Flagrantes da vida real

uma-estante-maestroUma estante, maestro! Rodrigo Barros del Rey. © Maringas Maciel

Publicado em Flagrantes da vida real | Deixar um comentário
Compartilhe Facebook Twitter

Flagrantes da vida real

flagrantes-maringasAquele beijo que te dei.  © Maringas Maciel

Publicado em Flagrantes da vida real | Com a tag | Deixar um comentário
Compartilhe Facebook Twitter

Playboy|1980

1980|Gig Gangel. Playboy Centerfold

Publicado em Playboy - Anos 80 | Com a tag , | Deixar um comentário
Compartilhe Facebook Twitter

Brasil sai do Sete de Setembro com imagem de país totalmente gagá

Os protagonistas da festa foram uma víscera do primeiro chefe de Estado do país e uma extremidade do último

As celebrações do duplo centenário do Brasil parecem ter revelado o que muitos temiam: aos 200 anos, o país está gagá. Primeiro, o presidente recebeu no Palácio do Planalto uma víscera vinda de outro continente. Depois, discursou perante uma multidão de apoiadores e se gabou de ser “imbrochável”.

Apesar de falarmos a mesma língua, em Portugal nós não usamos a palavra “imbrochável”, por isso tivemos de recorrer ao dicionário. O que significaria? O que poderia um chefe de Estado estar a se vangloriar de ser, no bicentenário do seu país? Corajoso? Responsável? Sensato?

Com alguma surpresa, descobrimos que a palavra queria dizer “aquele que não perde a potência sexual”. Mais surpreendente ainda foi o fato de a cerimônia não ter prosseguido com um concurso de arrotos. A psicologia alega ter descoberto que a fanfarronice costuma camuflar uma insegurança, mas não me custa a acreditar que Bolsonaro esteja a dizer a verdade.

Todo aquele sangue que manifestamente não está a irrigar o cérebro tem de ter ido para algum lugar. Por outro lado, mesmo antes de encomiar a sua própria potência, Bolsonaro elogiou a pujança da economia brasileira e afirmou que a inflação “está despencando”.

O mais irônico, no entanto, é que, quando vejo o vídeo em que Bolsonaro proclama a sua potência sexual, eu perco um pouco da minha.

Em resumo, os protagonistas do bicentenário do Brasil foram uma víscera do primeiro chefe de Estado do país e uma extremidade do último. Não se pode dizer que tenha sido uma festa tradicional.

Festas de aniversário, sobretudo de aniversariantes de idade vetusta, como era o caso, costumam ter menos referências a miudezas. Parecia mais uma despedida de solteiro.

Publicado em Sem categoria | Deixar um comentário
Compartilhe Facebook Twitter

7 de janeiro de 2015

Georges Wolinski. © AFP/Arquivo

Wolinski era conhecido por seu trabalho de forte teor erótico e político e era considerado um dos símbolos de maio de 68. Nascido na Tunísia em 1934, ele se mudou com a família para a França em 1946. Começou a publicar suas tiras nos anos 1960, em trabalhos satíricos que envolviam política e sexualidade. Colaborou para as publicações “Liberácion”, “Paris-Match” e “L’Écho des Savanes”, além de “Charlie-Hebdo”.

Publicado em Geral | Com a tag , | Deixar um comentário
Compartilhe Facebook Twitter

Publicado em Comédia da vida privada, Sem categoria | Com a tag | Deixar um comentário
Compartilhe Facebook Twitter

Vida de gado

© Ricardo Silva

Publicado em Sem categoria | Com a tag , , , | Deixar um comentário
Compartilhe Facebook Twitter

A moral pública no Brasil

Perdemos o senso de moral pública no Brasil? Cada um tem a sua?  Onde foi parar o respeito às crianças, aos idosos, às famílias e ao ser humano?

Discursos públicos repletos de palavras de baixo calão (palavrões), com referências à virilidade sexual masculina na presença de milhares de crianças.  Onde foi parar o senso da moral pública, do respeito mútuo coletivo?

O conceito de moral pública é vago no direito, depende da época, dos costumes, da educação coletiva e do avanço ou retrocesso civilizatório da sociedade. O fato é que muito pouco avançamos nessa matéria, talvez estejamos em franco retrocesso.

Hoje qualquer criança de classe média tem um aparelho celular e pode acessar, sem restrições, toda espécie de pornografia, de coisas bizarras e imagens e vídeos inimagináveis.

A licenciosidade pública perdeu seus limites, tanto das autoridades públicas quanto das celebridades do mundo privado. As religiões podem ser um freio para tudo isso? Duvido.

Padrões morais públicos, independente da opção política, sempre existiram. A nova escandalização das condutas sociais rasgou os códigos morais, os protocolos e a etiqueta comportamental que se espera das autoridades ou das pessoas na vida privada.

O desrespeito às mulheres, às minorias, à família brasileira e até mesmo o escárnio quanto às vítimas da pandemia se tornaram comuns na agenda da real política brasileira.

Paradoxalmente, sustentam-se propostas de proteção aos valores cristãos, tradicionais, e de tudo quanto possa entrar na agenda do momento.

Ao lado da moral estão a ética e a educação. Ser educado tornou-se uma exceção, ter ética nas relações sociais e profissionais idem. A pouca moral coletiva que nos resta está na bacia das almas.

Disso surge a violência, do rompimento das ligações entre as pessoas e de tudo mais que transborda as regras, mínimas, do convívio social.

Precisamos repensar esse caos comportamental brasileiro e ressuscitar a velha e boa educação familiar e da escola pública, de alto padrão.

O tempora! O mores! Ó tempos, ó costumes! Exclamou Cícero em face da corrupção e a crueldade dos tempos Imperiais, onde o arbítrio e cobiça assolavam Roma.

Publicado em Claudio Henrique de Castro | Com a tag | Deixar um comentário
Compartilhe Facebook Twitter

A conta não fecha

Nunca antes na história desse país um presidente contou que transa com a mulher; e nunca antes a mulher confirmou que ele não brocha. Faz sentido: ele transa trepado na jabuticabeira enquanto ela sonha com o cheque, rachado com o eleitor. Gozar que é bom, nenhum conta. Essa conta não fecha.

Publicado em Rogério Distéfano - O Insulto Diário, Sem categoria | Deixar um comentário
Compartilhe Facebook Twitter

Nós contra eles, sim

Adversário é quem joga o mesmo jogo do lado contrário. Inimigo, quem está contra o jogo. Os da pior espécie fingem que jogam para acabar com a brincadeira de dentro.

Diante de um inimigo, é preciso fazer prevalecer o espírito de adversário. E aí os contrários devem se unir pela derrota de quem ameaça o jogo.

A briga não é fácil. Antes de mais nada, preservar um jogo é preciso agir estritamente dentro de suas regras – aquelas que o inimigo corrói em cada lance sujo.

Adversários, por sua vez, não esquecem suas diferenças da noite para o dia: são elas que os ajudam a se definir para si mesmos e em relação ao mundo.

William Hazlitt, o grande ensaísta inglês, lembra o “princípio da hostilidade” que rege as relações. Não é estranho ao humano reagir às “antipatias” do mundo, escreve ele em “Sobre o prazer de odiar”. “A vida se tornaria uma poça estagnada”, observa Hazlitt, “não fosse estremecida pelos interesses gritantes e paixões desregradas dos homens”.

Há mais de 20 anos, desaconselhei Armando Freitas Filho a responder, por escrito, a um eterno adversário numa dessas infinitas rinhas de poetas. Ainda não havia redes sociais (menines, eu vi) e o ataque daria um trabalhão. Mas Armando me ensinou a vantagem de se manter sempre atento ao adversário: “Emagrece”.

Paulo Roberto Pires

Publicado em Ultrajano | Deixar um comentário
Compartilhe Facebook Twitter

Playboy|1950

1953|Marilyn Monroe. Playboy Centerfold

Publicado em Playboy - Anos 50 | Com a tag , , | Deixar um comentário
Compartilhe Facebook Twitter

Falácia soez

Publicado em Comédia da vida privada | Deixar um comentário
Compartilhe Facebook Twitter

Mais velho, mais igual

O senador Álvaro Dias agarra-se a Jair Bolsonaro, o rabo de cometa acessível. Não apoia Lula na eleição, porém irá apoiar, caso o petista seja eleito. Álvaro insiste: é o radical da governabilidade, um Ricardo Barros de peruca, quatro pés e dois corações vermelhos de fisiologia. O cirurgião geral esclarece que não é convicção, que Álvaro só tem uma, ele, sempre ele.

Nosso senador provecto e vitalício apoia qualquer presidente, como o náufrago que se agarra à boia salva-vidas. Na semana, disse que não fez oposição a Bolsonaro; preferiu silenciar para auxiliar o presidente no combate à pandemia. Recolheu-se ao silêncio obsequioso, cúmplice e omisso, recolhido em casa, mascarado contra o covid. Álvaro é o surdo mudo que não usa sinais.

Bolsonaro ingrato não aceitou Álvaro no selim da motociata. Álvaro cobrou e foi desdenhado, punhalada em seu ego que ocupa três cadeiras no Senado. Álvaro não muda; ele é velho e o tempo faz os velhos mais iguais a si mesmos. Álvaro está mais igual; o tempo não o fez melhor nem pior; ele se conserva inteiro, a alma,  como a pele e os cabelos, preservada a creme nívea e monoxidil.

Publicado em Rogério Distéfano - O Insulto Diário | Com a tag | Deixar um comentário
Compartilhe Facebook Twitter

Ressaca da Independência

A dor  de cabeça do dia seguinte ao Sete de Setembro

Um dia depois da festa da Independência, o país acordou com uma enxaqueca insuportável. Não há cloroquina que cure.

Quando se chega a uma certa idade, a coisa se agrava. Já não se sabe mais se os sintomas são de ressaca ou de chikungunya.

Num país rachadinho ao meio, a ressaca foi democrática. Atingiu todo mundo.

De um lado, um Brasil acordou com dores na alma. Arrebatado por um sentimento de que teve seu patriotismo sequestrado. Que viu nossas cores, nossa religiosidade, nossa Copacabana serem reduzidas a um projeto de poder violento e autoritário. E que o pedido de resgate chega na forma de chantagem.

Um Brasil que viu o bicentenário da Independência esfregar nossas dependências seculares nas nossas caras. Dependência dos empresários simpáticos ao governo. De transformar o público em privada. Dependência do pão e do circo. De virilidade paternal de um imperador cujo coração

sem vida boia no éter (não estou falando de dom Pedro). Dependência de superfaturar Viagra para bater no peito e, sem auditoria, dizer com orgulho que é “imbrochável”.

A ressaca de um Brasil que viu um projeto de futuro ser trocado por uma tétrica mitificação do passado. Que viu o porte de arma ser mais importante que a vacina. Que patina em vão para encontrar racionalidade num hospício.

Mas, como escrevi, é um país que acorda rachadinho. O Brasil do outro lado acorda numa ressaca de 51. Não a cachaça, mas a enxaqueca incurável pelos 51 imóveis pagos em dinheiro vivo.O Brasil que gira em círculos preso num transe de ayahuasca entoando um mantra. Que apenas repete, repete, repete. Emula, imita o que o mito mandou. E nesse mantra defende o indefensável. Que pode dizer que é qualquer coisa, menos independente.

Mas é um Brasil que acorda numa ressaca ainda pior. Como se tivesse misturado ayahuasca com uma garrafa de 51 (agora sim a cachaça).

É pior a ressaca porque essa metade do Brasil acorda com a boca seca e saliva oculta. Com cem anos de amnésia alcoólica. Com uma dor de cabeça de rachar a cuca.

Além de uma fadiga democrática incurável. E que a festa foi de despedida. O corpo mole e o vazio no peito de quem sabe que seu Brasil rachadinho não vingou. E que a festa foi de despedida.

Publicado em Renato Terra - Folha de São Paulo | Deixar um comentário
Compartilhe Facebook Twitter

Somos vozes

A voz é a única preliminar da qual jamais se pode abrir mão

A voz do povo é a voz de Deus. Mas eu duvido que a voz de Deus seja tão chata.

Tive que trocar de dentista. Eu estava apavorada com o motorzinho, com o vaporzinho, com o jatinho, até que a ficha caiu. Eu nunca tive grandes aflições diante de nenhum desses aparatos —haja vista que sempre pensei neles no diminutivo. Eu não suportava era a voz da pobre odontologista. Uma voz muito muito alta e muito muito aguda. E ela não parava um segundo de falar. Narrava, inclusive, toda a parte que não era propriamente diálogo, e sim ação: “Agora eu vou abrir a gaveta para pegar um algodão. Agora eu abro o lixo. Agora eu jogo fora o algodão usado”.

Uma vez gemi, naquela língua estranha a que somos submetidos quando temos um alargador de borracha metido na boca: “ia-éa-um-oco”. Queria dizer: “Fica quieta um pouco”. Mas, mesmo que eu estivesse implorando com dicção e em um megafone, ela não teria conseguido.

A secretária quis saber por que eu estava desmarcando tanto. Eu coloquei a culpa na falta de grana. Me retornaram: “A doutora topa finalizar o tratamento, e você acerta só quando puder”. Tratava-se, afinal de contas, de uma pessoa muito generosa e, justamente por isso, achei por bem encerrar o trabalho. Eu tinha vontade de quebrar o consultório inteiro cada vez que as notas intensas de suas vogais atingiam a delicadeza de meus sistemas mais abjetos. Seu timbre indecente tinha a capacidade de irromper meu indolente intestino grosso. Era uma espécie de assédio peristáltico. Contudo, ninguém, por mais que tenha uma voz de pato com um nabo entalado no esfíncter, merece a capacidade sanguinária do meu infortúnio.

A voz é uma coisa muito séria. Quem em sã consciência não é apaixonada pelo Sidarta Ribeiro? Certa feita, me indicaram um psiquiatra especialista em crises de ansiedade. Liguei durante um dos meus mais imoderados episódios. A voz do homem era tão vigorosa e afiada que toda a água do meu corpo se agitou. Só deu tempo de trocarmos um “alô, boa tarde, como vai?”, e já o chamei para jantar. Jamais conheci seu consultório, mas frequentei sua casa por uns bons anos.

Sempre que ligo na GloboNews, torço para ver a Natuza Nery —eu acreditaria em qualquer coisa que aquela voz me dissesse. Recentemente, entrevistei a artista plástica Rita Wainer para um podcast e tive vontade de ir para o Japão de ônibus escutando cada uma de suas sílabas. A mesma coisa com a assertividade macia da escritora Milly Lacombe. Eu tomo banho todos os dias ouvindo o esplendor que é a cantora Liniker.

Por outro lado, quando eu ainda era muito jovem, tive um namorado que se transformava num emasculado histérico infantiloide toda vez que ficava putinho. Meu clitóris murchava, secava e caia. A voz é a única preliminar da qual jamais se pode abrir mão.

Durante mais de 30 anos tive o péssimo hábito de encarar seres humanos cujas ondas sonoras ofendessem minha arrogância. Sabe aquele dia em que você tenta almoçar com amigos no restaurante e alguma taquara rachada egoica na mesa ao lado invade sua aura e joga areia nos seus olhos? Minha filha tinha poucos meses, e percebi que ela fazia exatamente a mesma coisa. Olhava feio para todo mundo que lhe ressoasse com uma modulação desagradável. Ela nem tinha ainda o domínio da musculatura do pescoço, mas se contorcia inteirinha para olhar feio para quem poluísse ainda mais o já inviável ar de São Paulo com uma entonação infernal. Temi por seu futuro e parei, pelo menos na frente dela, de ser uma grande vaca. Agora eu apenas mudo de mesa ou de dentista. Mais recentemente, comecei a notar que não suporto minha própria voz.

Publicado em Tati Bernardi - Folha de São Paulo | Deixar um comentário
Compartilhe Facebook Twitter