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Não senti firmeza
O MINISTRO Edson Fachin, presidente do Tribunal Superior Eleitoral, aceitou responder questionário do ministro da Defesa sobre a condução da justiça eleitoral nas eleições. Nas presidenciais, óbvio, porque as demais pouco importam ao ministro da Defesa, que se reúne com o presidente da República e candidato à reeleição para tratar das fantasias conspiratórias deste, o temor de ser derrotado por Lula. Nunca antes na história deste país o mais alto órgão da justiça eleitoral se submeteu a exigências do poder executivo. Pior que isso, a exigências do ministro da Defesa, órgão do poder executivo. Visto por outro lado, nunca antes um ministro militar cobrou satisfações do poder judiciário.
Esse “nunca antes” não é evocação de Lula, a besta-fera que assusta o presidente e seu ministro da Defesa. O “nunca antes” lembra que tal só aconteceu em períodos nas ditaduras, que resolviam questões eleitorais em decretos e atos institucionais. Portanto, as exigências do ministro da Defesa, atendidas pelo ministro Fachin, presidente do TSE, apenas antecipam o que metade do Brasil (60% mais via cearense) vê pelo retrovisor e pelo pára brisa: a ditadura a caminho (leia o alerta do ombudsman da Folha de S. Paulo, hoje). O comportamento do ministro da Defesa não impressiona, como general formado nas academias militares ele reza pelo anticomunismo e pela desconfiança na classe política.
Interessa o comportamento do ministro Fachin, vacilante desde que assumiu o STF. Um comportamento que já lhe rendeu a perda de amigos de décadas, companheiros de política estudantil e forças decisivas em sua nomeação ao STF. Um fato de ampla divulgação, em que o advogado Wilson (Xixo) Ramos Filho tachou-o de “verme” quando o ministro votou contra Lula em decisivo julgamento. Seria um compreensível desabafo de amigo decepcionado e de militante apaixonado se o ministro, quando a operação Lava Jato caía pelas tabelas, morta pela ambição do juiz Sérgio Moro, não tivesse votado pela absolvição e liberdade de Lula. Até o momento o ex-amigo Xixo não vitaminou a amizade que extinguiu com o vermífugo.
Dilma Rousseff amargou mais que o amigo Xixo. Em sua mesa passou duas vezes a proposta de nomeação de Fachin para o STF. Na primeira, depois de ouvi-lo na costumeira entrevista, Dilma descartou a nomeação; suas palavras hoje soam como vaticínio: “não senti firmeza [nele]”. Luís Roberto Barroso foi nomeado, “caroneou” Fachin, como dizem os militares do general favorito que perde a promoção para outro. Na segunda indicação, Dilma nomeou o ministro Fachin para o STF. Desta vez ela não mostrou firmeza. O ministro Fachin ficou com receio de ser o estopim do golpe antecipado, será a pergunta que pode manchar a biografia de juiz do STF, vistos os antecedentes “firmes” e “frouxos” do tribunal.
Publicado em Rogério Distéfano - O Insulto Diário
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Que país é este?
© Tiago Recchia. Plural
Dia das Mães
Carmen Silvia, Nadyr do Prado (1929/2016) e Vera Solda. © Luana Todt
mãe
como a senhora pode notar
tudo está limpo e arrumado
só há alguma louça para lavar
e seu quarto zoneado
mas como tudo volta ao lugar
após mudar de estado
a sra. tem o direito de limpar
porque não foi sujo e sim sujado
agora, se estiver demais bagunçado
perdoe, que perdoar limpa
e é certo que o fedor não sinta
se chamas ainda Nadyr Prado
marcos prado (década de 1980)
A prova do amor eterno
Quatro homens que dedicaram a vida a Frank Sinatra
Cada um escolhe a quem dedica a vida, e conheci no Rio três pessoas que dedicaram grande parte dela a Frank Sinatra. Um deles, Flavio Ramos. Em 1939, ele tinha 12 anos e escutou um 78 rpm da big band de Harry James, “All or Nothing at All”, com o novo crooner Frank Sinatra. Ali Flavio decidiu que viveria em função de Sinatra ou em torno dele. Em 1962, sua boate Bon Gourmet, em Copacabana, acolheu por 40 noites o maior show da história da bossa nova: “O Encontro”, com João Gilberto, Tom Jobim, Vinicius de Moraes e Os Cariocas. E, em 1980, Flavio apertou a mão de Sinatra no camarim deste, no Maracanã.
Um amigo de infância de Flavio ouviu com ele o 78 de Sinatra: Ronaldo Bôscoli, no futuro um dos pais da bossa nova. Flavio chamou-o a acompanhá-lo ao camarim de Sinatra no Maracanã, mas Ronaldo tremeu e não foi. Ronaldo ficaria famoso também como namorador, embora dissesse: “Gosto mais de Frank Sinatra do que de mulher”. Sabendo disso, a então sra. Bôscoli, Elis Regina, vingou-se de suas escapadas jogando seus LPs de Sinatra no mar.
E Roberto Quartin, produtor musical, foi um dos grandes colecionadores de Sinatra no mundo. Seu acervo incluía edições alternativas de LPs, prensadas, digamos, em Honolulu, com diferenças que só outro colecionador identificaria. E Roberto conheceu Sinatra, que o autorizou a copiar a íntegra das fitas originais de seus LPs na Capitol, com tudo o que não saiu nas versões finais.
Mas nenhum deles supera o radialista americano Sid Mark. Ele também se apaixonou pelo cantor em criança e, durante 43 anos, desde 1979, apresentou quatro programas semanais dedicados a Sinatra em emissoras de Filadélfia. Isso significa 8.600 programas. Quando Sinatra o via na plateia de seus shows, apontava-o e dizia ao microfone: “Eu amo esse cara!”.
Sid Mark morreu há duas semanas, aos 88 anos, feliz, na ativa e provando que o amor eterno existe.
Publicado em Ruy Castro - Folha de São Paulo
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Alexandre Garcia se alista nas Forças Armadas para conseguir Viagra de graça
O ex-jornalista em atividade Alexandre Garcia foi flagrado em público usando uma farda camuflada completa. Depois, soube-se que ele se alistou para comprar Viagra de graça. Garcia foi seduzido por um comercial das Forças Armadas: “Jovem, se você completou 70 anos ou mais e sofre de problema de ereção, aliste-se.” Ele escolheu o esquadrão de bombas. Bombas penianas.
Publicado em Sensacionalista
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Os carrascos da democracia
Militares não têm de dar pitaco em assunto que não lhes diz respeito
O governo Bolsonaro emprega em relação às eleições a mesma estratégia que usou desde o começo da pandemia. O negacionismo científico assume agora sua versão de negacionismo eleitoral. A cloroquina da campanha é o ataque incessante à urna eletrônica.
No auge da pandemia, Bolsonaro teve no general Eduardo Pazuello o executor do trabalho sujo que aumentou exponencialmente a mortandade dos brasileiros. Na fase atual da desconstrução nacional, o posto de capataz do assalto à democracia foi ocupado com desembaraço pelo ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira.
Quase um ano atrás, Pazuello, ainda general da ativa, transgrediu regulamentos militares ao participar de ato político de apoio a Bolsonaro, no Rio de Janeiro, dias depois de ter prestado depoimento à CPI da Covid, no Senado. Na época, Oliveira era comandante do Exército, livrou a cara de Pazuello e ainda aplicou sigilo de cem anos ao processo disciplinar.
Com que moral Oliveira cobra, agora, transparência do TSE sobre os questionamentos feitos pelas Forças Armadas à votação eletrônica? No intuito de perturbar o processo eleitoral, Oliveira exibe perfil ousado e provocador. Fustiga o poder civil enquanto tabela com Bolsonaro, que anuncia auditoria privada das urnas.
É ação de sabotagem escancarada, e facilitada por obra e graça do próprio TSE, que caiu numa armadilha criada por ele mesmo ao convidar militares para a Comissão de Transparência das Eleições. Foi um erro grave, que deu margem a este cenário anômalo e ameaçador.
Militares não são tutores nem moderadores do poder civil para serem chamados a dar pitaco em assunto que não lhes diz respeito. Ao contrário, eles têm uma dívida com o país, com a democracia e com os direitos humanos pelos 21 anos de ditadura. O TSE precisa exercer seu papel com altivez e coragem, bem como as demais instituições do poder civil. Tibieza e covardia servirão apenas para pavimentar o caminho dos carrascos da democracia.
A mulher do vírus
ESTÁ na rede. Michelle Bolsonaro compareceu a culto evangélico no Congresso. Agora tem disso. Os padres ficam nas igrejas e os bolsonaristas transformam o Congresso em festival de seitas de fundo de garagem, caça-níqueis, exploração da credulidade. Ainda existem evangélicos íntegros, gente limpa, sem interesses escusos, como os que me educaram no Ginásio Adventista Paranaense.
Quando viu a foto divulgada pela indústria de fakes, Michele ajoelhada, chorando, a rezar e pedir a Deus que curasse o Brasil, um pastor íntegro respondeu – com nome e sobrenome: “Irmã, a doença do Brasil é o seu marido”.
Ska
Eastern Standard Time – Don Drummond (The Skatalites)
Bolsonaro decreta sigilo de cem anos para resultado das eleições
Ciente de que esconder informações é a única política eficiente de seu governo, presidente prometeu a promulgação do AI-100
Empenhado em assegurar a liberdade de expressão, Jair Bolsonaro resolveu decretar sigilo de cem anos em tudo que estiver ao seu alcance. “Dependendo do resultado das eleições, a gente vê o que faz. Se der o que eu quero é porque o sistema funciona. Se der outra coisa, a apuração vai ficar secreta por cem anos e não vou divulgar porra nenhuma”, explicou, batendo os pezinhos. “O Brasil é meu e eu faço o que quiser com ele”, disse, enquanto mostrava a língua.
O presidente já decretara sigilo para sua carteira de vacinação, para os acessos de Carlos e Eduardo Bolsonaro ao Planalto, para o processo militar que não puniu Pazuello por participar de um ato político, entre outros.
Ciente de que esconder informações é a única política eficiente de seu governo, Bolsonaro prometeu a decretação do AI-100. Os principais artigos serão:
1) Ampliar o caráter confidencial do orçamento secreto para cem anos;
2) Nunca divulgar os extratos do cartão corporativo;
3) Garantir que os conteúdos dos celulares do capitão Adriano Nóbrega fiquem ocultos;
4) Decretar sigilo indeterminado para a imprensa, o Congresso e o STF;
5) Impulsionar anonimamente a distribuição anônima de notícias com fontes anônimas;
6) Zelar pelo silêncio de Leonardo DiCaprio, Anitta e aquele cara lá que fez o filme do Hulk;
7) Desligar os radares que monitoram o desmatamento da Amazônia;
8) Sabotar o censo, o IPCA e quaisquer estatísticas oficiais;
9) Criptografar os ingredientes reais do McPicanha;
10) Promover o indulto de aliados em nome da liberdade de expressão.
Para manter a coerência, a data de implementação do AI-100 foi mantida em sigilo. “É um centenário inteirinho sem denúncias de corrupção para o Brasil crescer de verdade. Segredo acima de tudo, sigilo acima de todos”, celebrou. Em seguida, soltou um pum e decretou sigilo de cem minutos sobre a autoria.
Depois de substituir o portal da transparência por uma foto de Brilhante Ustra, Jair Bolsonaro garantiu que as instituições estão funcionando. “Tava tudo lá no meu programa de governo. Eram três slides bem claros: 1) Nunca trabalhei e não vai ser agora que vou trabalhar; 2) Vou lutar o tempo todo contra inimigos imaginários; 3) A única coisa que prometo é sabotar a democracia”, explicou o presidente no único evento oficial de sua agenda, no qual ele não fez mais do que atacar as urnas eletrônicas.
Publicado em Renato Terra - Folha de São Paulo
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