A loteria das decisões do STF

Se as escolhas dos ministros do STF fossem realmente democráticas, os membros seriam temporários, com mandato e sem direito a recondução – e deveriam ser indicados por diversos poderes e não apenas pelo Poder Executivo.
O melhor modelo é o de Portugal: passados oito anos, vem a despedida.
Se as nossas indicações não são democráticas é pela tradição da hipertrofia do poder executivo que se faz presente em diversas instituições.
A história do STF na ditadura é repleta de puxadas de tapetes de ministros, ora sendo aposentados à força, ora afastados, formalmente.
As indicações de Bolsonaro, no geral, são marcadas por personalidades que inventam doutorados ou mestrados, dentre outros falsetes, mas essa é outra história.
O deputado Fernando Francischini, do Paraná, é um personagem que assistiu ao massacre dos Professores no Centro Cívico e, assim, como secretário de Segurança, surfou na onda da extrema direita paranaense.
Poderia ter sido Senador ou até arriscado um uma disputa ao governo do estado, mas preferiu a cadeira segura de deputado estadual da qual foi o mais votado, e emplacou a dobradinha com o filho, deputado federal.
O mundo gira.
Foi cassado pelo Plenário do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e declarado inelegível, por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação social nas eleições de 2018. O ministro Alexandre de Moraes afirmou, na cassação, que quem se utilizar de fake news, quem falar de fraude nas urnas, quem propagar discurso mentiroso, fraudulento, de ódio, terá seu registro cassado, independentemente de candidato a qualquer cargo.
Nova surpresa.
Num voto de 60 páginas o ministro Kássio Nunes revogou a decisão do TSE e devolveu o mandato a Francischini. O relator pontuou “a confiança legítima dos participantes das Eleições 2018”.
Essa decisão será revogada pelo STF? Ou uma caneta de ministro revoga a decisão do Pleno do TSE? Eis o embate de decisões solitárias com decisões colegiadas.
A realidade: os ministros têm superpoderes.
Duas coisas devem ser questionadas: a primeira, a forma de condução daqueles personagens ao órgão; a outra, a necessária exigência de colegialidade das suas decisões.

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balalaica
(como um balido abala
a balada do baile
de gala)
(como um balido abala)
abala (com balido)
(a gala do baile)
louca a bala
laica

Maiakóvski|Tradução de Augusto de Campos

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Sabe aquela da Dorothy Parker?

Suas tiradas fulminantes abafaram seu valor como escritora

Dorothy Parker estava com seu poodle Troy num saguão de hotel em Nova York, esperando um amigo. O homem demorou a descer e Troy, impaciente, fez xixi numa pilastra. O gerente ouviu o esguicho, viu a poça e marchou em direção a Troy. Dorothy, sentindo o perigo, sussurrou, como que envergonhada: “Fui eu…”.

Essa era uma tirada típica de Dorothy Parker (1893-1967), o nome mais famoso da Mesa Redonda do Algonquin Hotel, uma turma de cerca de 20 intelectuais criativos e debochados que, espontaneamente, sem pedantismos teóricos, marcou a cena cultural americana dos anos 20. Pior para Dorothy —suas frases, desfechadas de primeira, abafaram para a posteridade a contista, poeta, roteirista de cinema e crítica de teatro e de literatura que ela foi. Mas quem a mandou ser tão rápida?

Perguntaram-lhe qual era o seu tipo de homem. Ela disse: “Burro, grosso e bonito”. Mas depois se queixou de seu ex-marido Eddie Parker: “Era tão burro que conseguiu quebrar o braço fazendo ponta no lápis”. Sobre um bonitão que a esnobou: “O corpo lhe subiu à cabeça”. E sobre uma escritora pretensiosa cuja carreira se dava principalmente na horizontal: “Ela fala 18 línguas e não sabe dizer ‘Não’ em nenhuma”. Dorothy foi também a autora do célebre epitáfio “Desculpe o meu pó”.

Uma amiga lhe confidenciou: “Já decidi. Só quero envelhecer com dignidade”. Dorothy perguntou: “E você conseguiu?”. Dorothy foi presenteada com um papagaio e deu-lhe o nome de Onan —​”porque ele despeja suas sementes no chão”. Sua crítica sobre a estreante atriz Katharine Hepburn: “Ela domina todo o leque de emoções, de A a B”. E sobre um livro recém-lançado: “Este não é um livro a ser deixado casualmente de lado. É para ser atirado longe”.

Dorothy era alcoólatra e tentou três vezes o suicídio. Sem sucesso. Até que se conformou num poema: “Armas são ilegais/ Nós afrouxam/ Gás fede/ É melhor viver”.

Publicado em Ruy Castro - Folha de São Paulo | Deixar um comentário
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Frank Maia

NOTA DE PESAR: que seu riscado prossiga pela eternidade, Frank Maia​

O Sindicato dos Jornalistas de SC e a Federação Nacional dos Jornalistas comunicam, com profundo pesar, o falecimento do jornalista Frank Maia, diretor do SJSC. Frank morreu na madrugada deste domingo (05/06/2022), vítima de uma cardiopatia grave, no Hospital Regional de São José, onde estava internado há dias.

Formado pela UFSC, carioca de nascimento, mas manezinho de espírito e coração, Frank Maia aliava, como poucos, o talento artístico com uma profunda base teórica e política, resultando em ilustrações e charges sempre reconhecidas pelo estilo e humor refinado. “Desenhar é o meu riscado”, se autodefinia.

Frank trabalhou nos jornais O Estado, AN Capital, A Notícia e Notícias do Dia. Era colaborador assíduo de publicações de entidades sindicais e ligadas ao movimento social. Em 2017, lançou, junto com Isadora Cardoso e Maurício Oliveira, o livro “Capa dura, miolo mole”, com uma coletânea dos seus trabalhos. Nos últimos tempos compartilhava suas charges e as de diversos outros profissionais do traço de todo o país em redes sociais e em seu grupo de Whatsapp “serviço de xarjincasa”.

Pai carinhoso de três filhos, avô de um neto, Frank recentemente tinha completado 55 anos. Ao filho mais velho, às meninas, à companheira Patrícia e demais familiares e amigos, os profundos sentimentos e solidariedade de todas e todos os dirigentes do Sindicato dos Jornalistas e da FENAJ.

Frank, as Véia, todos nós, teus amigos, amigas, colegas e cúmplices de traço, admiradores, estamos muito, muito tristes. Vai em paz, guerreiro!

As homenagens de despedida ao nosso querido Frank Maia serão realizadas hoje, entre as 16 e as 20h, com cerimônia marcada para as 19h. Serão no cemitério/crematório Vaticano, na rua Antônio Jovita Duarte, 9203, bairro Forquilhas em São José.

Florianópolis, 5 de junho de 2022.|Sindicato dos Jornalistas de Santa Catarina|Federação Nacional dos Jornalistas

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Beat Generation

Allen Ginsberg – William Burroughs in 1953. (Courtesy Howard Greenberg Gallery) © La Petit Mélancolie

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absolut-raádiocaosOs ouvidos são as janelas da alma.

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Genivaldo e a escola de tortura

Violento, o Brasil aceita conviver com escolas de verdugos como a AlfaCon

O assassinato de Genivaldo de Jesus Santos numa câmara de gás móvel, executado por agentes da PRF, pôs em evidência uma empresa preparatória de candidatos a cargos públicos na área de segurança. O curso se chama AlfaCon e seu corpo “docente” (com perdão aos professores pelo uso da palavra) inclui defensores de tortura, assassinato e chacina como método para tratar pessoas consideradas suspeitas.

No vídeo de uma “aula” de 2016, Ronaldo Braga Bandeira Junior (atualmente lotado na PRF em Santa Catarina) ensina a usar gás de pimenta em viaturas, tal como aconteceu com Genivaldo. Outros dois instrutores são os ex-policiais militares Norberto Florindo Junior e Evandro Guedes, este último um dos donos da AlfaCon.

Quando estava em campanha eleitoral, em 2018, Bolsonaro postou um vídeo de propaganda da empresa. E, no mesmo ano, foi ela que serviu de palco para Eduardo Bolsonaro atacar o STF, dizendo que bastariam “um cabo e um soldado” para fechá-lo.

Quem primeiro denunciou essa escola de carrascos foi o site Ponte Jornalismo, em 2019. De lá para cá, várias investigações foram abertas. Corregedoria da PM, Ministério Público Federal, MPs de São Paulo e do Paraná, mas nada resulta em punição. Uma das investigações considerou que tudo não passa de “liberdade criativa” e de narrativa “fictícia” e “lúdica” do instrutor.

Tamanha brandura com quem faz apologia de crimes e incita a sua prática não chega a surpreender. Em 2010, o STF considerou que a Lei de Anistia também se aplica aos torturadores que mataram em nome do Estado durante a ditadura.

Assistir aos vídeos com “aulas” da AlfaCon é como retroceder a um estágio civilizatório perdido na bruma dos séculos. Regida por um código de violência anterior ao Iluminismo, a sociedade brasileira aceita conviver com escolas de verdugos como a AlfaCon, que continuará “preparando” futuros agentes do Estado, com poder de vida e morte sobre cada cidadão. Eu, você ou Genivaldo.

Publicado em Cristina Serra - Folha de São Paulo | Deixar um comentário
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O fim do bem de família?

Tramita a toque de caixa no Congresso Nacional o projeto de lei 4.188/2021 que dá direito aos bancos de penhorarem o bem imóvel de devedores.

Aprovado no Plenário da Câmara Federal no dia 01 de junho de 2021, o projeto concede amplos poderes aos bancos de penhorarem os bens de devedores, inclusive o único imóvel do devedor.

Se a lei for aprovada acabará a impenhorabilidade do bem de família. Pelo projeto, em qualquer hipótese o banco pode, sem medida ou autorização judicial, penhorar o bem imóvel.

A aprovação contou com 260 votos favoráveis e 111 votos contrários. Os partidos favoráveis ao fim do bem de família em benefício aos bancos foram: PL, PP, União, PSD, Republicanos, MDB, PSDB, PSC, Podemos, Novo, Solidariedade, Avante, Patriota, PROS e PTB.

O resumo: o Centrão aprovou o projeto. No Paraná votaram os deputados federais favoráveis ao projeto dos bancos: Diego Garcia; Felipe Francischini, Luiz Nishimori, Luizão Goulart, Osmar Seraglio, Paulo Martins, Ricardo Barros, Rubens Bueno, Sandro Alex, Sargento Fahur, Sergio Souza e Vermelho.

Agora o projeto será enviado ao Senado Federal, que seguindo a rapidez com que foi aprovado na Câmara Federal, em breve, deverão ser reescritos os livros sobre a impenhorabilidade do bem de família.

A discussão parlamentar do momento deveria ser a anistia aos pequenos empresários e cidadãos endividados, no período da pandemia, no qual a economia ficou paralisada em muitos setores.

No início da pandemia o governo federal deu aos bancos R$ 161 bilhões. Enquanto para socorrer a população pobre atingida pela pandemia foram destinados apenas R$ 15 bilhões.

Em 2021, o lucro dos três maiores bancos do nosso país: Bradesco, Itaú-Unibanco e Santander Brasil totalizou R$ 90,1 bilhões.

A alegação para se aprovar o projeto na Câmara Federal foi que a impenhorabilidade do bem de família gera o aumento dos juros dos financiamentos ou a negativa de crédito para quem precisa de empréstimo.

Publicado em Claudio Henrique de Castro | Deixar um comentário
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todo dia encontro um artista novo
eu escrevo, eu pinto, eu desenho, eu canto
mas todos têm aquela cara de ovo
trato-os humildemente mas com espanto
isso não está escrito na cara deles
não vejo em nenhum o ar de sua graça
nem o trato nobre ou o ímpeto reles
raro o dono da própria desgraça

tenho por eles, porém, um amor triste
um amorzinho vagabundo, menos que inho
que de tão diáfano não sei como resiste
um dia pego um deles pelo colarinho
estrangulo no balcão aos gritos: despiste
não fique roxo, não obre, isso é um carinho

Publicado em marcos prado | Deixar um comentário
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Bolsonaro não tem o que fazer nos debates

Quem destruiu tudo só pode propor mais e maior destruição

Bolsonaro diz que só deve participar de debates no segundo turno. Nem o mais fanático dos fanáticos da seita ficou surpreso. O presidente, coitadinho, não quer levar “pancada” dos adversários. Esquece que o terceiro colocado nas pesquisas, Ciro Gomes, tem poupado o governo. Só bate em Lula, o líder das intenções de voto. E que Luciano Bivar, da União Brasil, representa um saco de gatos, uma candidatura de mentirinha, uma linha auxiliar do bolsonarismo e do centrão.

É uma estratégia como outra qualquer. FHC e Lula já fizeram isso —e foram elogiados por analistas políticos. Mas, tomada por alguém que se considera o Destruidor, uma espécie de super-herói ungido por Deus, e ainda por cima com histórico de atleta, a decisão revela fraqueza, além de surpreendente franqueza. Para fugir da salutar troca de ideias, Bolsonaro tem preferido as desculpas esfarrapadas ou engolir camarões com cabeça e tudo e se internar em hospitais.

Antes, porém, é necessário que Bolsonaro vá ao segundo turno. A ânsia golpista, usada para desviar a atenção do desastre econômico, não melhora sua imagem. Ao contrário: piora. O mito insiste no discurso que agrada e mobiliza suas bases radicais, mas que ao mesmo tempo afasta mulheres e evangélicos. A impressão é que, fora dos cercadinhos, não há o que dizer ou explicar. O Destruidor só pode propor mais e maior destruição.

Em sua campanha baseada nas mentiras da rede, o presidente costuma repetir que povo armado é povo livre. A população não pensa assim. Segundo o Datafolha, 72% discordam da frase “a sociedade seria mais segura se as pessoas andassem armadas para se proteger da violência”; 71% discordam de que é “preciso facilitar o acesso às armas”; 69% discordam do conceito (de cunho fascista, aliás) segundo o qual “o povo armado jamais será escravizado”.

Bolsonaro não convence. Nem se comparecer aos debates exibindo uma escopeta.

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Mural da História

El Trazo Iberoamericano|Viena, 7 de maio|6 de julho, 2018. Com Pryscila Vieira e Solda, brasileiros correndo o risco na Áustria. Instituto Cervantes.

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Elas

meu-tipo-inesquecível--jayne-mansfieldJayne Mansfield (1933|1967).  © Reuters

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© Allen Birnbach

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#ForaBozo!

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