Flambada nos cornos

A equipe do Insulto une-se em corrente de solidariedade ao presidente Jair Bolsonaro. Pela saúde e sobrevivência de nosso Mito, que ontem jurou: “ponho minha cara no fogo pelo ministro Milton Ribeiro”. O ministro, devotado pastor evangélico, deu carta branca para outros pastores venderem prestígio e cobrarem propinas na obtenção de verbas da Educação.

Certo que o presidente é blindado pelo Centrão e tem cara de pau à prova de fogo, que não queima como as florestas que ele mata. Certo também que o presidente está protegido pelas bençãos dos evangélicos, sempre alheios aos evangelhos. Se não há bem que sempre dure, nem mal que nunca acabe, nosso Mito ainda recebe uma flambada nos cornos.

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O prazer feminino

Por que se divertir, para nós mulheres, sobretudo para as mães, não passa de uma grande besteira?

Na última quinta-feira, eu estava me arrumando para uma festa quando minha filha chegou com seus enormes olhos cheios d’água e implorou para que eu não saísse. Antes de ela terminar a frase, eu já estava descalçando os sapatos e arrancando a maquiagem com um lencinho umedecido.

A avó veio pelo corredor, vestida com um pijama de flores e trazendo pipoca. Ela abriu um enorme sorriso ao me ver deitada na cama com a criança. Na cabeça dela, assim como na minha e na de tantas e tantas mulheres, o certo é abrir mão de qualquer prazer por um filho.

Apesar do meu recente divórcio, aquela ainda era uma casa “de família”, e era como se eu pudesse ver o coração da senhora bater mais aconchegado. Em seus olhos passou toda a cerimônia da minha canonização. Eu estava morta ali, mais uma vez desistindo de uma farra, mas eu era uma santa. Uma mãe de verdade. Minha filha era muito abençoada. E que mulher, lá no fundo, no que nos resta de machismo estrutural e lembranças das aulas de religião, não quer se sentir nessa posição desgraçada?

Enquanto a Peppa Pig fazia alguma malcriação na TV, lembrei que naquela mesma tarde eu estava indo ao supermercado e Rita veio com seus enormes olhos cheios d’água e implorou para que eu não saísse. Ignorei completamente, porque eu precisava comprar comida. Foi fácil deixá-la esperneando na porta do elevador.

No dia anterior, quando tinha que ir a uma reunião de trabalho, lá veio Rita com seus enormes olhos cheios d’água. Mas eu fui, porque é necessário garantir o dinheiro que compra “o leite das crianças” —e também porque amo trabalhar, ser independente, livre, me arrumar, sair, convencer pessoas das minhas ideias, seduzir, ter dinheiro para comprar qualquer futilidade para mim, mas essa parte não entrava na cerimônia de canonização.

Concluí que, se eu tivesse um parente morrendo no hospital, e precisasse passar a noite cuidando dele, eu jamais teria desistido de sair. Se eu fosse médica, ou segurança, ou babá —e aquele fosse meu turno— da noite, eu iria. Se eu estivesse com uma infecção alimentar e o médico me ordenasse ir a um pronto-socorro, eu obedeceria. Se fosse uma missa de sétimo dia, eu já estaria lá. Valia frustrar minha filha em nome de trabalho, tristeza, dor, despedida, finitude, doença e caganeira. Valia a pena aturar aquela carinha na porta, desconsolada, por qualquer motivo “sério”.

Mas por causa de uma festa? Por que se divertir, para nós mulheres, sobretudo para as mães, não passa de uma grande besteira, uma leviandade, se para os homens é o que existe de mais importante, necessário, um regulador fundamental da sanidade e um item essencial para manter a qualidade da espécie?

Então, enquanto a Peppa Pig fazia mais uma de suas malcriações, eu dei um pulo da cama. “Eu vou!” Só faltou colocar a mão no peito e fazer meu discurso de frente para uma bandeira com o desenho da minha vagina: a mamãe precisa te ensinar, nesse mundo machista dos infernos, a nunca desistir do seu prazer e da sua felicidade! Não existe nada no mundo mais importante do que você, nada que eu ame mais do que você, contudo ainda sobra tanto afeto e desejo dentro de mim. Ainda preciso de tanta realização, deleite, excitação e amor para fora da maternidade. Talvez eu beije muito hoje. E talvez faça mais coisas bem gostosinhas também.

O que eu disse não foi nada isso, fui breve, didática e poupei a criança de certos detalhes. Rita continuou muito brava, e às duas da manhã eu voltei correndo. Na próxima fico mais.

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Musas

meu-tipo-inesquecível--pina-bauschPhilippine Bausch, Pina Bausch (Solingen, 27 de julho de 1940|Wuppertal, 30 de junho de 2009).  © Mondomix

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E os outros?

Programa de televisão nos EUA, o humorista judeu afirma que Hitler deveria ter exterminado os ciclistas, não os judeus. O apresentador pergunta: “Por que os ciclistas?” O humorista devolve: ‘E por que os judeus?’

O presidente Bolsonaro sugeriu que o coronavírus devia matar só os jornalistas bundões. Caso de devolver a pergunta ao nosso presidente-apresentador com tiques de nazismo: “Por que só os jornalistas?”

25|agosto|2020

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Mundo fora do eixo com guerra na Ucrânia

‘Time is out of joint.’ Essa frase de Hamlet me veio à cabeça quando fui questionado num almoço sobre a guerra na Ucrânia.

Na penumbra da cozinha, tinha de falar do tema, sem consultas ou fichas. Apenas com o pouco que aprendi. Parecia um personagem de Harold Pinter: um andarilho que se abrigou na cozinha de um grande restaurante, e começaram a fazer pedidos de pratos extravagantes, enquanto ele tinha apenas um pequeno farnel.

A frase de Shakespeare equivale a dizer que o mundo está fora do eixo. Mas não é novidade, não explica. Bertolt Brecht disse uma vez que, no fundo, todos os artistas têm como tema esta frase: “Time is out of joint. Assim como no verso de Caetano Veloso: “Alguma coisa está fora, fora da nova ordem mundial”.

As coisas corriam assim: a China ampliava sua riqueza e influência no mundo, e os Estados Unidos viviam uma decadência. Nada indicava que a China, no momento, quisesse algo mais do que ampliar sua riqueza e influência no mundo.

Mas havia Putin, querendo reescrever o passado. É o movimento mais perigoso. Antigo quadro da KGB em Dresden, não se conformou com a derrocada da União Soviética.

Andei pelos países bálticos quando o esquema ruiu. Talinn, Riga, Vilnius. Vi um prédio ocupado pela KGB ser desocupado às pressas, com as gavetas carregadas escada abaixo. Humilhante.

Não vou divagar. Foi uma pausa para passar o sal. Quando a União Soviética invadiu a Tchecoslováquia na década de 1960, fui contra. O argumento era simples: o socialismo não se impõe de fora para dentro, na ponta da baioneta.

O mesmo vale para a democracia e os princípios liberais. Os americanos gastaram fortunas, perderam muita gente e hoje parecem cansados de suas aventuras pelo mundo. O problema central foi muito bem entendido por John Gray quando afirma que a política é uma arte de acomodação de interesses diferentes, muitas vezes conflitantes.

O perigo não está apenas em reescrever o passado, como quer Putin. Mas também naqueles que, de certa forma, negam a política do diálogo em troca da afirmação de princípios universais.

O reconhecimento da autodeterminação dos povos é o único caminho. Não representa concordância com o que se faz dentro de um país. Apenas o argumento de que o motor das mudanças é interno.

Tudo isso que disse no almoço é de difícil digestão quando se fala em política. Como atrair os jovens para o propósito de encontrar um modus vivendi entre posições diversas, quando o grande atrativo é impor a justiça, os direitos, a igualdade e outros grandes princípios?

Mesmo a preservação do meio ambiente e, consequentemente, a salvação da espécie humana, dependem de concordância. Sem ela, vamos para o buraco, de qualquer maneira. Os princípios universais são muito bonitos, mas, às vezes, contribuem para a arrogância ideológica, um viés religioso que arruína os objetivos políticos.

Putin sonha apenas com a Grande Rússia, restabelecer um passado ideal com a força das armas, nucleares se necessário.

Mas, no fundo, para chegar à sobremesa, tudo isso representa uma das muitas tentativas de investir a política com esperanças transcendentais numa época sem fé.

Putin as investe no passado, os americanos as investiram nas liberdades democráticas, na construção de nações. A lista dos que, sob pretexto de fazer política, negam seus fundamentos é bem extensa.

Se pelo menos, neste momento da História humana, se compreendesse o perigo da sobrevivência. Os próprios cientistas ucranianos no Painel da ONU estimularam a divulgação do mais recente e dramático relatório sobre o aquecimento global e suas consequências. Se pelo menos parássemos de nos matar para, juntos, contornar o perigo da morte da própria espécie, haveria uma ponta de esperança.

Não importa quão tênue, é preciso se agarrar a ela, ainda que, no momento, seu nome se reduza apenas a uma esperança pela paz.

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Para as biografias de Bolsonaro

Como se sairão nelas figuras como Aras, Moro, Wal do Açaí?

Quando o repórter de televisão informa que tal acusação contra Jair Bolsonaro será “apreciada pela Procuradoria-Geral da República”, pode-se quase ouvir as gargalhadas varando a noite e entrando pela janela. A ideia de que o procurador-geral Augusto Aras “apreciará” —analisará— uma denúncia contra Bolsonaro é tão pândega que ninguém mais se ofende. Com tudo isso, Aras já se declarou confiante na posteridade. E com razão —a história o poupará. Sua participação nas futuras biografias de Bolsonaro será como alívio cômico, na categoria Olavo de Carvalho, Fabrício Queiroz, Regina Duarte.

Não que faltem candidatos a essa categoria. As ditas biografias terão de se equilibrar entre o trágico e o humorístico ao tratar de ministros que Bolsonaro esbofeteou continuamente em público e que exibiram orgulhosos suas bochechas em fogo pela mão do chefe. Entre eles, Sergio Moro, que apanhou na cara todos os dias em que esteve no governo, Eduardo Pazuello, imortalizado ao salivar sabujamente e piar que “um manda, outro obedece”, e Paulo Guedes, mestre em refazer de hora em hora as contas do país segundo as conveniências políticas de Bolsonaro.

O fato de reduzir alguns à piada que eles se tornaram não impedirá que os biógrafos de Bolsonaro os chamem aos fatos. Afinal, Moro serviu de isca para eleger Bolsonaro; Pazuello levou à morte centenas de milhares pela Covid; e Guedes, milhões ao desemprego, falência e miséria. Outros candidatos a sinistro destaque nessas biografias serão Ricardo Salles, Abraham Weintraub. Ernesto Araújo, Augusto Heleno e Marcelo Queiroga. Esses, sim, ocuparão dezenas de páginas —cada um.

Mas as biografias não são o Juízo Final. Ao analisar os bolsonaristas de fora do governo, será importante distinguir entre quem ajudou a enganar e quem foi enganado, mas lucrou com isso.

Ou as duas coisas, como a esperta, porém ingênua, Wal do Açaí.

Publicado em Ruy Castro - Folha de São Paulo | Deixar um comentário
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Delegados e policiais podem conceder medidas protetivas

A alteração legislativa feita em 2019 na Lei Maria da Penha permite afastar o suposto agressor do domicílio em caso de risco à vida da mulher sem decisão judicial. Foi questionada a constitucionalidade dessa lei e o Supremo Tribunal Federal (STF) considerou válida a alteração promovida na Lei Maria da Penha (Lei 11.340/2006).

A lei permitir que, em casos excepcionais, a autoridade policial afaste o suposto agressor do domicílio ou do lugar de convivência quando for verificado risco à vida ou à integridade da mulher, mesmo sem autorização judicial prévia.

Diante do risco atual ou iminente à mulher em situação de violência doméstica e familiar ou a seus dependentes, o agressor será imediatamente afastado​ do local.

A medida poderá ser implementada pelo delegado de polícia, quando o município não for sede de comarca​ (quando o juiz responsável não mora na localidade), ou pelo policial, quando não houver delegado disponível no município no momento da denúncia.

Nesses casos, um juiz deve ser comunicado, em no máximo 24h, para decidir sobre a manutenção ou revogação da cautelar.

Durante a pandemia aumentaram os casos de violência doméstica e nesse período, 24,4% das mulheres brasileiras com mais de 16 anos sofreram algum tipo de violência ou agressão, física ou psicológica. Cerca de 66% dos feminicídios ocorreram na casa da vítima e 3% na do agressor. Em 97% dos casos, não havia qualquer medida protetiva contra o agressor.

Cerca de 56% das violações ocorrem na casa da vítima, 19% na casa do suspeito e 25% outros locais.

Na verdade, essa medida deveria abranger outros segmentos, como crianças, idosos ou quaisquer pessoas que sejam ameaçadas.

A lei foi questionada pelos setores que querem garantir poder, mas que não tem a leitura constitucional adequada da Lei Maria da Penha.

O poder de deferir a medida cautelar para outras autoridades e de forma ampla, sem exceções quanto à ausência de juiz na comarca, é fundamental, pois o poder judiciário não possui a agilidade que o combate à violência às mulheres e a proteção constitucional lhes exigem.

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Flagrantes da vida real

Maringas Maciel, por ele mesmo.

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Após escândalo, governo teme que Milton Ribeiro saia “atirando”

Não é por acaso que haja tanta cautela no Palácio do Planalto com o escândalo envolvendo o ministro da Educação, Milton Ribeiro. O temor no governo é de que ele possa sair “atirando” se sentir abandonado.

Em reunião com prefeitos, Milton Ribeiro afirmou que repassa verbas para municípios indicados por dois pastores, a pedido do presidente Jair Bolsonaro. Depois, em nota, Ribeiro disse que Bolsonaro não pediu atendimento preferencial e negou favorecimento a pastores.

A percepção da ala política do governo, na manhã desta quarta-feira (23), é que Milton Ribeiro não conseguiu estancar a sangria da crise. Mas, pelo menos, cumpriu o roteiro de blindar o presidente Jair Bolsonaro.

O silêncio dos aliados do governo no Congresso Nacional e do próprio Palácio do Planalto é um indicativo da gravidade da situação envolvendo o ministro da Educação.

No Congresso, a expectativa da base aliada era que Ribeiro desse uma entrevista coletiva à imprensa contundente respondendo os fatos, o que não aconteceu. Nas palavras de um dos líderes do Centrão, o ministro não podia negar o ocorrido porque o áudio existe. Mas fez um gesto para salvar Bolsonaro.

“Em qualquer outra situação, o ministro já teria sido forçado a pedir demissão imediatamente. Mas não está claro qual será a reação dele (Milton Ribeiro) se perceber que foi abandonado. Se ele confirmar que cumpria ordens do presidente (como está no aúdio), o estrago será grande”, reforçou ao Blog outro líder do Centrão preocupado com a situação.

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As uniões

Na frente bolsonárica do Congresso há evangélicos de diferentes orientações, católicos, espíritas e uma deputada devota à União do Vegetal, do chá de ayuasca. Não tem umbandista porque evangélicos não toleram e católicos e espíritas não aceitam sua concorrência na carne e no espírito. A deputada do chá deve estar chapada e não sabe com quem se meteu.

Bancadas divididas, que divergem nos credos e se unem na devoção a um só Messias. A união é desunida entre os animais e unitária no vegetal. Nada obstante, as uniões convergem para o grande vegetal na vida, grande animal e grande irmão, três pessoas em uma só, as duas últimas personagens das distopias de Orwell, a Revolução dos Bichos e o 1984.

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Playboy|1960

1967|Fran Gerard. © Playboy Centerfold

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Podcast de literatura na Galeria 373

A Galeria 373 apresenta, a partir desta quinta-feira, dia 24, um ciclo de conversas acerca de escritores da literatura mundial. O podcast tem a apresentação do poeta Amarildo Anzolin, que recebe todas as quintas-feiras, às 20h30, um convidado que abordará aspectos da vida e da obra de um autor.

O programa fará também uma ponte entre o escritor em questão e uma bebida ou drink de sua predileção. O cenário do bate-papo é um aconchegante jardim, espaço que compõe o ambiente da Galeria, e conta com a projeção de um vídeo de uma fogueira que remete ao mito de Prometeu, em que a liberdade e a difusão da informação encontram espaço propício de interação.

Neste primeiro episódio, Amarildo Anzolin conversa com o poeta Roberto Prado sobre o multiartista russo Vladimir Maiakovski, e a bebida selecionada é a vodka. Completando as atrações, entra em cena a cozinha do Pasta di Fiemme, com os pratos Tortei e Mezzalune de funghi ao vinho.

Serviço

O podcast têm início às 20h30 desta quinta-feira, 24/3. Rua Visconde do Rio Branco, 373 – Mercês

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