Nem sangue nem flores. Descanso

O eleitorado está dividido. O meu. Parte, quer sangue; parte, flores. Rafael Érico pede a continuidade da análise sobre os inquilinos dos Palácios 29 de Março, Iguaçu e Alvorada, no que é apoiado pelo velho companheiro de TJ Luiz Trevisan. Já Luiz Renato Ribas acha que continuo insistindo no “insuportável tema bolsonarista”, do qual havia prometido afastar-me. Tem o apoio de outro ex-colega de temporada tribunalística, o Ariel Filho, segundo o qual “todos os seus amigos … devem estar fartos de tais comentários”. Por fim, Luiz Mozart também apoia a opinião do Ribas, ainda que confesse não perder meus artigos e continuar a lê-los, “não obstante ser um pascácio”.

E o colunista o que acha? Nada. Isto é, tem uma bruta vontade de não escrever nada, nem sobre sangue nem sobre flores. Acha que está na hora de uma nova trégua. Para os leitores e, sobretudo, para ele próprio. E está levando o pleito, uma vez mais, para os editores Zé Beto e Luiz Solda. Que tal escrever só de vez em quando? Quando a inspiração bater, sem a obrigação do comparecimento semanal.

Já lhes disse aqui que Rubem Alves, com a sabedoria que Deus lhe deu e a inteligência aperfeiçoou, dizia que a melhor coisa do mundo é poder escrever para o público. Assim como também a pior. Nunca se sabe qual será o resultado, já que, na maioria das vezes, só as discordâncias são publicadas. E geralmente sem argumentos palpáveis.

Zé Beto tem opinião diferente. Acha que a gente escreve para a gente mesmo. Ser publicado e lido por outrem é (são?) mera decorrência.

Então, considerando que neste espaço se faz presente gente muito mais competente e sábia do que eu, como Nelson Padrella, Mário Montanha Filho, José Maria Correia, Sponholz, Cláudio Henrique de Castro, Thea Tavares, Paulo Motta e tantos outros, saio de fino. Durante algum tempo, estarei silente, assistindo à boiada passar. Quem sabe aquele cujo nome não se deve escrever passe também… E as pessoas de bem sobrevivam. Até qualquer dia.

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Não gosto de trens: são muito bitolados

Tudo no mundo é interligado, já dizia um jovem da Era Eletroeletrônica. Tá ligado? Tudo em conexão. É verdade. Constatei anteontem quando um trem saltou de uma ponte a 55 metros de altura. Eram três locomotivas e 45 vagões. As locomotivas caíram e puxaram os vagões junto. É a maior prova de que uma baleia, encalhando numa praia do Sul, tem ligação com a derrota do Corinthians no Norte.

Um estafiloco dançando numa rave de Berlim provoca maremoto na pacata vila de pescadores de Bertioga. O mundo gira em torno de uma indissociável cadeia de acontecimentos. Vivemos num eterno brinquedo de mãe-pega-tudo, tão comum na infância de antigamente, que deu origem ao botar-fogo-no-índio dos jovens sadios de hoje. Para entender a realidade, cada vez que você clicar o mouse deve se lembrar que um trabalhador chinês pobre foi espancado porque roubou alguns componentes eletrônicos na fábrica de micros. Cada vez que for mastigar um grão de arroz, deve orar pelos agricultores que metem os pés na água e pegam pneumonia.Vai chegar o momento em que respeitará, ajoelhado, o átomo, pois ele já esteve no corpo de um bilionário californiano morto por uso de cocaína e na asa de um besouro da Tasmânia. Munido dessa aura espiritual, não comerá mais carne vermelha que vem dos irmãos irracionais, nem peixes que são nossos mais remotos antepassados, nem cebolas que se defendem soltando produto químico que nos faz chorar, nem… Você terá que soldar tudo com uma carga de ensinamentos racionais magníficos tirados dos sábios das seitas orientais milenares.

Em breve sentirá o corpo mais leve, a alma levíssima, e nem sapatos calçará mais. Os pés nem tocarão no solo. Apenas uma veste branca de rústico algodão cobrirá seu corpo. Fará sexo com anjos apenas tocando a ponta dos dedos. Ouvirá clarins belíssimos soando ao pôr-do-sol e verá uma abertura nas nuvens branquíssimas de onde sairá uma carruagem de ouro puxada por milhões de andorinhas. Ó, boníssimo ser, acorda que queimou o purê de espinafre com ricota! Êta, fuminho bão!

*Rui Werneck de Capistrano é interligado com Marte e Saturno

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#ForaPutin!

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Novidades legislativas na Lei Maria de Penha, Código Civil e outros

No dia 08 de março de 2022, tivemos as seguintes alterações legais:

A inclusão na Lei Maria da Penha para determinar o registro imediato, pela autoridade judicial, das medidas protetivas de urgência deferidas em favor da mulher em situação de violência doméstica e familiar, ou de seus dependentes.

Em resumo: as medidas protetivas de urgência serão, após sua concessão, imediatamente registradas em banco de dados mantido e regulamentado pelo Conselho Nacional de Justiça, garantido o acesso instantâneo do Ministério Público, da Defensoria Pública e dos órgãos de segurança pública e de assistência social, com vistas à fiscalização e à efetividade das medidas protetivas. (Lei 14.310/2022).

O Código Civil foi alterado para permitir a realização de reuniões e deliberações virtuais pelas organizações da sociedade civil, assim como pelos condomínios edilícios, e para possibilitar a sessão permanente das assembleias condominiais (Lei 14.309/2022).

Outra novidade é o decreto 10.989/2022, que tem por objetivo oferecer acesso gratuito a absorventes higiênicos femininos às mulheres em situação de precariedade menstrual. Para combater a precariedade menstrual, identificada como a falta de acesso a produtos de higiene e a outros itens necessários ao período da menstruaçãoo da doença, bem como à assistência social e aos cuidados paliativos dos pacientes. feminina, ou a falta de recursos que possibilitem a sua aquisição; e oferecer garantia de cuidados básicos de saúde e desenvolver meios para a inclusão das mulheres em ações e programas de proteção à saúde menstrual.

Finalmente, a lei 14.308/2022 institui a política nacional de atenção à oncologia pediátrica, com o objetivo de aumentar os índices de sobrevida, melhorar a qualidade de vida e reduzir a mortalidade e o abandono ao tratamento das crianças e dos adolescentes com câncer, por meio de ações destinadas à prevenção, à detecção precoce e ao tratament

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O mesmo fundo amoral

Não sei por que, mas quando ouço loucuras de Jair Bolsonaro de imediato lembro um nome: Roberto Requião. Os dois têm de comum a prepotência, a arrogância, a fobia a quem quer que lhes ameace o poder, a tendência de subverter os fatos para atender seus interesses, o autoritarismo, o nepotismo e a cegueira em admitir erros de parentes em cargos públicos. Há outros elementos em comum, que encheriam vinte linhas. Nunca trabalhei com Jair Bolsonaro. Já trabalhei com Roberto Requião. Posso comparar os dois.

Antes, as diferenças. Quando não houver riscos a qualquer dos atributos acima, Requião consegue ver o interesse público e atendê-lo, até mostrar um laivo de empatia pelo semelhante. Bolsonaro, jamais. É um ser empedernido, frio, sem solidariedade e empatia. Claro, tem emoções, assim como Requião tem emoções, quando se trata de uma situação que envolva os atributos comuns. Mas diferem num ponto, uma diferença fundamental: Requião é inteligente e letrado. Por isso dá ares de racionalidade a seu autoritarismo.

Se quisermos avançar, ambos são machistas em igual medida e capazes de abjetas brincadeiras sobre as mulheres (desafiado, relato algumas, que presenciei). Aqui também evoco semelhança de métodos entre ambos. Falo do método pelo qual Bolsonaro concedeu o “auxílio modess” (expressão dele) às mulheres brasileiras. Lembrando: o auxílio, consistente no fornecimento gratuito de absorventes higiênicos às mulheres carentes, foi concedido pelo presidente em 8 de março passado.

O auxílio veio em lei de outubro de 2021, projeto da deputada Marília Arraes (PT/PE), que Bolsonaro vetou com a expletiva irônica do “auxílio modess”. O Congresso, esse cartório fisiológico que carimba patifarias, manteve o veto – as mulheres ligadas ao Centrão ou não precisam do “modess” ou não precisam do auxílio (que agora exigirão, como receberam o auxílio do covid, sempre sem ter direito). Com a proximidade das eleições e mal visto pelo eleitorado feminino, Bolsonaro sentiu as dores da TPM e mudou de ideia.

Sim, Bolsonaro sentiu e descobriu a TPM, também um Transtorno Pré Lula, e decidiu tornar obrigatório o fornecimento do auxílio modess. Mandou lei para o câmara e fez o árduo esforço para aprová-la, como a deputada Marília Arraes? Não, os ditadores usam ucasses, como os czares, bandos, como os senhores feudais, e decretos, como na idade contemporânea. Ucasses, bandos e decretos dispensam o contraditório da lei e têm efeito imediato. A ação do ditador tem efeito imediato – inclusive o da demagogia.

Em suma, Bolsonaro resolveu sua TPM com o modess alheio, da deputada Marília Arraes. Para quê? Simples, para não rechear com azeitona a empada do PT. De azeitonas, milicianos e bolsonaros entendem mais que coronéis pernambucanos. As brasileiras vão extrair o oportunismo e a maldade de Jair Bolsonaro? Claro que não; irão ao cercadinho mostrar gratidão – e ele, como de hábito, fará piadas como o ‘salvador das pepecas’. Brasileiras e brasileiros são messiânicos, sempre foram.

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Oliana Orski. © Zishy

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Nazismo volta a assombrar o mundo e os brasileiros

Ana Luíza Nardin

Inadmissivelmente, tal respaldo legal parece não ser suficiente, pois o movimento neonazista vem ganhando força e, assustadoramente, ocupando espaços políticos e nas mídias. Lamentavelmente, pesquisas revelam que nos dias atuais existem 530 grupos neonazistas espalhados por todas as regiões do país

Em tempos tão difíceis de Covid-19, ainda temos de lidar com pessoas que aderiram e reproduzem amplamente o discurso nazista, da supremacia branca, revelando-se fiéis adoradores do horrível Adolf Hitler, fator perigoso que vem se fortalecendo nesse cenário de guerra entre Ucrânia e Rússia. Dessa forma, precisamos entender historicamente como a ideologia nazista nasceu e vem crescendo, sobretudo em nosso país.

Historicamente, o nazismo foi o funesto movimento de extrema direita que surgiu na Alemanha, logo após a Primeira Guerra Mundial, associado ao Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães. Em 1933, o abominável Adolf Hitler tornou-se chanceler e, por meio dele, o pensamento nazista e totalitário se solidificou. Intratavelmente, esse movimento expandiu-se interna e externamente, atingindo 83 países do mundo, em adaptação rápida e expressiva.

Pesquisas revelam inclusive que o crescimento do movimento nazista mundialmente se deu de acordo com o aumento do número de alemães presentes em outros países. Logo, os lugares que haviam recebido as maiores levas de imigrantes alemães tinham as cifras mais significativas. Na América do Sul, por exemplo, a presença foi expressiva e marcante em quase todos os países, dentre eles destacam-se Brasil, Argentina e Chile. Curiosamente, em nosso país o partido nazista se faz presente com maior intensidade nas regiões Sudeste e Sul, fato que pode ser explicado graças à grande colonização alemã nessas áreas desde o século 19.

Além disso, foi na primeira fase do governo Getúlio Vargas, entre 1930 e 1937, que o nazismo teve maior circulação, encontrando clima propício a sua organização como partido, apoiado por múltiplas organizações estatais, entre elas culturais, diplomáticas, industriais, educacionais e financeiras. Entretanto, tal movimento se enfraqueceu entre 1938 e 1942, mais especificamente quando entramos na Segunda Guerra Mundial ao lado dos norte-americanos. Contudo, essa ideologia nefasta nunca foi extinta por completo.

 Por outro lado, somente em 1994, por meio de projeto do deputado Alberto Goldman (PSDB-SP), a apologia ao nazismo foi considerada crime, respaldada pela Lei 7.716/1989. Tal proposta de lei se expandiu em 1997, com o deputado Paulo Paim (PT-RS). Em outras palavras, a partir dessa legislação, é considerado crime praticar, induzir e incitar a discriminação ou o preconceito de raça, cor, etnia e religião, sendo que tal infração pode resultar em pena três anos de detenção e multa.

Inadmissivelmente, tal respaldo legal parece não ser suficiente, pois o movimento neonazista vem ganhando força e, assustadoramente, ocupando espaços políticos e nas mídias. Lamentavelmente, pesquisas revelam que nos dias atuais existem 530 grupos neonazistas espalhados por todas as regiões do país. Inclusive, passa a ser importante destacar que a militante Sara Geromini, fiel apoiadora do presidente Jair Bolsonaro, passou a usar o sobrenome “Winter” para homenagear Sarah Winter, inglesa que se tornou espiã nazista e integrante da União Britânica de Fascistas.

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#ForaBozo!

© Orlando Pedroso

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Palhaço antifascista é pleonasmo

Bolsonaro, tantas vezes confundido pela mídia com um comediante, não tem nenhuma relação com a profissão

Não há classe mais desunida que a dos comediantes. Eu mesmo, quando me vejo ultrapassado no trânsito, grito: “palhaço!” —mesmo que não haja nenhuma evidência de que o motorista trabalhe no mesmo ramo que eu. Não conheço nenhum outro profissional que tenha sua profissão em tão baixa conta. Um cirurgião que entra numa briga de bar não começa a berrar: “Eu por acaso tenho cara de médico? Vocês vão ficar de medicina com a minha cara?”.

O descrédito com a profissão do palhaço não tem qualquer fundamento. Não há qualquer correlação entre o mundo do crime e a arte da palhaçaria. Conheço pastor traficante, padre pedófilo, engenheiro corrupto —nunca conheci um palhaço miliciano, um mímico assaltante, um clown assassino (a não ser, talvez, o Ronald McDonald).

A criminalidade é incompatível com a nobre arte do palhaço. Uma pessoa com a cara pintada de branco e o nariz de vermelho nunca conseguiria te vender um esquema de pirâmide. Um sujeito de flor na lapela e peruca rosa não aplicaria em ninguém o golpe do Tinder. O pobre clown não consegue nem dar a famosa carteirada: “Sabe com quem está falando? Eu sou o Palhaço Pururuca! Sou filho do Torresmo, neto do Chicharrão!”. Não funciona.

O palhaço deveria estar acima de qualquer suspeita. Entretanto, há quem culpe os humoristas por tudo, até pela guerra no leste europeu: “O povo ucraniano confiou num comediante pra traçar o rumo do país”, disse Bolsonaro, atribuindo a culpa pela guerra à antiga profissão do presidente ucraniano. De fato, tem algo de palhaço nas atitudes de Zelenski: o destemor, a franqueza, as tiradas (“quero munições, não quero carona!”, disse aos EUA). Ou seja: foi na palhaçaria que aprendeu tudo o que tem de bom. Seu lado
patriota e anticomunista, intolerante com a esquerda ucraniana mas tolerante com os fascistas do país, isso daí ele aprendeu na política mesmo. Palhaço antifascista é pleonasmo.

Bolsonaro, tantas vezes confundido pela mídia com um comediante, não tem nenhuma relação com a profissão. Covarde, tem a si mesmo em alta conta, mas se dobra aos gigantes, tanto a Putin quanto a Biden, conseguindo a proeza de se tornar inimigo de todos.

Dizia o Millor: “quem se curva aos opressores mostra a bunda aos oprimidos”. Uma guerra acontecendo e tudo o que o nosso presidente tem a mostrar aos refugiados é o próprio orifício. Não é humor, é o contrário disso: cagaço.

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Três em um

Paixão, o cartunista que vos digita e  Albert Piauhy. 28º Salão Internacional de Humor do Piauí, em algum lugar do passado. © Pecê Lopes

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Alckmin na vice de Lula

A ideia é fazer um governo de coalizão

Lula e Geraldo Alckmin estão fechando a aliança e o ex-governador e ex-candidato do PSDB à Presidência será o vice na chapa do petista. Como aliança, é um golpe de mestre. Vacina Lula e recoloca Alckmin no cenário do qual foi afastado por sucessivas derrotas e erros de julgamento.

Na sua origem estaria o interesse de Lula de, uma vez eleito, formar um governo de coalizão, à semelhança da base política que sustentou Angela Merkel na Alemanha. Esse raciocínio teria partido de Lula.

Durante seus oito anos de governo, o líder petista, teve um vice empresário limpo e bem sucedido. José Alencar foi leal e discreto. Quando fazia contraponto ao presidente na política econômica, combinava antes e demarcava limites razoáveis. Alckmin é um político correto e de lealdades acima da média, mas sua biografia não é a de Alencar.

Daí a ver na aliança algo parecido com a coalizão da Alemanha de Angela Merkel é chamar urubu de meu louro. Em primeiro lugar, porque no Brasil formam-se governos de coalizão, por motivos diametralmente opostos aos da Alemanha. Desde 1985, todos os governos, como o de Bolsonaro, coligaram-se ao centrão, a Valdemar Costa Neto e seu Partido Liberal. Jose Alencar pertencia ao PL.

A essência das coalizões parlamentares brasileiras pouco tem a ver com as europeias. As angústias expostas nos “Diários da Presidência” de Fernando Henrique Cardoso, bem como a crônica do mensalão do governo de Lula estão aí para mostrar porquê.

Se é possível arriscar um julgamento sobre a natureza dos governos de coalizão nacionais, pode-se arriscar que as alianças daqueles que entram em campo condenando a “velha política” acabam sendo as piores.

A necessidade de ampliar a base de apoio parlamentar é um fato da vida. O problema está em demarcar a linha das conce$$ões. Nesse sentido, invocar o santo nome de Angela Merkel equivale a vender um terreno na Lua. Ela governou a Alemanha coligando-se, na boa moda de seu país.

A senhora Merkel era uma cientista da Alemanha comunista quando o Muro de Berlim foi derrubado. Tinha 35 anos e o mesmo corte de cabelo. Entrou na política como protegida do chanceler Helmut Kohl, que a colocou no ministério chamando-a de “minha menina”.

Kohl foi o monumental (1,93 m e 90 kg) unificador da Alemanha. Em 1999 estava no seu esplendor quando foi apanhado num caixa dois de campanha eleitoral. Em dezembro, sua “menina” publicou um artigo intitulado “As ações de Helmut Kohl prejudicaram o Partido”. Foi o início do fim de um gigante.

Walter Kohl, filho do chanceler, atribuiu em parte à Merkel o suicídio de sua mãe, dois anos depois. (Ela padecia de uma dolorosa doença, mas opinião de filho é opinião de filho.)

Se Lula pretende fazer um governo de coalizão, colocar Geraldo Alckmin na sua vice é um primeiro passo, mas a caminhada é muito mais longa e áspera do que sua própria biografia sugere. A senhora Merkel jamais demitiria um físico da presidência da Eletrobrás, entregando-a a uma banda eletrizante do MDB. Não deixaria também que circulasse como seu um comentário segundo o qual ele não tinha votos no Senado.

Ela nunca faria isso até mesmo porque doutorou-se em física e governou sem a banda elétrica do Congresso, coisa que não existe na Alemanha.

Publicado em Elio Gaspari - Folha de São Paulo | Deixar um comentário
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Dois fregueses conversando na padaria aqui perto de casa, hoje de manhã.

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