Bolsonaro exige que generais o tratem como “comandante-em-chefe das Forças Armadas”

Abandonado por militares de alta patente, Bolsonaro, que foi alçado à capitão em acordo para deixar o Exército após ser preso em 1987 por “atos de indisciplina e deslealdade” com superiores, estaria insatisfeito com o tratamento da cúpula das Forças Armas.

Reportagem de Andrea Juber, na edição desta quarta-feira (31) do Valor Econômico, afirma que Jair Bolsonaro (Sem partido) vai exigir dos generais que assumirão os comandos do Exército, Marinha e Aeronáutica que seja tratado como “comandante-em-chefe das Forças Armadas”.

Alçado ao posto de capitão em acordo para deixar o Exército após ser preso por 15 dias em 1987 por “atos de indisciplina e deslealdade” com os superiores, Bolsonaro estaria ressentido por ainda ser tratado pela patente mesmo ocupando a presidência.

“Ele sentia que ainda o tratavam como capitão”, disse uma fonte militar ao Valor.

Pelas redes sociais, o ex-bolsonarista general Paulo Chagas, que está na reserva, disse conhecer Walter Braga Netto, que substituiu Fernando Azevedo e Silva no Ministério da Defesa, e ressaltou

que acredita que o militar não se prestará “ao serviço de mensageiro das intenções políticas do presidente Bolsonaro junto às FFAA”.

“Tenho fé e conhecimento de que, sejam quem forem os substitutos [dos comandantes], nada mudará”, tuitou ainda.

Candidato ao governo do Distrito Federal em 2018 com o apoio de Bolsonaro, Chagas afirmou em entrevista à revista Época que o Alto-Comando não vai embarcar na “canoa” bolsonarista.

“O Exército aprende muito com seus erros. Se meter num negócio desses é uma burrice. O Exército não pode ser burro. O Alto-Comando, que estuda e decide as atitudes da Força, não vai embarcar nessa canoa”, ressaltando que Bolsonaro “continua sendo deputado do baixo clero”. “Fica jogando coisas no ventilador sem se preocupar com o resultado”.

Manifestação política
Um e-mail disparado na segunda-feira (29) pelo Comando Militar do Planalto mostra mais uma batalha da guerra entre Bolsonaro com a cúpula das Forças Armadas.

Na mensagem, os comandantes alertam coordenadores de brigadas, regimentos e batalhões subordinados sobre a proibição legal de manifestação política por parte de militares, inclusive em redes sociais.

O alerta cita um comunicado do comandante do Exército, de agosto de 2019, que estabelece que as “normas de conduta” se estendem a mídias sociais e a manifestações e veículos de comunicação”.

O Comando Militar do Planalto é subordinado ao Comando do Exército, que na segunda-feira ainda estava sob a alçada de Edson Pujol, pivô da intriga de Bolsonaro com as Forças Armadas, que foi demitido nesta terça-feira (30).

Plinio Teodoro

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‘Hierarquia ganhou, general não obedece a capitão’ e comandantes pedem demissão

Pela primeira vez na história, os três comandantes das Forças Armadas pediram renúncia conjunta por discordar do presidente da República.

Todos reafirmaram que os militares não participarão de nenhuma aventura golpista, mas buscam uma saída de acomodação para a crise, a maior na área desde a demissão do então ministro do Exército, Sylvio Frota, em 1977 pelo presidente Ernesto Geisel.

Edson Leal Pujol (Exército), Ilques Barbosa (Marinha) e Antônio Carlos Bermudez (Aeronáutica) colocaram seus cargos à disposição do general da reserva Walter Braga Netto, novo ministro da Defesa, nesta manhã.

Braga Netto tentou dissuadi-los de seguir o seu antecessor, o também general da reserva Fernando Azevedo, demitido por Jair Bolsonaro na segunda-feira (29).

O mal-estar pelo anúncio inesperado da saída de Azevedo, que funcionava como pivô entre as alas militares no governo, o serviço ativo e o Judiciário, foi grande demais.

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Bolsonaro prepara seu ‘6 de janeiro’, diz analista americano

O presidente Jair Bolsonaro está preparando seu próprio ‘6 de janeiro’, referência à invasão do Capitólio por manifestantes trumpistas. A análise é do autor americano Brian Winter, editor-chefe da revista Americas Quarterly.

Winter lembrou as críticas de Eduardo Bolsonaro à invasão trumpista. No começo de março, o deputado disse ao Estadão: “Foi um movimento desorganizado. Foi lamentável”.

E acrescentou:“Se fosse organizado, teriam tomado o Capitólio e feito reivindicações que já estariam previamente estabelecidas pelo grupo invasor. Eles teriam um poder bélico mínimo para não morrer ninguém, matar todos os policiais lá dentro ou os congressistas que eles tanto odeiam. No dia em que a direita for 10% da esquerda, a gente vai ter guerra civil em todos os países do Ocidente”.

Eduardo esteve na Casa Branca em 5 de janeiro, um dia antes da invasão trumpista.

Dois dias depois da invasão do Capitólio, o próprio Eduardo publicou no Twitter uma foto com Jared Kushner, genro e assessor de Donald Trump, com a legenda: “Prazer ser recebido na Casa Branca, ainda que rapidamente, por Jared Kushner, responsável por tantos acordos de paz no Oriente Médio.”.

Para Winter, [o] dramático reembaralhamento do ministério do presidente Jair Bolsonaro nesta segunda-feira parece desenhado para evitar um destino similar – organizar-se agora, e evitar ser ‘ilegitimamente’ removido do cargo depois. Embora isso possa parecer para alguns papo de conspiração, é uma reação lógica a eventos recentes no Brasil, incluindo o pior surto no mundo de mortes por Covid-19, uma renovada ameaça de impeachment pelo Congresso, e a emergência inesperada do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o pesadelo ambulante da direita brasileira, como forte desafiante na eleição de 2022″.

“O outrora ‘Trump Tropical’ está determinado a evitar o que percebeu como erros de seu ídolo”, acrescenta Winter.

Para o autor, não está claro se o esforço de Bolsonaro vai funcionar ou sair pela culatra. Não se sabe se os novos comandantes das Forças Armadas serão ainda mais leais ao presidente ou o deixarão mais fraco.

O plano B de Bolsonaro é claramente ter o maior número possível de homens armados ao seu lado para o possível evento de um impeachment ou resultado adverso na eleição de 2022 (…) Uma das lições mais importantes do 6 de Janeiro nos Estados Unidos foi escutar com cuidado quando aspirantes a autocratas dizem quem eles são e o que planejam fazer. Saudades da ditadura e ódio à esquerda ‘comunista’ foram as únicas linhas consistentes da carreira política de mais de 30 anos de Bolsonaro”, escreve Winter.

E acrescenta: “Apenas nas últimas semanas, o presidente alertou sobre possível fraude nas eleições de 2022, referiu-se ao Exército como ‘meu’, empurrou decretos para permitir armas aos seus apoiadores, e disse a uma turma de cadetes militares que ‘se tudo tivesse que depender de mim’, o Brasil viveria um sistema político diferente, presumivelmente autoritário”.

O motivo para ter demorado tanto a reconhecer a vitória de Joe Biden, diz Winter, pode ter menos a ver com afinidade ideológica e mais com um olho no futuro incerto.

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Morre Contardo Calligaris, o psicanalista italiano que soube levar o Brasil ao divã

O estilo de se expressar de Contardo Calligaris, morto nesta terça (30), aos 72 anos, em decorrência de um câncer, era bastante particular. Gestual envolvente, olhar sedutor, tiradas irônicas e um sotaque que embaralhava italiano, inglês e português eram a marca de sua presença tanto num debate profissional como no hábito de que ele tanto gostava, o da tertúlia com os amigos.

A morte de Calligaris foi confirmada por seu filho, o cineasta Maximilien Calligaris, numa rede social. Segundo ele, diante da proximidade da morte, seu pai disse que esperava “estar à altura”. O psicanalista, escritor e dramaturgo se firmou nas duas últimas décadas no Brasil como um fino observador da cultura e do comportamento do país.

O diretor de Redação da Folha, Otavio Frias Filho, morto em 2018, gostava de provocar Calligaris, dizendo que, no fundo, ele devia ser um argentino que tinha inventado uma vivência por vários países só para justificar o sotaque que virou sua marca.

Calligaris, de bom humor, sempre ria dessa brincadeira. Aliás, não era pequena a admiração de Frias Filho por ele. Ambos compartilhavam um gosto semelhante no que diz respeito a cinema e teatro e um interesse por entender a sexualidade humana.

O sotaque, expliquemos logo, era resultado do fato de Calligaris ser italiano, porém de ter sido alfabetizado em inglês. Vinha de uma família que havia lutado contra o fascismo de Mussolini e este era justamente o idioma da resistência, como conta Calligaris em “Hello, Brasil”, escrito nos anos 1990.

Na reedição desse livro, em 2017, Calligaris afirmava que já não poderia mais escrever sobre o país com o olhar de um estrangeiro, já que se sentia cada vez mais brasileiro. Ele nasceu em Milão, em 2 de junho de 1948. Escritor, psicanalista e dramaturgo, manteve uma coluna neste jornal desde 1999, às quintas-feiras, dedicadas a temas da psicanálise, filmes, peças e livros.

“Nascido em Milão, cidadão do mundo e tradutor do Brasil, Contardo Calligaris elevou o patamar do colunismo de cultura no Brasil. Foi testemunha ocular das principais mudanças de comportamento dos últimos 50 anos. Deixará uma lacuna gigante”, afirmou Sérgio Dávila, diretor de Redação da Folha.

Com o tempo, certa rigidez das abordagens iniciais se reduziu. Os temas deixaram de ser mais acadêmicos ou mais relacionados a seu consultório. Calligaris passou a se sentir mais à vontade —talvez mais brasileiro— para tratar de acontecimentos de sua vida cotidiana em São Paulo, virando um cronista da cidade, com um olhar ácido e divertido, transformando acontecimentos prosaicos em peças sobre o comportamento humano.

Como numa das colunas, em que ele contou estar dirigindo numa madrugada na avenida Sapopemba, na zona leste, e, ao ver um cão prestes a tentar atravessar a via, e assim se arriscar à morte, desceu do carro e, para o seduzir a ficar onde estava, comprou para ele um faustoso churrasco numa barraquinha e o tranquilizou.

Sua relação com a capital paulista teve início em 1986, depois de lançar seu livro “Hipótese sobre o Fantasma na Cura Psicanalítica””. Calligaris veio ao Brasil para fazer palestras, e recebeu a proposta de um grupo de psicanalistas para que passasse 15 dias a cada dois meses em São Paulo, para serem analisados por ele. Aceitou.

Depois de várias viagens, acabou se instalando num apartamento nos Jardins. E passou a ter o hábito de jantar quase todos os dias no restaurante Tatini, na rua Batataes. Quando ia sozinho, levava um livro ou anotações. Mas também era ali que gostava de levar amigos para papear até altas horas.

Calligaris gostava muito de escrever e ler em cafés —hábito mais europeu do que paulistano— e sentia falta de locais para fazer isso em São Paulo. Mesmo assim, o cultivava, e várias vezes se pegou fazendo anotações na calçada mesmo. Por isso, era normal o ver sempre com uma ou duas canetas no bolso.

Ler e escrever em aviões também eram parte de seu hábito. E, como viajava muito, chegava a ler dois livros por voo entre São Paulo e Nova York, contando o tempo que passava no que chamava de “limbo”, os aeroportos e salões de embarque.

Calligaris teve uma formação católica, filho de um cardiologista e de uma tenista. Na sua adolescência, na Itália, conta que havia vivido “paixões ideais contraditórias”. Eram os anos 1960, e ele contava ter sido logo influenciado pela obra do jornalista liberal e antifascista Piero Gobetti. Depois disso, leu Antonio Gramsci e passou a se considerar um socialista. Por outro lado, ia se apaixonando também pela contracultura americana.

Tinha uma relação complicada com sua origem italiana, que não negava mas com a qual mantinha certa distância —achava que a imagem de seu país no exterior estava demasiado ligada ao fascismo ou à estridência de sua cultura popular.

Trabalhou, ainda na juventude, num jornal mensal de cultura, o “Utopia”. Depois de passar uma temporada no Reino Unido, foi estudar em Genebra e em Paris. Na Suíça, foi aluno do historiador Jean Starobinski e do crítico literário George Steiner. Na França, ele se aprofundou no estudo da psicanálise, estudando com Jacques Lacan e Michel Foucault. Sua tese em semiologia foi orientada por Roland Barthes.

Contava que se sentia “um peixe fora d’água”, na França dos anos 1970, por ter uma formação psicanalítica lacaniana, estudando na escola freudiana de Paris, mas, ao mesmo tempo, interessado na obra de culturalistas americanos como Karen Horney e Erich Fromm.

Seu ímpeto contraditório fez com que o pai, quando Calligaris ainda era criança, dissesse ao filho que tinha dado a ele um nome errado. Que o deveria ter chamado de Contrário, e não de Contardo.

“Não que eu fosse permanentemente do contra, mas, desde pequeno, parecia que eu só sabia começar minhas frases por um ‘mas'”, ele dizia.

Nos Estados Unidos, foi professor de antropologia na Universidade da Califórnia e de e estudos culturais na New School, em Nova York. No Brasil, começou a atuar como psicanalista e, aos poucos, a construir uma personalidade pública constantemente chamada a falar em público sobre temas sobre amor, relações humanas, sexualidade e questões existenciais. Sua relação com São Paulo foi se tornando mais intensa e seu personagem, mais popular. Vieram, então, suas obras para teatro, romances e uma série para a televisão.

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Fui!

Unidade de Saúde Vila Diana – Abranches. Até a segunda dose!

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Ernesto Araújo cai

Ernesto Araújo anunciou sua saída há pouco em reunião com o secretariado no Itamaraty. A demissão foi uma exigência de Jair Bolsonaro, depois da crise aberta com o Senado no fim de semana.

O ministro das Relações Exteriores já estava com a corda no pescoço desde a semana passada, mas o presidente da República tentava negociar sua permanência ou uma saída honrosa.

A situação de Ernesto, porém, tornou-se insustentável depois que o próprio ministro usou o Twitter para insinuar que a senadora Kátia Abreu faria lobby pelo 5G da China.

A reação do Senado foi imediata, com ameaças ao Palácio do Planalto, pedido de impeachment do antichanceler e dezenas de críticas públicas, inclusive por parte de Rodrigo Pacheco, que tem buscado uma relação cordial com Bolsonaro.

Na conversa com seus secretários, Ernesto admitiu que “passou do ponto” ao criticar Kátia Abreu publicamente e disse que deixaria o cargo “para não causar maiores constrangimentos” ao governo.

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Pequeno dicionário governamental

Camisa verde-amarela: símbolo da seleção brasileira de futebol que foi utilizado pela campanha do grande líder e que perdeu seu significado esportivo original;

Centrão: grupo político que pode ser comparado com um telefone celular pré-pago, só funciona pagando antes, por meio de emendas parlamentares e tramóias, esse grupo está no Brasil desde a fase colonial, na época, defendia a escravatura de índios e negros e outros atrasos, a pauta continua a mesma, apenas está atualizada;

Certos grupos neopentecostais: determinados grupos religiosos (não todos) que possuem líderes carismáticos que tem forte inserção na política, donos de meios de comunicação, legalmente possuem isenção e imunidade tributária e apoiam o grande líder;

Congresso Nacional: instituição política constitucional amplamente dominado pelo centrão;

Grande líder: eleito com base em milhares de fake news espalhadas pelas redes sociais, pelo gabinete do ódio e outros, a cada dez palavras do grande líder, mais da metade são mentiras, distorções da realidade ou negação da ciência, teve como mentor Steve Bannon, responsável pela eleição de Donald Trump;

Ideologia do grande líder: pode mudar a qualquer momento, cada dia é um torpedo, reproduzem ideias como golpe de estado, fechamento das instituições democráticas, elogio da ditadura de 1964, a favor da tortura e outras temeridades;

Indicados para tribunais superiores: ver ministro;

Ministério da Saúde: local onde assumem personagens que reproduzem o discurso da presidência da república, com medidas anticientíficas, contra o lockdown (isolamento social) e a favor do tratamento precoce, com remédios que não resolvem rigorosamente nada, ao contrário, podem matar o paciente;

Ministra da mulher, da família e dos direitos humanos: com pautas ultraconservadores cuida de acabar com as políticas que dão nome à pasta;

Ministro das Relações Exteriores: cuida de acabar com o pouco que ainda resta na diplomacia brasileira com países estratégicos para o Brasil;

Ministro do Meio Ambiente: cuida em acabar com a biodiversidade da fauna e flora brasileira;

Ministro: pessoa que devem contar com o apoio de Olavo de Carvalho, que defendem pautas olavistas, tais como: terra plana, moralidade ultraconservadora, teorias conspiratórias malucas e, normalmente, apresentam currículos com mestrado ou doutorado, que nunca foram cursados, e devem seguir à risca as determinações do grande líder;

Presidencialismo de coalizão; termo jurídico que designa o toma-lá-dá-cá entre os poderes executivo e legislativo, ver centrão e congresso nacional;

Rede Globo, canais de televisão e jornalões: são os donos da opinião pública brasileira junto com as big techs (facebook, instagram, google, whatsaap e outras);

Suspeição judicial; ato que caracteriza a perda da parcialidade, com a orientação pelo juiz da produção das provas pela acusação, personagem que foi endeusado pela Rede Globo;

Tribunal Penal Internacional: tribunal que julga crimes contra a humanidades, é uma ameaça à governos negacionistas, tais como de Donald Trump, Bolsonaro, o presidente do Turquemenistão, e outros que fazem parte da aliança dos políticos avestruzes;

Vacina: palavra tabu no governo do grande líder, por ordem de Trump, não adquiriu em 2019 vacinas da China, da Rússia e outros países, o que atrasou em grandes proporções a vacinação do país, gerando novas cepas da pandemia e que segue discursando a favor da não obrigatoriedade do uso de máscaras, contra a vacinação, dentre outras medidas anticientíficas e catastróficas;

Venda de estatais: projeto neocolonial que visa a desindustrialização e a perda da soberania do país em setores estratégicos, financeiro, de recursos, para a tomada definitiva do poder econômico pelas corporações e a concretização da venda das principais riquezas, energia, jazidas, petróleo dentre outros.

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Por que o Congresso quer demissão de Ernesto Araújo?

Nos sistemas elétricos, o fusível é a peça desenhada para absorver o impacto de uma descarga de alta voltagem sem danificar o resto da estrutura. Quando isso acontece, o fusível queima, fica inutilizável, tem que ser trocado. Na avaliação de diplomatas e políticos ouvidos pela BBC News Brasil, desde a quarta-feira (24/3) o chanceler Ernesto Araújo se converteu nessa peça para Jair Bolsonaro.

O Brasil vive uma crise de escassez de vacinas e insumos para fabricar imunizantes contra a covid-19 ao mesmo tempo em que bate recordes de novos casos da doença e acumula mais de 300 mil mortes na pandemia.

O agravamento da pandemia no Brasil tem levado a uma deterioração da popularidade de Bolsonaro nas pesquisas de opinião e, segundo fontes consultadas pela reportagem, isso pode respingar nas chances eleitorais de aliados do governo no Congresso, que integram o chamado Centrão.

As mudanças de olho nas urnas começaram com a saída do general Eduardo Pazuello do comando do Ministério da Saúde. Ele foi o fusível ligado à recusa de sucessivas ofertas de vacinas da Pfizer, ao boicote da CoronaVac, à falta de oxigênio em Manaus e defesa do tratamento precoce. Mas a troca de Pazuello não estancou a crise com aliados, já que o ministro foi substituído por um nome ligado à família Bolsonaro, Marcelo Queiroga, e não por um indicado do Congresso.

Clique aqui para ler a matéria de Mariana Sanches na integra em “BBC”

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Playboy|1970

1974|Marilyn Lange. Miss May|Playboy Centerfold

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René Ariel Dotti por inteiro – final

Não eram cinco da manhã quando tocou o telefone na minha casa. Era o professor: “Paulo, estou passando aí em 10 minutos. Vamos para a Secretaria”. Eu ainda disse, mas professor, eu tenho que tomar banho, fazer a barba, me vestir. Ele respondeu: “Sem problemas, estaciono o carro na frente do prédio e fico esperando. Não demore”. Desci e fomos para a Secretaria. No caminho ele disse que havia ficado a madrugada inteira redigindo um anteprojeto de Lei, criaria o Passaporte Cultural para os circos. Era um calhamaço.

Em linhas gerais, acabava com a Taxa de Polícia e a cobrança do alvará; obrigava as escolas das cidades onde os circos se instalassem a aceitar as crianças na série em que estivessem – era melhor que estudassem um mês numa cidade e depois em outras do que ficassem fora da escola; criava um programa de financiamento aos circos para reforma das lonas, das arquibancadas, dos carros, dos trailers; reabria no Teatro Guaíra o Setor de Circo que contrataria professores para aperfeiçoamento dos circenses que quisessem mandar os filhos; e obrigava, duas vezes por ano, que ao menos um representante de cada circo fosse à Secretaria para mostrar o carimbo dos delegados de polícia no passaporte e os atestados de frequência das escolas, sob pena de não poderem mais obter o financiamento. Para o Setor de Circo no Guaíra nomearia o Laerte Ortega: “Esse é do ramo!”.

O anteprojeto tinha duas inconstitucionalidades: uma lei estadual não poderia legislar sobre as escolas municipais e sobre a dispensa do pagamento de alvarás por órgãos que não fossem do Estado. O professor René deu de ombros: “Quem se sentir prejudicado que ajuíze uma ação de inconstitucionalidade”. A lei, depois de alguns percalços pelo caminho, foi aprovada. Faltava o dinheiro para o financiamento dos circos. Na verdade, o professor sabia que era investimento a fundo perdido, os circos não gerariam renda para pagar o mesmo. Tanto que colocou um artigo dizendo que o financiamento poderia se tornar doação se todos os filhos de cada família circense frequentassem a escola. A Dilma foi acionada mais uma vez e achou uma verba. O professor René achou que era pouco e me disse: “Veja lá nos seus contatos no INACEN – Instituto Nacional de Artes Cênicas”.

O INACEN foi o sucessor do SNT – Serviço Nacional de Teatro, criado no Estado Novo por Getúlio Vargas e pelo ministro da Educação Gustavo Capanema. Era extremamente criticado pela inoperância. Em 1964, assim que tomou o poder, Castello Branco nomeou como presidente Orlando Miranda, empresário teatral no Rio de Janeiro. Assumidamente de direita, e extremamente liberal na economia, como se qualificava, Orlando foi uma bela surpresa. Fez uma gestão magnífica e passou a ser admirado por toda a classe teatral. Os outros generais se sucederam na presidência e nenhum deles tirava Orlando Miranda do cargo, ele segurava a classe teatral e era, assim, um problema a menos. Já velho e cansado, no final do governo do general Figueiredo, pediu demissão e indicou para a presidência um dos seus assessores, Carlos Miranda (nenhum parentesco, o mesmo sobrenome era mera coincidência). Carlos continuou no ritmo do antecessor, recebia os mesmos elogios e foi mantido no cargo por José Sarney. Conheci bem Carlos Miranda, era uma grande figura humana e um gestor público extremamente competente. Quando o professor René falou para que eu checasse com eles a possibilidade de verba para os circos, liguei para o Sylvio Zilber, braço direito do Carlos Miranda. Expliquei a situação e o Zilber, de quem eu já era amigo, disse: “Paulo, traga o doutor René ao Rio. O Carlos Miranda me contou, um dia desses, que despachando com o ministro Celso Furtado (cujo centenário de nascimento se comemorou em 2020) ele comentou que o melhor secretário estadual de cultura de todo o Brasil é o René Dotti. Numa conversa frente a frente, garanto que vocês arrancam a verba”.

Fomos ao Rio, o Miranda nos recebeu e o professor René entregou uma cópia da lei. Carlos Miranda ficou impressionado e perguntou se poderia mandar a mesma para todos os Estados. O professor disse que sim, era claro. Indagou quanto precisávamos. O professor René lhe estendeu um ofício. Carlos Miranda leu e disse: “Doutor René, estamos para lançar, aqui no Rio de Janeiro, a Escola Nacional do Circo. Vou reservar 5 bolsas de estudos, com tudo pago, para os filhos de circenses do Paraná. Quanto ao valor que o senhor está pedindo vou despachar semana que vem com o ministro Celso Furtado uma suplementação orçamentária. Me dê dez dias!”. Uma semana depois, o Zilber me ligou: “Paulo, preciso que vocês mudem o valor solicitado no ofício”. Eu perguntei se tinham conseguido menos. Zilber disparou: “Não, vamos remeter três vezes mais do que vocês pediram. A lei do professor René é uma maravilha. Todo o Ministério da Cultura ficou impressionado e o ministro Furtado disse que não poderíamos deixar faltar recurso para os circos do Paraná”. Assim que ficou sabendo, o professor René abriu um sorriso e disse que às vezes a gente conseguia fazer um gol bonito de se ver.

Depois que saí da Secretaria da Cultura, encontrava o professor e conversávamos geralmente no Fórum ou no Tribunal. Quando voltei à Faculdade de Direito, para fazer o mestrado e o doutorado, cruzava com ele várias vezes. Ele sempre dizia: “Temos que sentar um dia e relembrar aqueles tempos”.

O dia chegaria. Há três eleições atrás da OAB-PR, lá no Parque Barigui, no local que chamam agora de Pavilhão da Cura e que o Rogério Distéfano no seu blog apelidou de “Pavilhão da Chanchada”, eu havia acabado de votar e me dirigia para a saída. De repente, sou tocado no ombro por trás. Virei e vi o professor René com um largo sorriso no rosto. “Paulo, você tem prazo vencendo hoje?” Respondi que não tinha. “Eu também não tenho, estou vindo da cafeteria que fica lá trás do pavilhão, mas não tinha ninguém lá e eu resolvei procurar alguém para conversar. Quando vi você, relembrei que temos um colóquio em aberto há décadas. Vamos lá?”.  Fomos.

Pelo jeito, todos os advogados tinham prazos para cumprir naquele dia. A cafeteria estava vazia de clientes. Duas atendentes se olhavam quando entramos. Sentamos numa mesa e pedimos dois expressos puros e duas águas sem gás. Servidos, começamos a relembrar várias das histórias que contei acima. Depois de vários cafés e águas, perguntei-lhe qual fora o momento mais difícil. Ele respondeu que o Teatro da Classe. Seu maior prazer foi ter criado o Nicolau. Duas horas depois, nos despedimos e de vez em quando nos encontrávamos rapidamente. Ele sempre tinha um sorriso no rosto.

Caso o título do livro do Fassbinder esteja certo, agora o professor René, finalmente, vai poder acordar depois da cinco da manhã.         

Publicado em Paulo Roberto Ferreira Motta | Deixar um comentário
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Turma do futuro não vai acreditar no que ocorre hoje

Então, ele se teletransportou automaticamente para a sala de leitura daquele ano e começou a consultar os periódicos brasileiros. Leu, releu e não acreditou. Leu de novo. 300.000 mil mortos? Não era possível. Em 75 dias o número de óbitos pulou de 200.000 para 300.000? Absurdo. Não tinham vacinas? Não era cabível. O Ministro da Saúde durante bom tempo não era médico? Não era admissível. Receitavam remédio inadequado? Que tristeza

Meu tataraneto acordou no dia 25 de março de 2121 e, como de costume, antes de engolir a pílula de café da manhã, cheia de vitaminas e alimentos concentrados, quis dar uma pesquisada em seu arquivo digital. E quis a coincidência das coincidências que ele, depois de girar o pião das datas, fosse parar exatamente 100 anos atrás. E o que é mais incrível: caiu justo na data de 25 de março.

25 de março de 2021 – o ano do agravamento da pandemia.

Então, ele se teletransportou automaticamente para a sala de leitura daquele ano e começou a consultar os periódicos brasileiros.

Leu, releu e não acreditou.

Leu de novo.

300.000 mil mortos?

Não era possível.

Em 75 dias o número de óbitos pulou de 200.000 para 300.000?

Absurdo.

Não tinham vacinas?

Não era cabível.

O Ministro da Saúde durante bom tempo não era médico?

Não era admissível.

Receitavam remédio inadequado?

Que tristeza.

Foi então que meu tataraneto tentou uma ligação metamediúnica para mim, que já tinha partido do planeta Terra havia uns bons anos.

O sininho do aparelho interanímico soou e eu, que ainda estava dormindo, despertei meio assustado.

“O que foi, Salinzinho III ?”, perguntei.

E ele disse:

“Pô (sim, eles ainda falavam pô!), meu tataravô, isso que está postado aqui no arquivo acontecia mesmo no Brasil do seu tempo?”

E eu fui obrigado a confirmar.

Ele achou que era página de humor negro.

“Verdade também que um navio encalhou no Canal de Suez?”

E eu respondi que sim.

E, como ele sabia que eu tinha sido jornalista e trabalhado muito em reportagens esportivas, mudou de assunto.

“Verdade que, mesmo com todas as mortes no mundo, o Japão estava garantindo a realização da Olimpíada de Tóquio?”

“Sim, meu tataraneto, o desvario se espalhou pelo mundo todo.”

“A tocha olímpica chegou a Fukushima?”

“Sim, os jornais noticiam isso!”

E ele insistiu:

“E é verdade que o Palmeiras (meu tataraneto no sonho era palmeirense) empatou com o São Bento, jogando em Volta Redonda?”

Aí resolvi desligar o aparelho mediúnico.

Já era demais, né?

Campeonato Paulista no campo do Voltaço…

Aí voltei a dormir. Se nós, que estamos vivendo este momento, não entendemos mais nada, como vamos explicar essa loucura aos que virão no futuro?

Roberto Salim

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René Ariel Dotti por inteiro – parte VIII

Em outra ocasião, o professor Lorusso perguntou se o René estava na sala dele, precisava despachar um assunto difícil. Respondi que, se o assunto era difícil, era melhor dar um tempo, voltar no outro dia, o professor René estava furioso naquele dia. Danilo me fuzilou com os olhos e disse: “Você nunca viu o René furioso. Depois do expediente, vá na minha sala que eu te conto sobre o René furioso”. Terminada as tarefas do dia, fui até a sala do Lorusso. Ele me disse: “Senta aí! Quer ouvir?”. Respondi que sim.

“Eu tinha escritório na Rua XV e o René na Marechal Deodoro. Num janeiro muito quente, sai do escritório no final da tarde e me deu uma vontade de tomar um chope. Minha esposa e meu filho estavam na praia. Lembrei do René, sabia que a Dona Rosarita e as duas meninas pequenas estavam de férias no interior do Rio Grande do Sul. Desci a galeria Minerva e fui no escritório do René. Ele estava saindo do prédio e eu o convidei para o chope. Ele respondeu que era uma grande ideia e fomos a um bar no Alto da XV. Sentamos, pedimos dois chopes e uma carne de onça. Já tínhamos terminado os chopes quando chegou a carne de onça. Pedimos mais uma rodada. Ainda não tinham trazido as tulipas quando entrou no bar um cidadão negro. Quando o cidadão ia sentar, o dono do bar saiu de trás do balcão, foi em direção a ele, e disse que naquele estabelecimento não serviam negros. O René ficou possesso, levantou da mesa, pegou a cadeira e saiu arrastando toalhas, pratos, tulipas e guardanapos. Tudo se espatifou no chão. Só tive tempo de sair atrás do René e impedir que ele quebrasse a cadeira na cara do dono do bar. O René se acalmou um pouco e gritou que naquele bar nunca mais pisava. Disse que ia beber em outro. Dirigiu-se ao cidadão negro e falou: “O senhor é meu convidado”. Fomos os três para outro bar ali perto. Repetimos o pedido, desta vez com três chopes. O cidadão ficou muito agradecido e emocionado. Anos depois, o negro procurou o René no escritório. Estava separado há vários anos e queria fazer o divórcio para poder casar de novo. O René aceitou a causa. O cidadão perguntou sobre os honorários e o René respondeu que, ao final do processo, falariam sobre isso. Terminado o divórcio, o cidadão procurou René para pagar os honorários. O René respondeu: “Meu senhor, vamos chamar o professor Danilo Lorusso e tomar uns chopes e comer uma carne de onça. O senhor paga a conta que será exatamente o valor dos honorários”.

Às vezes, o professor René trocava os nomes das pessoas. Constantino Viaro virava Guido (nome do pai dele). Reinaldo, invariavelmente, era Ronaldo. O Sale, de vez em quando, era transformado em Samuel. Um dia, na frente do Aramis Millarch, me chamou de Paulo César. Millarch nunca mais deixou de falar Paulo César. Houve uma época em que o professor René estava negociando a vinda a Curitiba da exposição do Leonardo da Vinci (que merece uma história à parte). Aramis farejou e me ligou. Expliquei que as coisas estavam indo a contento e era bem provável que a exposição viesse. No outro dia, saiu na coluna dele: “Paulo César Motta, assessor especial do secretário René Dotti, garantiu que a exposição de Leonardo da Vinci vem para Curitiba no segundo semestre”.

Num belo abril, o Requião, que havia revitalizado a Praça Tiradentes, resolveu entregar a obra no dia da comemoração do Mártir da Independência. Convidou o professor René para fazer o discurso de exaltação ao herói. No dia 21, fomos o professor, Reinaldo e eu, caminhando até a praça. Com muitos transeuntes vendo os carros oficiais chegando, começou a juntar gente na frente do palanque das autoridades. O professor, antes do discurso, começou a saudar as autoridades presentes. Excelentíssimo Senhor Governador Álvaro Dias, Excelentíssimo Senhor Prefeito Rubens Requião (professor Rubens era o titular de direito comercial da Faculdade de Direito e colega de docência do professor René). O pessoal começou a rir e o René nem percebeu. Terminada a oração, deram a palavra ao Roberto Requião. Ele não se fez de rogado. Depois de saudar o governador lascou: Excelentíssimo Senhor Secretário de Estado da Cultura, professor Alcides Munhoz Neto (que era o outro titular de direito penal da Faculdade). O professor René encarou o Reinaldo e a mim e disse: “Ele me chamou de Alcides?” Nós respondemos: “Sim, o senhor o chamou de Rubens Requião”. O René começou a rir e depois foi abraçar o Roberto, desculpando-se.

O humanismo radical do professor não era só teórico e objeto de discursos e orações. Era vivido intensamente. Certa feita, recebeu em audiência a diretoria do Sindicato dos Artistas formada pelo Aluizio Cherubin, Lucina Cherubin e Yara Sarmento. Narraram a situação dramática dos circos do Estado. Diziam que viviam na mais absoluta miséria e que não aguentavam pagar as altas taxas que a Polícia Civil e as Prefeituras lhes cobravam para a concessão dos alvarás para se instalarem nas cidades. Que as crianças não frequentavam a escola e que eram completamente desassistidos pelo Poder Público. O professor ficou impressionado, desconhecia essa realidade. Chamou o Sale Wolokita e deu a ordem: “Sale, pegue um dos seus perdigueiros, preferencialmente não funcionário da Secretaria, para não dar na vista, e mande ele achar um circo que esteja aqui por perto e verifique a situação”.

Sale não poderia escolher pessoa melhor: Laerte Ortega, natural do norte do Paraná, radicado há muitos anos em Curitiba, diretor de teatro. Suas peças tinham forte influência circense e eram apresentadas, quase sempre nas ruas. Seu grande sucesso era o “Grande Circo Padú”, com várias montagens e muitos elencos através dos anos. Laerte localizou um circo na periferia de Bocaiúva do Sul, pediu um carro da Secretaria, sem motorista, e se mandou pela manhã cedo. Voltou no final da tarde, levou horas para achar o circo. Na noite anterior, havia caído uma tempestade em Bocaiúva e o circo, com a lona toda rasgada e remendada não segurando a água, havia virado um lamaçal. Com a chuva não houve bilheteria e o dono do circo, sua esposa os sete filhos, um cachorro e um gato (todo o elenco da companhia circense) não tinham o que comer. A mãe foi pedir fiado na venda e o dono, apenado, lhe deu um saco de arroz e um pacote da farinha. Laerte chegou na hora do almoço. A mulher cozinhava o arroz numa lata em cima do fogareiro. Pegou água numa bica e jogou na farinha que estava em outra lata. A papa foi atirada em cima do arroz. Laerte, que conhecia a linguagem circense, começou uma conversa. O pai era o mestre de cerimônias, a mãe fazia uns números de saltos ornamentais. A filha mais velha era trapezista, fazia um número perigosíssimo, era içada ao trapézio pelos cabelos, um erro e morreria escalpelada. Os outros eram palhaços, malabaristas e etc. Laerte estranhou que os cinco primeiros filhos tinham de 10 a 17 anos. Os dois mais moços, um menino e uma menina, tinham, respectivamente, dois anos e seis meses. Mas não falou nada. O menino de dois anos estava nu. A única roupa que possuía estava no varal secando do temporal. A menina de seis meses, vestida com trapos, não saia do colo da “irmã” mais velha. Lá pelas tantas a menina começou a chorar de fome. A “irmã” mais velha saiu e foi para dentro do trailer onde todos se amontoavam para dormir. Laerte não aguentou e saiu atrás.

Pela janela, viu a “irmã” mais velha tirar o seio para fora do vestido e dar de mamar a bebê. Chamou o dono do circo num canto e lhe deu uma prensa. O cara confessou: os dois filhos mais moços eram dele com a filha mais velha. Era pai e avô ao mesmo tempo. A menina de 17 anos era irmã e mãe dos mais novos. Tudo isso foi narrado ao professor René que, ao final do relato, colocou as mãos no rosto e ficou um tempo bastante longo naquela posição. Depois, colocou as mãos na mesa e disse: “Vou começar a resolver isso ainda hoje”. Agradeceu ao Laerte, disse que voltariam a falar, e foi para casa.

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