Craques sim, uai!

Há 35 anos, esse gênio mineiro das letras mudou de plano. Mas, como os mitos, não morre. Está vivo em cada crônica ou poema que resiste ao tempo. Tão presente quanto o saboroso pão de queijo na nossa vida

Quarta-feira 17 de agosto foi também marcada por duas efemérides das mais caras ao mineiro: os 35 anos da morte do poeta maior, Carlos Drummond de Andrade, e o Dia do pão de queijo. Duas instituições entre as preferidas dos habitantes ou dos nascidos nas Alterosas.

O pão de queijo, cuja origem remontaria ao Ciclo do Ouro, nascido do improviso, é um dos símbolos mais expressivos da mineiridade. Assim como o “trem”, o “uai” e o Pelé. Bom para comer a qualquer hora, faz parte desde sempre da nossa dieta. Eu mesmo creio tê-lo “defendido” bem quando vendia a iguaria na redação do Jornal do Brasil no fim dos anos 1980 e início dos 1990.

Minha mulher, a saudosa Beth, fazia um ótimo pão de queijo. E por essa época vendia a massa pronta, fornecendo-a por encomenda a amigos e até a algumas casas comerciais. Para ajudar a divulgar o produto, uma vez por semana, de preferência às sextas-feiras, eu enchia uma mochila com dezenas de unidades assadas, que vendia entre os colegas do JB. Chegava-se a formar uma fila em frente a minha mesa. Alguns me pediam que lhes anotasse o nome para acertar o pagamento depois. Dava para salvar nosso chopinho do fim de semana. Interrompemos a prática quando nossa filha, Juliana, nasceu e, um ano depois, nos mudamos para São Paulo.

A outra instituição ‒ o grande, o imenso, o enorme Drummond ‒, nascida em Itabira a 31 de outubro de 1902, também prestou suas homenagens ao ilustre coestaduano.

Tenho canivete Rodger, geleia, pão de queijo para comer quando quiser”, declamou o poeta no livro Boitempo, em que discorre sobre a vida simples de sua infância.

“Passa o tabuleiro de quitanda: é pão de queijo é rosca é brevidade”, abriu assim o poema Tabuleiro.

Como o assunto mais habitual desta coluna é o futebol, Drummond foi cracaço também nesse campo. Ao mais popular dos esportes dedicou inúmeras crônicas e poemas, principalmente no Correio da Manhã e no JB. Tanto que, em 2002, selecionados pelos netos Luis Mauricio e Pedro Augusto Graña Drummond, compuseram o ótimo livro Quando é dia de futebol.

Eles nos revelam um Drummond atento aos vários aspectos do universo futebolístico, observados pelo escritor em Copas do Mundo e campeonatos, em gênios da bola como Pelé e Garrincha, em lances fortuitos e nas torcidas. Um dos textos presentes no livro é o emocionante Perder, ganhar, viver, publicado no JB em 7 de julho de 1982, dois dias após a traumática eliminação do Brasil pela Itália no Mundial da Espanha.

“Vi gente chorando na rua, quando o juiz apitou o final do jogo perdido; vi homens e mulheres pisando com ódio os plásticos verde-amarelos que até minutos antes eram sagrados; vi bêbados inconsoláveis que já não sabiam por que não achavam consolo na bebida; vi rapazes e moças festejando a derrota para não deixarem de festejar qualquer coisa, pois seus corações estavam programados para a alegria…”, era a abertura da crônica. Que em outro trecho abordava de passagem as primeiras eleições diretas para governadores que se aproximavam.

“Vi a decepção controlada do presidente, que se preparava, como torcedor número um do país, para viver o seu grande momento de euforia pessoal e nacional, depois de curtir tantas desilusões de governo; vi os candidatos do partido da situação aturdidos por um malogro que lhes roubava um trunfo poderoso para a campanha eleitoral: vi as oposições divididas, unificadas na mesma perplexidade diante da catástrofe que levará talvez o povo a se desencantar de tudo, inclusive das eleições…”

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Quaxquáx!

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Quando os marajás usam farda

E os milicos, heim?! Tão coitadinhos, tão pobrezinhos, tão comportadinhos, tão esquecidinhos?! Comendo o pão que o diabo amassou e amargando soldos pífios e aviltantes?!

Isso até pode ter ocorrido, no passado, mas não agora sob a tutela do desequilibrado de Brasília. Até então, eram tidos como “marajás”, privilegiados e abonados, sem piedade com o erário, os magistrados e os procuradores, por baixo de suas capas pretas. Não são mais.

Levantamento feito pelo deputado federal Elias Vaz (PSB-GO) revela um escândalo sem precedentes envolvendo os tão corretos, probos, obedientes e patriotas homens da farda. Segundo balanço realizado pelo parlamentar, com base no Portal da Transparência, alguns militares, que dão serviço no governo do capitão, incluindo o atual candidato à vice-presidência da República, general Walter Braga Netto, receberam remuneração acima de um milhão de reais!

Duvidam? Pois anotem aí: o generalíssimo, ex-ministro e ora candidato à vice-presidência Walter Braga Netto recebeu, nos meses de março e junho de 2020, além do salário mensal, o valor bruto somado de R$ 925.950,40. O ex-ministro de Minas e Energia Bento Albuquerque, também almirante de esquadra, teria embolsado, no mesmo período, além do salário, R$ 1.037.015,42. O ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, general Luiz Eduardo Ramos, nos meses de julho, agosto e setembro de 2020, recebeu uma bonificação de R$ 731.879,43 mais o valor do salário.

Também foram identificados supersalários entre pensionistas. Um deles teria recebido o valor bruto de R$ 1.560.647,10, somado ao salário mensal, no mês de janeiro de 2020. Já um tenente da Aeronáutica recebeu em fevereiro de 2020, além do salário, mais R$ 1.432.376,70. E um marechal-do-ar reformado da Aeronáutica teve um pagamento extra no mês de abril de 2020 de R$ 1.401.936.58.

O deputado Elias Vaz pretendia, na semana passada, requerer esclarecimentos do ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira. Perda de tempo, deputado, s. exª. vai responder que foi tudo dentro da lei.

Não custa lembrar que 2020 foi o ano do início da pandemia da Covid-19, quando o governo limitou o pagamento do auxílio emergencial a quem estava passado fome.

Novo levantamento do parlamentar descobriu que cerca de 1,6 mil militares foram também contemplados neste ano com salários superiores a R$ 100 mil. Um dos beneficiados foi o ex-ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, que tanto mal fez ao Brasil durante a pandemia de Covid-19. No último mês de março, Pazuello recebeu R$ 316.548,44, incluindo salário de R$ 32.633,40 mais R$ 282.623,84 de verbas indenizatórias.

Outro campeão de benefícios, no ano passado, foi o comandante da Aeronáutica, Carlos Almeida Baptista Jr., tenente-brigadeiro-do-ar. Em junho de 2021, ele recebeu um total bruto de R$ 818.902,09. Também foi aquinhoado o diretor da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), tenente-brigadeiro-do-ar Luiz Ricardo de Souza Nascimento. Em novembro de 2021, consta ter recebido R$ 719.724,85.

Já o chefe do Estado Maior, Laerte de Souza Santos, foi agraciado. Em junho de 2021, com um extra de R$ 286.663,36, além do salário de R$ 34,4 mil.

No entanto, de acordo com o jornal Estadão, o número um do ranking é um coronel, lotado no Comando do Exército, James Magalhães Sato, de 47 anos. Em abril deste ano, o pagamento líquido recebido por ele foi de R$ 603.398, 92, “valor correspondente a 38 anos de rendimentos de um trabalhador que ganhe o salário mínimo atual”. Aliás, o “montante também é cerca de mil vezes maior que o Auxílio Brasil, que terá valor médio de R$ 607 em agosto, segundo o governo”.

A lista é longa e está na internet, mas não vale a pena perder mais tempo nem espaço com esse tipo de patifaria.

“É um tapa na cara do povo brasileiro, que está passando uma das piores crises dos últimos tempos”, concluiu o deputado Elias Vaz.

E é essa gente que quer fiscalizar as eleições!

E os soldadinhos rasos, cabo e sargentos o que acham? Meu tio, padrinho de batismo, era militar. Quando passou para a reserva, como capitão, foi obrigado a procurar um emprego civil para poder viver e sustentar a família…

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Giba Trindade

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Dívidas de água e luz do ex-inquilino

O locador foi reaver o imóvel alugado, ou o imóvel mudou de locatários e descobriu que há contas de água e luz atrasadas não pagas pelo ex-inquilino. O que fazer? Pagar as contas e depois cobrar o calote, sabe-se lá quando?

A obrigação de restabelecer o serviço, independentemente do pagamento do antigo morador, não é do proprietário, mas da concessionária de energia e de água.

Em consequência, a distribuidora não pode condicionar o fornecimento de energia ou água ao pagamento de débito não autorizado pelo consumidor ou de débito pendente em nome de terceiros, exceto quando ocorrem as seguintes situações:

I – a distribuidora comprovar a aquisição por parte de pessoa jurídica, à exceção das pessoas jurídicas de direito público e demais excludentes definidas na legislação aplicável, por qualquer título, de fundo de comércio ou estabelecimento comercial, industrial ou profissional;

II – continuidade na exploração da mesma atividade econômica, sob a mesma ou outra razão social, firma ou nome individual, independentemente da classificação da unidade consumidora.

De acordo com o art. 128 da Resolução 414/2010 da Aneel: “quando houver débitos decorrentes da prestação do serviço público de energia elétrica, a distribuidora pode condicionar à quitação dos referidos débitos a ligação ou alteração da titularidade solicitadas por quem tenha débitos no mesmo ou em outro local de sua área de concessão”.

Desta forma, a distribuidora não pode negar ao locador a transferência da titularidade da unidade consumidora ou exigir o pagamento de débito relativo a período em que não estava sob sua responsabilidade.

Na prática essa obrigação é contratual, mas muitas vezes o locador é que paga pelo calote do inquilino.

Portanto, a concessionária de água ou luz que exige a quitação para transferir a titularidade ou religar a energia ou fornecimento de água, atua de forma ilegal.

O que pode ser feito? Ao entrar em um novo imóvel, solicite a transferência de titularidade imediatamente;

Caso o antigo locatário não tenha pago as despesas de energia elétrica ou não tenha alterado a titularidade da conta, você pode se dirigir à concessionária responsável pela distribuição para imediata religação do serviço, que deve ocorrer mesmo sem o pagamento da conta de luz;

Se a concessionária mantiver o serviço suspenso, você pode formalizar uma reclamação no Procon de seu estado ou na plataforma consumidor.gov.br, caso a empresa de energia esteja inscrita no site; nesse caso, a reclamação é dirigida à própria concessionária, e não ao locatário ou antigo morador;

Outra opção é levar o ocorrido à imobiliária que intermediou a realização do contrato, pois esta pode notificar o locatário sobre o ocorrido; Se você decidir solicitar uma indenização ao locatário pelo ocorrido, deve formalizar uma notificação por escrito, com o auxílio de um advogado (Idec).

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Para Llosa, Bolsonaro é um palhaço, não um militar fascista

O que Llosa chamou de catástrofe, foi um genocídio. E não é preciso ser de esquerda para ver que Bolsonaro tem ideias fascistas, e não uma vocação para fazer palhaçadas. Em sua pregação, deixa claro que seu objetivo é destruir a democracia e tornar-se um ditador. Em outros tempos, escritores assumiram posições políticas no mínimo equivocadas, apoiando ditaduras e ditadores. O que pode ou não contaminar suas obras. Quando contaminam, as obras se perdem, vão para o lixo

Escritor consagrado e Prêmio Nobel de Literatura, Mario Vargas Llosa causou espanto e espécie ao declarar sua preferência por Bolsonaro na eleição presidencial brasileira. Ao lado de García Márquez, construiu uma obra magistral na criação do romance latino-americano em meados do século passado, de onde surgiu com destaque a correnteza do realismo mágico. Ficaram vistos como dois ficcionistas de esquerda, o que é verdadeiro para o colombiano, não para o peruano, que se converteu ao liberalismo.

Controverso na política, Llosa gosta de uma polêmica e dos holofotes, o que lhe deu a imagem de intelectual midiático, que dá opinião sobre tudo. Aos 86 anos, está lúcido e cada vez mais à direita, como mostra sua entrevista para a Ilustríssima, da Folha de S.Paulo, domingo último. Considera Bolsonaro “um palhaço, que provocou verdadeira catástrofe no Brasil com sua posição sobre as vacinas”.

Segundo o escritor peruano, ele não gostaria de estar na situação de escolher entre Bolsonaro e Lula. “Trata-se de uma escolha muito difícil. Mas jamais votaria em Lula, que foi um homem que corrompeu profundamente.” Questionado, disse que as decisões que anularam as condenações de Lula foram tomadas por questões técnicas.

O que Llosa chamou de catástrofe, foi um genocídio. E não é preciso ser de esquerda para ver que Bolsonaro tem ideias fascistas, e não uma vocação para fazer palhaçadas. Em sua pregação, deixa claro que seu objetivo é destruir a democracia e tornar-se um ditador. Em outros tempos, escritores assumiram posições políticas no mínimo equivocadas, apoiando ditaduras e ditadores. O que pode ou não contaminar suas obras. Quando contaminam, as obras se perdem, vão para o lixo.

O grande Borges jamais se posicionou contra ditaduras. À parte seu distanciamento da política, deixou uma obra literária imortal, para sempre registrada em sua História Universal da Infâmia e O Aleph, entre outros livros fundamentais da literatura moderna. O exemplo mais notável de um escritor que tomou partido é o do poeta Ezra Pound, que se tornou adepto do fascismo ao final da Segunda Guerra.

Segundo seus biógrafos, não há explicação razoável para o fato de que um intelectual do porte dele, erudito e generoso, tradutor e editor, ter descambado para as mais ignóbeis e criminosas imbecilidades fascistas e antissemitas. A não ser que tivesse enlouquecido. De fato, houve manifestações de loucura no comportamento de Pound, que decidiu viver na Itália e aderiu ao fascismo de Mussolini. Dizia todas as aberrações a favor do regime num programa de rádio semanal. Preso no pós-guerra e diagnosticado como insano, foi colocado numa jaula e permaneceu por 12 anos num hospital psiquiátrico.

Vargas Llosa e García Márquez foram amigos na década de 60 do século passado, depois brigaram e trocaram socos por questões conjugais. Dois dos maiores escritores de uma generosa safra de romancistas latino-americanos, que se dedicaram apaixonadamente à arte de inventar histórias, muitas delas fantásticas.

Em Conversa no Catedral, seu terceiro livro, que o projetou mundialmente, Llosa traça um painel da sociedade peruana nos anos da ditadura do general Manuel Odria, através da reconstituição da trajetória de vida de dois amigos. Um dos amigos é o jornalista Santiago. Logo no primeiro parágrafo ele faz a pergunta que o romance buscará responder: “Em que momento o Peru havia se fodido?”.

Álvaro Caldas

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Leminski e Salvadores Dali

Fui convidado pelos meus amigos dos Salvadores Dali para cantar e proclamar até o infinito a impecável e irremediável “Dor Elegante”. Lançamento no dia 24 de agosto. Data comemorativa de 78 anos do Cachorro Louco. “Conhecidos nas vozes de Zélia Duncan e Chico César, os versos de Paulo Leminski em “Dor Elegante” serão relançados semana que vem numa versão da banda carioca Salvadores Dali.

“Seria só mais uma regravação, não fosse o vocalista do grupo Paulo Leminski Neto, músico de 54 anos que só descobriu aos 33 ser filho do poeta curitibano. Revelada graças à biografia “O Bandido que sabia Latim” (Ed. Record, 2001), escrita por Toninho Vaz, a paternidade escondida de Leminski Neto pela própria mãe virou motivo de orgulho. Para celebrar o escritor, que completaria 78 anos no dia 24, ele incluiu a releitura num clipe inspirado em Godard e outros nomes do cinema. A faixa ganhou uma pegada rap e uma nova melodia, substituindo a que foi criada em 1998 por Itamar Assunção para embalar os dizeres “Um homem com uma dor / É muito mais elegante / Caminha assim de lado / Como se chegando atrasado / Chegasse mais adiante ( …)” _

E tudo em meio à disputa de versões envolvendo a herança de Leminski, hoje pertencente a viúva, a Alice Ruiz e as filhas Áurea e Estrela.”

Lauro Jardim

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Bolsonaro embalsamado

Foram discursos antigolpe que não precisaram falar em golpe

Enquanto Bolsonaro tinha de engolir sem água o discurso de posse do ministro Alexandre de Moraes na presidência do TSE, sua tropa nas redes sociais disparava milhares de mensagens convocando para ataques ao mesmo TSE nas arruaças de 7 de Setembro. Esses disparos eram como o braço mecânico do “Dr. Fantástico”, personagem de Peter Sellers no filme de Stanley Kubrick, automático, incontrolável, programado para fazer sem parar a saudação nazista, e seriam as senhas para um possível golpe contra as eleições. Mas, como Bolsonaro percebeu, a fala de Moraes foi um direto de muay thai contra seu projeto.

O significativo é que a mensagem do discurso —a garantia de que qualquer ameaça às instituições será rechaçada por elas— foi feita na presença dos representantes dessas instituições. Ali estavam os três Poderes da República, a sociedade civil e as missões estrangeiras, o que cobre praticamente o leque. Todos aplaudindo de pé, para constrangimento de Bolsonaro, rígido como uma múmia recém-embalsamada. E houve o que me calou mais fundo: Moraes e demais oradores fizeram uma incisiva pregação antigolpe sem usar a palavra golpe.

Não foi preciso. A ideia de golpe já está no ar há muito tempo, o que anula certas condições indispensáveis para torná-lo possível: a conspiração, o segredo, a surpresa. Todo mundo, inclusive lá fora, sabe hoje que Bolsonaro é golpista.

Quando falei em golpe pela primeira vez neste espaço, na coluna “Remédio para azia”, de 13 de dezembro de 2019, leitores me acusaram de estar vendo fantasmas. Ainda se achava que Bolsonaro era só um destrambelhado. Mas ali já se via que, por trás do destrambelho, havia um projeto. Um projeto de golpe. Desde então, perdi a conta de quantas vezes usei aqui essa palavra. Sempre achei que, quanto mais se falasse de golpe, mais difícil seria tentá-lo. E talvez ainda não se tenha falado o suficiente.

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Zé Beto

zé-beto-kojack-lineu-lebowitzSobre foto de Lineu Filho

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Começou a Guerra Santa

Vários candidatos pedem ajuda aos céus. Mas vale lembrar a frase de Saldanha: “Se macumba ganhasse jogo, o Campeonato Baiano terminaria empatado”

A campanha oficial começou e tudo indica que a religião vai mesmo ocupar grande espaço nessa eleição. Entre os cristãos, o clima é de novo e profundo cisma. Segundo a mais recente pesquisa do IPEC (ex-Ibope), Lula tem a preferência de 51% dos eleitores católicos contra apenas 26% de Bolsonaro. Entre os evangélicos, o quadro se inverte: Bolsonaro surge à frente com 47% e Lula tem 29%.

Não chega a ser novidade. Católicos e evangélicos estão em posição diferente nas pesquisas de opinião há algum tempo. Enquanto o discurso anticonsumista do carismático papa Francisco aproxima-se do ideário socialista do PT, o ultraconservadorismo de algumas correntes evangélicas tem tudo a ver com a visão retrógrada e misógina do ex-capitão que ocupa o Palácio do Planalto. E com o fanatismo da primeira-dama Michelle Bolsonaro,

A Igreja Católica não assume abertamente a oposição a Bolsonaro ou o apoio ao ex-presidente Lula. Mas, ao pregar um pacto pela vida, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) obviamente se afasta da visão desumana e doentia do atual presidente. Em direção oposta, pastores da Igreja Universal e da Assembléia de Deus inflamam seu rebanho contra o PT. Marco Feliciano, por exemplo, anda dizendo que as igrejas evangélicas serão fechadas pela esquerda. E também afirma que a Receita Federal, num governo Lula, vai perseguir os templos evangélicos.

Principal alvo da guerra santa, Lula tratou de mandar um recado ao evangélicos logo no primeiro dia de campanha. Em discurso na porta da Volkswagen, em São Bernardo do Campo, disse que Jair Bolsonaro está mentindo: “Se tem alguém que é possuído pelo demônio, é esse Bolsonaro”.  E completou: “Ele, na verdade, é um fariseu, está tentando manipular a boa fé de homens e mulheres evangélicos”. Já o Capitão Coveiro, nas redes sociais, insistiu em suas mentiras ao advertir que “os que perseguiram e defenderam fechar igrejas se julgarão grandes cristãos”.

Um cristão que segue o Evangelho ao pé da letra poderia argumentar que os políticos estão errados ao envolver Jesus Cristo com questões terrenas. Afinal, ao ser perguntado sobre a obrigação de pagar impostos, Cristo ensinou: “Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”. É verdade. Mas também vale citar outra mensagem do Filho do Homem: “Não pensem que eu vim trazer paz ao mundo. Não vim trazer a paz, mas a espada”. E, avisado de que Maria e seus irmãos o aguardavam, Ele exclamou que “quem faz a vontade de meu Pai que está nos céus, este é meu irmão, minha irmã e minha mãe”.

O embate religioso, pelo visto, vai longe, com católicos de um lado e evangélicos de outro. No Rio de Janeiro, pelo sim, pelo não, os três principais candidatos ao governo do Estado foram à missa no primeiro dia de campanha. Cláudio Castro, candidato à reeleição, ficou 10 minutos na Paróquia São José, na Lagoa. Nome forte da esquerda, Marcelo Freixo, do PSB, subiu os 382 degraus da Igreja da Penha e apareceu de mãos postas diante do altar. O pedetista Rodrigo Neves rezou no Santuário das Almas, em Icaraí, do outro lado da Baía de Guanabara.

Castro, Freixo e Neves se deixaram fotografar contritos,  pedindo a proteção divina. “Andá com fé eu vou/que a fé não costuma faiá.” Certamente eles se inspiraram no canto do grande Gilberto Gil. Pode ser que a fé não falhe. Mas é bom que candidatos às eleições de outubro, cristãos ou não, também tenham em mente uma frase definitiva de João Saldanha: “Se macumba ganhasse jogo, o Campeonato Baiano terminaria empatado”.

PS: Eu sou católico e estou com Lula.

Octavio Costa

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Um quente e dois fervendo

OS BOLSONAROS, pai, mãe e filho saíram com um quente e dois fervendo da posse de Alexandre Moraes na presidência do TSE. O ministro era aplaudido em pé a cada vez que defendia a urna eletrônica e condenava as fake news. Isso em frente de Bolsonaro e do filho, o pai que critica as urnas que lhe deram a presidência e o filho que comanda a milícia das fake news. Mulher e filho foram ao TSE para dar segurança a Bolsonaro, caso único entre os ex-presidentes que compareceram. Bolsonaro usa a mulher como escudo e o filho como capanga.

A nada sagrada família de caras fechadas na celebração da democracia, o que diz tudo sobre seu compromisso com a liberdade. Fizeram o grande favor de sair de fininho, sem receber nem ofertar aplausos. Destaque e parabéns ao cerimonial, que pôs Lula na primeira fila, bem em frente de Bolsonaro. A família é tão bagaceira não leva desaforo para casa, vive de armar barraco. Esperavam o quê na posse do tribunal e do ministro que Bolsonaro ofende cada vez que abre a boca? Os aplausos a Moraes foram vaias ao contrário.

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Flagrantes da vida real

Samuel Lago e Rodrigo Barros del Rey, trabalhando, em algum lugar do passado. © Maringas Maciel

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Minas mandou seu sinal

Zema descolou do capitão e viu-se vacinado

Começou nesta terça-feira (16) a campanha eleitoral. Serão dias de tensão, sobretudo porque a pesquisa do Ipec (ex-Ibope) trouxe más notícias para Bolsonaro. A pior delas veio de Minas Gerais. O governador Romeu Zema, ostensivamente descolado do presidente, tem 40% da preferência, contra 22% de Alexandre Kalil, que é apoiado por Lula.

O prefixo “Bolso”, que já foi alavanca, parece ter se tornado um fardo. Isso foi percebido por candidatos que, mesmo tendo o apoio do capitão, evitam ser confundidos com ele.

No Rio, o governador Claudio Castro (21%) está tecnicamente empatado com Marcelo Freixo (17%). O mesmo acontece no estado no confronto de Lula (35%) com Bolsonaro (33%). Lá, há quatro anos o capitão fez cabelo, barba e bigode. Elegeu um juiz de pouca fama e nenhum futuro. Conseguiu 4,4 milhões de votos para seu filho Flávio.

Eleição, como a Copa do Mundo, só começa quando a bola começa a rolar. Se a última pesquisa do Datafolha deu alento a Bolsonaro, a do Ipec foi um copo de água fria no clima de otimismo que corria no Planalto na semana passada.

A onda bolsonarista de 2018 parece coisa passada. O presidente perdeu seu maior aliado: o sentimento anti-PT. Ele persiste, enfraquecido. Hoje vem acompanhado pela rejeição ao próprio Bolsonaro. Ela está em 46%, enquanto a de Lula ficou em 33%. A conjunção desses dois fatores leva Lula, com 44% a entrar como favorito sobre Bolsonaro (32%).

Os palacianos da semana passada garantiam que Bolsonaro cresceria e o ministro Paulo Guedes informava ao andar de cima que há um arsenal de bombas contra Lula.

Resta ao presidente confiar na sua capacidade demolidora. O maior demolidor da política brasileira foi Carlos Lacerda. No século passado ele destruiu dois presidentes, Getúlio Vargas em 1954 e João Goulart em 1964. Nos dois casos jogava com o uniforme da oposição.

Em 1965, quando seu governo foi para a frigideira, os eleitores fritaram seu candidato. Registre-se que Lacerda foi um governador estelar. Demolição é uma arma que favorece a turma do contra. Vinda da situação, confunde-se com baixaria. Além disso, em décadas de atividade parlamentar, Bolsonaro foi mais um provocador do que um demolidor.

A oposição a Bolsonaro tem sido criativa e eficaz pregando aos convertidos. A carta pela Democracia lida no cenário da Faculdade de Direito da USP foi comovente, mas é sempre bom lembrar que as Arcadas que tiveram Joaquim Nabuco e Castro Alves como alunos, tiveram também, como diretores, os professores Luis Antonio da Gama e Silva e Alfredo Buzaid. Um redigiu o Ato Institucional nº 5. O outro sucedeu-o no ministério da Justiça, com idêntico ardor.

Duas coisa são certas: se Bolsonaro continuar montado no discurso contra as urnas eletrônicas, congelará a fotografia das pesquisas de hoje. Do outro lado do balcão, seus adversários festejam que o Auxílio Brasil não fez efeito. Pudera, pois o dinheiro ainda não entrou no bolso dos cidadãos que viram o governo chamar a Covid de “gripezinha”. Algum efeito terá, a dúvida fica na avaliação do tamanho.

Nesta quinta-feira (18) tem Datafolha, com resultados que permitem a visualização das curvas dos candidatos.

Publicado em Elio Gaspari - Folha de São Paulo | Deixar um comentário
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A micareta na posse de Moraes no TSE

A cerimônia será uma espécie de Drummond às avessas

Festa estranha com gente esquisita. É o resumo da posse do novo presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Péssimo sinal dos tempos que um rito, que deveria ser banal na engrenagem da máquina pública, esteja tão badalado quanto camarote na Sapucaí.

Alexandre de Moraes assume a presidência numa cerimônia em que está prevista a presença de 20 governadores, ex-presidentes e os dois candidatos mais bem colocados na disputa pelo Planalto. Todos se detestam. É um Drummond às avessas. Moraes que não gosta de Bolsonaro que não gosta de Lula que não gosta de FHC que não gosta de Dilma que não gosta de Temer que gosta dele mesmo. Em nome da democracia foi convidada para a mesma festa gente que prefere ver o outro pelas costas. Ou pelas grades.

O novo presidente do TSE é um “canalha” para o presidente da República. O presidente da República tem por inimigo de morte um ex-presidente, atual favorito. O tal ex-presidente, atual favorito, tem lá seus motivos para não gostar de alguns ministros do STF. Estarão lá ministros do STF que autorizaram a prisão e depois soltaram o ex-presidente que é favorito. Uma ex-presidente que tem por inimigo de morte um ex-presidente, antes seu vice. O tal ex-presidente, antes vice, que nomeou para o STF o presidente do TSE que agora toma posse e que participou com ele de um conchavo para livrar a cara do presidente golpista pelas ameaças no último 7 de setembro. Só faltará o ex-ministro do presidente que, de forma nada republicana, condenou o ex-presidente, atual favorito.

Juntar tantas estrelas da política é um sinal inequívoco de apoio ao tribunal e ao sistema eleitoral, mas também uma clara demonstração de enfraquecimento da instituição diante dos ataques feitos pelo bolsonarismo. Em nome da democracia, podem até fingir que não se odeiam, e a gente finge que acredita nas instituições.

Publicado em Mariliz Pereira Jorge - Folha de São Paulo | Deixar um comentário
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Fake da fakada

BOLSONARO começa a campanha pela cidade onde foi esfaqueado na campanha anterior. Parêntese: ele não está em campanha desde que assumiu; ou a cegueira coletiva foi mais um dos “milagres” de seu governo? Fecha parêntese. A escolha do local foi jogada diabólica, maquiavélica, para levar Lula a fazer o mesmo, começar a campanha na cidade onde também foi esfaqueado.

O PT não cai nessa; fazer campanha contra Bolsonaro em Curitiba é pedir para ser esfaqueado. Pela frente, assim tipo Júlio César no senado romano: todo mundo tira uma lasca, até Brutus, o filho bruto. Quanto a Bolsonaro, ninguém se surpreenda com um fake da facada, artimanha para fugir dos debates e vencer a eleição. A imoralidade dessa gente é uma arte.

Publicado em Rogério Distéfano - O Insulto Diário | Deixar um comentário
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