Mário Schoemberger – O último texto

Bateram palmas no meu portão. Meu portão de madeira recém pintado. Olhei pela janela e quem batia era uma velha senhora de roupa escura. Pelas frestas do meu portão de madeira recém pintado vi seu sorriso amarelo sedutor e mãos ossudas acenando que pareciam dizer:

— Vamos, Mario José, está na hora.
Eu então não disse palavra, ignorei a figura, fechei minha janela como se não fosse comigo, encolhi-me num canto e pensei:
— Eu, hein! Vai tomar no seu cu, minha senhora!

06|11|2007

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Evoé, Greca!

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O golpinho de Jair Bolsonaro

Parada foi decidida pelos generais que não falam

Todo golpe vitorioso pinta-se heroico (São Petersburgo, 1917, ou Brasil, 1964) e todo golpe fracassado é mostrado como ridículo (Moscou, 1991, ou Brasil, 2022). Nenhum dos quatro teve tanto heroísmo nem tantas trapalhadas como as que foram pintadas pela vitória e pelo fracasso.

O ex-capitão reformado nunca viu um golpe. Segundo o general Ernesto Geisel, foi “um mau militar”. (Geisel viu seis e ganhou com as brancas em cinco.)

O golpe de Bolsonaro era público. Ele precisava de um Apocalipse como prelúdio. Como o fim do mundo não veio, Lula está no Planalto e ele ficou sem passaporte.

Pelo que se sabe até agora, Bolsonaro refinou o cenário em julho. Numa reunião com três generais palacianos (Braga Netto, Augusto Heleno e Mário Fernandes), mais o ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, e Anderson Torres, da Justiça. Todos acompanharam-no na condenação das urnas eletrônicas.

O general Paulo Sérgio, que tinha oficiais na Comissão de Transparência do Tribunal Superior Eleitoral, foi preciso: “Vou falar aqui muito claro. Senhores! A comissão é pra inglês ver”.

Podia ter dito isso ao público, arrostando a contradita. Prático e clarividente, só o general Augusto Heleno: “Não vai ter revisão do VAR. Então, o que tiver que ser feito tem que ser feito antes das eleições. […] Se tiver que virar a mesa, é antes das eleições”.

O golpe de 15 de novembro de 1889 foi armado dias antes, em segredo. O de 1937, combinado primeiro com os dois chefes militares da época. Em 1945, os mesmos generais decidiram derrubar Getúlio Vargas de manhã, e ele estava deposto à noite.

Diferente dos anteriores, o de 1964 teve um espoleta: o general Mourão Filho, que comandava as mesas de uma Região Militar em Juiz de Fora. (Na manhã de 31 de março, o general Humberto Castello Branco tentou pará-lo e, no meio da tarde, o general Costa e Silva deixou o Ministério da Guerra temendo ser preso.)

Bolsonaro não teve seu Mourão Filho. Os generais e coronéis que tramavam um golpe não tinham tropa para rebelar. O general Estevam Teophilo disse que queria uma ordem escrita.

As 135 páginas da decisão do ministro Alexandre de Moraes expõem um planejamento chinfrim (porque fracassou). Faltam nele generais e coronéis da ativa com comando de tropa. Faltam, porque ali estão os oficiais silenciosos.

Em 2022, por exemplo, circulava uma história segundo a qual Bolsonaro havia convidado o general Tomás Paiva, comandante da tropa do Sudeste, para uma de suas motociatas. Paiva recusou-se, e o ex-capitão disse: “Muita gente sua virá”.

“Se vier fardado, vai preso”, teria respondido o general, que nunca disse uma palavra com sentido político.

Como o general silencioso não fala, o espaço é ocupado por militares da reserva, que dão ordens aos seus taxistas, ou por generais palacianos, que comandam os motoristas de carros oficiais.

O general Augusto Heleno disse uma verdade. Só se vira a mesa antes da eleição. Noves fora 1930, depois, só se teria tentado em 1955, quando Juscelino Kubitschek já estava eleito. A trama passava pela demissão do ministro Henrique Lott (um general silencioso). Lott foi exonerado à tarde e, na madrugada, o presidente Carlos Luz estava deposto. Ele substituía provisoriamente o titular, Café Filho. Por ricochete, Café foi impedido de voltar ao Palácio do Catete. Em questão de horas, Lott derrubou dois presidentes.

COMPOSTURA

O general Walter Braga Netto, candidato a vice-presidente na chapa de Bolsonaro, veio para a ribalta em 2018, quando foi colocado como interventor militar na segurança do Rio. Foi pedestre, porém discreto.

Como chefe da Casa Civil e ministro da Defesa, repetiu o desempenho. É verdade que, em junho de 2022, disse a empresários que, sem a auditoria das urnas eletrônicas, “não tem eleição”. Como é costume, desmentiu a notícia, pois sua fala teria sido tirada de contexto e mal interpretada. Jogo jogado, esses malditos jornalistas distorcem tudo.

As revelações trazidas pela Polícia Federal mostraram outro Braga Netto, nas suas palavras textuais, sem direito ao recurso da patranha do contexto.

Em dezembro de 2022, referindo-se ao comandante do Exército, general Freire Gomes, escreveu: “Omissão e indecisão não cabem a um combatente. […] Cagão”.

Poderia ter sido um momento de exasperação mas, dias depois, deu-se à futrica: “O Tomás foi hoje no VB, ontem. E aí acredite… Ele deu uma mijada no VB e na Cida.”

Tomás era o general Tomás Paiva, que comandava a tropa do Sudeste e hoje comanda o Exército. VB era o general Eduardo Villas Bôas, e Cida, a mulher dele.

Braga Netto foi adiante: “Nunca valeu nada!! A ambição derrota o caráter dos fracos. Aliás… revela. Ele ainda meteu o pau no Paulo Sérgio, disse que ele tem que ficar quieto! A Cida ficou louca. Se retirou da sala, para não botar o artista pra fora”.

Na futrica, sobrou para Villas Bôas e para o ex-ministro da Defesa general Fernando de Azevedo e Silva, demitido por Bolsonaro, que estava quieto no seu canto: “Na verdade, VB tinha paixões discutíveis. Fernando… Tomás”.

O TUÍTE ESQUECIDO DE VB

O general Eduardo Villas Bôas celebrizou-se com seu tuíte de abril de 2018, quando, como comandante do Exército, emparedou o Supremo Tribunal Federal, garantiu a permanência de Lula na cadeia e plantou a semente de uma anarquia militar.

No dia 15 de novembro de 2022, foi publicado em seu nome outro tuíte que ficou esquecido. Duas semanas depois do segundo turno, VB dizia assim:

“A população segue aglomerada junto às portas dos quartéis pedindo socorro às Forças Armadas. Com incrível persistência, mas com ânimo absolutamente pacífico, pessoas de todas as idades, identificadas com o verde e o amarelo que orgulhosamente ostentam, protestam contra os atentados à democracia, à independência dos Poderes, ameaças à liberdade e as dúvidas sobre o processo eleitoral”.

A essa época o general estava fora do Exército e do governo. Padecendo há anos de uma moléstia degenerativa, não caminhava e respirava com a ajuda de aparelhos. Seu tuíte mostrava algum desapontamento com a imprensa.

“O inusitado diante dos movimentos foi produzido pela indiferença da grande imprensa. Talvez nossos jornalistas acreditem que ignorando a movimentação de milhões de pessoas elas desaparecerão. Não se apercebem eles que ao tentar isolar as manifestações podem estar criando mais um fator de insatisfação. A mídia totalmente controlada nos países da cortina de ferro não impediu a queda do Muro de Berlim. A História ensina que pessoas que lutam pela liberdade jamais serão vencidas.”

No dia 15 de dezembro os bloqueios em estradas eram 32.

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Flagrantes da vida real

O que restou da antiga Cerâmica Colle, Bacacheri, onde se localiza o Cadore. © Maringas Maciel

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Bolsonaro reza com apoiadores após operação da PF

O ex-presidente Jair Bolsonaro publicou nas redes sociais um vídeo em que aparece rezando com apoiadores na Vila Histórica de Mambucaba, em Angra dos Reis (RJ). A postagem foi feita no sábado, 10, dois dias depois de ele se tornar alvo de operação da Polícia Federal.

Na gravação, o ex-presidente ouve a oração de uma apoiadora.

“Nosso presidente está passando por um momento difícil. Que os inimigos tenham olhos e não possam vê-los, tenham mãos e não possam tocá-lo, tenham pernas e não possam alcançá-lo”, afirma a mulher que aparece no vídeo.

– Cercadinho de Mambucaba.
– Angra dos Reis, 10/02/2024.
– Uma oração pelo Brasil.
– Deus, Pátria, Família e Liberdade. pic.twitter.com/93ga8zof1n

— Jair M. Bolsonaro (@jairbolsonaro) February 10, 2024

Bolsonaro está entre os alvos da operação da Polícia Federal deflagrada na quinta-feira para apurar a organização criminosa responsável por atuar em tentativa de golpe de Estado.

Apesar de não ser um dos alvos dos mandados de busca e apreensão, Bolsonaro foi obrigado a entregar seu passaporte à PF. As medidas foram autorizadas pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.

Na quinta, policiais federais foram para a casa de veraneio do ex-presidente, em Angra dos Reis, para executar a medida determinada por Moraes. Bolsonaro também está proibido de manter contato com os demais alvos da operação. Entre eles está Valdemar Costa Neto, presidente nacional do PL.

Leia também a reportagem de capa da nova edição da revista Crusoé, que destaca a Operação Tempus Veritatis.

Baseada na delação premiada e nos equipamentos eletrônicos do tenente-coronel Mauro Cid, que foi ajudante de ordens de Bolsonaro durante todo o seu mandato, a operação apresentou informações inéditas sobre a célebre “minuta do golpe”, encontrada em 2023 na casa do ex-ministro da Justiça Anderson Torres. Ao contrário do que vinha sendo dito, agora há sinais de que Bolsonaro conhecia o documento e chegou até mesmo a editá-lo.

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O irmão do Maracanã

Um gênio não convence ninguém, o idiota sim.

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Die Kinder Dieser Welt

© Erika Sulzer – Revista Unicef

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Lira cobra mais

A reunião entre o presidente Lula e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP), teve mais o tom de cobrança do que de acerto de contas. O deputado voltou a relatar uma insatisfação de lideranças do Congresso com o ministro Alexandre Padilha (Relações Institucionais) e disse que as demandas dos parlamentares serão tratadas, preferencialmente, com Rui Costa (Casa Civil).

Na conversa, o presidente da Câmara também reforçou que Padilha perdeu condições políticas de permanecer no cargo, já que o ministro é tratado com desconfiança pela maioria dos deputados .

Lira disse a Lula que considera precipitado o movimento do governo em busca de alternativas para a eleição de presidente da Câmara, que ocorrerá em fevereiro de 2025. Como mostrou o Bastidor, o Palácio do Planalto e lideranças petistas iniciaram uma reaproximação com Marcos Pereira (Republicanos). Hoje, ele é visto como o candidato mais viável para desbancar Elmar Nascimento (União Brasil), preferido de Lira, mas tratado como “inconfiável” por aliados do PT.

Lira pediu, por ora, que o governo fique de fora da disputa. Lula, no entanto, já deu aval para consultas sobre a viabilidade de seus nomes favoritos: além de Pereira, o líder do PSD, Antônio Brito.

Outro assunto debatido entre Lula e Lira foi a insatisfação com a ministra da Saúde, Nísia Trindade. O presidente da Câmara chegou a pedir esclarecimentos sobre os critérios de liberação de emendas da pasta. O petista entendeu o recado: em ano eleitoral, o Centrão quer acesso ao orçamento comandado por Nísia. Lula prometeu uma conversa com a ministra.

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Ter possuir

A “polícia não informou [se o detido por furto] possui advogado” – do Folhapress, sem percepção para a nuance entre ter possuir. A menos que entre o detido e o advogado rolasse mais que uma procuração.

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Vale a pena ver de novo – 2014

ilusionista-1024x682Esse drama, com toques de humor, narra a vida de dois irmãos, que vivem em uma região pacata da Holanda. Um deles sonha com as luzes da ribalta e com a possibilidade de ser um “show-man”. O outro, deficiente mental, se satisfaz com sua rotina tranquila, cômoda, onde possa ser apenas o que é. Sem diálogos, o roteiro exprime com brilhantismo o mundo desses dois irmãos, marcado pelos sussurros, grunhidos e lamentações.

O Ilusionista é, sobretudo, original. Conta a história de uma família circense, arrastada pela amargura da vida e a histeria dos espetáculos. E faz tudo isso sem diálogos, apenas com gritos, gestos e grunhidos. Os personagens desenvolvem uma interpretação que em alguns momentos se aproxima do clown. De fato, esse filme poder servir de aula para atores, de como estimular a sensibilidade e tornar-se capaz de comunicar apenas com os movimentos de face e corpo.

Pode até ser um pouco cansativo, mas o diretor consegue dar o seu recado a partir de uma estética que traduz imagens em história, gestos em palavras, ações em sentimentos. E a relação dos dois irmãos é, indiscutivelmente, belíssima e comovente.

Direção: Jos Stelling|Roteiro: Freek de Jonge; Jos Stelling|1984

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Mural da História – 2015

…não é do meu hábito apresentar soluções comunitárias, mesmo porque eu, hoje, estou mais preocupado em salvar meu próprio nariz do naufrágio. O meu livro “Catatau”, que vai ser publicado em dezembro, dez anos após tê-lo iniciado, é inclusive uma solução toda minha, pessoal, pras minhas próprias decepções e angústias quanto à cultura letrada. Os outros que encontrem seus paradigmas e modelos e construam suas próprias balsas para não morrerem afogado.

Gosto muito em Curitiba, entretanto, em vista de sua radicalidade natural, dos cartunistas Retamozzo, Mirandinha e Solda. Eles não têm nada a ver com minhas propostas e buscas – pois não há ninguém em Curitiba, quanto a isso, que me fascine – mas me parecem, em sua área de interesse, muito bem atualizados com as novidades e informações do setor. Os cartunistas trabalham com mais de um código. E isso pra mim é fundamental, na criação artística. Além do mais, nossos cartunistas me parecem bem mais atualizados que os nossos escritores nos avanços de sua especialidade.

(Paulo Leminski, 1975)

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O que cada um dos glóbulos situados
na parte anterior da cabeça que
constituem a visão humana não vêem,
o órgão oco, muscular, situado
na cavidade torácica, constituído de duas
aurículas e de dois ventrículos e que
recebe o sangue e o bombeia
por meio de movimentos ritmados
de sístole e diástole, não sente

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