BETO RICHA narra em longa e nada convincente explicação sua ida e desida ao PL; recebeu convite em gentil conversa com Jair Bolsonaro no dia do sonho que teve com o pai. Lembrou da lição inesquecível do velho José Richa, o adágio digno de um Francesco Guicciardini: “a inércia é inimiga da política”. Não vou criticar invencionice com violação do mandamento de não usar o nome do pai em vão; faço isso o tempo todo, com frases que o meu jamais disse ou diria. Mas meu pai é personagem de ficção, indene e inofensivo.
O AFILHADO de Ezequias ofende o pai ao tentar explicar a sofreguidão e o desassossego de deixar o ninho tucano para abrigar-se no covil do abutre. Assisti de camarote quando a campanha de Roberto Requião forjou documento para jogar sujeira na campanha do velho Richa. Qual não foi minha surpresa quando vi o governador Beto Richa como aliado preferencial do master mind do fake contra o pai. Beto devia respeitar a memória do pai, um dos líderes da redemocratização, ao defender o fiasco de sua aliança com Jair Bolsonaro.
SE a política é a arte do possível, Beto faz o impossível para torná-la a arte da sobrevivência a qualquer custo. Não leu Luís Fernando Veríssimo quando este disse legitimar, como seus artigos, alheios e apócrifos desde que falem mal de Jair Bolsonaro.
O bordel L’Apollonide está vivendo seus últimos dias de funcionamento no início do século 20. Mas é neste mundo reservado que muitos homens se apaixonam e se entregam, tornando-se muitas vezes dependentes das “companheiras”, com quem dividem seus segredos, medos, dores e, claro, o prazer. Direção de Bertrand Bonello, 2001, França.
“Não devia fazer nada de mau gosto, advertiu a mulher da pousada ao ancião Eguchi. Não devia colocar o dedo na boca da mulher adormecida nem tentar nada parecido”, diz o japonês Yazunari Kawabata, vencedor do Prêmio Nobel, na obra A Casa das Belas Adormecidas. O trecho aparece na epígrafe de Memória de Minhas Putas Tristes, um dos mais belos livros de Gabriel García Márquez. As duas obras possuem uma ligação muito interessante com L’Apollonide – Os Amores da Casa de Tolerância, principalmente pela forma delicada e sensível com que tratam jovens que ganham a vida se prostituindo.
Virou até moda, por exemplo, a proclamação de que se é um marginal da classe média. Ou mérdea. A segunda forma, num tempo em que o jogo de palavras e o uso da palavrada passaram a valer como sinal de talento, é mais elegante. Mérdea. Podendo grafar isso, então, é o fino do espírito. Compõe bem. Soa a criativo. E, útil, começa a faturar, o que é conveniente e de oportunidade boa.
Mas da classe média você não vai escapar, seu. A armadilha é inteiriça, arapuca blindada, depois que você caiu. Tem anos e anos de aperfeiçoamento, sofisticação, tecnologia, ah o cartão de crédito, o cheque especial, o financiamento do carro, da casa própria e do resto da merdalhada que for moda e, meu, sem ela você não vive. Não respira, é ninguém. Ou melhor, é nada: você já virou coisa do sistema. E não pessoa. Dane-se. Futrique-se, meu bom, meu paspalho, pague prestação pelo resto da vida. E o carro, é preciso o carro. Os donos da arapuca querem você comprando. Compre. E de carro. Ande de carro, ouça música e veja filmes no carro, coma no carro e trepe ali.
Todos os leros. Todos os embelecos, do automóvel ao secador de cabelos, principalmente você deve comprar o de que não precisa. A tevê vai te comandar a vida, meu chapa. A cores. E destas regras do jogo não vai escapulir. Bufanear a classe média, pajear, aturar e ser como ela. Quer queira, quer não.
Afinal, já não está em tempos em que possa pensar com sua cabeça. Ô, meu, você é só manada. Bem pequenininho, lá, no meio da manada. E quieto, bom comprador. Esbirro, sabujo, capacho.
João Antônio, 1937|1996
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No mundo somos muitas as almas e diversas – diria o nunca assaz louvado Conselheiro Acácio, com suas certezas vulgarmente conclusivas, e melancólicas. Ao embalo dessas fugacidades, fico sabendo que o melhor do acervo fotográfico da para mim imortal amiga e “ballerina” Rita Pavão (1953-2006), está agora sob a guarda oficial do Teatro Guaíra.
Painéis assinados, entre outros, por Alberto Melo Viana, Júlio Covello, Karin van der Broock, Luciana Petrelli, mágicos e oficiantes do que os jornalistas d’antanho chamavam de “a arte do clic”, foram inteligentemente doados, ao museu de nosso mais importante teatro, por Reginaldo Fernandes, ele próprio um contumaz do ofício. E dos perfis de Rita Pavão.
Rita era singular. Nosso derradeiro encontro foi no centro nervoso da city, às três da tarde. Me agarrou a pele do braço com força, numa urgência carente e aturdida, mais que o burburinho das três da tarde no centro da cidade. Contudo, leitor e leitoras, não desviemos: excitação, sim, mas criativa, cheia de sonhos, planos, delírios. Queria dançar o mundo a bailarina Rita Pavão.
Pedi a ela menos atropelo e ela me respondeu então com novas urgências, desta feita, pessoais. Nós nos amávamos de um modo esquivo e apaixonado. Fez, em 92, de meu livro de estréia, Bolero’s Bar, um bailado cheio de graça e liturgia pagã. Pôs no palco, do artista quando jovem, este vosso escriba inteiro: dos vômitos públicos, que lavaram a Cruz Machado, ao amor clandestino por entre a neblina fria; da solidão do pardal molhado de domingo ao cão íntimo que vos destroça a segunda-feira em dez.
Bailaram, no Sesc da Esquina, Rita e suas ninfas, o texto em off; a música, puro cristal. Na platéia, inflei, no escuro. Bebíamos muito um tempo; bebíamos pesado. Era o jeito que a nossa mocidade mais moça encontrara para não sucumbir ao alagadiço da Curitiba congelada no tempo, ainda cartorial, ainda ameaçadora. Rita Pavão, o lábio vermelho tinto, em cima do salto, reinventava, por exemplo, numa surpreendente saia godê, em tecnicolor reinventava pela cidade o cinema americano. Rita, eu sinto muita saudade de você, desde que você se atrapalhou com a janela do edifício e apagou, de puro pânico, o coração. Que, a rigor, não era seu, mas principalmente nosso, feito um quasar – dançarino; e barroco. O anel que tu me destes era vidro e se quebrou… Você quis rasgar o peito à unha, Rita, quando imaginou a fera maior que você. Talvez não fosse.
É por isso, por seus medos – que continuam sendo os de todos nós – que eu sinto muita saudade de você. Acho que não precisava ser assim nem desse jeito. Você errou de estratégia; e de estação. E virou fotografia.
Cada escritor tem o seu cinto de utilidades na estante, proporcional às necessidades profissionais: gramáticas, dicionários, enciclopédias. Como nenhum autor é igual a outro, a variedade de obras auxiliares é extensa. Não custa imaginar uma customização retrô nas prateleiras de alguns literatos.
Na fase mais delirante da carreira, Franz Kafka rejeitou os livros normais de consulta. Se agarrou obsessivamente a um compêndio de entomologia.
Auto-suficiente, Guimarães Rosa criou o seu original léxico.
Aproveitando as tantas novelas de cavalaria conhecidas, Cervantes remonta tudo e põe um alfarrábio na algibeira de Dom Quixote, que enlouquece na leitura.
Em vez de ir à uma livraria e adquirir um precioso Webster, o genial James Joyce prefere pegar um exemplar da Odisséia e fazer um vertiginoso remix das palavras.
Com vasta cultura, Millôr Fernandes, o pai dos humoristas brasileiros, convida as palavras a fugirem das páginas solenes dos livros de referência e as leva para um recreio – o Dicionovário – em que oxigena o português.
Na sua cabeceira, Jorge Luis Borges mantinha uma pilha de incontáveis dicionários e enciclopédias que jamais foram escritos ou publicados. Para produzir seus contos fantásticos, ele os consultava às cegas.
Peso, tamanho e volume são os exageros físicos dos dicionários. O verborrágico Paulo Leminski possuía um dos maiores, um Catatau.
Para Ambrose Bierce, o recurso foi adaptar os verbetes da Britânica à sua ótica cética e pessimista. Assim nasceu e faz sucesso até hoje o Dicionário do Diabo.
Já pro Dante Alighieri, uma única obra de referência bastou para guiar a sua monumental poesia: a Bíblia.
Vendo que palavras de sons semelhantes não eram a solução, Carlos Drummond de Andrade atirou o dicionário de rimas pela janela, que foi apanhado por um tal de J. G. de Araújo Jorge.
Certa noite de tempestade, Mary Shelley foi à biblioteca e desfolhou os exemplares de uma enciclopédia. Em seguida, costurou aleatoriamente as páginas até formar um grosso exemplar, que encadernou e por onde passou a se orientar nas dúvidas de linguagem.
Num esforço de pesquisa dos mais autênticos, Charles Bukowiski compilou o seu dicionário a partir das paredes de banheiros públicos.
Mais preguiçoso, Luis Fernando Veríssimo contratou um popular Gigolô das palavras como consultor particular.
Quanto ao meu próprio amansa-burro, tem apenas o essencial: só as orelhas.
Setores do PT do Rio ficaram insatisfeitos com uma portaria que transferiu funções de unidades federais para o Departamento de Gestão Hospitalar
Em meio ao avanço da dengue no Brasil, que já ultrapassou a marca de 1,6 milhão de casos prováveis, e à insatisfação de Arthur Lira e do Centrão com o repasse de verbas, a ministra da Saúde, Nísia Trindade, entrou na mira de outro grupo político: o PT do Rio de Janeiro.
Segundo O Globo, setores do partido de Lula no estado ficaram insatisfeitos com uma portaria que transferiu funções de unidades federais, nas quais a sigla influenciava as indicações para cargos de comando, para o Departamento de Gestão Hospitalar (DGH).
O texto foi publicado em 23 de fevereiro, e desde então o PT do Rio e sindicatos ligados a ele têm se manifestado contra a decisão. A reação foi de nota da setorial de Saúde do PT a protesto do Sindicato dos Trabalhadores em Saúde, Trabalho, Previdência e Assistência Social do Rio (Sindsprev-RJ) na sede do DGH, em Brasília.
Em meio ao avanço da dengue no Brasil, que já ultrapassou a marca de 1,6 milhão de casos prováveis, e à insatisfação de Arthur Lira e do Centrão com o repasse de verbas, a ministra da Saúde, Nísia Trindade, entrou na mira de outro grupo político: o PT do Rio de Janeiro.
Segundo O Globo, setores do partido de Lula no estado ficaram insatisfeitos com uma portaria que transferiu funções de unidades federais, nas quais a sigla influenciava as indicações para cargos de comando, para o Departamento de Gestão Hospitalar (DGH).
O texto foi publicado em 23 de fevereiro, e desde então o PT do Rio e sindicatos ligados a ele têm se manifestado contra a decisão. A reação foi de nota da setorial de Saúde do PT a protesto do Sindicato dos Trabalhadores em Saúde, Trabalho, Previdência e Assistência Social do Rio (Sindsprev-RJ) na sede do DGH, em Brasília.
A pressão fez Nísia adiar a implementação das mudanças, que entrarão em vigor apenas em 8 de abril, conforme retificação publicada no Diário Oficial da União.
Os líderes pedem que Nísia explique “como são definidos os recursos destinados às ações de saúde na atenção primária e na atenção ambulatorial e hospitalar de média e alta complexidade”.
No documento, eles afirmam que, embora o sistema do ministério forneça relatórios sobre a execução orçamentária, na prática, as informações disponíveis não permitem uma análise abrangente e individualizada por estados e municípios, dificultando a compreensão da distribuição dos recursos federais para o sistema de saúde.
Teto para emendas cria novo embate entre Nísia e o Centrão
Como noticiamos, Nísia Trindade protagonizou um novo embate com o Centrão nesta semana. A ministra da Saúde editou uma portaria que limita em 800 mil reais a destinação de emendas parlamentares para programas de combate à dengue. No Congresso, a medida provocou irritação em parlamentares, principalmente os do Centrão.
A portaria estabelece as regras para que as propostas submetidas pelos estados e municípios recebam verba pública para ampliar suas ações de vigilância em saúde contra arboviroses, grupo de doenças que engloba a dengue. A medida autoriza, entre outros pontos, o “incremento temporário ao custeio para o fortalecimento das ações de vigilância das arboviroses, para o cumprimento de metas”.
O Homem de Túnica. Na Universidade de Mexelin, onde morreu de febre amarela (bonita cor) em 1956, ele costumava dar longos passeios trajando uma túnica amarrotada com a inscrição: “A Arte proporciona à Ciência o meio para se conhecer uma rã no escuro” bordada no peito. E não passou disso. A existência marcada pela fatalidade possibilitou à Josias Crátilo uma narrativa coerente e desigual, raramente encontrada em escritores canhotos, solteiros ou macrobióticos.
Em seu primeiro livro, “Desdiálogos”, ele achava Platão horrível, a começar pelas espáduas. E afirmava categoricamente: “A idéia de uma república nova, governada por filósofos, em Siracusa, não partiu de Platão, e sim de um escravo subnutrido que queria trabalhar na cozinha, com o intuito de poder matar aquilo que o estava matando, ou seja, a fome”. Em “O Homem de Túnica”, novas investidas contra o filósofo: “Sabemos perfeitamente que Platão nasceu de uma família nobre e ilustre. Ora, com todo esse empoamento social, como poderiam ter-lhe dado, quando garoto, o apelido de Platinha”? “Platinha”, sinceramente, senhores!”
Este livro nada acrescenta à curta carreira de Josias, muito mais seguro e maledicente em “Duro de Cintura”, onde narra a tragédia que envolve os camarões com mau hálito nas ilhas do Pacífico. No fim da vida, como se pode notar, Josias nutria pela literatura um amor simplesmente platônico.
A moral dos políticos é como elevador: sobe e desce. Mas em geral enguiça por falta de energia, ou então não funciona definitivamente, deixando desesperados os infelizes que confiam nele.
Foi na Alemanha, na cidade de Hamburgo, que uma editora teve a ideia de criar um evento que valorizasse e celebrasse a produção das editoras independentes de livros, surgindo assim o IndieBookDay, que movimentou inicialmente a cena alemã e se espalhou por países como Reino Unido, Holanda, Itália, Brasil e Portugal.
Nesta edição, teremos a presença de Bárbara Tanaka, da Editora Telaranha, e Alessandro Andreola, da Editora Barbante, conversando sobre suas experiências como editores independentes com mediação de Thiago Tizzot, além de uma programação de descontos progressivos e uma mesa de recomendações do livreiro com os destaques na livraria.
Serão diversas editoras com 10% de desconto na compra de 1 livro e 15% para 2 livros ou mais adquiridos durante o evento.
Além dessa boa notícia, adquirindo um livro de qualquer editora independente no evento, o comprador ganha ainda um vale-desconto de 30% na próxima compra de um livro da editora da Arte & Letra.
Arte & Letra é uma publicação apoiada por leitores. Para receber novos posts e apoiar nosso trabalho, considere tornar-se um assinante gratuito ou pago.
Prêmio “Melhor de Curitiba”
De 4 a 31 de Março acontece a votação do prêmio Melhor de Curitiba, do jornal Plural, e a Arte & Letra é uma das indicadas na categoria Melhor Livraria de Curitiba. Para votar, basta acessar o site, cadastrar-se e escolher seus vencedores para cada categoria no formulário. Considere participar!
Novidade vindo aí! Onde Cantam as Baleias, da colombiana Sara Jaramillo Klinkert, recebemos sua capa e está ainda mais perto de chegar às prateleiras.
Julia Revista de LiteraturaDepois de quase 10 anos, a Arte & Letra retorna ao fantástico mundo das revistas. Dona dos projetos Arte & Letra Estórias e Revista Mapa, a editora lança muito em breve a Julia Revista de Literatura, com coordenação editorial de Thiago Tizzot, assessoria de Raquel Barbosa Moraes, da Uivo Produtora, e projeto gráfico de Frede Tizzot.
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