Johnny B. Goode live – Peter Tosh
Acho os homens ridículos? Óbvio. Mas como adoro
Observo parte da minha estante com dezenas de livros feministas. Tem Djamila Ribeiro, bell hooks, Angela Davis, Judith Butler e por aí vai.
Os livros estão cheios de anotações, grifos e corações, mas o que diriam tais autoras se soubessem como eu sou feliz quando minha água com gás demora e um rapaz qualquer, sentado à minha frente, toma para si essa angústia sedenta e não continua sua pira-verbal-egoica até que eu seja devidamente hidratada? Quando um homem se sacode, engrossa a voz, estapeia o ar, reclama, inunda de testosterona sua indignação de machinho provedor até que minha água ou meu penne ao limone chegue, eu fico bem quietinha. Eu deixo. Eu não preciso de ninguém lutando pela minha saciedade, mas, francamente, como é bonita a cena. Lutem, machinhos, é tão bonito.
Outro dia eu vinha com sacolas infinitas e uma criança no colo. Meu vizinho ficou um tempão me esperando, segurando a porta da entrada do prédio –e eu pude ver em seus olhos o medo. Ele queria me pedir desculpas por ter ousado imaginar que eu precisava de ajuda. Ele estava preparado para levar uma sacolada na fuça: “Seu filho do patriarcado, cis branco opressor nojento!” Ele mora com duas filhas adolescentes que devem estudar no “Santa Something” e elas devem, mimadíssimas, encher a orelha desse pai generoso de tolices. Nós precisamos do feminismo que proteja mulheres pretas e periféricas de assédio em ônibus e não de mais uma garota branca de Higienópolis que chegue da escola reclamando que o pai é um sexista ultrapassado porque fica segurando porta para mulher passar. Por favor, segurem todas as portas para mim! Eu vivo cansada. Seria legal se esse senhor tivesse se oferecido para carregar uma sacolinha também. Ou duas.
Recentemente tive pneumonia e fui a um hospital. Se normalmente eu já sou uma feminista de merda, doente eu sou uma mocinha do século 19. O que explica, na minha fantasia febril, ter visto o médico chegando em um cavalo branco. Ele disse, na mais clássica frase do patronizing, que ia “cuidar de mim”. Eu estava rouca e fanhosa demais para responder “por favor, para sempre” e, infelizmente, a enfermidade não era tão grave para que eu perdesse os sentidos no colo de mais um tiozinho da zona oeste que se acha Deus só porque estudou medicina.
Acho os homens ridículos? Óbvio. Mas como adoro. Eu adoro. Passei vários dias planejando ir recuperada e linda exigir que esse senhor me deflorasse (às vezes eu sou feminista).
Ronit Elkabetz, atriz e cineasta israelita. Ganhou três Prêmios Ophir com um total de sete indicações. © Agnews
O Julgamento de Viviane Amsalem
Em Israel, somente os rabinos tem o poder de firmar ou dissolver um casamento. Mas esta última opção só se concretizará se houver total consentimento do marido. Viviane Amsalem (Ronit Elkabetz) está pedindo um divórcio há três anos, mas seu marido, Elisha (Simon Abkarian), a nega. A intransigência do marido e a determinação de Viviane em lutar por sua liberdade dão o contorno deste processo. França, Israel Alemanha, direção de Shlomi Elkabetz e Ronit Elkabetz. 1h56m, 2014.
© Albert Nane
Vera Solda – © Daniele Régis
Os caras da Igreja Universal, quer dizer, do partido Republicanos, estão querendo pular fora do meu barco. E eles nem saber andar sobre as águas. Tão pulando de cabeça mesmo. Tchibum!
Pô, que injustiça, depois de tudo que eu fiz por eles? Não deixei criarem o imposto pras igrejas, mantive um monte de privilégios, perdoei dívidas de mais de R$ 1 bilhão, dei um monte de cargos pra eles (uns até com muito dinheiro, tipo Conab e FNDE), e agora os caras querem me largar?
Não passam de uns judases!
Lá dentro da igreja está a maior briga. Devem estar tacando crucifixos uns nos outros. Ou moedas, sei lá. Tem uma turma que quer apoiar o Lula, principalmente os pastores do nordeste, tem outra turma que quer ficar do lado do Moro (aquele Caifás de meia tigela) e tem uns que querem continuar comigo, que é o certo, porque eu sou Messias até no RG.
Por conta dessa brigalhada, parece que o Republicanos vai declarar neutralidade. Ou seje (seje é com jota ou com gê? Ah, tanto faiz!), cada diretório pode escolher para que lado vai. Mas nessa eu me ferro, porque eles vão apoiar quem tiver na frente das pesquisas, e é claro que esse vai ser o Nove Dedos.
Acho que o pessoal do Republicanos está magoado porque eu quase me filiei ao partido deles, mas acabei escolhendo o PL do Valdemar Costa Neto, onde eu vou poder mandar bem mais. E os republicanuniversalistas também devem ter raiva da minha amizade com o Malafaia, que é de uma empresa, quer dizer, que é de uma igreja rival.
Pelo jeito, Diário, a Universal vai fazer que nem São Pedro e me negar três vezes. Ou duas, porque na eleição só tem dois turnos.
#diariodobolso
Morreu nesta madrugada de quinta-feira, 3 de fevereiro, aos 95 anos, a jornalista Rosy de Sá Cardoso. Ela fou a primeira mulher a ter registro profissional de jornalista no Paraná e atuou por mais de seis décadas nas redações paranaenses — quatro delas na Gazeta do Povo. A jornalista estava internada no hospital da Cruz Vermelha, em Curitiba.
Rosy, que era cantora de boleros, precisou mudar de ramo ao descobrir um calo nas cordas vocais. O primeiro trabalho oficial no ramo foi como colunista social do jornal O Dia, quando Rosy tinha 21 anos, em 1948. Até então, Rosy era servidora pública – primeiro do governo do estado, depois da prefeitura de Curitiba. Como cantora, atuava na Rádio Guaraicá desde os 14 anos, quando ainda morava em Paranaguá.
No início, ela assinava seus textos como F. de X.: Filha de Xaguana. Mas, em poucos meses passou a assinar Rosy ao fim dos textos. De O Dia, Rosy foi para o Estado do Paraná, onde tinha uma página inteira para preencher com notas sociais e serviços culturais. Durou cerca de dois anos. Depois, passou a escrever para revistas como Panorama, Divulgação e Alta Sociedade. Seguia trabalhando com o colunismo social, mas já tinha experimentado de tudo um pouco no jornalismo.
Em 1950, entrevistou o candidato à presidência Cristiano Machado, cobriu o jogo do Brasil contra a Espanha pela quadrangular final da Copa do Mundo. Atuou em um programa de variedades que ia ao ar no canal 6, a TV Paraná, afiliada da Tupi.
Enquanto trabalhou no Diário do Paraná (oficialmente entre 1970 e 1976, apesar de ter começado no jornal cerca de sete anos antes) e na Gazeta do Povo (1977 a 2017), aproveitou as oportunidades criadas pela própria editoria e as férias para meter o pé na estrada. Em 95 anos de vida, visitou cerca de 90 países nos cinco continentes
Rosy de Sá Cardoso nasceu em 19 de dezembro de 1926, em uma casa que ficava na rua Pedro Ivo, à beira do rio. Passou a infância em Paranaguá, devido ao emprego de bancário do pai, e voltou a Curitiba pouco depois da morte dele, em 1942.
Quando não estava trabalhando ou viajando, escreveu poemas, dedicou-se ao estudo de história, pagou cursos e graduações de uma série de colegas que não tinham as mesmas condições financeiras que ela e desafiou regras da sociedade. Ela foi uma das primeiras curitibanas a usar calças em público, a dirigir – uma paixão – e a entrar em bares como o Rei do Mate, que não atendiam mulheres.
Nos Natais, fantasiava-se de Papai Noel, para a alegria dos filhos de seus amigos e de outras crianças. Não casou ou teve filhos, assim como seus irmãos.
No dia 24 de janeiro, houve o espancamento do congolês Moïse, de 24 anos, num quiosque na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro.
Em 12 minutos foram trinta pauladas. Qual o motivo? A cobrança pela vítima, de duzentos reais, por dois dias de trabalho. O que diria sobre tudo isso o abolicionista e advogado, Luiz Gama (1830-1882)?
Vejamos alguns trechos da obra do jurista:
Ao positivismo da macia escravidão eu anteponho o das revoluções da liberdade; quero ser louco como John Brown, como Spartacus, como Lincoln, como Jesus; detesto, porém, a calma farisaica de Pilatos.
Se algum dia […] os respeitáveis juízes do Brasil esquecidos do respeito que devem à lei, e dos imprescindíveis deveres que contraíram perante a moral e a nação, corrompidos pela venalidade ou pela ação deletéria do poder, abandonando a causa sacrossanta do direito, e, por uma inexplicável aberração, faltarem com a devida justiça aos infelizes que sofrem escravidão indébita, eu, por minha própria conta, sem impetrar o auxílio de pessoa alguma, e sob minha única responsabilidade, aconselharei e promoverei, não a insurreição, que é um crime, mas a “resistência”, que é uma virtude cívica.
Estou no começo: quando a justiça fechar as portas dos tribunais, quando a prudência apoderar-se do país, quando os nossos adversários ascenderem ao poder, quando da imprensa quebrarem-se os prelos, eu saberei ensinar aos desgraçados a vereda do desespero.
Basta de sermões; acabemos com os idílios.
Lembrem-se os evangelizadores do positivismo que nós NÃO ATACAMOS DIREITOS; PERSEGUIMOS O CRIME, por amor da salvação de infelizes; e recordem-se, na doce paz dos seus calmos gabinetes, que as alegrias do escravo são como a nuvem negra: no auge transformam-se em lágrimas. (1880 – 18 de dezembro – Luiz Gama).