos amávamos de um modo esquivo e apaixonado. Fez, em 92, de meu livro de estréia, Bolero’s Bar, um bailado cheio de graça e liturgia pagã. Pôs no palco, do artista quando jovem, este vosso escriba inteiro: dos vômitos públicos, que lavaram a Cruz Machado, ao amor clandestino por entre a neblina fria; da solidão do pardal molhado de domingo ao cão íntimo que vos destroça a segunda-feira em dez.

Bailaram, no Sesc da Esquina, Rita e suas ninfas, o texto em off; a música, puro cristal. Na platéia, inflei, no escuro. Bebíamos muito um tempo; bebíamos pesado. Era o jeito que a nossa mocidade mais moça encontrara para não sucumbir ao alagadiço da Curitiba congelada no tempo, ainda cartorial, ainda ameaçadora. Rita Pavão, o lábio vermelho tinto, em cima do salto, reinventava, por exemplo, numa surpreendente saia godê, em tecnicolor reinventava pela cidade o cinema americano. Rita, eu sinto muita saudade de você, desde que você se atrapalhou com a janela do edifício e apagou, de puro pânico, o coração. Que, a rigor, não era seu, mas principalmente nosso, feito um quasar – dançarino; e barroco. O anel que tu me destes era vidro e se quebrou… Você quis rasgar o peito à unha, Rita, quando imaginou a fera maior que você. Talvez não fosse.

É por isso, por seus medos – que continuam sendo os de todos nós – que eu sinto muita saudade de você. Acho que não precisava ser assim nem desse jeito. Você errou de estratégia; e de estação. E virou fotografia.

Wilson Bueno (21/6/2009) O Estado do Paraná.

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Mural da História – 2009

31 de outubro, 2009 – O Estado do Paraná

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