Na minha estante

frazeta

Frazetta, Book Two, edited by Betty Ballantine.

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Território impreciso

Este território, ao qual não pertenço, é tudo o que existe agora. Vago. E indefinido. É só o que há. Nem mais um outro. O solo repleto de luz. A paisagem crestante. Demônios que tentam habitá-la. [habitar-me]. O caboclo velho e sua viola ríspida. O rosto marcado por veios feito vermes ao redor de olhos antigos.

Com mais histórias que a História. As certezas e seus farelos ficaram para trás e não demarcam o caminho de volta. As certezas em um tempo esquecidiço. Em perspectiva, só o chão calcinante. E agora os passos em frente. Pelo território sem demarcações. Território de sal. Branco e lunar. Ao mesmo tempo, capilares verdes nascem de minúsculas fendas no piso ressequido. Um canto xamânico nas frestas da surdez de todo este silêncio. Um canto que se espalha e espelha o tempo que desconheço e a memória que não é minha. Nada mais é meu. E nada pode ser. Aqui, neste chão de luz intensa, o definitivo se dissolve. Nada é definitivo. Nem propriedade. Tudo flutua: nada pertence. E a permanência se liquefaz nas ondulações e mormaço do piso férvido. Os pés desmancham a cada passo. E a cada espaço de tempo, curto, um longo espaço de brilho. O sol a torrar minha lucidez estúpida. Nem lagos, nem sombras. O horizonte se esfumaça numa aquarela entre o branco e o cinza claro. Uma tintura aguada. Aplicada na paisagem por mãos febris de um deus de nuvens — nuvens ávidas por ligar temporalidades e planos infindos entre céu e chão. Céu e chão. O azul e a terra espessa, quase pedra.

O azul e as minúsculas cavidades rochosas. O piso imperfeito para caminhadas incertas. Este é o terreno. E este sou eu. Que sigo mesclando-me às veias deste território tão impreciso quanto minhas lembranças. Ao mesmo tempo que filigranas de pó enchem minhas retinas de imagens úmidas. Pó e lágrimas. O que não chora se esvazia.

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Alphonse Martia Mucha. Studio du Val de grâce, Paris|1900. © Alphonse Mucha Trust.

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Pra não esquecer

Ricardo Eugênio Boechat – 1952|2019 – © Fernandes

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Espequitativas

Sei que o assunto a seguir pode ser desinteressante pro eventual leitor, mas o que escrever antes do resultado da eleição mais crucial da história do país? Gracias pela complacência.

A maior parte dos meus almoços depende de mim: costumo cozinhar. Sozinho ou a dois, são refeições com as surpresas – boas ou nem tanto – do improviso ao fogão.

(Breve digressão culinária: minha amorosa vó, que me criou, era péssima cozinheira, enquanto minha mãe era excelente na cozinha mas maternalmente incompetente. E quando eu pedia a uma ou à outra que me ensinassem a fazer arroz ou feijão, ambas repetiam a mesma cantilena: cozinha não é lugar de homem. O pouco que mais tarde aprendi foi com amigos bons nas panelas. Fim da digressão.)

Como eu dizia antes de eu mesmo me interromper, me alimento quase sempre às minhas custas. Daí o menu de cada dia, em geral um prato só. Domino alguns truques do refogado, meu arroz não é de se jogar fora nem no dia seguinte, e das especialidades que nada têm de especiais estão meus picadinhos. O resto vem das dicas de chefs no iutube.

Quem é capaz de preparar sua própria comida dá mais atenção ao apetite que à fome. Só que nas vezes em que estou só eu em casa, tenho à mesa as companhias possíveis: minhas expectativas. E elas, iguais àquelas de muita gente, andam famintas.

São variadas, essas expectativas, e vão da gula gastronômica à voracidade animal. A mais mirrada, pela falta de nutrição, é a expectativa política: depois do Brasil voltar ao mapa da fome, ela se desesperançou e o que sirvo não parece servir a ela.

Uma expectativa que volta e meia senta com a gente é a do emprego. Ela sabe que vivo das merrecas da aposentadoria, sabe que minha experiência profissional não encontra vaga no mercado, e por isso faz tsk, tsk diante dos pratos rasos que ofereço.

Eu tinha uma expectativa cultural, divertida e animada no passado. Nos dias de hoje, vive apática, e sai comigo mais por dó de mim que de otimismo com programas na cidade. Tem almoços que ela nem toca.

Quanto à segurança, essa expectativa engole furiosamente tudo que estiver ao alcance. Mesmo assim, continua se sentindo subalimentada, anêmica e, claro, insegura. Deve ser pelo medo das ruas que nunca vem jantar.

Ah, expectativas sociais vão bem, saudáveis e rosadas – graças aos velhos e novos amigos.

Bom, no que depender do resultado das eleições, vou repensar o cardápio pras expectativas: se der 13, muita picanha e cerveja sem álcool. Se der 22, antiácidos e purgantes, argh.

(Parte da inspiração da coluna veio do livro Almoço, do talentoso Pablito, quadrinista de Alvorada, que entrevistou a brilhante Eliane Brum lá em Altamira, Pará. Eis um primoroso projeto em livro.)

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Forno & Fogão

Minha mãe, que era uma cozinheira de quatrocentos talheres, insuperável na igualmente insuperável culinária cabocla, costumava decretar, definitiva, que jamais honraria a cozinha quem não soubesse fazer, com talento, um arroz branco.

Desnecessário acrescentar o sublime arroz de D. Cida — clássico, sem ademane, a nua simplicidade de um haicai. De se comer puro, só ele, feito fosse o prato principal.

Arroz incrementado, segundo ela, era tudo, menos arroz. Ou então, ironizava, abobado risoto colorido com vergonha de ser arroz… Xiita, a minha saudosa velha, nas coisas e loisas da cozinha. Frango, só o caipira; milho-verde, só o colhido no quintal, ou vindo da roça.

Minha governanta, a germana Jesse Brek, que, face ao tema, se não aparecer aqui, é capaz de entrar em greve, anda a concorrer com Matisse na disposição da mesa cá no Palacete do Tico-Tico. A cada refeição, um arranjo floral. Esses tempos, creiam, conseguiu montar um sol modernista, com pétalas de cebola e compridas tiras de cenoura. No centro, o redondo recorte de uma fatia de berinjela.

Se minha mãe era xiita no conteúdo, Frau Brek é uma fundamentalista do visual culinário. Como os japoneses, acha que a gente come primeiro, e antes de tudo, com os olhos. Boca, paladar, e até dentes, são importantes, mas vêm depois, se é que interessam vir. O que importa é a beleza inútil da poesia.

Por falar nisso, dizem, por aí, que nosso Dante Mendonça é um menestrel do forno e do fogão. Ainda não me foi dado provar suas iguarias. Mas sei que há um frango que é dele a melhor estrofe. Se é que não trouxe da Itália, onde passou as férias, e nos deixou em enorme vacância, inédito pitéu, prestes a ser anunciado…

Eu, de meu lado, quando budista, com o propósito de seguir o preceito de que todo homem deve entrar, ao menos uma vez por semana, na cozinha, tentei alguns pratos. Sou bom de frango-xadrez e não me saio de todo mal em algumas carnes ao shoyo. Aprendi que está no tempo exato de cozimento o segredo da comida chinesa, que tem de passar pelo estômago com a leveza de uma garça de Kobaiashi Issa.

Perdi o budismo e a paciência, mas não perdi o gosto por esta culinária que, embora os preços abusivos, ainda a freqüento, com a parcimônia que me permitem a disponibilidade e o bolso; mais o bolso que a disponibilidade. E ando com saudade do porco agridoce do adorável Kazuo Hidecki.

Em matéria de comida, saudade tenho sempre, e de muita gente — do Jaime Lechinski e seus macarrões à bolonhesa; dos enfeitiçados rosbifes do saudoso Gilhobel de Camargo, mestre dos mestres; das irrepetíveis sopas-de-cebola do Jamil Snege, que chegou a ganhar as páginas da revista Claudia; das peixadas do Mazzinha; do gulache do Gilberto Rosenmann; do steak au poivre da Gleuza Salomon.

Agora, saudade, mas saudade imperecível, leitor, esta é do arroz de minha mãe.

O Estado do Paraná|6 de abril de 2008.

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Sessão da meia-noite no Bacacheri

Uma série de assassinatos em Mashhad (cidade localizada no nordeste do Irã, próxima às áreas de fronteira com Turcomenistão e Afeganistão) instaura o medo na população. O “Spider Killer”, como os jornais apelidam o assassino em série, estrangula garotas de programa com seus próprios véus. Saed é um homem que embarca em uma jornada espiritual onde ele precisa “limpar” a cidade iraniana, Mashhad, da corrupção e imoralidade que as prostituas da cidade “sujam”. Depois de assassinar várias mulheres, ele fica cada vez mais desesperado com a falta de interesse público em sua missão divina.

Enquanto os crimes com a assinatura do “Spider Killer” aumentam a pilha de corpos, a opinião pública se divide entre considerar a ação dele uma limpeza necessária e um outro fruto escatológico da bárbarie cotidiana. Nisso, a jornalista Rahimi (Zar Amir-Ebrahimi) chega de Teerã para escrever sobre o caso e acaba se envolvendo pessoalmente no curso da investigação. Prêmio de melhor atriz para Zar Amir-Ebrahimi como Rahimi e indicado à Palma de Ouro em Cannes, 2022. Representante da Dinamarca no 95º Oscar.

Título Original: Holy Spider|Ano de Lançamento: 2021|Direção: Ali Abbasi|País de Produção: Dinamarca, Alemanha, Suécia, França|Idioma: Persa|Duração: 117 min.

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Jornalista Aroldo Murá Gomes Haygert morre aos 82 anos

Morreu em Curitiba, nesta terça-feira (3), o jornalista e professor Aroldo Murá G. Haygert, aos 82 anos.  Ele estava em tratamento de câncer há um ano e o quadro de saúde se debilitou nos últimos dois meses. Estava internado no Hospital São Vicente.

Era coordenador do projeto Memória Paranaense, além de presidente do Instituto Ciência e Fé de Curitiba. Foi do conselho editorial da Revista Ideias. Mantinha um blog  e uma página no Facebook.

Vinha publicando, desde 2008, a série de livros “Vozes do Paraná – Retratos de Paranaenses”, que já perfilou mais de 250 profissionais de destaque em suas áreas de atuação. Em 2022, lançou a edição 13 da coleção. É autor da biografia “Seu nome é João”, sobre o ex-governador João Elísio Ferraz de Campos.

Em seus textos, o jornalista procurava resgatar a história do Paraná e de figuras importantes do Estado e do Brasil, além de tratar de questões atuais de política, sociedade, ciência, fé e responsabilidade social.

Biografia

Gaúcho, filho de Manoel e Nandy Haygert, Aroldo Murá passou a residir no Paraná em 1948. Bacharel em Jornalismo pela PUC-PR, tem cursos de especialização e extensão no Brasil e exterior, como em jornalismo econômico pelo Cepal/ONU, no Chile. Professor da PUC-PR, trabalhou e dirigiu jornais desde 1960 na capital paranaense, começando na revista Club, de Dino Almeida, tendo atuado também no rádio e na televisão. Estudioso e pesquisador de novas religiões, com enfoque nas igrejas cristãs, tema em que se especializou no Canadá.

Foi parte do primeiro e segundo conselhos da Fundação Cultural de Curitiba, nas gestões de Jaime Lerner e Saul Raiz. No começo da década de 1970, renovou e dirigiu o jornal Voz do Paraná, semanário com presença na história do estado, até a década de 1980.

Recebeu, em 2012, a Ordem do Pinheiro no grau de Comendador. Em 2019, foi eleito “Personalidade ACP” pela Associação Comercial do Paraná. Por diversos anos, recebeu menções e prêmios da Câmara Municipal de Curitiba.

Aroldo Murá

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Faltou o gato

A posse de Lula foi sucesso midiático e de relações públicas. Tinha representação integral do Brasil, com índios, negros, deficientes, crianças. Inventou-se a primeira cachorra, como os presidentes dos EUA: Resistência, o nome acidental do animal, desfilou na coleira, levada pelo presidente, os dois desajeitados, ela olhando para a dona, ele pela primeira vez desajeitado no conduzir um companheiro.

Janja revelou seu talento de organização e controle. A primeira dama errou num ponto: a presença do pet presidencial deixou fora do pluralismo da posse o outro animal de estimação dos brasileiros, o gato. Aqui Janja acertou novamente. Ela tem seu gato, o marido.

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Guinski

Pintura|acrílica e colagem sobre cartão corrugado|40 x 40 cm|2022

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O triunfo de Lula

Mais do que uma promessa, o presidente fez um apelo

De braços dados com o ancião Raoni, acompanhado pelo menino Francisco e demais representantes do povo, Lula subiu a rampa e recebeu a faixa das mãos de Aline, carregando sobre os ombros os sonhos e esperanças de milhões de brasileiros, até dos que não votaram nele (embora estes não o percebam).

O trajeto em carro aberto ao lado de Alckmin, o adversário de 16 anos atrás, transmitiu imagem poderosa de civilidade e compromisso com o país. Não pude deixar de associá-los à frente ampla que conduziu o Brasil de volta à luz, na campanha das Diretas. Naquele momento, Tancredo encarnou a travessia. Em 2022, este papel coube à Lula. “Democracia para sempre!”.

Lula enunciou de forma límpida sua (nossa) missão mais urgente, o combate às desigualdades, o único caminho para que o Brasil seja capaz de dar o salto definitivo do século 19 para o 21. Mais do que uma promessa, o presidente fez um apelo. Lula sabe que pode muito, mas não pode tudo.

O Brasil, suas instituições e muitas das pessoas que as representam são as mesmas que validaram a tragédia de 2016 que nos trouxe até aqui, Judiciário e mídia incluídos (hoje, com algumas correções de rota). O novo governo terá que lidar com Arthur Lira, sempre armado para a próxima emboscada. Rodrigo Pacheco insinuou o perdão do esquecimento ao genocida que deixou o país em fuga de rato amedrontado.

Para atender às imposições e disfunções da tal governabilidade, Lula cedeu postos estratégicos na Esplanada, com algumas nomeações de alto risco e potencial de conflitos. Tais escolhas, contudo, não chegam a tirar o brilho de um ministério reluzente em qualificação e engajamento com a reparação de dívidas históricas, respeito aos direitos humanos e proteção aos nossos recursos naturais.

A rota de navegação está traçada. A volta de Lula é um triunfo do povo brasileiro. A festa foi linda, emocionante, inesquecível. Como disse Gonçalves Dias num poema: “Meninos, eu vi!”.

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O irritante guru do Méier

A Justiça farda mas não talha.

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Lista não-exaustiva de novas parafilias catalogadas no século XXI

Alterfobiafilia

Fetichismo que consiste em obter prazer sexual em observar comportamentos e hábitos virtuais de pessoas de quem se discorda ou a quem se opõe, através das “janelas abertas” das “redes sociais”. Forma combinada de masoquismo e voyeurismo amplificados, em que o indivíduo se aproxima do cotidiano de pessoas por quem sente repulsa, e obtém prazer pela sensação de ódio. Contrário de platonifilia.

Bovinofilia

Prazer em observar gado pastando nas redes sociais.

Bolsofilia

Desdobramento da bovinofilia, prazer em observar familiares e em torno do atual presidente da república serem sodomizados, embora metaforicamente.

Catalogofilia

Distúrbio psíquico em que o indivíduo apresenta obsessão pela criação de listas de ordens diversas. Em muitos casos, o sujeito também apresenta obsessão em classificar as diferentes listas internamente, criando ranqueamentos aleatórios de fundo neurótico.

Cleptomemania

Transtorno de controle de impulsos, em que o indivíduo apresenta desejo pela apropriação indébita de produções culturais de outrem (artes ou textos originais), subtraindo registros de autoria (assinaturas ou “arrobas”) para acrescentar as suas ou ocultar conhecida origem. A ação é conhecida popularmente como “kibe” e é tão comum que existe até um evento próprio na rede social Twitter, chamado “The Voice Kibes”. Durante o evento, pessoas disputam atenção (ver validonanismo) por um “meme” único, a saber, o texto “o kibe no twitter ta tao fora de controle q vc ve a mesma piada em 30 conta diferente e ai vc precisa decidir em qual dessas contas vc vai gastar seu rt eh tipo um the voice kibes” (sic).

Digitonecrofilia

Compulsão de ordem neurótica em buscar informações sobre causa mortis de conhecidos e desconhecidos. Em casos extremos, acompanha-se familiares dos mortos, participa-se de comunidades-cemitérios digitais para discussões acaloradas (obs.: em desuso. Aos poucos o hábito se suplanta pela busca incessante de subcelebridades desaparecidas, no jogo conhecido como “Morreu ou Tá na Record?”).

Distractofilia

Padrão de comportamento sexual no qual, em geral, a fonte predominante de prazer não se encontra na cópula, mas nas disseminação da prática de “comer o cu de quem tá lendo” (sic).

Imago-onanismo

Impulso obsessivo na manipulação de filtros digitais pré-programados para autorretratos instantâneos.

Imago-onanismo logorreico

Variação do imago-onanismo em que a obsessão pela auto-imagem é acompanhada por textos edificantes de origem duvidosa e contrastantes com os retratos expostos. Exemplo: as musas e os musos levíticos, ostentando corpos em posições sensuais e frases bíblicas. A variante motivacionismo sensual também é bastante praticada entre aspirantes a mentores, porém se conjuga à “mentoriafilia” em situação reversa.

Mentoriafilia

Transtorno psicótico que leva um grupo de pessoas a buscar receber ordens de pessoas desconhecidas com autoridade estabelecida apenas pelo número crescente de seus discípulos, isto é, seguidores. Uma variante da folie à deux, o transtorno delirante induzido, porém alimentada pelo prazer compartilhado em alimentar-se do discurso e imagens produzidos pelo mentor, “influêncer” ou “coach”.

Mito!m@ni@

Forma digital da mitomania (desejo compulsivo de mentir sobre assuntos importantes e triviais), em que o desejo está relacionado a produção obsessiva de “factoides” ou “fake news”.

Peodeiktofilia

Apesar de ser uma parafilia já catalogada e amplamente discutida — o exibicionismo, manifestado pelo desejo incontrolável de satisfazer-se com a exibição da própria genitália (em grande maioria, a masculina), com o advento da Internet a peodeiktofilia tomou proporções inimagináveis, em que pessoas substituem saudações cordiais por fotografias digitais das próprias genitálias.

Platonifilia

Uma variante da digitonecrofilia, porém é a busca de informação de pessoas em torno de alguém vivo com quem se deseja efetuar relações carnais, porém não há avanço nesse sentido. Versão digital do voyeurismo, que é amplificada pelo prazer em observar hábitos alimentares e de consumo da pessoa observada e também seu entorno. Indivíduos sujeitos a tal parafilia costumam circundar imago-onanistas e imago-onanistas-logorreicos.

Plantonifilia

Uma variante da sonambulifilia, em que o sujeito garante autossatisfação e excitação sexual pela vigilância permanente de meios de comunicação digitais.

Saudofilia

Prazer sexual obtido pelo envio de saudações casuais em redes sociais sem conteúdo discursivo aposto. O sujeito se satisfaz pela ansiedade causada no outro, com o envio de lacônicas mensagens como, por exemplo: “oi”. Em muitos casos, o sujeito saudofílico se relaciona de forma sádica com saudofóbicos, que apresentam sintomas de repulsa extrema e ansiedade a simples contatos comunicativos, e cuja espera de uma oração complementar ao “oi” pode causar náusea, tremores, e outras perturbações psíquicas. Uma variante, conhecida pelo nome vulgar de “oi sumido”, classifica sujeitos cuja saudofilia é desenvolvida após longa separação do sujeito a quem o saudofílico dirige seus contatos superficiais e nada objetivos.

Simforofilia onanista

Excitação sexual advinda da observação de catástrofes e tragédias, praticada por indivíduos solitários que sentem atração pela observação sistemática, por exemplo, da política brasileira e suas consequências.

Sonambulifilia

Há algumas variantes dessa parafilia, que tem como base o prazer em permanecer com insônia e alimentando a insônia de outrem. Em uma variante exibicionista, há o compartilhamento de imagens ou vídeos em horários avançados da noite, acompanhados dos dizeres irônicos “hoje vou dormir cedo/01 am” ou variantes do mesmo tema. Em alguns casos, a parafilia é justificada como uma forma de “bàofùxìng áoyè”, termo chinês para “procrastinação de vingança na hora de dormir”, i.e.: pessoas que não dormem para esgotarem suas forças de trabalho do dia seguinte.

Tinderofilia

Prazer de dispensar pessoas em aplicativos de relacionamentos rápidos, pelo simples arrastar de imagens dos dispensados à esquerda da tela.

Tretofilia

Prazer em buscar as arenas das redes sociais para lançar opiniões controversas e receber e lançar golpes argumentativos de baixo calão. Variante de transtornos sádico e masoquistas comuns, com o incremento da internet.

Validonanismo

A obtenção de excitação sexual pela validação automatizada em redes sociais, i.e., “likes”, “curtidas” ou “compartilhamentos”.

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mariza-DSC05841Mariza Nunes de Carvalho, Teresina, em algum lugar do passado. © Vera Solda

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