René Ariel Dotti por inteiro – final

Não eram cinco da manhã quando tocou o telefone na minha casa. Era o professor: “Paulo, estou passando aí em 10 minutos. Vamos para a Secretaria”. Eu ainda disse, mas professor, eu tenho que tomar banho, fazer a barba, me vestir. Ele respondeu: “Sem problemas, estaciono o carro na frente do prédio e fico esperando. Não demore”. Desci e fomos para a Secretaria. No caminho ele disse que havia ficado a madrugada inteira redigindo um anteprojeto de Lei, criaria o Passaporte Cultural para os circos. Era um calhamaço.

Em linhas gerais, acabava com a Taxa de Polícia e a cobrança do alvará; obrigava as escolas das cidades onde os circos se instalassem a aceitar as crianças na série em que estivessem – era melhor que estudassem um mês numa cidade e depois em outras do que ficassem fora da escola; criava um programa de financiamento aos circos para reforma das lonas, das arquibancadas, dos carros, dos trailers; reabria no Teatro Guaíra o Setor de Circo que contrataria professores para aperfeiçoamento dos circenses que quisessem mandar os filhos; e obrigava, duas vezes por ano, que ao menos um representante de cada circo fosse à Secretaria para mostrar o carimbo dos delegados de polícia no passaporte e os atestados de frequência das escolas, sob pena de não poderem mais obter o financiamento. Para o Setor de Circo no Guaíra nomearia o Laerte Ortega: “Esse é do ramo!”.

O anteprojeto tinha duas inconstitucionalidades: uma lei estadual não poderia legislar sobre as escolas municipais e sobre a dispensa do pagamento de alvarás por órgãos que não fossem do Estado. O professor René deu de ombros: “Quem se sentir prejudicado que ajuíze uma ação de inconstitucionalidade”. A lei, depois de alguns percalços pelo caminho, foi aprovada. Faltava o dinheiro para o financiamento dos circos. Na verdade, o professor sabia que era investimento a fundo perdido, os circos não gerariam renda para pagar o mesmo. Tanto que colocou um artigo dizendo que o financiamento poderia se tornar doação se todos os filhos de cada família circense frequentassem a escola. A Dilma foi acionada mais uma vez e achou uma verba. O professor René achou que era pouco e me disse: “Veja lá nos seus contatos no INACEN – Instituto Nacional de Artes Cênicas”.

O INACEN foi o sucessor do SNT – Serviço Nacional de Teatro, criado no Estado Novo por Getúlio Vargas e pelo ministro da Educação Gustavo Capanema. Era extremamente criticado pela inoperância. Em 1964, assim que tomou o poder, Castello Branco nomeou como presidente Orlando Miranda, empresário teatral no Rio de Janeiro. Assumidamente de direita, e extremamente liberal na economia, como se qualificava, Orlando foi uma bela surpresa. Fez uma gestão magnífica e passou a ser admirado por toda a classe teatral. Os outros generais se sucederam na presidência e nenhum deles tirava Orlando Miranda do cargo, ele segurava a classe teatral e era, assim, um problema a menos. Já velho e cansado, no final do governo do general Figueiredo, pediu demissão e indicou para a presidência um dos seus assessores, Carlos Miranda (nenhum parentesco, o mesmo sobrenome era mera coincidência). Carlos continuou no ritmo do antecessor, recebia os mesmos elogios e foi mantido no cargo por José Sarney. Conheci bem Carlos Miranda, era uma grande figura humana e um gestor público extremamente competente. Quando o professor René falou para que eu checasse com eles a possibilidade de verba para os circos, liguei para o Sylvio Zilber, braço direito do Carlos Miranda. Expliquei a situação e o Zilber, de quem eu já era amigo, disse: “Paulo, traga o doutor René ao Rio. O Carlos Miranda me contou, um dia desses, que despachando com o ministro Celso Furtado (cujo centenário de nascimento se comemorou em 2020) ele comentou que o melhor secretário estadual de cultura de todo o Brasil é o René Dotti. Numa conversa frente a frente, garanto que vocês arrancam a verba”.

Fomos ao Rio, o Miranda nos recebeu e o professor René entregou uma cópia da lei. Carlos Miranda ficou impressionado e perguntou se poderia mandar a mesma para todos os Estados. O professor disse que sim, era claro. Indagou quanto precisávamos. O professor René lhe estendeu um ofício. Carlos Miranda leu e disse: “Doutor René, estamos para lançar, aqui no Rio de Janeiro, a Escola Nacional do Circo. Vou reservar 5 bolsas de estudos, com tudo pago, para os filhos de circenses do Paraná. Quanto ao valor que o senhor está pedindo vou despachar semana que vem com o ministro Celso Furtado uma suplementação orçamentária. Me dê dez dias!”. Uma semana depois, o Zilber me ligou: “Paulo, preciso que vocês mudem o valor solicitado no ofício”. Eu perguntei se tinham conseguido menos. Zilber disparou: “Não, vamos remeter três vezes mais do que vocês pediram. A lei do professor René é uma maravilha. Todo o Ministério da Cultura ficou impressionado e o ministro Furtado disse que não poderíamos deixar faltar recurso para os circos do Paraná”. Assim que ficou sabendo, o professor René abriu um sorriso e disse que às vezes a gente conseguia fazer um gol bonito de se ver.

Depois que saí da Secretaria da Cultura, encontrava o professor e conversávamos geralmente no Fórum ou no Tribunal. Quando voltei à Faculdade de Direito, para fazer o mestrado e o doutorado, cruzava com ele várias vezes. Ele sempre dizia: “Temos que sentar um dia e relembrar aqueles tempos”.

O dia chegaria. Há três eleições atrás da OAB-PR, lá no Parque Barigui, no local que chamam agora de Pavilhão da Cura e que o Rogério Distéfano no seu blog apelidou de “Pavilhão da Chanchada”, eu havia acabado de votar e me dirigia para a saída. De repente, sou tocado no ombro por trás. Virei e vi o professor René com um largo sorriso no rosto. “Paulo, você tem prazo vencendo hoje?” Respondi que não tinha. “Eu também não tenho, estou vindo da cafeteria que fica lá trás do pavilhão, mas não tinha ninguém lá e eu resolvei procurar alguém para conversar. Quando vi você, relembrei que temos um colóquio em aberto há décadas. Vamos lá?”.  Fomos.

Pelo jeito, todos os advogados tinham prazos para cumprir naquele dia. A cafeteria estava vazia de clientes. Duas atendentes se olhavam quando entramos. Sentamos numa mesa e pedimos dois expressos puros e duas águas sem gás. Servidos, começamos a relembrar várias das histórias que contei acima. Depois de vários cafés e águas, perguntei-lhe qual fora o momento mais difícil. Ele respondeu que o Teatro da Classe. Seu maior prazer foi ter criado o Nicolau. Duas horas depois, nos despedimos e de vez em quando nos encontrávamos rapidamente. Ele sempre tinha um sorriso no rosto.

Caso o título do livro do Fassbinder esteja certo, agora o professor René, finalmente, vai poder acordar depois da cinco da manhã.         

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Turma do futuro não vai acreditar no que ocorre hoje

Então, ele se teletransportou automaticamente para a sala de leitura daquele ano e começou a consultar os periódicos brasileiros. Leu, releu e não acreditou. Leu de novo. 300.000 mil mortos? Não era possível. Em 75 dias o número de óbitos pulou de 200.000 para 300.000? Absurdo. Não tinham vacinas? Não era cabível. O Ministro da Saúde durante bom tempo não era médico? Não era admissível. Receitavam remédio inadequado? Que tristeza

Meu tataraneto acordou no dia 25 de março de 2121 e, como de costume, antes de engolir a pílula de café da manhã, cheia de vitaminas e alimentos concentrados, quis dar uma pesquisada em seu arquivo digital. E quis a coincidência das coincidências que ele, depois de girar o pião das datas, fosse parar exatamente 100 anos atrás. E o que é mais incrível: caiu justo na data de 25 de março.

25 de março de 2021 – o ano do agravamento da pandemia.

Então, ele se teletransportou automaticamente para a sala de leitura daquele ano e começou a consultar os periódicos brasileiros.

Leu, releu e não acreditou.

Leu de novo.

300.000 mil mortos?

Não era possível.

Em 75 dias o número de óbitos pulou de 200.000 para 300.000?

Absurdo.

Não tinham vacinas?

Não era cabível.

O Ministro da Saúde durante bom tempo não era médico?

Não era admissível.

Receitavam remédio inadequado?

Que tristeza.

Foi então que meu tataraneto tentou uma ligação metamediúnica para mim, que já tinha partido do planeta Terra havia uns bons anos.

O sininho do aparelho interanímico soou e eu, que ainda estava dormindo, despertei meio assustado.

“O que foi, Salinzinho III ?”, perguntei.

E ele disse:

“Pô (sim, eles ainda falavam pô!), meu tataravô, isso que está postado aqui no arquivo acontecia mesmo no Brasil do seu tempo?”

E eu fui obrigado a confirmar.

Ele achou que era página de humor negro.

“Verdade também que um navio encalhou no Canal de Suez?”

E eu respondi que sim.

E, como ele sabia que eu tinha sido jornalista e trabalhado muito em reportagens esportivas, mudou de assunto.

“Verdade que, mesmo com todas as mortes no mundo, o Japão estava garantindo a realização da Olimpíada de Tóquio?”

“Sim, meu tataraneto, o desvario se espalhou pelo mundo todo.”

“A tocha olímpica chegou a Fukushima?”

“Sim, os jornais noticiam isso!”

E ele insistiu:

“E é verdade que o Palmeiras (meu tataraneto no sonho era palmeirense) empatou com o São Bento, jogando em Volta Redonda?”

Aí resolvi desligar o aparelho mediúnico.

Já era demais, né?

Campeonato Paulista no campo do Voltaço…

Aí voltei a dormir. Se nós, que estamos vivendo este momento, não entendemos mais nada, como vamos explicar essa loucura aos que virão no futuro?

Roberto Salim

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René Ariel Dotti por inteiro – parte VIII

Em outra ocasião, o professor Lorusso perguntou se o René estava na sala dele, precisava despachar um assunto difícil. Respondi que, se o assunto era difícil, era melhor dar um tempo, voltar no outro dia, o professor René estava furioso naquele dia. Danilo me fuzilou com os olhos e disse: “Você nunca viu o René furioso. Depois do expediente, vá na minha sala que eu te conto sobre o René furioso”. Terminada as tarefas do dia, fui até a sala do Lorusso. Ele me disse: “Senta aí! Quer ouvir?”. Respondi que sim.

“Eu tinha escritório na Rua XV e o René na Marechal Deodoro. Num janeiro muito quente, sai do escritório no final da tarde e me deu uma vontade de tomar um chope. Minha esposa e meu filho estavam na praia. Lembrei do René, sabia que a Dona Rosarita e as duas meninas pequenas estavam de férias no interior do Rio Grande do Sul. Desci a galeria Minerva e fui no escritório do René. Ele estava saindo do prédio e eu o convidei para o chope. Ele respondeu que era uma grande ideia e fomos a um bar no Alto da XV. Sentamos, pedimos dois chopes e uma carne de onça. Já tínhamos terminado os chopes quando chegou a carne de onça. Pedimos mais uma rodada. Ainda não tinham trazido as tulipas quando entrou no bar um cidadão negro. Quando o cidadão ia sentar, o dono do bar saiu de trás do balcão, foi em direção a ele, e disse que naquele estabelecimento não serviam negros. O René ficou possesso, levantou da mesa, pegou a cadeira e saiu arrastando toalhas, pratos, tulipas e guardanapos. Tudo se espatifou no chão. Só tive tempo de sair atrás do René e impedir que ele quebrasse a cadeira na cara do dono do bar. O René se acalmou um pouco e gritou que naquele bar nunca mais pisava. Disse que ia beber em outro. Dirigiu-se ao cidadão negro e falou: “O senhor é meu convidado”. Fomos os três para outro bar ali perto. Repetimos o pedido, desta vez com três chopes. O cidadão ficou muito agradecido e emocionado. Anos depois, o negro procurou o René no escritório. Estava separado há vários anos e queria fazer o divórcio para poder casar de novo. O René aceitou a causa. O cidadão perguntou sobre os honorários e o René respondeu que, ao final do processo, falariam sobre isso. Terminado o divórcio, o cidadão procurou René para pagar os honorários. O René respondeu: “Meu senhor, vamos chamar o professor Danilo Lorusso e tomar uns chopes e comer uma carne de onça. O senhor paga a conta que será exatamente o valor dos honorários”.

Às vezes, o professor René trocava os nomes das pessoas. Constantino Viaro virava Guido (nome do pai dele). Reinaldo, invariavelmente, era Ronaldo. O Sale, de vez em quando, era transformado em Samuel. Um dia, na frente do Aramis Millarch, me chamou de Paulo César. Millarch nunca mais deixou de falar Paulo César. Houve uma época em que o professor René estava negociando a vinda a Curitiba da exposição do Leonardo da Vinci (que merece uma história à parte). Aramis farejou e me ligou. Expliquei que as coisas estavam indo a contento e era bem provável que a exposição viesse. No outro dia, saiu na coluna dele: “Paulo César Motta, assessor especial do secretário René Dotti, garantiu que a exposição de Leonardo da Vinci vem para Curitiba no segundo semestre”.

Num belo abril, o Requião, que havia revitalizado a Praça Tiradentes, resolveu entregar a obra no dia da comemoração do Mártir da Independência. Convidou o professor René para fazer o discurso de exaltação ao herói. No dia 21, fomos o professor, Reinaldo e eu, caminhando até a praça. Com muitos transeuntes vendo os carros oficiais chegando, começou a juntar gente na frente do palanque das autoridades. O professor, antes do discurso, começou a saudar as autoridades presentes. Excelentíssimo Senhor Governador Álvaro Dias, Excelentíssimo Senhor Prefeito Rubens Requião (professor Rubens era o titular de direito comercial da Faculdade de Direito e colega de docência do professor René). O pessoal começou a rir e o René nem percebeu. Terminada a oração, deram a palavra ao Roberto Requião. Ele não se fez de rogado. Depois de saudar o governador lascou: Excelentíssimo Senhor Secretário de Estado da Cultura, professor Alcides Munhoz Neto (que era o outro titular de direito penal da Faculdade). O professor René encarou o Reinaldo e a mim e disse: “Ele me chamou de Alcides?” Nós respondemos: “Sim, o senhor o chamou de Rubens Requião”. O René começou a rir e depois foi abraçar o Roberto, desculpando-se.

O humanismo radical do professor não era só teórico e objeto de discursos e orações. Era vivido intensamente. Certa feita, recebeu em audiência a diretoria do Sindicato dos Artistas formada pelo Aluizio Cherubin, Lucina Cherubin e Yara Sarmento. Narraram a situação dramática dos circos do Estado. Diziam que viviam na mais absoluta miséria e que não aguentavam pagar as altas taxas que a Polícia Civil e as Prefeituras lhes cobravam para a concessão dos alvarás para se instalarem nas cidades. Que as crianças não frequentavam a escola e que eram completamente desassistidos pelo Poder Público. O professor ficou impressionado, desconhecia essa realidade. Chamou o Sale Wolokita e deu a ordem: “Sale, pegue um dos seus perdigueiros, preferencialmente não funcionário da Secretaria, para não dar na vista, e mande ele achar um circo que esteja aqui por perto e verifique a situação”.

Sale não poderia escolher pessoa melhor: Laerte Ortega, natural do norte do Paraná, radicado há muitos anos em Curitiba, diretor de teatro. Suas peças tinham forte influência circense e eram apresentadas, quase sempre nas ruas. Seu grande sucesso era o “Grande Circo Padú”, com várias montagens e muitos elencos através dos anos. Laerte localizou um circo na periferia de Bocaiúva do Sul, pediu um carro da Secretaria, sem motorista, e se mandou pela manhã cedo. Voltou no final da tarde, levou horas para achar o circo. Na noite anterior, havia caído uma tempestade em Bocaiúva e o circo, com a lona toda rasgada e remendada não segurando a água, havia virado um lamaçal. Com a chuva não houve bilheteria e o dono do circo, sua esposa os sete filhos, um cachorro e um gato (todo o elenco da companhia circense) não tinham o que comer. A mãe foi pedir fiado na venda e o dono, apenado, lhe deu um saco de arroz e um pacote da farinha. Laerte chegou na hora do almoço. A mulher cozinhava o arroz numa lata em cima do fogareiro. Pegou água numa bica e jogou na farinha que estava em outra lata. A papa foi atirada em cima do arroz. Laerte, que conhecia a linguagem circense, começou uma conversa. O pai era o mestre de cerimônias, a mãe fazia uns números de saltos ornamentais. A filha mais velha era trapezista, fazia um número perigosíssimo, era içada ao trapézio pelos cabelos, um erro e morreria escalpelada. Os outros eram palhaços, malabaristas e etc. Laerte estranhou que os cinco primeiros filhos tinham de 10 a 17 anos. Os dois mais moços, um menino e uma menina, tinham, respectivamente, dois anos e seis meses. Mas não falou nada. O menino de dois anos estava nu. A única roupa que possuía estava no varal secando do temporal. A menina de seis meses, vestida com trapos, não saia do colo da “irmã” mais velha. Lá pelas tantas a menina começou a chorar de fome. A “irmã” mais velha saiu e foi para dentro do trailer onde todos se amontoavam para dormir. Laerte não aguentou e saiu atrás.

Pela janela, viu a “irmã” mais velha tirar o seio para fora do vestido e dar de mamar a bebê. Chamou o dono do circo num canto e lhe deu uma prensa. O cara confessou: os dois filhos mais moços eram dele com a filha mais velha. Era pai e avô ao mesmo tempo. A menina de 17 anos era irmã e mãe dos mais novos. Tudo isso foi narrado ao professor René que, ao final do relato, colocou as mãos no rosto e ficou um tempo bastante longo naquela posição. Depois, colocou as mãos na mesa e disse: “Vou começar a resolver isso ainda hoje”. Agradeceu ao Laerte, disse que voltariam a falar, e foi para casa.

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Sessão da meia-noite no Bacacheri

My Salinger Year é um filme de 2020 escrito e dirigido por Philippe Falardeau, baseado nas memórias de mesmo nome de Joanna Rakoff. Estrelado por Margaret Qualley, Sigourney Weaver, Douglas Booth, Seána Kerslake, Colm Feore e Brían F. O’Byrne.

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Movimento Amigos de Darcy Ribeiro

A FUNDAÇÃO DARCY RIBEIRO convida todos que se identificam com seus ideais a formar o Movimento Amigos de Darcy Ribeiro. Faça parte desse Movimento!

“Vivi sempre pregando e lutando pelas causas que me comovem: a salvação dos índios, a escolarização das crianças, a reforma agrária, o socialismo em liberdade, a universidade necessária. Somei mais fracassos que vitórias. Horrível seria ter ficado ao lado dos que nos venceram nessas batalhas. ” (Carta aos moços, 1994)

Há 24 anos Darcy Ribeiro criou a Fundação que leva seu nome, para seguir com essas lutas, que sabia, continuariam atuais para muito além do seu tempo de vida. Essas lutas são os nossos objetivos.

O trágico ano de 2020 escancarou nossas desigualdades e, para nossa tristeza, mostrou o quanto de ódio, intolerância e incompreensão ainda persiste em nossa sociedade.

Fonte: Benfeitoria

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Geração 1968 de volta: Idosos vacinados planejam ir às ruas contra Bolsonaro

Um dos entusiastas da manifestação é o jornalista José Trajano, de 74 anos. “Os jovens terão que ficar em casa e torcer pelos avós”

Cresce nas redes sociais a possibilidade da geração de 1968 voltar às ruas antes dos jovens para uma grande manifestação contra o governo de Jair Bolsonaro (sem partido). Tudo isto, é claro, após receber a segunda dose da vacina.

Um dos entusiastas da manifestação é o jornalista José Trajano, de 74 anos. “Os jovens terão que ficar em casa e torcer pelos avós”, afirmou ele ao repórter Eduardo Morgado, do Último Segundo.

O jornalista já tomou a primeira dose e tomará a segunda no dia 9 de abril. Ele se colocou à disposição para ir às ruas “tirar o genocida” da presidência.

“Agora, é bom esperar para ter mais gente. Com 90, 80 anos é mais difícil ir. Se esperarmos até junho, mais pessoas terão tomado a segunda dose. E é preciso esperar mais duas semanas para se considerar imunizado. Não é tomar a segunda dose e sair ‘ pererecando’ por ai. Mas gostei da ideia. Já que o jovem não pode sair, vamos sair nós velhos “, disse Trajano.

Trajano classificou o ato como “pontapé inicial ” de uma inversão histórica. “Não vamos ficar atrás dos jovens pela primeira vez, os jovens que torcerão por nós.”

“Esse último panelaço que houve, foi o melhor dos últimos tempos. Pessoal bateu panela com mais força. Estavam desgastados. Foi bem expressivo. Mostra que as pessoas estão querendo protestar. Mas se esperar um pouco mais teríamos mais gente participando. Nunca pensamos que [essas manifestações] pudessem acontecer. Acho que depois elas cresceriam. Se sair em junho ou julho, em setembro teriam mais pessoas, depois em outubro e para o final do ano iria se multiplicando “, finalizou.

A economista Laura Carvalho foi outra que relatou no Twitter que sua mãe está “combinando com os amigos da geração de 1968 uma manifestação depois da segunda dose”. Veja abaixo:

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Proteção à saúde de crianças e adolescentes

A propaganda de produtos e serviços para crianças e adolescentes encontra poucos limites no Brasil e quase nenhuma regulação. Recentemente, o Supremo Tribunal Federal julgou legal uma lei estadual da Bahia que visa proteger a saúde de crianças e adolescentes (ADI 5631).

A lei proíbe a publicidade, dirigida a crianças, de alimentos e bebidas pobres em nutrientes e com alto teor de açúcar, gorduras saturadas ou sódio e foi julgada constitucional.

Segundo o relator, a Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2010, adotou uma série de recomendações, baseadas em evidências científicas, dirigidas aos Estados, para que regulem a publicidade de bebidas não alcoólicas e de alimentos ricos em gorduras e açúcares.

A OMS recomenda que os locais onde as crianças se reúnem devem ser livres de todas as formas de publicidade de alimentos ricos em gorduras saturadas, gorduras trans, açúcares ou sódio. Entre esses locais estão escolas e suas imediações, clínicas e serviços pediátricos, eventos esportivos e atividades culturais.

A restrição imposta pela lei baiana promove a proteção da saúde de crianças e adolescentes, dever que a própria Constituição.

É possível aplicar restrições à liberdade de expressão comercial, especialmente no ambiente escolar, pois o direito dos fabricantes de veicular informações sobre seus produtos, inclusive dirigidas às crianças, não é absoluto, de modo a inviabilizar restrições à publicidade, desde que impostas de forma proporcional.

Ainda sem uma lei nacional, a publicidade voltada a crianças e adolescentes é useira e vezeira em incentivar o consumo de alimentos, bebidas e produtos com alto teor de açúcar, gorduras saturadas ou sódio, dentre outros produtos e serviços inadequados e sem a devida informação.

Fonte: www.direitoparaquemprecisa.com.br

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René Ariel Dotti por inteiro – parte VII

Certa feita, o professor René foi procurado pelos professores Oldemar Blasi e Maury Rodrigues da Cruz. O primeiro por décadas diretor do Museu Paranaense, o segundo seu sucessor no cargo. Um famoso botânico e arqueólogo alemão, há décadas radicado no Paraná, havia falecido e não tinha herdeiros. Nas suas andanças pelo Estado, havia recolhido um extraordinário acervo de obras de arte indígena e milhares de plantas, a maioria das quais já desaparecidas da flora do Paraná.

O acervo iria ficar abandonado. Era herança jacente, quando a pessoa morre e não tem herdeiros, os bens são herdados pelo Estado. Era necessário abrir o inventário imediatamente e salvar o precioso acervo para as futuras gerações. O professor René procurou a PGE de novo. Na ocasião, o procurador indicado foi o Jefferson Scheer, que abriu o inventário. Como inventariante, foi nomeado o professor Blasi. O juiz, excelente profissional, resolveu visitar o acervo e simplesmente se apaixonou pelo mesmo. Por mais que o Jefferson fosse falar com ele, peticionasse, pressionasse, o magistrado não encerrava o inventário. Toda sexta-feira pela manhã ia até a residência do falecido alemão e ficava horas admirando as peças artesanais e a riquíssima flora. Depois, passou a limpar as peças, regar as plantas e adubar os vasos. Um dia, o Jefferson me ligou desesperado: “Paulo, estão me deixando louco, eles se revezam, o professor René me liga de manhã cedo, o professor Blasi na hora do almoço e o professor Maury no meio da tarde. Eu não sei mais o que fazer. O juiz não encerra o inventário”. Eu respondi: “Jefferson, diga para eles ligarem para o juiz, você já fez tudo o que podia ser feito”. Parece que deu certo, o Jefferson nunca mais se queixou. O juiz nem aí com os telefonemas.

Ocorre que o professor René estava preocupado. O tempo passava e as peças e as plantas corriam risco. Num janeiro de recesso forense, o advogado falou mais alto e o René ligou para o doutor Wagner Pacheco. Disse que o juiz estava de férias e poderíamos terminar finalmente o inventário com o juiz substituto. O Wagner respondeu que o Jefferson estava de férias, a PGE estava com poucos procuradores e muito trabalho. “Vou mandar uma delegação de poderes e o Paulo peticiona para encerrar o inventário” – argumentou. Fiz o pedido, fomos, professor e eu, falar com o substituto e ele sentenciou, terminando o inventário e dando a propriedade e a posse dos bens ao Estado do Paraná. O acervo arqueológico foi para o Museu Paranaense. A flora foi doada ao Município. Esqueci de avisar o Jefferson da petição que havia elaborado e protocolado. Ele ficou sabendo da sentença pelo Diário da Justiça e foi verificar o processo. Descobriu a minha petição e ficou magoado pela falta de aviso. Mas passou, ficamos amigos e ele, lamentavelmente, no auge da sua capacidade laborativa, morreu precocemente por complicações pós-operatórias de uma cirurgia bariátrica.

Já falei nesse espaço que a maioria das amizades do René eram de 40 anos. Uma das amizades mais sólidas era com os irmãos Lorusso: Moacyr e Danilo. O primeiro era advogado e o segundo professor de ciências atuariais. Moacyr foi meu colega na PGE e o Danilo foi o diretor-geral da Secretaria na gestão do René Dotti. Eram dois sujeitos extraordinários.

Danilo, como disse acima, era visceralmente anticomunista, mas se encantou com a Dilma Pereira, militante do PCB. Dilma veio da Secretaria do Planejamento. Quando o professor René precisava de uma verba para um projeto, acionava a Dilma e ela ficava horas revirando o orçamento da Secretaria. Sempre achava uma saída e o Danilo passou a admirar a Dilma com muita intensidade. Era só elogios. Quando ele assumiu a direção-geral, notou que a Secretaria da Cultura, por ser uma das mais novas, não tinha contínuos em seus quadros, e muitas vezes servidores mais qualificados eram designados para tarefas simples, mas que dispendiam muito tempo. Lembrou-se de que, quando diretor da Faculdade De Plácido e Silva, contratou os serviços da Guarda Mirim e propôs que a Secretaria fizesse o mesmo. O professor René autorizou, Danilo chamou a Dilma, ela achou um espaço no orçamento e foram contratados 20 guardas-mirins. Dez, que estudavam à tarde, trabalhavam pela manhã; outros 10, que estudavam de manhã, trabalhavam à tarde. Cada um deles recebia meio salário mínimo e a Guarda Mirim cobrava uma taxa de administração de 10%.

Pelo convênio firmado a Secretaria, tinha que servir um lanche aos meninos e meninas às 10 da manhã e às 4 da tarde. O professor Danilo foi conferir e constatou, com grande tristeza, que os guardas mirins devoravam o pão com margarina e o copo de café com leite. Começou a conversar com eles e descobriu que muitos vinham trabalhar sem tomar o café da manhã. Nos da tarde a situação era mais dramática, vários vinham à Secretaria sem almoçar. Convocou a Dilma e deu um ultimato: “Você, que é defensora do proletariado, dê um jeito, pelo amor de Deus, de alimentar melhor os meninos e as meninas”. Dilma se virou, mexeu daqui, mexeu dali, e encontrou uma verba para adquirir 30 tíquetes de vale-refeição para cada um todo mês. No primeiro mês, o professor Lorusso fez a distribuição. Bem naquele dia trazia no bolso uma lista de compras encomendada pela esposa. No final do expediente, foi ao Mercadorama da Praça Tiradentes e viu que os meninos e meninas estavam gastando os tíquetes comprando balas, chocolates e até cigarros. Resolveu acabar com a fuzarca. No outro dia, mandou avisar aos guardas mirins que os tíquetes seriam entregues aos pais, eles deveriam comparecer na sala dele no dia 1º de cada mês. Os meninos e meninas, quase todos, não tinham pai, ou não sabiam quem eram ou os mesmos haviam desaparecido antes ou logo depois do nascimento. As mães trabalhavam e não poderiam deixar o serviço. Danilo não se deu por vencido. Disse que não tinha problema. No dia 1º de cada mês, não iria almoçar para esperar as mães. Se elas não pudessem ir na hora do almoço, não haveria empecilho, ficaria na Secretaria depois do expediente até a última mãe aparecer. Dito e feito.

Para o gabinete, no horário da manhã, foi designado um menino de 13 anos, alto, gordinho, mulato claro, cabelo muito crespo e com o rosto cheio. Levou, maldosamente, o apelido de Bochecha. A mãe do Bochecha era faxineira no colégio Sion e conseguiu com as freirinhas uma bolsa de estudos para o filho. De modo que o Bochecha falava e lia um pouco em francês. Um dia, o professor René me disse: “O diretor da Aliança Francesa vai ligar pedindo uma audiência, encontrei com ele ontem e pedi que ele telefonasse para você. Marque no período em que o Bochecha esteja trabalhando”.

Marcada a audiência, o diretor da Aliança entrou na sala do secretário e foi atendido. Quando a conversa se encaminhava para o final, o professor René chamou o Bochecha e pediu que ele falasse em francês com o diretor. O sujeito ficou encantado e o professor René arrancou uma bolsa de estudos, no período noturno, para o Bochecha na Aliança Francesa.

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Poema do Aviso Final

É preciso que haja alguma coisa
alimentando o meu povo;
uma vontade
uma certeza
uma qualquer esperança.
É preciso que alguma coisa atraia
a vida
ou tudo será posto de lado
e na procura da vida
a morte virá na frente
a abrirá caminhos.
É preciso que haja algum respeito,
ao menos um esboço
ou a dignidade humana se afirmará
a machadadas.

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René Ariel Dotti por inteiro – parte VI

Concluído o memorial descritivo e localizados os demais documentos necessários, o Wilton Paese disse que ia levar tudo prá casa e que, na manhã seguinte, me ligaria. Trabalhou a noite inteira. Antes das oito da manhã, ao telefone, Paese disse que estava tudo pronto. Só precisava do dinheiro. Cheguei na Secretaria, o professor René já estava lá, aflito, e eu disse que só faltava entregar o empenho para o Paese.

O professor mandou o financeiro efetuar as providências necessárias. Surgiu um pequeno problema: o empenho tinha que ter o beneficiário do depósito, que era uma das Varas da Fazenda Pública de Curitiba, mas não sabíamos qual, eis que o processo teria que ser sorteado e distribuído. Liguei pro Paese, que já estava na Procuradoria. Ele respondeu que iria redigir uma petição, pedindo distribuição de urgência e que nos encontrássemos no Fórum. O professor, então, me disse que fosse lá e pedisse a distribuição de urgência. “Depois, me liguem. Me liguem!”

Cheguei no Fórum, encontrei o Paese e pedimos para ser recebidos pelo juiz diretor do Fórum, que era o doutor Tesserolli, depois desembargador. Foi uma conversa tranquila, e ele, excelente magistrado, entendeu tudo e despachou na hora a ordem para o distribuidor. Fomos até a distribuição, colocaram quatro bolinhas numa urna, rodaram e tiraram a bolinha com o número da Vara. Pedi para usar o telefone e liguei para o gabinete do Secretário. O professor René atendeu, eu falei qual era a Vara e ele disse que esperássemos no térreo, que o empenho está indo com a indicação do beneficiário do depósito.

Paese e eu descemos ao térreo e ainda não havíamos terminado de fumar e eu nem acreditei: o carro da Secretaria chegou e o próprio professor René desceu com o empenho na mão. Fomos direto ao balcão da Vara e perguntamos se o juiz estava. Com a resposta positiva, o professor falou ao atendente: Diga ao doutor Bortolleto, também depois desembargador, que o Dotti deseja falar com ele. Não deu um minuto e fomos recebidos. Só o professor falou. O doutor Bortolleto leu a petição, examinou os documentos e mandou chamar o Adalberto, que era o juramentado da Vara, meu amigo desde os tempos da faculdade: “Adalberto, estou despachando agora a ordem de imissão de posse para o Estado do Paraná e o despejo do proprietário. Chame o melhor oficial de Justiça e datilografe os mandados. Quero-os cumpridos ainda hoje”. O professor René ficou muito emocionado e segurou o choro. O Paese voltou para a PGE e nós para a Secretaria.

No final da tarde, o Turco apareceu na Secretaria, acompanhado pelo advogado, pedindo para falar com o Secretario. O professor ficou desconfiado e chamou os assessores que estavam envolvidos com o caso. A conversa não poderia ter sido melhor. Disse que queria fazer um estacionamento no local e como foi citado naquele dia estava ali para dizer que aceitava o valor da indenização e que não iria brigar, já estava respondendo a um inquérito policial por demolição sem alvará. Queria encerrar o processo. Voltei a falar com o Paese e, no dia seguinte, ele e o advogado do turco firmaram uma petição conjunta pedindo a extinção do processo pela aceitação do valor depositado e a ordem para o Registro de Imóveis transferir a propriedade do imóvel ao patrimônio do Estado.

Contudo, a guerra ainda não havia terminado. Não havia dinheiro para a reforma. O professor René, certamente envergonhado, não bateu na porta do Banestado. Foi no Bamerindus. Lá o diretor de marketing disse que era impossível qualquer doação. Estavam construindo um teatro no prédio sede, o Palácio Avenida, que fica no calçadão da Quinze, quase na frente da Boca Maldita. O professor, como grande advogado que era, começou a falar, mansamente, que não poderia, na “sua ignorância”, entender como um banco, do porte do Bamerindus, não poderia arcar com dois pequenos teatros ao mesmo tempo. O diretor ficou envergonhado e disse que iria encaminhar o pedido ao presidente do banco. Dias depois, ligou para o professor René perguntando em qual conta corrente poderia depositar a quantia solicitada pelo ofício do secretário.

Como expliquei acima, não era necessário fazer licitação. Mas uma coisa era contratar um topógrafo e outra, completamente diferente, era reformar um teatro. O professor disse que não bastava “a mulher de César parecer honesta, tinha de ser honesta”. Que o Departamento de Obras da Secretaria de Administração fizesse a licitação. A mesma foi feita e ganhou a construtora que apresentou o menor preço. Mas as coisas não saíram exatamente como se imaginou. Para ganhar a licitação, o dono da construtora cotou um preço baixo. Quando entrou na obra viu que não teria o lucro que imaginava, começou a fazer corpo mole, colocou dois peões para limpar a caliça e não assentou um tijolo. O professor René entrou em desespero e voltou na PGE. Desta vez, escalaram o Rogério Distéfano, que, nas horas vagas, é o responsável pelo blog O Insulto Diário. Às vezes, tem dia em que o Rogério não insulta ninguém. Em compensação, no dia seguinte, publica meia dúzia deles. Distéfano é um dos melhores advogados que conheço. Transita em todas as áreas do direito com inegável talento. Possui um extraordinário poder de síntese. Em duas laudas, explica e fundamenta o que outro advogado faz em dez ou quinze. Rogério estudou a situação e deu o veredito: “Professor, uma ação dessas demora anos, tente um acordo com a construtora. Fale com o Departamento de Obras”. O secretário, advogado com grande experiência e sentindo firmeza no parecer do Distéfano, seguiu o conselho. Foi ao Departamento e quem salvou a pátria foi o Maurício Sá de Ferrante. Chamou o dono da construtora, utilizou de alguns argumentos digamos mais incisivos e, ao final, o sujeito desistiu da obra em troca do pagamento da limpeza e da retirada da caliça. Tempos depois, o Maurício me contou que, quando comunicou o acordo ao professor René, ele começou a chorar de emoção.

Nova licitação foi feita, uma construtora competente foi contratada e o teatro foi reinaugurado. Meses depois, o Zé Maria Santos faleceu precocemente. Ulisses Iarochinski, jornalista, ator e agora romancista, ex-aluno do Zé Maria, começou uma ferrenha campanha pelas páginas do Jornal do Estado para que o teatro tivesse o nome do Zé Maria. Os produtores replicavam nos outros jornais a sua contrariedade.

A briga foi feia. O professor René, procurado pelos dois lados, não entrou na bola dividida. Afirmou que tinha sofrido um grande desgaste pessoal e emocional com a desapropriação e reforma do teatro e que, na sua opinião, as duas partes tinham lá suas razões. Meses depois, o Ulisses convenceu o deputado Algaci Túlio a apresentar um projeto de lei dando o nome do Zé Maria ao Teatro. O relator do projeto, deputado cujo nome lamentavelmente me escapa, foi salomônico, propôs que o nome fosse Teatro da Classe José Maria Santos. A lei foi aprovada.

Publicado em Paulo Roberto Ferreira Motta | Deixar um comentário
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