Meus arquivos da Ditadura

Movimento civil de reivindicação por eleições presidenciais diretas no Brasil ocorrido em 1983-1984.

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Desafio ao ChatGPT

Uma biografia exige paciência, sorte e furos na sola do sapato; não é coisa para algoritmo

Outro dia, por casualidade, o advogado Pierpaolo Bottini ouviu alguém recitar “Ilusões da Vida”, o famoso poema de Francisco Otaviano —”Quem passou pela vida em branca nuvem/ E em plácido repouso adormeceu…”—, e quis conhecer melhor o poeta. Consultou o ChatGPT, que prontamente respondeu: “Francisco Otaviano foi um político e poeta brasileiro do século 19. Eis aqui um de seus poemas”. E mandou para Pierpaolo a “Canção do Exílio”, de Gonçalves Dias: “Minha terra tem palmeiras/ Onde canta o sabiá…”.

Bem, não sejamos ranzinzas. O infalível ChatGPT não é obrigado a saber tudo. Mesmo porque, como poeta, Otaviano não foi um Gonçalves Dias, nem mesmo um Fagundes Varella. Lembrando-se de Fagundes Varella, Pierpaolo resolveu checar no ChatGPT o pungente “Cântico do Calvário”: “Eras na vida a pomba predileta/ Que sobre um mar de angústias conduzia/ O ramo da esperança. Eras a estrela/ Que entre as névoas do inverno cintilava…”. Pois, em vez disso, o ChatGPT enviou-lhe um hino evangélico intitulado “Cântico do Calvário”. E não só um, mas quatro hinos evangélicos com esse título. Decididamente, o ChatGPT não é da literatura.

Já escrevi aqui que, se se metesse a produzir uma biografia, o ChatGPT conseguiria macaquear o estilo de um autor. E, sim, talvez gerasse pautas com centenas de perguntas e as aplicasse a 200 fontes de informação. Mas quem vai determinar essas fontes? As melhores são as que nos surgem de repente, às vezes por acaso. E aquelas que se fazem de difíceis? E o olho no olho com elas, sem o que não se arrancam certas informações? E a descoberta de documentos perdidos em gavetas?

Uma biografia exige paciência, alguma esperteza, sorte e buracos na sola do sapato. O algoritmo poderá fazer tudo isso?

Um dia, talvez. Mas só depois de aprender que as aves que aqui gorjeiam não passam pela vida em branca nuvem nem gorjeiam como lá.

Publicado em Ruy Castro - Folha de São Paulo | Deixar um comentário
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Imperdível!

Uma reflexão sobre a história da Romênia através do encontro de suas comunidades romena, húngara e moldava.

RMN é um filme de 2022 escrito e dirigido por Cristian Mungiu. Situado em uma vila multiétnica na Transilvânia, Romênia, durante a temporada de férias de 2019–20, o filme segue um homem que retorna da Alemanha e sua ex-amante que trabalha na vila. Mungiu deu ao filme o nome de um acrônimo romeno para ressonância magnética nuclear, já que o filme é “uma investigação do cérebro, uma varredura do cérebro tentando detectar coisas abaixo da superfície”.

Tensões sobre imigração correm alto na Europa. Em seu novo filme, o diretor Cristian Mungiu, vencedor da Palma de Ouro no passado escolhe uma vila romena para servir como um microcosmo da Europa como um todo. Logo no começo do filme, o romeno Matthias (Marin Grigore) desiste de viver na Alemanha com um sub-emprego, após ser chamado de ‘cigano’, e volta para seu país natal. Nesta pequena cidade campestre, sua ex, Csilla (Judith State) é uma das administradoras de uma fábrica panificadora que acaba de contratar dois imigrantes vindos da Sri Lanka. A reação da cidade a essa presença é o que desnuda todo o desenrolar da trama.

“R.M.N.” é uma parábola da complexidade moderna. Todo mundo se diz um cidadão de bem, e estar argumentando para o bem da comunidade, mesmo os que consideram ideias terríveis. (A primeira sequência do filme, aliás, é do filho de Matthias, o jovem Rudi (Mark Blenyesi), que vê algo chocante numa floresta da redondeza. Não sabemos de que se trata no começo do filme, mas saberemos até o final.) Tudo é relativo nesta história, como a jornada inicial de Matthias sugere. Na Alemanha ele foi vítima de xenofobia, já na Romênia, ele é o nativo vendo seus vizinhos cometerem o mesmo ato.

Assim como todo mundo tenta ser bonzinho, todos acabam sendo hipócritas, pois o vilarejo está em uma região da Romênia que já foi ocupada por Húngaros e Alemães, e a população atual fala línguas diferentes. Na exibição em sala de cinema, cada língua diferente tinha uma cor de legenda diferente, para que aqueles que lessem tudo em inglês conseguissem distinguir esta variedade. Fora toda esta diversidade humana, o vilarejo ainda é cercado por ursos que habitam a floresta, e ocasionalmente causam um ou outro incidente na vila. A trama não gira em torno deles, mas a presença dos animais indica que tudo isto começou bem antes, quando os seres humanos resolveram fundar um vilarejo na floresta antes ocupada por eles. Continue lendo

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Assionara Souza -1969|2018

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Poemas de Sylvio Back.

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bom dia, gente fina
eu aqui me consumindo
nesta vela interminável
deixo pra vocês a parafina
e um beijo
pra amante argentina

papelote com poema
de cora coralina
fiquem sabendo: esta vida vida
é um buraco muito, muito
mais em cima

quem não sabe, quem sabe,
um dia ensina

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Tempo

Roberto Prado na casa da sobrinha Camila Prado de Oliveira, em algum lugar do passado. © Vera Solda

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Álbum

© André Vilaron

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O Vampiro de Curitiba

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Eu, Jaime Lechinski

Atividade profissional: um velho profissional, cada vez mais velho e menos profissional.

Atividades outras: molhos e assados, vez por outra um risoto e, sempre, as caminhadas sob o sol da manhã.

Principais motivações: o vinho que nos leva pela noite – papel que tanto cumprem os grifados como os ordinários. E as paisagens curvilíneas.

Qualidades paradoxais: paciência e, outra, pular da cama apesar de tudo.

Pontos vulneráveis: barulhos excessivos, sobretudo de motocicletas com escapamento aberto conduzidas pelos incivis – “protervos” também cai bem para defini-los – que circulam sem ser reprimidos pelas autoridades de trânsito.

Ódios inconfessos: a dissociação cognitiva que grassa nas redes sociais e em todas as esferas da nossa tragédia. E, claro, a mesquinharia.

Panaceias caseiras: canja de galinha e silêncio.

Superstições invencíveis: que a lei de Murphy está em todas as esquinas, sobretudo naquelas em que irei passar e, outra, a de que quando chegar minha vez de dançar o gaiteiro irá ao xixi.

Tentações irresistíveis: bacon, azeite de oliva, tequila, jornal impresso, noticiário on-line, bons documentários na TV e café macchiato, este até quando só. E filmes clássicos nas madrugas de sábado.

Medos absurdos: a morte por asfixia. Outro: motoqueiros barulhentos a abafar as loas que eu eventualmente possa merecer na hora do enterro.

Orgulho secreto: ter ficado em silêncio nas inúmeras ocasiões em que estive à beira de pronunciar uma enormidade.

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Biografáveis não afáveis

São as contradições da nossa época: só biografados sem autocensura se acham no direito de censurar biografias. Biografáveis não afáveis

As livrarias dão o maior espaço para as biografias. Livreiros sabem como os leitores adoram ficção. 

Biografia é isso que a gente vai fazendo quase sem sentir e, ao final, sente muito. 

Autorizar biografia só combina com dois tipos de biografáveis: os autoritários e as autoridades. 

Algumas autobiografias podem fazer tanto sucesso comercial que acabam virando livros de autoajuda. 

Um dos piores pressupostos é o da autobiografia: todo autor crê que todo mundo está tão interessado no assunto quanto ele. 

A memória é muito importante nas biografias e autobiografias. Ela serve pra gente lembrar de não ler ou pra esquecer que leu. 

Certas autobiografias ilustram bem a incongruência humana: pessoas que não se enxergam expondo sua visão de vida. 

Biografia com foto é um livro fácil de julgar pela capa, já que muito biografado não tem miolo. 

Celebridades costumam pagar fortunas a biógrafos profissionais. É o preço da certeza de receber um livro melhor do que a encomenda.

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Minha casa, minha vida

Companheiro Lula:
Agora que você voltou da China, onde foi liderando uma caravana de 200 pessoas, e já teve um tête-à-tête com o tal Xi Jinping, chegue-se à roda da fogueira. Sirva-se de um pinhãozinho sapecado. É um quitute paranaense, recém colhido, safra de 2023.

Agora, escute-me, excelência: algum tempo atrás, neste mesmo espaço, andei defendendo a vossa Janja. As más línguas começaram a chamá-la de Evita Peron, por me intrometer em demasia no governo do marido. Afirmei que era uma maldade para com ela, que apenas lhe fazia companhia e dava-lhe carinho. Mas agora, estou começando a me preocupar. Dona Rosângela, além de haver se tornado vossa sombra, tem dado palpite em tudo e se indisposto com meio mundo, ministros, parlamentares etc. Tudo bem, isso até faz parte do mundo brasiliense. Depois, alguns ministros, alguns parlamentares e alguns etcs até merecem uma ajustada, embora essa função deva ser, por competência administrativa, de V. Exª., pessoalmente.

Agora, essa comprinha de bens para remobiliar o Alvorada – com certeza, supervisionada por Janja – não pegou bem, Luiz Inácio. Setenta e cinco mil pilas por um sofá?! Deve ter feito Juscelino e Oscar Niemeyer, que projetaram, construíram e usaram o palácio presidencial, virarem-se nos túmulos.

Diz-se que o novo governo pegou o Alvorada em petição de miséria, sem manutenção, faltando móveis – segundo Secon, constatou-se a ausência de 261 móveis, dos quais 83 ainda não foram localizados. Nem cama foi encontrada no quarto presidencial. Terão os Bolsonaro carregado o mobiliário para sua nova residência?! Michelle, a ex-primeira-dama, nega: “Durante o mandato do meu marido, preservamos o Palácio da Alvorada, respeitando a estrutura que é patrimônio tombado e também o dinheiro do povo brasileiro”. Em seguida, afirmou que os móveis tirados do Alvorada eram seus. É algo que merece ser conferido.

Aí chegaram Lula 3 e Janja. Inicialmente, foram obrigados de hospedar-se em um hotel. Depois, saíram às compras. E, dispensando licitação, foram adquirindo: um sofazinho de couro, reclinável, de 3,06m x 1,10m, já referido, custou R$ 65.140; outro, um pouco menor, também de couro e também reclinável, R$ 31.690: uma poltrona ergométrica, reclinável e com um pufe na cor branca, R$ 29.450; outra poltrona fixa, em veludo azul, R$ 19.450; uma cama, com revestimento em couro, R$ 42.230; e um colchão masterpiece top visco, R$ 8.990.

Pô, companheiro, mesmo sendo nativo de Caetés, em Pernambuco, ninguém iria querer que vosmecê e a vossa Janja dormissem numa rede. Mas uma caminha de 42 pilas…?! E um colchãozinho de nove mil?!…

Tudo bem, o mobiliário passa a fazer parte do acervo da União e será utilizado pelos futuros chefes de Estado que residirem no Alvorada. Mas precisava ser tão caro, em época de penúria nacional?!

Foi coisa da Janja, não foi? Ela é informada, tem bom gosto e exige beleza e qualidade. Mas sujeita-se às críticas dos maledicentes. E a gente fica sem condições de defendê-la. Essa menina de União da Vitória…!

Sirva-se de mais um pinhãozinho, companheiro. E leve alguns para a Janja, que, como boa paranaense, deve apreciá-los.

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Pra nunca esquecer

Paulo Leminski|Curitiba|1944|1989 – © Dico Kremer

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Tempo

São Luiz do Purunã: fora de ordem

Que estranho. O humorista é o Solda, a fotógrafa sou eu e quem não parou de fotografar foi o festejado escritor Cristovão Tezza. Acho que ele deve estar fazendo laboratório e pesquisa para escrever “O Fotógrafo II”.

Mas, curioso, se em seu romance de 2004 seu fotógrafo usava película para fazer suas imagens, o escritor agora usa câmera digital. Brincadeiras à parte, Tezza já mostrou há muito sua sensibilidade visual.

Lina Faria, em algum lugar do passado.

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Arina Bik. © Zishy

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