Cada vez mais pária

Enquanto Bolsonaro diz que isolamento é coisa de ‘comunista’, o mundo fecha as portas para o Brasil

O Brasil já conta mais de 350 mil mortes pela Covid-19 e o total pode chegar a 500 mil entre junho e julho, na previsão de infectologistas. Diante dessa tragédia, era de esperar que os responsáveis pela saúde do povo brasileiro estivessem na linha de frente do combate à pandemia. Mas, para infelicidade geral da Nação, temos um idiota rematado ocupando a principal cadeira do Palácio do Planalto. 

Além de agir como um alienista, Bolsonaro continua a investir contra os protocolos sanitários. Em twitter, ele afirmou que “uma amostra do que é o comunismo e quem são os protótipos de ditadores são aqueles que decretam proibição de cultos, toque de recolher, expropriação de imóveis, restrições a deslocamentos, etc…” E ao sair do Alvorada, disse que, se dependesse dele, o comércio estaria aberto, responsabilizando os governadores pelo desemprego.

Em média, morrem diariamente mais de 3 mil pessoas e já há quase 14 milhões de contaminados pela Covid. Mas o tresloucado Capitão Corona vê comunistas por trás de tudo e prega o fim do isolamento social, a abertura de igrejas e templos e a volta de todos às ruas. Diante de seu negacionismo, o Brasil bate recordes mundiais de contaminação e torna-se epicentro da pandemia. Como consequência do descaso oficial, vários países estão fechando suas portas para brasileiros.

Com Bolsonaro à frente, nosso País, cada vez  mais, torna-se um pária internacional. Nesta terça-feira, o premier da França, Jean Castex, anunciou a suspensão por tempo indeterminado de todos os voos que tenham como origem ou destino o Brasil. “Tomamos conhecimento de que a situação está piorando e decidimos suspender todos os voos entre a França e o Brasil até segunda ordem”, disse Castex, aplaudido durante a sessão no Parlamento.

Viajantes brasileiros tinham de apresentar um exame PCR negativo para o vírus antes do embarque e no desembarque na França. Ao chegar lá, as normas sanitárias também obrigavam que os passageiros respeitassem uma quarentena de 10 dias. Mas especialistas recomendavam a suspensão dos voos. Peru, Colômbia, Portugal e a Espanha já haviam adotado esta medida. E dos países que fazem fronteira com o Brasil, apenas o Paraguai mantém-se aberto.

Alguns países, como a Austrália, sequer aceitam correspondência com origem no Brasil. Temem que cartas e pacotes estejam contaminados por variantes da Covid-19. Como precaução, decidiram fechar até mesmo a fronteira postal. Cartas de brasileiros para a Austrália, só por empresas de distribuição como Fedex, DHL e UPS, mas a um custo caríssimo. Assim, uma postagem de livros para a Rússia que sairia por R$ 200 é cotada hoje pelos Correios em R$ 1.500.

As reações podem parecer exageradas. Mas o Brasil é notícia em todo o mundo como exemplo de fracasso no combate à pandemia. O que esperar dos outros governos quando a própria Organização Mundial da Saúde adverte que o Brasil enfrenta um “surto infernal”? Na terça, o jornal Washington Post publicou reportagem sobre a crise sanitária e política que ameaça Bolsonaro. Segundo o Post, enquanto “o Brasil navega nos dias mais mortais de sua história, com o coronavírus matando cerca de 4.200 pessoa por dia, cresce o movimento para responsabilizar o presidente Jair Bolsonaro pela carnificina que ele pouco fez para mitigar”.

Famoso pelo caso Watergate, o jornal ressalva que o “político culpado por uma pluralidade de brasileiros pelo pior desastre humanitário da história nacional está protegido – por aliados conservadores que ganharam maior poder no Congresso Nacional, pelo apoio duradouro de 30% dos eleitores e por um casulo de mídia digital de direita que permitiu sua ascensão ao poder e agora é essencial para sua manutenção”.

É verdade. Bolsonaro ainda tem base de apoio. E conta com ela para transformar em pizza a CPI da Pandemia, que foi aberta no Senado por determinação do Supremo Tribunal Federal. Graças à adesão dócil e passiva dos parlamentares do Centrão, também consegue fazer letra morta das dezenas de pedidos de impeachment que estão na gaveta da presidência da Câmara. “Não existiam condições para tal decisão política no ano passado e, do meu ponto de vista, ainda não existem”, disse ao Post o deputado Rodrigo Maia, que se destacou por arquivar pedidos de impeachment.

As CPIs costumam ter desfecho imprevisível. Muitas não resultaram em nada. Mas algumas delas deram dor de cabeça, como a dos Anões do Orçamento. O temor de Bolsonaro é claro. Dele e dos generais que sustentam seu governo. Ao tomar posse no Ministério da Defesa, o general Braga Netto fez coro com seu chefe e criticou o Supremo por “interferir no Legislativo”. De forma indireta, os dois dão a entender que podem transformar o Brasil num pastiche de ditadura, nos igualando ao que está acontecendo em Mianmar, a antiga Birmânia.

À escalada da Covid-19 somam-se, portanto, os ataques de Bolsonaro ao Judiciário e à ordem democrática. E o mundo civilizado, com toda razão, fecha suas portas para o Brasil.

Octávio Costa

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Palíndromos do Fraga

Inspirado em Sean Connery, o inesquecível agente com licença para matar

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Após enterrar o filho, Monique buscou cursos de inglês e de culinária

É um evidente caso de comportamento de psicopata. Segundo investigadores, Monique recebeu oferta de curso de inglês três horas após o enterro e perguntou se era presencial. No dia seguinte, procurou por aulas de culinária em uma rede social e mandou mensagem privada: ‘Tenho interesse em fazer uma aula prática com você. Como faço para entrar na lista de espera?, questionou.

A Polícia Civil descobriu que, após o enterro de Henry Borel, a mãe do menino, , procurou cursos de inglês e de culinária. As mensagens foram publicadas na edição desta terça-feira (13) do jornal O Dia. O RJ1 também teve acesso ao conteúdo.

No dia 10 de março, cerca de três horas depois do enterro de Henry, Monique recebeu uma oferta com desconto de 40% para o curso de inglês.

Polícia diz que Dr. Jairinho praticou sessão de tortura contra Henry semanas antes da morte; mãe foi a salão de beleza após enterro.

No dia seguinte ao enterro de Henry, Monique procura por aulas de culinária. Ela encontra uma professora, numa rede social, e manda uma mensagem privada:

“Boa tarde. Sou Monique Medeiros, tenho interesse em fazer uma aula prática com você. Como faço para entrar na lista de espera? Um grande beijo em seu coração”.

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lápide-bigode

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Bolsonaro diz que faz o que o povo quiser

O presidente Jair Bolsonaro afirmou a apoiadores na manhã desta quarta-feira(14),  na saída do Palácio da Alvorada, que espera uma sinalização do povo para tomar providências contra o “lockdown”.

“Vai ter escassez. O que é comum quando tem escassez? O preço sobe, inflação. Vão culpar quem? O Brasil está no limite. Pessoal fala que eu devo tomar providência. Estou aguardando o povo dar uma sinalização. Porque a fome, a miséria, o desemprego, está aí (sic). Só não vê quem não quer. Ou quem não está na rua”, disse o presidente agora há pouco.

“Não estou ameaçando ninguém, mas estou achando que brevemente teremos um problema sério no Brasil. Dá tempo de mudar ainda. É só parar de usar menos a caneta e um pouco mais o coração”, disse Bolsonaro.

Perguntado por um correligionário se iria adotar alguma providência, o presidente da República emendou: “Eu vou embora, só digo uma coisa: eu faço o que o povo quiser que eu faça, tá ok?”

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Saudade daquela ‘terra boa e gostosa’, daquele país ‘lindo e trigueiro’

Abra a cortina do passado. Mas não precisa tirar a mãe preta do cerrado nem botar o rei Congo no congado. Basta abrir a cortina e olhar para trás, matar a saudade e nada mais.

Saudade daquela “terra boa e gostosa”, daquele país “lindo e trigueiro”, que foi tão querido, invejado e mitificado mundo afora, não este pária que, por obra e graça de seu presidemente, o planeta inteiro agora deplora e rejeita como um perigo à sobrevivência da própria humanidade, um Hitler sem campos de extermínio oficializados. Um país que não inspira mais samba-exaltação, no máximo um lúgubre cantochão.

Revi, dia desses, duas fotos que marcaram época, dois registros de um outro e fagueiro Brasil: o presidente JK conversando com a atriz Kim Novak, no Palácio do Catete, em 1960, ambos sem sapatos, e o presidente Lula na pista do aeroporto londrino, em 2006, sob o guarda-chuva do príncipe Philip, ambos garbosos e sorridentes. Senti até um aperto no coração.

Na indigência moral, espiritual, econômica, sanitária e alimentar em que nos encontramos, qualquer coisa que me remeta ao País de poucos anos ou cinco décadas atrás me emociona e, ao mesmo tempo, me deprime. Ando a suspirar até por aquele paraíso tropical negativamente estereotipado como um Xangri-Lá de escroques internacionais, que para cá fugiam ou ameaçavam fugir no final dos filmes. E ergo um brinde a Ronald Biggs, o patusco assaltante de trem inglês, e Alexander Sebastian, o hitchcockiano espião nazista imortalizado por Claude Rains em Interlúdio.

Também, dia desses, um internauta escreveu que o Boçalnistão em que se transformou a terra do “mulato inzoneiro” e da “mulata sestrosa” estava muito pior do que a distopia imaginada por Terry Gilliam em Brazil (Brazil: O Filme), já lá se vão 36 anos. Revi o filme, disponível no YouTube, e não serei eu a discordar.

Insisto nas imagens da aquarela de Ary Barroso, não só pelo que expressam do Brasil idílico que se fixou no imaginário universal, mas porque o filme de Gilliam, adrede homônimo da versão internacional de Aquarela do Brasil, faz do nosso samba-exaltação primordial o seu leitmotiv.

Carro-chefe de um modesto musical da Republic, igualmente intitulado Brazil, para o qual Ary compôs outros temas e por um deles (o samba Rio de Janeiro, aquele que proclama que “nossas flores são tão raras, nossas noites são tão claras”) concorreu ao Oscar de “melhor canção” de 1945, Aquarela do Brasil não era interpretado no filme pelo nosso Francisco Alves, mas pelo ator e cantor mexicano Tito Guizar.

Na versão em inglês que lhe deu S.K. Russell, a exaltação às nossas riquezas naturais cedeu lugar a uma canção amorosa, que remói um fugaz romance ao luar e acena com um reencontro “no velho Brasil”. Em sua gravação, na década de 1950, Frank Sinatra enfatiza: “man, it’s old in Brazil”. Nunca entendi a ênfase; o Brasil, afinal, foi descoberto oito anos depois da América do Norte.

Mas isso é irrelevante. O que importa é a fixação de Sam Lowry, o protagonista da comédia de Gilliam, num lugar edênico fantasiado por ele a partir dos primeiros versos de Russell e das dez primeiras notas de uma insossa interpretação de Aquarela do Brasil.

Encarnado por um Jonathan Pryce muito parecido com Stan Laurel e o James Stewart dos anos 1930, Sam é um Walter Mitty orwelliano, que sonha voar como um Ícaro de quadrinhos (Pygar, o anjo cego de Barbarella, por exemplo) e salvar a garota de seus sonhos, Jill Layton (Kim Greist), de monstros que parecem saídos de um pesadelo erótico desenhado por Bosch e Kurosawa e dispersos por ambientes que poderiam ter sido concebidos por Folon, Magritte ou De Chirico.

A fartura de referências visuais, literárias e cinematográficas a que Gilliam recorre é impressionante. Além das já citadas, o mais intelectual gaiato da trupe britânica Monty Python pisca o olho para Stan Lee, os Irmãos Marx, Eisenstein, Escher e Rabelais. Suas imagens convulsivas, sua grotesqueria néon-surrealista, sua trama labiríntica, sua féerie onírica, seu humor negro e desesperado talvez saturem ainda hoje a maioria dos espectadores, mas desconfio que não havia modo mais “simples” e sedutor de submeter a distopia de Blade Runner à anarquia estética dos Monty Python.

Quando, em 1978, buscava locações para seu primeiro filme, no País de Gales, Gilliam foi bater numa praia triste e cinzenta. Antes que uma crise de depressão o tocasse dali às pressas, ouviu no rádio de um banhista uma gravação inglesa de Aquarela do Brasil e, do contraste absoluto entre o que seus olhos viam e a música evocava, sacou o plot de Brazil, que só ficaria pronto na década seguinte.

Distopia futurista sem data nem identidade definidas, sua ação se desenrola “em algum ponto do século 20” (que, aliás, só teria mais 15 anos pela frente), num ambiente que ora lembra Metrópolis, de Fritz Lang, ora o romance 1984. Ao comentar o filme, quando de seu lançamento nestas bandas, falei em purgatório videocrata, Babilônia pós-punk, panoptismo eletrônico e frioleiras que tais. Desta vez, chamaram mais minha atenção os pontos que o aproximam e o distinguem do Brasil real, o Brasil de que todos querem distância.

Ele está lá. No ecossistema degradado pelo lixo industrial, no terrorismo miliciano, na metástase burocrática, no consumismo frenético da população (“Consumidores por Cristo” substituem, com ressonâncias evangélicas, o Exército da Salvação). Ao avistar uma bomba de oxigenação no meio da rua, com transeuntes ventilando os pulmões em cilindros com feitio de orelhão, pensei comigo: só ficou faltando o coronavírus.

Sérgio Augusto

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Não há governabilidade a ser atrapalhada porque não há governo

Tão conhecido como o hábito de usar uma CPI para achacar o inquilino do Palácio do Planato e ampliar o seu escopo de tal forma a que ela não chegue a lugar nenhum, é dizer em público que uma comissão parlamentar de inquérito pode “atrapalhar a governabilidade”. Em geral, trata-se somente de argumento de quem faz coro ao governo que se encontra acuado, para aumentar ainda mais o preço do seu próprio apoio.

No caso da CPI da Covid, a tal governabilidade está sendo colocada sobre uma mesa onde, acredita-se, resta dinheiro a ser ganho. O único dinheiro, na verdade, já está indevidamente comprometido na farsa do Orçamento que, como bem definiu o senador Randolfe Rodrigues, deixou de ser pedalada para se tornar prova de ciclismo. Não há dinheiro, portanto.

Quanto à governabilidade, é palavra sacada sempre que não há governo. Como ação estruturada e coordenada, não há mais governo Bolsonaro. A sociopatia do presidente contaminou de tal forma o enfrentamento da pandemia que não há mais como deter de modo eficiente a propagação do vírus e empreender um programa de vacinação que evite dezenas de milhares de mortes a mais que poderiam ser poupadas, tivéssemos alguém com faculdades mentais inteiramente preservadas na presidência da República. Em relação à economia, o que se tem é um outrora superministro que não consegue fazer frente aos apetites da base de apoio fisiológico que sustenta Jair Bolsonaro. Na área ambiental, que deveria ser o nosso cartão de visitas internacional, inclusive a fim de garantir simpatias inclusive para agilizar a obtenção de vacinas num mercado onde a produção ainda está longe de dar conta das necessidades urgentes, temos um doido passando boiadas e defendendo madeireiras ilegais. No que se refere à educação, não é simplesmente prioridade, afora quando serve para fazer proselitismo ideológico. Milhões de crianças e jovens não têm condição de assistir a aulas remotas, por falta de equipamento e conexão, mas o governo é incapaz de comandar um esforço nacional para tentar equacionar minimamente esse problema gravíssimo. As ilhas de excelência existentes na administração federal estão cada vez menores, consumidas pela erosão do descalabro geral.

A CPI da Covid não afetará, portanto, governabilidade nenhuma. Deveria ser encarada como a oportunidade para tirar logo do cargo um presidente da República de mente doentia e inepto. Mesmo os que acham que ainda têm a ganhar com Bolsonaro só têm a perder. Desse grupo, além dos fisiológicos, fazem parte Lula e o PT, que preferem ter o atual inquilino do Planalto como adversário em 2022. Em algum momento, contudo, o rombo fiscal e o custo em vidas serão cobrados de todos eles, superando qualquer benefício em vil metal ou votos.

Mario Sabino

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Diário da crise CCCLXXXVII

Hoje ando meio cheio de trabalho. Às 18h participo de um seminário sobre o Brasil promovido por estudantes da Universidade de Oxford e chegarei uma hora atrasado ao jornal das 18H. Espero que ainda haja algo para comentar.

Outro dia publiquei um artigo no Globo falando de anticorpos monoclonais. Uma leitora, se espantou com a ausência do tema na grande imprensa. Pois ontem o New York Times publicou uma longa reportagem sobre as pesquisas da Regeneron, aquela empresa que aplicou o remédio em Trump.

Trata do resultado de pesquisas e mostrar que o remédio ajudou também a evitar que as pessoas, em contato com o vírus, contraissem a doença. Funcionou como uma espécie de vacina. O Globo republica a matéria do New York Times e menciona o coquetel de ancicorpos da Lilly sem dizer, entretanto, que está sendo submetido ao exame da Anvisa.

Só se fala hoje nesse diálogo telefônico entre o Presidente Bolsonaro e o Senador Kajuru. De fato, é muito estranho um presidente combinar com um senador processos de cassação contra ministros do supremo.

Nunca tinha ouvido nada semelhante, mas sinceramente está tudo tão confuso que não sei se terá consequências divulgar uma gravação como essa. Digo consequências na vida política do país. O senador Kajuru está sendo denunciado por Flávio Bolsonaro, mas a esta altura ninguém se interessa tanto por quem divulgou, mas sim pelo conteúdo da gravação.

Na mesma conversa, Bolsonaro fala em dar porradas no senador Randolfe Rodrigues. Aliás ele já ameaçou dar porradas num jornalista. Ele se parece com aquele personagem do antigo Casseta e Planeta, o Massaranduba, que saia por aí dando porradas.

Aliás, por falar nisso, no artigo de hoje reproduzi uma frase da abertura do romance de Mario Vargas Llosa, Conversa na Catedral, quando é que o Peru se fudeu. O querido Caio Blinder reproduziu minha citação no twitter, naturalmente com o Brasil no lugar do Peru. Muita gente não gostou, dizendo que estava baixando o nível. Mas meu inspirador é um um grande romancista. Não se pode confiar mais em ninguém.

Avisei ao Caio que era um velhinho bem comportado, mas esses Prêmios Nobel me desencaminham. Vou lê-los com mais cuidado. Gostaria de escrever um pouco mais, mas o trabalho me espera e ainda tenho podcast ao acordar. Nossos temas serão a CPI e o Orçamento, dois consideráveis nós para serem desatados esta semana.

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Um golpezinho militar

Ontem tive que dar o braço a torcer a um militar. O encontro tinha data e local marcados mas certeza que ele estaria lá eu não tinha. Fui de carro, sei lá como ele iria, se de blindado ou tanque. Sei, tanque não é comum sair às ruas, e quando sai até o regime pode mudar. Mas eu estava tranquilo, ele podia estar lá mas não ia querer nada comigo, um civil qualquer. A chance dele e eu ficarmos frente a frente era grande: ele e eu obedecíamos ordens. As dele, mais severas, próprias da disciplina férrea a que ele seus companheiros de farda estão acostumados a cumprir. As minhas, não tão inflexíveis assim, mas se não cumpro essa ordem de agora posso me ferrar, talvez morrer. Ao nos aproximar do local, logo avistamos alguns militares. Mas o encontro decisivo não era ali na entrada.

Certamente ele estaria entrincheirado no interior do prédio imenso. Que não era um quartel. Desde a última vez que estive num quartel, quando fui dispensado do serviço militar por processo de arrimo de família, nunca mais pisei em qualquer ambiente desses. E depois, com o convívio com a ditadura, reforcei meus anticorpos para não me deixar contaminar com mandos e desmandos deles. Agora estava ali, sem receio mas com pé atrás. Passei por mais outros militares, agrupados aqui e ali. Fui barrado e me pediram documento, olhando firme na minha cara. Sem temor, retribuí o olhar com firmeza igual. Adiante, disse ele. Segue, Fraga, disse eu pra mim mesmo. Em seguida notei que outros civis também tinham atendido à mesma ordem. Como podíamos ser muitos invasores, eles também não eram poucos.

Nós e nossos tênis, eles e seus coturnos. Nós e nossas bermudas, eles e suas fardas. Nós e nossos acenos, eles e suas continências. Nós e nossos passeios, eles e suas marchas. Mais alguns trechos delimitados e eu saberia com quem teria o embate. Na grande área, as viaturas deles estacionadas e as nossas num zigue-zague obediente. Ele e seus companheiros de tropa sabem como conduzir a gente, comandos através dos olhos, da boca, até das mãos. Haveria arma? Não haveria? Seria usada comigo? Devagar, Fraga, sem gestos bruscos, sem olhares provocativos.

Segui mais um pouco e outro ajuntamento de militares. Um deles ordenou que apresentasse documento. Retruquei que já havia apresentado antes e de novo um olhar duro foi disparado. Um obus direto da retina dele pra minha. Sorte que a mira dele não era tão boa, passou de raspão. Fui liberado e segui em frente. Enquanto seguia, pensava na rejeição que tenho com militares. Sou um pacifista, eles não. Sou avesso a ordens, eles não. Não gosto de conflito, eles adoram. Eles já torturaram e deram sumiço em muita gente entre 64 e 84; eu, por conta própria, vez em quando apenas sumia de casa por uns tempos. Eles agora estão aos milhares no governo, engessando e dando despesa à democracia, até ministros incompetentes são; eu continuo no meu desgoverno pessoal. Eles têm orgulho do seu estúpido chefe maior; eu sou um dos milhões e milhões que o detestam e querem o impiti dele. Foi aí que esse turbilhão sem sentido parou junto à camuflada figura dele em posição de sentido. Ia ser com ele a batalha, então.

Meu corpo se retesou, apreensivo. Eu estava em desvantagem: ele em pé, eu sentado. Veio mais para perto, se apresentou e disse qual era a missão dele. Mesmo com todo amor à pele, não pude recuar. Logo estava apontando algo pontudo para mim, a menor de todas as baionetas que um militar poderia empunhar. Ia cravar aquilo em mim e eu tive que dar permissão para o ataque dele. Mandou que eu afastasse a roupa do local onde iria me golpear, queria ver minha carne atingida.

Felizmente foi tudo muito rápido, e não houve nem mortos nem feridos nesse entrechoque. Satisfeito em ter cumprido sua missão contra um civil, me dispensou e apontou o caminho para me afastar dele. Com a marca da baionetinha no corpo, saí o mais rápido dali, pra minha vidinha sossegada e distante do verde oliva. Foi assim, no dia da minha 2ª dose da vacina, a única vez que dei o braço a torcer a um milico.

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Imperdível!

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BolsoNero

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Bolsonaro risca o fósforo

O senador Jorge Kajuru divulgou em suas redes sociais uma conversa telefônica na qual o presidente Jair Bolsonaro cobra a inclusão de prefeitos e governadores no escopo da CPI da Covid. Qualquer CPI precisa de fato determinado. Ampliar o foco costuma ser uma tática para não se investigar nada.

Mas, em entrevista ao Papo Antagonista na sexta-feira, Kajuru disse claramente ser contra a ampliação da investigação. Segundo ele, uma CPI com duração de 90 dias não teria tempo para investigar também prefeitos e governadores — e que isso, fundamentalmente, seria responsabilidade de assembleias legislativas e câmaras municipais.

Na conversa com Bolsonaro, porém, Kajuru se mostra favorável à ideia, animando o presidente, que cobra dele, sem pudores, pressão no Supremo para a abertura de impeachment de ministros, começando por Alexandre de Moraes — alvo recente de um abaixo-assinado de bolsonaristas.

“CPI ampla e investigar ministros do Supremo. Ponto final (…) Tem de peticionar o Supremo para colocar em pauta o impeachment também”, diz Bolsonaro na conversa. Kajuru, que defendeu a CPI da Lava Toga abafada por Bolsonaro, responde: “Peticionei ontem.”

O presidente, então, comemora: “Parabéns para você. Você foi dez. Sabe o que é que vai acontecer? Não tem CPI e não tem investigação de ninguém do Supremo.”  A princípio, pode parecer que Bolsonaro queria apenas pressionar os ministros a enterrar a CPI. Mas, em seguida, ele se diz “a favor de botar tudo para frente”. Ou seja, tanto a CPI como o impeachment.

Ministros ouvidos há pouco por O Antagonista avaliaram o caso como uma “tentativa de intimidação bastante grave” do presidente da República ao Supremo e que ele teria incorrido em crime de responsabilidade.

Interlocutores de Arthur Lira disseram ainda que a sensação é a de que o presidente “riscou um fósforo num ambiente saturado de combustível”. Essas mesmas fontes esperam uma possível reação em cadeia, com o Supremo ameaçando retomar o inquérito de Lira, caso o presidente da Câmara não tire da gaveta as dezenas de pedidos de impeachment de Bolsonaro.

Se há poucos dias o ministro Marco Aurélio Mello defendia sozinho que a Câmara tinha “que tocar” a análise dos pedidos de impeachment, o coro agora tende a engrossar.

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Playboy|1970

1970|Jennifer Liano. Playboy Centerfold

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