Desmilitarizar o Brasil

O governo BolsoNero é um cabide de empregos para militares, com destaque para vários ministros, o vice-presidente e o próprio presidente, embora este tenha saído corrido das fileiras do Exército há mais de trinta anos. Os números variam, mas sempre apontam mais de 6 mil militares nomeados pelo Executivo Federal, além de ocuparem 30% dos cargos em empresas públicas, como o novo presidente da Petrobras. Seria esse um governo militar ou um governo dos militares?

A militarização, entretanto, não tem relação apenas com o número de fardados no governo. Trata-se de um processo em que valores, modos de vida, princípios e normas que orientam o mundo militar são transferidos para a administração pública, militarizando o Estado. Tão problemático quanto quem faz, é o como faz e por que faz.

O que significa militarizar a sociedade? A guerra como opção social e política não é algo inerente ao ser humano. A militarização da sociedade é o que permite a naturalização do militar, da guerra e das armas como alternativas à resolução de conflitos, seja no âmbito doméstico, seja na geopolítica internacional. Ora, sem a militarização as divergências não desapareceriam, mas a opção pela violência armada como forma de resolvê-las seria considerada repugnante e injusta.

A ditadura implantada em 1964 aprofundou a militarização da sociedade brasileira. Setores de Igrejas apoiaram e tiveram importante papel nesse processo, evocando o “Deus dos exércitos, Senhor da guerra”…

Baseados nessa leitura, valores militarizados se expandiram na sociedade, como a ideia de que vivemos dentro de marcos hierárquicos, e devemos conformar-nos com o lugar que ocupamos na hierarquia social: pobre (resignado), classe média (remediado), rico (desculpabilizado). É a legitimação da desigualdade social, ainda que flagrantemente injusta.

Outro “valor” é obedecer aos superiores (civis, religiosos etc.), sem divergir quanto às normas e regras adotadas. É a ideia de que as coisas sempre foram assim, e assim devem continuar. Em um mundo hostil é necessário competir para ganhar, ser combativo. O triunfo é estimulado em detrimento da relação solidária entre pessoas.

A militarização reforça a noção de que é preciso estar sempre vigilante diante de potenciais riscos e perigos que ameaçam a nossa sobrevivência. Para driblar o medo, é preciso ser agressivo, forte, viril, dominante, mesmo se isso significar ser machista e cruel.

Muitas vezes o adestramento militar atinge um grau de violência que induz à desumanização do outro. Alunos se tornam dispostos a matar seres humanos a partir da ordem de um superior, sem duvidar, discutir ou divergir. O sentimento de empatia com dores e desejos do outro é substituído pela relação amigo x inimigo. O discurso de ódio substitui o da alteridade. O inferno e o inimigo são os outros, daí ser preciso eliminá-los. Assim, a militarização de corações e mentes torna o outro invisível e desprezível, o que justifica a violência. É o perfeito antagonismo à noção de amar ao próximo como a si mesmo.

Desmilitarizar os espíritos e a sociedade requer priorizar a segurança humana com relação à alimentação, saúde, educação, acesso ao trabalho, respeito aos direitos humanos e ao meio ambiente. É reivindicar horizontalidade diante de relações hierárquicas, particularmente as que vitimam os mais pobres. E incutir solidariedade e respeito pelo diferente, diante do racismo e da xenofobia; senso de igualdade entre homens e mulheres, diante do sexismo das estruturas militares; e internacionalismo e cooperação enquanto valores nacionais.

Há que se retomar a bandeira da justiça e da paz, e da união entre povos próximos e distantes. E ousar olhar nos olhos do outro para perceber, no reflexo, que somos todos humanos, irmãos e irmãs.

Frei Betto

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Celso de Mello diz que Bolsonaro “se comporta como um monarca presidencial”

Para o ex-ministro do STF Celso de Mello, foi “corretíssima” a decisão de Luís Roberto Barroso de abertura da CPI da Covid no Senado.

Ao Estadão, o ex-decano comentou os ataques de Jair Bolsonaro a Barroso e afirmou que o presidente age como um“como monarca presidencial”.

Um presidente da República que não tem o pudor de ocultar suas desprezíveis manifestações de desapreço pela Constituição da República e pelo princípio fundamental da separação de Poderes, que atribui aos seus adversários a condição estigmatizante de inimigos e que se mostra disposto a atingir, levianamente, o patrimônio moral de um dos mais notáveis juízes do Supremo Tribunal Federal, que proferiu corretíssima decisão em tema de CPI, inteiramente legitimada pelo texto constitucional e amplamente sustentada em diversos precedentes firmados pelo plenário de nossa Corte Suprema, revela, em seu comportamento, a face sombria própria de um dirigente político que não admite nem tolera limitações ao seu poder, que não é absoluto, comportando-se como se fosse um paradoxal ‘monarca presidencial’!”, escreveu.

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Sem suingue

Torço para que o sucesso de “Toda poesia”, de Paulo Leminski, faça com que todo o Brasil coloque em prática o refrão de “Curitiba”, canção de Marcos Prado, Antonio Thadeu Wojciechowski e Walmor Góes, gravada pelo grupo de samba “sem suíngue” Maxixe Machine: “Curitiba, Curitiba / você é a única droga / que eu vou admitir / na minha vida”. Fico imaginando como funcionaria o país sob o efeito desse alucinógeno lírico curitibano. Seria prova de fogo para nossos sonhos de identidade nacional, trafegando naqueles ônibus pré-BRT, tiritando no inverno ao som do eletrofunk da MC Mayara. Barato já descrito no primeiro verso de “Filhos de Gdanski”, canção do carioca Antonio Saraiva gravada pelo grupo hardcore-pós-tudo Beijo AA Força (a encarnação elétrica do Maxixe Machine): “Um afoxé muito branco emerge das brumas”.

Pulo na pipoca desse bloco “poloco-nagô” paranaense há tempos. Em 2013, por alguma conjunção astral conectada com as vendas do autor de “Distraídos venceremos”, meu consumo de Curitiba, a droga, passou a ser administrado em doses mais polpudas. Primeiro ganhei de presente “na franja dos dias”, o terceiro livro de Marcelo Sandmann. Releio seus poemas (curtos e com muitos parênteses, como estas minhas colunas) semanalmente. Alguns levam a “genialidade não original” de Leminski para extremos cruéis. Em “Canção de maio” cada verso é manchete paulistana recente. Entre eles: “SP sofre pelo menos 180 ataques criminosos; mortos passam de 80” e “Suspeitos mortos pela polícia em ondas de ataques em SP somam 107”. Há também notícias sobre shows de Frank Zappa, e reflexões sobre a saúde de quem pode tocar a “lira dos cinquent’aninhos”. Como tenho a mesma idade, me identifico especialmente com este big-bang de narcisismo inspirado em Mário Sá-Carneiro: “Quando eu morrer, puxem a rolha / Que veda o ralo do universo. / Escoem tudo. E no reverso, / Pintem um Deus novinho em folha.”

Pelo Sedex chegou também pacote com o DVD “da tamancalha ao sampler – ao vivo em Curitiba” e o livro com partituras do Grupo Fato. Como brinde veio junto o “músicaprageada” (assim tudo escrito junto), também do Fato. Já tinha esse CD (gravado em 2005), mas foi maravilha ouvir novamente suas músicas, agora, pensando nessa possibilidade de Curitiba ocupar (no melhor sentido occupy) lugar mais central em nosso imaginário brasileiro. Pois os curitibanos sempre refletiram profundamente sobre seu deslocamento (lá onde há sempre geada) ou lugar “periférico” no concerto da nação. E ousadamente já deram sua receita de samba danado (canção de Marcelo Sandmann, registrada neste “músicaprageada”): “Samba que é bom tá danado / Samba que é bom não dá pé / Tem que quebrar a cabeça / Tem que entortar logo o pé.”

Então me toquei que deveríamos estar comemorando os 30 anos da criação da Beijo AA Força, banda que entortou nossos pés pela primeira vez em 1983. Para resumir sua história com apenas um lançamento: “Sem suingue”, de 1995, só não ocupa os primeiros lugares nas listas dos melhores discos de todos os tempos da música popular brasileira por causa desse distanciamento torto que o resto do país mantém com a produção cultural de Curitiba, praticamente ignorada fora do Paraná (Leminski ou Trevisan são casos bem excepcionais). Preciso deixar bem claro (a nova audição reconfirmou esta impressão antiga): “Sem suingue” não deixa nada a dever se comparado com “Acabou Chorare” ou com “Samba Esquema Novo”. Na minha humilde opinião leva até vantagens, pois reflete bem minha experiência de geração e meus interesses diante do mundo pop atual. Isso só parece exagero porque quase ninguém ouviu a obra prima curitibana. Quem escutar agora vai pensar que é gravação nova, de tão atual e original (ou não original, já que abusa do sampler).

Tem “Filhos de Gdanski”, mas também “Pedra que rolou”, clássico de Pedro Caetano, e a mulher falando “nossa, como esse Milton Nascimento é engraçado” em “Eu odeio jazz Brasil (more noise, please)”. Tem “Crueldade mental” e sua versão instrumental (com “guitarra Morricone” e “piano Liberace”) precocemente intitulada “Estupidez interativa”. Minha preferida talvez seja a versão de “Negro blues” de Jorge Mautner, com arranjo digno de Jerry Dammers e complemento da letra no encarte com homenagem até para o barulho japonês dos Boredoms (em 1995!). Pode haver disco melhor?

Talvez uma coletânea da Maxixe Machine, com músicas dos CDs “barbabel” e “e seus ritmos elegantes”. Tudo para o Brasil copiar o exemplo da personagem de “Empolacada”: “casei com um polaco depois de cinco uísque / ainda hoje não sei pronunciar meu sobrenome”. Segura mais um refrão: “ê meu negão do avesso / tô sambando com os quadril no gesso”.

17/05/2013

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Fraga

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Descobri que meu vizinho de porta matou o Glauco

Alguns dias depois do crime, reconheci nos jornais o rosto de Cadu, que encontrava no elevador do prédio

Nós nos encontramos no elevador do prédio. Na breve subida, o simpático rapaz perguntou meu nome e o que eu fazia para viver. Apresentou-se com seu apelido, Cadu, que esqueci no minuto seguinte.

Retribuí a pergunta profissional, e ele me contou que começou os estudos em diversas áreas, mas, naquele momento, cursava gastronomia, fazendo estágio em um restaurante de hotel. Perguntei que tipo de comida pretendia cozinhar; respondeu ele que tinha uma queda pela culinária internacional.

Revelou, na curta viagem vertical, que vivia parcialmente lá com sua mãe e que, de fato, morava na Vila Madalena. Descobrimos que o destino de ambos era o décimo andar. Era meu vizinho de porta.

Despedimos-nos e entramos em nossos respectivos apartamentos. Minha primeira impressão foi que era aquele um cara sensível até por se dedicar à gastronomia. Podia ser uma ideia preconcebido a de que homens na cozinha tinham algo de delicado em sua presença. Um jovem de classe média comum com pais separados, tentando se encontrar profissionalmente, foi minha primeira impressão.

Trinta segundos depois que entrei em meu apartamento, o interfone tocou. Era Cadu, do outro lado da linha, me convidando para um café em sua residência. Achei um pouco além da conta e recusei a oferta educadamente, evitando uma intimidade desnecessária.

Meses depois, nos encontramos no elevador novamente. Cadu me perguntou se eu estava em um relacionamento. Eu disse que sim. Ele sugeriu então uma cerveja comigo e com meu namorado. Corrigi sua suposição, era uma namorada. Ele ficou sem graça, mas, mesmo assim, reforçou o convite. Parecia querer se aproximar para qualquer tipo de relação que se desencadeasse a partir dali.

Eu, no entanto, brequei, mais uma vez, sua aproximação. Minha personalidade introvertida se contrastava com a sua expansividade. Despedi-me e não pegamos mais nenhuma carona de elevador juntos.

Com sua mãe, cruzava no hall comum com maior frequência. Ela apresentava cabelos quase na altura da cintura, demonstrando ser crente em sua comunicação e maneira de se portar. Desejava-me bem, sempre com palavras que envolviam Deus; para ir com Ele, ficar com Ele e outras tantas variações que surgiam em suas frases feitas com pegada devota.

Não sabia nada, além disso, da senhora que morava do outro lado da parede. Ela parecia trabalhar à noite, talvez fosse enfermeira, eu ponderava, mas não tinha curiosidade ou sociabilidade suficientes para levar o papo além dos cumprimentos na porta de casa.

Certa vez, ouvi Cadu gritando com sua mãe de forma agressiva. O tom raivoso ecoava para além do apartamento deles. Temi que algo pudesse acontecer no apartamento vizinho e considerei chamar a polícia, mas a briga terminou antes de qualquer intervenção.

Com a mãe ausente durante as noites, Cadu se reunia com um ou mais amigos e o grupo fazia barulho a noite toda. Minha namorada pretendeu bater à porta ao lado em certa madrugada de festinha particular deles para pedir quietude. Eu a impedi, com medo da reação dele. Preferia não interferir e, assim, não ter que lidar com um problema futuro com o vizinho, além do fato de que, com certeza, não estaria sóbrio, o que poderia também gerar objeções imprevisíveis.

No dia em que eu estava saindo do apartamento para me mudar para a Alemanha, carregava meus pertences para a mudança para baixo do prédio. A porta dos vizinhos encontrava-se totalmente aberta.

No térreo, o zelador parecia atordoado. Ele me revelou que a mãe de Cadu pediu ajuda para controlar o filho dela e que essa não era a primeira vez que isso acontecia. Nervoso, ele contou também que ela tinha problemas psiquiátricos e tomava medicação controlada e preocupava-se com a proteção da senhora.

Quando retornei ao apartamento, a porta deles continuava escancarada, mas não se via nada além de uma parede do corredor interno. Pensei em entrar para conversar com Cadu, entender o que se passava e ajudar de alguma maneira, mas hesitei. Tinha ainda muitas caixas para carregar.

Parti para uma nova jornada de estudos na Alemanha. Meses depois, me deparei com a foto de um jovem estampando a capa de todas as plataformas digitais de jornais e revistas brasileiros. O rosto parecia familiar, mas eu não conseguia me lembrar de onde conhecia aquele cara. Era o assassino de Glauco, conhecido cartunista, que também atuava como líder de rituais com ayahuasca, e de seu filho.

Li tudo disponível sobre o caso. As reportagens diziam que o jovem estava agindo de forma estranha após consumir ayahuasca por diversas vezes, falando com plantas, acreditando que seu irmão era Jesus. Ele ameaçou o cartunista e seu filho com uma arma, querendo que eles convencessem sua mãe de tudo que ele acreditava ser verdade. O incidente culminou em morte.

Eu me forcei, tentando puxar aquela fisionomia do fundo do meu cérebro. Em minha investigação, descobri que havíamos estudado no mesmo colégio particular. Estivemos na mesma instituição de ensino, mas em épocas diferentes; ele sendo muitos anos mais novo do que eu. Não era ali que havíamos nos cruzado na vida, apesar de isso demonstrar que poderíamos ter nos encontrado em qualquer lugar na cidade de São Paulo.

Alguns dias se passaram quando meu cérebro despertou. Por detrás da sujeira de sua pele e barba na foto das manchetes, veio o rosto que revelaria a identidade daquela pessoa guardada em minha mente. Era meu vizinho de porta.

Não sabia que aquele dia que partia para a Alemanha seria um novo começo na minha vida ao mesmo tempo que se tornaria o começo do fim da vida dele. Eu também havia me desorientado com psicodélicos, incluindo uma internação em Paris após perder minha bolsa atlética nos Estados Unidos e não me formar para, ao invés, ir para a França conversar com Jacques Chirac sobre o futuro da humanidade em um delírio megalomaníaco.

Enquanto o episódio de Cadu o afundou, eu partia para Europa para o começo de uma carreira acadêmica em psicologia e neurociências para transformar os meus episódios em um foco produtivo, para entender meus processos internos, o que impulsionaria minha existência.

Aquela porta aberta ficou ali como um convite para alguma troca que nunca aconteceria e a convicção de que histórias parecidas podem ter fins bem distintos.

Joana Galvão

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Rachadinhas: STJ nega recurso a favor de Flávio Bolsonaro

A decisão é considerada pelos procuradores o maior revés desde a abertura do inquérito, há mais de dois anos

O vice-presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Jorge Mussi, rejeitou, ontem, um recurso da Procuradoria-Geral da República contra a decisão da Corte que anulou a quebra do sigilo fiscal e bancário do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) e de outras 94 pessoas e empresas investigadas no chamado “inquérito das rachadinhas”. A decisão é considerada pelos procuradores o maior revés desde a abertura do inquérito, há mais de dois anos.

Ao entrar com o recurso, a PGR pedia que o caso fosse levado ao Supremo Tribunal Federal (STF). Na avaliação do procurador Roberto Luís Oppermann Thomé, que assina o recurso, a análise do tema pelo STJ está “esgotada”.

No entanto, para chegar ao Supremo, o recurso precisava ter a admissibilidade reconhecida, no próprio Superior Tribunal, pelo presidente da Corte, Humberto Martins, ou por Mussi. Ao STJ, Thomé também sustentou que não houve nulidade no pedido do Ministério Público do Rio para quebrar os sigilos dos investigados. A PGR ainda pode recorrer da decisão.

No final de fevereiro, pelo placar de 4 votos a 1, a Quinta Turma do STJ determinou que os investigadores do Ministério Público do Rio retirem da apuração todas as informações obtidas a partir da devassa nas contas de Flávio e dos demais alvos da medida. A decisão foi tomada em conjunto pelos ministros João Otávio de Noronha, Reynaldo Soares da Fonseca, Ribeiro Dantas e Joel Ilan Paciornik. Apenas o relator do caso, Felix Fischer, defendeu as quebras de sigilo, mas acabou isolado no julgamento.

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O que torna a variante brasileira do coronavírus tão perigosa?

Nos últimos dias se confirmou o que os virologistas vinham alertando desde janeiro: a variante P.1 do coronavírus, identificada pela primeira vez em Manaus, se impôs e agora se espalha numa velocidade assombrosa.

Se no início do ano havia menos de mil mortes por dia no Brasil, desde o fim de março os números aumentam de forma dramática. Atualmente, são mais de 3 mil mortes todos os dias. Cerca de 90% das novas infecções são atribuídas à P.1.

Em meio à falta de testagem em larga escala e a subnotificação, o número real de novos casos não pode ser determinado com segurança. Mas uma coisa é certa: a disseminação do vírus ficou completamente fora de controle. Segundo números oficiais, mais de 13 milhões de pessoas já contraíram o coronavírus no país até agora.

Os médicos também partem do pressuposto de que há um grande número de casos não notificados, já que provavelmente muitos doentes e pacientes recuperados nunca entraram para as estatísticas. Outros países onde a variante se espalha são México, Suécia, Bélgica e Colômbia.

Fonte:DW

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CPI da Covid conta o negacionismo da PGR

O negacionismo bolsonarista contaminou a PGR. Isso torna ainda mais necessária a CPI da Covid: o MPF, em vez de defender os brasileiros, está empenhado em defender o sociopata que ocupa o Palácio do Planalto.

Nesta semana, durante uma sessão no STJ, a subprocuradora bolsonarista Lindôra Araújo disparou a balela de que o Brasil é apenas o 47° país do mundo em número de mortes per capita de Covid-19.

O Jota reproduziu sua fala:

“Gente, o Covid-19 está no mundo inteiro. Quando se lê as manchetes,  parece que o Brasil é o único país do mundo que tem Covid. Parece que só no Brasil tem Covid (…). Eu queria que, além de tudo, a gente ficasse com pesar e chorasse pelos mortos, mas não colocássemos o Brasil como o pior país do mundo. Pensem que estamos em 47º lugar. Somos um país enorme, com 220 milhões de habitantes, e estão politizando o Covid.”

Na verdade, o Brasil é o 14° país do mundo com mais mortes por 100 mil habitantes: 163.

Ontem superamos a Espanha e o Peru. Com isso, passamos a ser o país com mais mortes per capita da América Latina e do hemisfério Sul.

Os países do hemisfério Norte que estão à nossa frente, como Hungria, Montenegro, Eslováquia ou Bulgária, já enfrentaram dois invernos com o vírus – o Brasil, só um. O ritmo de crescimento deles está diminuindo, o nosso está aumentando. Em breve, de fato, devemos superar os Estados Unidos em mortes per capita, porque eles derrubaram o contágio com a vacina.

Se a PGR é tão negacionista quanto o presidente da República, não há a menor chance de que ela possa proteger o cidadão. É mais um motivo para exigir a CPI da Covid.

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Diário da crise CCCLXXXIII

Impossível ficar indiferente ao assassinato de um menino de quatro anos, chamado Henry. O acusado é um vereador chamado Dr. Jairinho, membro do Conselho de Ética da Câmara de Vereadores do Rio.

As suspeitas nasceram dos laudos médicos que indicaram múltiplas e graves lesões no corpo do menino. Dr. Jairinho e a mãe do menino diziam que ele sofrera um acidente, algo que a perícia na casa mostrou uma tese falsa. Não importa de onde caísse, da cama, da estante ou da mesa, o menino não sofreria tão variadas e graves lesões.

Pessoalmente, lendo o noticiário, sobretudo depois do laudo, achava que havia alguma coisa errada na versão do casal. Fiquei mais desconfiado ainda com a notícia de que Dr. Jairinho ligou para o governador Cláudio Castro pedindo ajuda. O que um governador pode fazer num caso desses? Interromper investigações.

Hoje, sabe-se também que ele ligou para um executivo do hospital pedindo que fosse dado um atestado de óbito para evitar que o corpo do menino fosse levado para o IML e examinado em detalhes.

Agora ficamos sabendo que o Dr. Jairinho já espancou uma  criança, quando vivia com outra mulher.

Através das conversas da babá com a mãe de Henry, a polícia descobriu também que o Dr. Jairzinho espancava Henry com frequência.

Uma história espantosa. Amigos me lembram que os programas sobre crimes nos Estados Unidos registram alguns crimes semelhantes.

No entanto, nenhum deles se lembra de um caso em que uma criança de quatro anos seja espancada até a morte, passando por esse terror e sofrimento.

Tudo isso acontece no meio de uma pandemia. Não podemos deixar de seguir, mas sabendo que logo adiante nos espera de novo a tragédia brasileira: mais de quatro mil mortes diárias, escassez de oxigênio em centenas de cidades e também um perigoso fim de estoques de sedativos, essenciais para os pacientes intubados.

Enquanto tudo isso acontece, o Supremo decide se é permitido culto religioso no auge da pandemia. Tenho falado sobre o tema, mostrando que não se trata de coibir a liberdade religiosa, mas sim aglomerações. A liberdade sindical, por exemplo, está mantida, mas não assembleias, a liberdade política está mantida, mas não convenções presenciais. Tudo isso nesse momento, no curto prazo de tempo em que precisamos aliviar as UTIs que estão cheias, assim como reduzir o consume de oxigênio e sedativos, com a queda dos casos graves.
Hoje fui dar uma volta na Lagoa e descobri que o sol não está mais tão presente, assim como o ventinho  soprou um pouco mais frio. Se somarmos isso às chuvas de março que já caíram, embora em menor volume, acredito que acabou o verão.

Não tenho nada contra outono e inverno, sobretudo o inverno. No entanto, não é bom entrar nele com uma pandemia tão descontrolada.  A sequência das estações pode jogar contra nós. Por isso é preciso se vacinar também contra a influenza e seguir lavando as mão com frequência, um hábito que deve nos acompanhar por toda a vida.

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#diáriodobolso: ‘foi uma grande noite, com boa comida e gente de bem. Ou de bens, kkk!’

Diário, ontem teve um jantar chique em São Paulo com uns ricaços.

Tavam lá o Tutinha, da Jovem Pan (empresa que tem um jornalismo muito isento que me apoia até debaixo d’água); tava lá o Cláudio Lottemberg, do Hospital Albert Einstein (que andou criticando o meu governo mas na hora agá foi lá); o João Carlos Saad, da Band; o dono daquela rede de esfihas vagabundas; o Flavinho Riachuelo; o Paulo Skaf, dono da Fiesp; uns caras de bancos, tipo o Carlos Trabuco, do Bradesco; o David Safa, do Safra; o André Esteves, do GTB…, BGT…, FDP…, sei lá, daquele banco que tem três letras, e mais uns outros.

A gente não chamou o veio da Havan, que aquele terno verde ia estragar a foto. E também não convidamos nenhuma mulher, nem as nove bilionárias brasileiras, senão a gente não podia contar piada suja.

Levei uma comitiva de peso: o Paulo Guedes (que eu chamo de Paulo Lexotan, porque ele acalma milionário); o Tarcísio de Freitas, da Inflaestrutura; o Marcelo Queiroga, do ministério da Covid; o Fábio Faria, do SBT, quer dizer, do ministério da Comunicação; e o general Heleno, que esse não perde uma boquinha livre.

Foi um jantar bem divertido. No meu discurso eu critiquei o Doria, prometi que não ia ter loquidaum nacional, xinguei o PT (nessa hora um dos empresários levantou uma taça de champanhe e gritou: “estamos com o senhor, chega de vagabundo!”), e falei que o Brasil está ótimo para negócios, era só ver o leilão dos 22 aeroportos (que rendeu R$ 3,3 bilhões, o que dá quase para comprar uma votação do Centrão).

Quando a gente estava no jardim, tomando um ar (lá não tem falta de oxigênio, kkk!), o pessoal me perguntou se o negócio de comprar vacina por fora vai sair e eu respondi que é claro. Rico adora furar uma fila, talkei?

De entrada tivemos dedos negros cobertos ao com foie gras e o prato principal foi pobre com laranja.

Enfim, Diário, foi uma grande noite, com boa comida e gente de bem. Ou de bens, kkk!

#diariodobolso

PS: Diário, como é mesmo aquele ditado alemão? Acho que é alguma coisa do tipo: “Se tem dez empresários numa mesa, um Bolsonaro senta e ninguém se levanta, a mesa tem onze bolsonaros”. Lindo, né? Vou mandar enquadrar.

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Morre príncipe Philip, marido da rainha Elizabeth II, aos 99 anos

Morreu, nesta sexta-feira (9/4), aos 99 anos, o príncipe Philip. A informação foi confirmada pelo o Palácio de Windsor. O  Duque de Edimburgo era casado com a Ranha Elizabeth II.

“É com profunda tristeza que Sua Majestade a Rainha anunciou a morte de seu amado marido, Sua Alteza Real, o Príncipe Philip, Duque de Edimburgo. Sua Alteza Real faleceu pacificamente esta manhã no Castelo de Windsor”, informou a família real britânica, em sua conta no Twitter.

Ainda não há informações sobre a causa da morte. Em fevereiro, o príncipe passou mal e foi internado preventivamente em um hospital de Londres. Em março, ainda internado, ele foi submetido a uma cirurgia para um problema cardíaco preexistente. Segundo o Palácio, a cirurgia foi bem-sucedida. 

Tanto o príncipe Philip quanto a Rainha foram imunizados contra a covid-19 em janeiro. 

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Flagrantes da vida real

flagrantes-da-vida-realTatoo. © Maringas Maciel

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Eduardo chama deputadas de ‘portadoras de vagina’, e Joice reage

Joice Hasselmann disse nesta quinta (8) que vai protocolar uma representação contra Eduardo Bolsonaro no Conselho de Ética por quebra de decoro parlamentar, registra a Folha.

O deputado federal e filho 03 de Jair Bolsonaro postou em seu Twiter um vídeo da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara em que o bolsonarista Éder Mauro discutia com a petista Maria do Rosário.

“Parece, mas não é a gaiola das loucas, são só as pessoas portadoras de vagina na CCJ sendo levadas a loucuras pelas verdades ditas pelo Dep. @EderMauroPA 1.000°”, escreveu Eduardo.

Joice disse ao jornal paulistano que a representação contra o 03 será endossada por deputadas de todos os partidos. “Ele agrediu todas as parlamentares, inclusive as do partido dele”, afirmou a ex-bolsonarista.

As deputadas pretendem ainda divulgar um manifesto condenando a fala de Eduardo e acionar a PGR,  alegando que o filho do presidente extrapolou os limites da imunidade parlamentar e pode ser enquadrado em crime comum.

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Pastor Cláudio

Um encontro entre duas figuras pessoalmente antagônicas: o bispo evangélico Cláudio Guerra, responsável por assassinar e incinerar os opositores à ditadura militar brasileira, e Eduardo Passos, um psicólogo e ativista dos Direitos Humanos.

Como surgiu a ideia de colocar Cláudio Guerra em frente a um ativista?

A intenção era justamente ter um violador dos direitos humanos, ele mesmo narrando suas violações. O psicólogo, nesse caso, vem com a prática de escuta. Seu papel é fazer o entrevistado falar, como se fosse uma abertura de arquivos. Para conhecermos mais esses crimes cometidos por ele, em nome do estado brasileiro. Afinal, foram crimes do próprio estado. Conheci o Cláudio quando fiz o filme Memórias para uso diário, em que acompanho uma viúva que está tentando procurar seu marido, um desaparecido político da ditadura, vítima de um esquema chamado Operação Radar. Em 2012, o Cláudio lançou um livro chamado Memórias de uma guerra suja. Eu li e descobri que ele trabalhou justamente nessa operação. Comecei a procurá-lo, consegui encontrá-lo e fazer essa entrevista em 2015.

O Cláudio é bem solícito nas respostas. Acredita que ele seja uma pessoa que queria ajudar?

Ele tem uma personalidade bastante complexa. Por um lado ele conta as coisas, mas também não conta tudo. No próprio filme ele revela que aquilo seria uns 10%. Ele criou esse personagem do pastor arrependido, mas nas frestas do discurso conseguimos ver muita vaidade, ele tem orgulho do que fez. Fica oscilando entre esses vários aspectos, tanto que temos discursos de barbárie que são contados de forma fria.

Como ele reagiu ao filme?

Eu nunca o encontrei antes ou depois da gravação. Só estive em sua presença durante as quatro horas de gravação. Ele já conhece o curta-metragem de 2016, Uma família ilustre, porém nunca me deu um retorno. O longa-metragem já passou na cidade dele, Vitória (ES), e agora vai voltar no circuito comercial, então é possível que ele se manifeste.

A gravação foi em 2015. De lá para cá temos uma outra conjuntura política, com um governo protagonizado por militares e evangélicos. Como é lançar o filme nesse contexto?

Com o tempo, comprovamos que a igreja evangélica tem um projeto político. Nesse filme, não chegamos a abordar isso, mesmo ele sendo um pastor. No entanto, ele aponta para uma “irmandade”, forças que estavam se articulando já naquele ano. Ele comenta sobre pessoas que financiaram a ditadura militar e que ainda existem. Como consequência, temos um governo que quer flexibilizar os direitos trabalhistas, leis de aposentadoria, remover demarcações indígenas. É uma série de medidas que nos leva de volta a um genocídio. Temos aí uma elite ruralista e empresarial que tem como finalidade ter uma sociedade com menos direitos, sejam trabalhistas ou humanos.

Foram revelados os suspeitos de assassinar a vereadora Marielle Franco. Acredita que o filme também lança reflexões sobre esse tipo de fenômeno, em que figuras políticas são eliminadas com violência?

Na época da ditadura, a violência foi praticada pelo estado. Algumas pessoas falam como se fosse algo de coronéis malucos, mas o estado que ordenava as execuções. O próprio filme confirma isso. No caso da Marielle, também temos um crime praticado pelo estado. Que sistema é esse que mandou matar Marielle? A política não pode ser feita com silenciamento de pessoas na base da bala. Temos que fazer política mesmo, de forma institucional, com debates e militância. Isso não é só no sentido político, mas também de comportamento. Não podemos voltar à barbárie, à censura, ao desaparecimento. O filme vem dar uma sacudida nas pessoas para que elas percebam isso.

Emannuel Bento – Diário de Pernambuco

Gênero: Documentário. Diretor: Beth Formaggini. Duração: 75 minutos. Ano de Lançamento: 2017. País de Origem: Brasil

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O óbvio ululante tornou-se invisível

O vulgarismo jurídico afeta profundamente a qualidade técnica do direito, nega o óbvio. A negação da ciência jurídica, a criação de categorias abstratas desvinculadas da realidade, as elocubrações e a dissolução do direito são elementos para a presença desse vulgarismo.

No mesmo passo, constata-se que as novas gerações têm perda da capacidade de concentração e da capacidade de abstração pelo audiovisual, nesse passo, professores alemães denunciam a impossibilidade de atingir patamares de algumas décadas atrás.

As fake news podemos chamar fake law quando se trata de direito, já são uma realidade, ocupam espaço nos tribunais e na doutrina como uma alternativa às teorias acadêmicas e à realidade.

A ciência está nas cordas. Em 2018, notícias falsas chegaram às revistas científicas, que aceitaram publicar artigos falsos sobre estudos de queixas:  ̶  tudo invenção.

Causando a intoxicação do conhecimento, fatos alternativos ou falsos são uma estratégia muito bem definida para determinadas finalidades políticas.

As notícias falsas são pretensamente alternativas, contra hegemônicas, fazem pequenas distorções de fatos, desprezam o método científico, utilizam-se de alguma terminologia científica para apoiar suas histórias e, em geral, negam a realidade. A anticiência se tornou moda no Ocidente e tem profundos reflexos no Direito.

Opiniões de autoridades governamentais, ministros e gente com panca de intelectual, apoiam o autoritarismo, flertam com a ditadura, negam a ciência e fatos históricos, subvertem ideias elementares do direito e da Constituição.

Esse movimento invade tribunais e corporações e exige espaço por meio entrevistas na mídia e visibilidade acadêmica, busca ser uma alternativa à ciência jurídica.

O vulgarismo jurídico pede passagem e conquista espaços. Chegamos ao ponto de negar o óbvio ululante. Nada mais invisível do que o óbvio ululante, apesar da repetição deslavada, a frase, tem, sempre, um ar de novidade total.

Fontes: www.direitoparaquemprecisa.com.br

Publicado em Claudio Henrique de Castro | Deixar um comentário
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