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Taxidermia
A quarta via
A quarta via corre para quem der mais. Ela usa a palavra milagrosa, sinônimo da picaretagem, do saque ao Estado: governabilidade. E nós tolinhos iremos todos à via dolorosa, aquela em que o inocente mata a sede com vinagre.
Publicado em Rogério Distéfano - O Insulto Diário
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Netflix passará a ter anúncios e mudará de nome para Televisão
A Netflix passará por uma grande reformulação em seu sistema de assinaturas e terá anúncios. A empresa vai oferecer assinaturas mais baratas desde que você não se importe de parar sua série no meio para assistir a comerciais de supermercado.
Haverá um pacote chamado Nostalgia, que vem com uma antena portátil com bombril na ponta. No Brasil, não haverá diferença porque com nossa qualidade de internet é praticamente impossível assistir a algo sem que a imagem congele.
Publicado em Sensacionalista
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Pagode na laje
Voltei a morar em Get Back
Depois de alguns meses exilado neste inóspito país estrangeiro chamado Brasil, voltei a morar em “Get Back”, o documentário com imagens inéditas dos Beatles. Quando o calo aperta, pego meu saco de dormir e me meto no estúdio londrino: entre a Yoko e o hare krishna, passo horas vivendo com meus amigos imaginários de Liverpool.
Uma das partes mais interessantes é quando a Scotland Yard aparece para acabar com o último show da banda, na cobertura da Apple. Enquanto dois delicadíssimos e imberbes policiais são engambelados pela secretária e pelo manager da banda, um repórter na rua entrevista os passantes: o que estão achando daquilo?
Para uma senhora de cabelo azul, o show é “Supimpa! Uma maneira bonita e solar de terminar o dia!”. Para um tiozinho de cartola, “Traz vida à cidade de Londres”. Há, contudo, almas atormentadas cuja primeira reação, ao ouvirem Beatles entrar pela janela do escritório no final do expediente, não é pensar na sorte de estarem vivos naquela época, naquela cidade, naquele bairro, mas chamar a polícia. Um sujeito cinza, de terno cinza e bigode cinza, grasna: “Atrapalha completamente todos os negócios da região!”.
Tenho de concordar com o plúmbeo bigodudo. Os Beatles tocando no telhado, no meio da tarde, atrapalham completamente todos os negócios na região. Acontece que o contrário também é válido: todos os negócios da região, ao chamarem a polícia, atrapalham completamente o show dos Beatles. E aí, como é que fica?
A resposta cinzenta padrão é: as pessoas precisam trabalhar para ganhar dinheiro e pagar as contas, enquanto a música é uma atividade inútil. É. Vá lá. Mas há maneiras menos tacanhas de se encarar o fato de haver nascido.
O mundo produzido por aquelas pessoas que discaram 190 ao ouvir “Don’t Let me Down” viria a dar aqui: neste apocalipse político climático zumbi com tanta desigualdade, Romero Britto e pizza de sushi. Passamos horas no trânsito. Quem não tá gordo é anoréxico. A humanidade se divide entre os ansiosos e os deprimidos e, embora saibamos que a vida é curta, gastamos boa parte dela vendo imagens da falsa felicidade alheia nas redes sociais. O que só nos deixa mais ansiosos ou deprimidos. Ou gordos ou anoréxicos. E ainda aumenta o aquecimento global, pois precisamos de cada vez mais energia pra ver mais fotos da falsa felicidade alheia nas redes sociais. Bem, aqueles caras, ali no telhado, estavam sugerindo uns outros caminhos.
Durante o Carnaval, no Rio de Janeiro, um taxista furibundo começou a rosnar quando viu, num bloco de rua, garotas de maiô com a bunda (meio) exposta. “Falta de vergonha! Elas não se dão o respeito, depois reclamam se alguém passa a mão!”. Tentei argumentar que mostrar meia bunda era um direito de qualquer brasileiro, passarem a mão nela, não, mas o homem vivia uma lua de fel com o semelhante.
Lembrei, na hora, do documentário. À época do lançamento, alguém tuitou que a queda de braço entre os SUJEITOS CINZENTOS X BEATLES NO TELHADO seguia vivíssima —e com ampla vantagem para o primeiro time. Ó que enrosco: o mundo acabando, a humanidade infeliz pra burro e ainda acham que loucas são meninas dançando de maiô na rua ou a maior banda de todos os tempos tocando de graça pra população da cidade.
“I have a dream!”, diria Martin Luther King. “I have a dream that one day” os Beatles e as bundas poderão mais do que os bigodes grisalhos! “I have a dream” de que um dia o menino da Scotland Yard e o hare krishna e a Yoko Ono estarão de mãos dadas cantando “All together now!”.
Não. Aí também já é demais, Antonio. Além de inalcançável, soa piegas. Sejamos pragmáticos na utopia: se deixarem em paz os Beatles e as bundas, já tá de bom tamanho.
Publicado em Antonio Prata - Folha de São Paulo
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Sob o signo de Putin
A BOMBA do noticiário de hoje não é daquelas que a Rússia lança sobre a Ucrânia. Mas tem a ver com o conflito: Vladimir Putin estaria com câncer avançado, segundo os serviços de inteligência dos EUA e Ucrânia. A dúvida está no onde e no quanto do câncer – nos intestinos, no fígado ou em metástases. A outra bomba é que há um golpe em preparo contra Putin. É melhor os ucranianos não festejarem. Quando seu país era soviético, na época de Stalin, se este suspeitasse de golpe mandava matar o suspeito, a família, os vizinhos, os cachorros e os amigos do cachorro num raio de quinhentos quilômetros da casa do suposto conspirador.
O drama, melhor, o raio de abrangência das represálias só diminuiu com Kruschev, este sim derrubado num golpe sem sangue, porque era a Rússia pós Stalin. Para analisar a notícia devemos conferir se Putin leva jeito de Stalin ou de Kruschev. De nossa parte está mais para Stalin, a julgar pela formação de oficial da KGB e pelos métodos, haja vista a agressão na Ucrânia e a morte dos dissidentes com veneno escondido em pontas de guarda-chuvas por operadores agindo no Exterior. Portanto, os serviços de espionagem – a tal inteligência – precisam avançar nas investigações. Por exemplo, se na Rússia tem ocorrido mortes de cachorros e amigos de cachorros.
Inflação: brasileiro já substitui cenoura por vibrador
A inflação galopante está fazendo o brasileiro trocar seus produtos de preferências. Nas sex shop houve um aumento gigantesco da procura por vibradores. São consumidores que estão trocando a cenoura pelo produto. “Com a disparada dos hortifrutigranjeiros isso vai ser cada vez mais comum. Ontem mesmo eu vendi três. O problema é que o vibrador tem gosto de plástico”, disse um vendedor de sex shop.
Vibradores também tem substituído nabo, pepino e banana. Nutricionistas advertem para usar com moderação.
Publicado em Sensacionalista
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Força, Rubens Valente!
Jornalistas abriram uma campanha na internet para ajudá-lo
Sentença do STF contra o jornalista Rubens Valente, já em fase de execução, deve alarmar todos os que se preocupam com a qualidade da nossa democracia. Em 2014, Valente publicou o livro-reportagem “Operação Banqueiro” (Geração Editorial), sobre a prisão de Daniel Dantas, do banco Opportunity, em 2008, por supostos crimes financeiros.
Nos desdobramentos da Operação Satiagraha, Gilmar Mendes, então presidente do STF, concedeu dois habeas corpus a Dantas, em 72 horas, livrando-o da cadeia. O livro traz um capítulo sobre o magistrado e sua atuação no caso. Valente pediu entrevista ao ministro algumas vezes. Nunca foi atendido. Quando a obra foi publicada, Mendes entrou com uma ação na Justiça por danos morais.
O juiz da primeira instância Válter Bueno de Araújo deu vitória ao jornalista. Considerou que o livro não tem intuito “difamatório” e que o autor não faltou com a verdade. Gilmar Mendes recorreu às instâncias superiores até chegar ao STF, onde obteve vitória definitiva na Primeira Turma. Votaram a favor do colega: Alexandre de Moraes, Dias Toffoli, Rosa Weber e Marco Aurélio Mello (antes da aposentadoria).
A decisão surpreende pelo calibre intimidatório. Determina indenização de R$ 310 mil ao ministro e, em caso de reedição da obra, que seja incluída a petição inicial de Gilmar Mendes e a sentença condenatória, algo como 200 páginas a mais, em evidente violação do direito autoral.
É chocante que a corte, guardiã da Constituição, crie precedente de desprezo a princípios fundamentais da carta —a liberdade de expressão e de imprensa—, pilares das sociedades democráticas. Gritante é também o silêncio da maioria dos veículos de mídia sobre o assunto.
Mas Rubens Valente não está sozinho. Jornalistas abriram uma campanha na internet para ajudá-lo. Essa causa, leitor, também é sua. Participe do #ajudarubens. E a boa notícia é que a edição original do livro está vendendo como nunca. Força, Rubens!
Publicado em Cristina Serra - Folha de São Paulo
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Sempre Darcy
Darcy Ribeiro criou a Fundação que leva seu nome, para seguir com essas lutas, que sabia, continuariam atuais para muito além do seu tempo de vida. Essas lutas são os nossos objetivos.
Publicado em Sem categoria
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Quem é quem
Criou uma pequena empresa de comunicação, a Tiro de Letras, e iniciou uma nova esperiência como professor, nas faculdades Cidade e PUC/Rio. Militante da esquerda armada, foi preso, em fevereiro de 1970 e passou dois anos e meio no cárcere. Integrou a Comissão da Verdade do Estado do Rio. Autor dos livros Tirando o Capuz, (Editora Codecri, 1981), reeditado em 2004 pela Garamond; Balé da Utopia, estréia na ficção, (Editora Objetiva, 1993), e Cabeça de Peixe, contos (Garamond, 2002). Organizador de Deu no Jornal, o jornalismo impresso na era da internet, (Loyola/PUC, 2002). O Balé foi adaptado para o cinema com o titulo de Sonhos e Desejos. Pai de três filhos e avô de cinco netos, é vascaíno e sua geração foi formada no auge do timaço do Expresso várias vezes campeão na década de 40.
Publicado em Quem é quem
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