Sogra

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Crônicas de Alhures do Sul

karam©  Glória Flügel

“Solda e Dante: no anexo, a minha crônica de hoje no fim da tarde e amanhã de manhã na BandNews. Caso vocês discordem de alguma coisa, mandem o advogado de vocês falar com o meu, grande abraço. Karam”.

Eu me lembro do cartunista Solda dizendo que morava no bairro São Braz e Água Fresca.
Eu me lembro do único cigarro fumado pelo iluminador Beto Bruel.
Eu me lembro do poeta Paulo Leminski fazendo salamaleques para o amigo árabe.
Eu me lembro quando Poty Lazzarotto me confundiu com o pintor Jair Mendes e conversou comigo durante meia hora.
Eu me lembro do cartunista Dante Mendonça creditando o milagre da multiplicação dos peixes à Xerox.
Eu me lembro do craque da bola Krüger quando era ourives na rua São Francisco.
Eu me lembro do cartunista Pancho desenhando os quadrinhos do Capitão Esbórnia.
Eu me lembro da primeira vez em que vi Dalton Trevisan na porta da Livraria Ghignone na Rua das Flores.
Eu me lembro do livro “Eu me lembro”, de Georges Perec.
Eu me lembro quando combinei comigo mesmo que continuaria me lembrando.

Manoel Carlos Karam

Mensagem recebida de Manoel Carlos Karam em 10 de setembro de 2007, com o arquivo mp3 da crônica Alhures do Sul. Eu me lembro, e como me lembro. Bah!

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Hoje! Todo mundo lá!

Pablito Lacarz

Karam, um necessário questionador de verdades absolutas, abre buracos de infinitos significados com suas palavras em nossas mentes sem preenchê-los com discursos doutrinários. Uma dramaturgia de menos certezas e mais reflexões. Porque em tempos de uma cultura cada vez mais atrelada à lacração e à necessidade de oferecer ao leitor uma moral da história, montar Karam relembra que é preciso ser libertário. Em seus textos, tudo que acreditávamos ser certo ou errado mostra-se instável, provocando assim uma transformação em nossos posicionamentos existencial, social e político.

A Prego Torto tem a honra de apresentar não apenas a estreia nacional do texto OVOS NÃO TÊM JANELA de Manoel Carlos Karam, mas também a estreia do renomado e premiado iluminador paranaense Beto Bruel na direção da peça, promovendo assim o reencontro desses dois artistas que, junto com o ilustrador Solda, fizeram história no grupo Teatro Margem – um teatro que marcou a década de 1970 em Curitiba por seu experimentalismo e postura política de resistência.

Karam dizia que no teatro não existe a palavra impossível – uma fala simples, que influencia até hoje por trabalhar a idéia da liberdade no fazer teatral, do rompimento com o senso comum, do poder questionador e político de um espetáculo, da ousadia necessária para fazer arte, e de que a imaginação não pode ter limites.

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Pente finíssimo

A PF fará “pente fino” nos presentes recebidos pelo presidente Jair Bolsonaro, para determinar (1) o que era presente e (2) o que era saudita. Ao levantar todo o acervo, o devolvido, o levado para Miami e o ainda escondido na fazenda de Nelson Piquet, que tenha especial atenção ao quarto estojo trazido pelo sargento da Marinha: um finíssimo pente cravejado de diamantes.

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Fraga

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meu-tipo-maribel-arbúMaría Isabel “Maribel” Verdú Rollán, por todos os filmes que fez, especialmente Blancanieves (2012), de Pablo Berger. © Reuters

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Os Cem Dias de governo em 2023 e os de 2019

Na próxima semana Lula chegará aos cem dias de governo. Como fazem quase todos os governos, a data será comemorada com promessas e propaganda. Contudo, a melhor comemoração desses cem dias está na comparação do mesmo período com os de seu antecessor.

Nos primeiros cem dias de Bolsonaro, foram demitidos dois ministros.

Primeiro caiu o secretário-geral da Presidência, Gustavo Bebianno. Esse advogado carioca ligara-se ao capitão quando todos os bolsonaristas cabiam numa Kombi. Em fevereiro de 2019, ele foi atropelado por intrigas do círculo familiar do presidente e saiu arrependido: “Tenho vergonha de ter acreditado nele. É uma pessoa louca, um perigo para o Brasil”. Bebianno morreu meses depois, aos 59 anos, entristecido.

O segundo ministro a cair, perto da marca dos cem dias, foi Ricardo Vélez, da Educação. Personagem pitoresco, teria sido recomendado pelo escritor Olavo de Carvalho, guru do bolsonarismo. Pouco depois de assumir, Vélez disse que “o brasileiro viajando é um canibal. Rouba coisas dos hotéis, rouba o assento salva-vidas do avião”. Antes mesmo dos cem dias, Olavo de Carvalho informava: “E eu sou o guru dessa porcaria. Eu não sou o guru de merda nenhuma”.

Competindo com as excentricidades de Vélez, o primeiro chanceler de Bolsonaro, o diplomata Ernesto Araújo, assumiu falando grego e tupi durante o discurso de posse. Inaugurando a prática das caneladas na China, ele dizia que “lembrar-se da pátria, não é lembrar-se da ordem liberal internacional, não é lembrar-se da ordem global. (…) Vamos escutar menos a CNN e mais Raul Seixas”. Tempos depois o doutor diria que “sejamos pária”. Conseguiu.

Bolsonaro chegou ao Planalto querendo forjar um novo tipo de relação com os militares. Saudando o antigo comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, mostrou o cabo do revólver: “Meu muito obrigado, comandante Villas Bôas. O que nós já conversamos morrerá entre nós. O senhor é um dos responsáveis por estar aqui. Muito obrigado, mais uma vez”. Semanas depois, mostrou o cano: “Democracia só existe se as Forças Armadas quiserem”.

Os primeiros meses de Bolsonaro serviram para que seus colaboradores e aliados distribuíssem utopias. O superministro da Economia, Paulo Guedes, prometia reformas que salvariam o país dos “piratas privados, burocratas corruptos e criaturas do pântano político se associaram contra o povo brasileiro”.

Wilson Witzel, um juiz desconhecido que havia sido eleito governador do Rio de Janeiro na onda bolsonarista de 2018, prometia severidade na defesa da ordem: “A Lei Antiterrorismo pode dar penas de 50 anos, em estabelecimentos prisionais destacados, longe da civilização. Precisamos ter a nossa Guantánamo”. Em 2021, a Assembleia do Rio retirou-o do cargo, aceitando as denúncias de corrupção que arruinaram seu governo. (Ecoando conversas, o prefeito do Rio, Marcelo Crivella, defendia a abertura de cassinos na cidade.)

Nos primeiros cem dias de seu governo, Bolsonaro fez pelo menos 82 afirmações falsas. Além disso, escanteou o vice-presidente, general Hamilton Mourão, transferindo seu gabinete para um anexo do Planalto. Durante o Carnaval, postou um vídeo escatológico.

Isso tudo antes da chegada do vírus da Covid.

Publicado em Elio Gaspari - Folha de São Paulo | Deixar um comentário
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© Jan Saudek

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1983

Fuckyourselfie! © Myskiciewicz Breção

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O irritante guru do Méier

O honesto é um amador que atrapalha fundamentalmente o trabalho dos canalhas, todos profissionais.

Publicado em Millôr Fernandes|1923|2012 | Deixar um comentário
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2014

tupi-or-not-tupi-2

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Famiglia

Nelson Piquet Bolsonaro, da Fórmula para Esconder Joias.

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Nenhum canalha é ridículo

Minha fixação pela figura do canalha deu-se nos anos de chumbo. Eu ainda era uma criança. Lembro-me que conheci a palavra logo após uma briga na saída da escola. Depois de aplicar um soco nas ventas de um coleguinha, ele saiu chorando, o nariz latejando. Quando me dirigia para casa, uma matrona — mãe do menino — pegou-me pelo pescoço, sacudiu-o e gritou:

– Castelo Branco, Castelo Branco! Só podia ser parente daquele presidente canalha!

A palavrinha ficou registrada em minha mente por anos. Tinha vergonha de perguntar aos meus pais porque a senhora havia dito que existia um presidente infame com meu sobrenome. Seria eu, por conseguinte, um canalha-mirim? E minha avozinha, tão meiga, uma macróbia canalha?

Outro problema: sonora como era, a palavra poderia ser pornográfica, como punheta, xereca, siririca, xibiu. E proferir isto na frente de uma família nordestinamente patriarcal, seria algo muito canalha de minha parte.

Este pequeno artigo é o resumo de grande uma obsessão, de mais de 40 anos. Ele comprova a célebre frase de Nelson Rodrigues de que “nenhum canalha é ridículo.”

Como sempre, as definições dicionarizadas (do italiano, canaglia; sujeito vil e infame e do latim “canalia” — coletivo de “canis”, cão) não exprimem muito bem a subjetividade dos termos importantes.

Sem querer bancar o canalhocrata, mas os biltres merecem muito mais da nossa linguística nacional. Afinal de contas, não sejamos hipócritas: o Brasil é o maior celeiro de tratantes do Hemisfério Sul. Se a economia e a política prosseguirem nos moldes de hoje, brevemente nosso mais importante produto de exportação não será mais o café, a soja, os sapatos de Franca: serão contêineres e contêineres repletos de pulhas.

Países que desejarem incremento na baixaria de seus Congressos importarão canalhas-políticos “made in Brazil”; nações desejosas de achincalhar a sua imagem importarão canalhas-marqueteiros. Todavia, é bom que se diga, há correntes que defendem os canalhas-advogados como mais ISO 9000 que qualquer outro tipo de nefando.

O produto brasileiro é infinitamente superior a seus concorrentes das Américas Central e Latina.

Para um canalha nacional, 100% puro, a moral e os bons costumes são apenas uma nota de pé de página no livro da vida. O canalha tupiniquim não tem ideologia, tem primazia. Não rouba, malversa. Não se mete, mete. E, claro, faz tudo isso com grande cordialidade, simpatia, suavidade. E de roupa.

Estudiosos da canalhice e da cafajestagem como fenômeno social afirmam que, no Brasil, existem 60 cafajestes diferentes para cada Frei Galvão. Por esses e outros exemplos constatamos que o sociólogo Gilberto Freyre poderia perfeitamente ter batizado seu mais famoso livro de “Casa Grande & Canalha”.

Ainda assim, e com todos esses atributos, o Brasil ainda está bem distante do Primeiro Mundo no quesito patifaria. Mesmo com tantos casos célebres, ainda falta muita calhordice até que se consiga produzir um canalha-premium como Donald Trump.

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Bonsai

Claudio Seto – 1944|2008

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A Taciturna (A partir de um texto de Paul Celan)

Quando vem a taciturna e quebra os canos, a casa fica sem água; a taciturna destroça rosais, canteiros de gérberas e a Casa do esquecimento, onde a taciturna vive, exala um bolor verde-mofo.

Para ele a taciturna verte a lágrima no escorpião; a taciturna sopra na pele; para ele ela enche os copos de sol; para ele ela murmura as sombras do amor.

Ele, da varanda da Casa do esquecimento, atira flechas em qualquer um: quem passa à frente da farmácia, flecha no ombro; quem sai da igreja dos Beneditinos, flecha na testa; quem entra no cartório, flecha nas costas; quem sai da lotérica, flecha no pé.

  • Ela: olho no olho, no frio, presos nas profundezas, somem de si para sempre.
  • Ele:
  • – Escuto, o machado floresceu.
  • Ela:
  • – Escuto, o local não é nomeável.
  • Ele:
  • – Escuto, a chuva que a tudo observa cura o enforcado.
  • Ela:
  • – Escuto, falam da vida como único refúgio.
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