Mural da História – 2009

 


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Os outros criticados

São cinco os ministros de Lula os principais alvos de reclamações de aliados. Além de Alexandre Padilha (Relações Institucionais), Rui Costa (Casa Civil) e Carlos Fávaro (Agricultura), como mostrou o Bastidor, Nísia Trindade (Saúde) e Wellington Dias (Desenvolvimento Social) também são recorrentemente citados nas conversas do presidente com lideranças do Congresso.

O caso de Nísia tem a ver com dinheiro, com a liberação de emendas, e com a resistência em ouvir deputados e senadores para priorizar investimentos. O orçamento da pasta em 2023 foi de 183 bilhões de reais.

Mais de uma vez, Lula ouviu que a ministra tomou decisões sem atender a demandas de parlamentares e prefeitos. Ao Bastidor, um deputado disse que muitas cidades precisam de recursos para pagamento de funcionários da saúde e não necessariamente da construção de uma UBS (Unidade Básica de Saúde).

A insatisfação aumentou na medida que cidades enfrentaram, ao longo do ano, dificuldades de acesso ao Fundo de Participação dos Municípios. “Faltou sensibilidade do ministério”, disse o parlamentar.

A Saúde, pelo tamanho do orçamento, é um dos desejos do Centrão. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), já reivindicou o cargo. O PSD também.

A avaliação sobre Dias é que ele decepcionou como o ministro do Bolsa Família, que deveria ter sido o maior destaque na volta de Lula ao poder. O desempenho do ministro, ainda na época da transição, foi questionado. Ele foi o primeiro responsável por negociar a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) que dava uma licença para o governo gastar fora do teto de gastos e fracassou.

O texto só foi aprovado com a articulação de Lula, de Geraldo Alckmin e das lideranças do Congresso. 

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Flagrantes da vida real

Rodrigo Barros Del Rey: entra por um ouvido e não sai pelo outro. © Maringas Maciel

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Amigos

Na caminhada da vida, tive alguns amigos. Poucos, numericamente, mas todos muito queridos, inesquecíveis, com lugar cativo no lado esquerdo do meu peito. Aprendi com Rubem Alves que “a experiência da amizade tem suas raízes fora do tempo, na eternidade. Um amigo é alguém com quem estivemos desde sempre”.

Da pré e adolescência, destaco dois amigos, da velha Araucária de quando o rio Iguaçu ainda era líquido. Do primeiro já lhes falei aqui. Chamava-se José Tadeu Saliba. Foi o que se pode chamar de o primeiro-amigo. Viajávamos juntos de ônibus para o colégio em Curitiba, brincávamos no velho casarão do pai dele, o “seu” Michel, defronte à Praça Vicente Machado, e curtíamos uma pelada diária de futebol, no campinho ao lado de sua casa. Torcíamos pelos mesmos times – Atlético Paranaense e Corinthians Paulista, curtíamos os mesmos heróis das histórias-em-quadrinhos e dos seriados do velho Cine Império. Ingressamos na mesma UFPR, formamo-nos bacharéis em Direito e fomos, ambos, radialistas/jornalistas antes de exercermos a advocacia.

O outro foi Miguel Panek, o Miguelzinho, do qual perdi contato, infelizmente. Mas foi um companheiro inseparável, de todos os dias, que tinha uma missão que só se delega a alguém de absoluta confiança: levar bilhetinhos amorosos à minha então namorada, Cleonice.

Na vida adulta, cito, inicialmente, também dois: Euclydes Cardoso de Almeida. Conhecemo-nos na velha Rádio Guairacá, da Rua Barão do Rio Branco, “A Voz Nativa da Terra dos Pinheirais”. Depois, estivemos na Rádio Cruzeiro do Sul, do Edifício ASA, e, juntamente com Álvaro Alceu de Tulio, palmilhamos as ruas de Curitiba, em passeios noturnos, até o clarear do dia. Mantivemos contato a vida inteira, até Deus levar o nosso Kid para outra dimensão.

O segundo, foi (e ainda é) Luiz Renato Ribas, que a princípio era meu patrão, mas logo virou amigo. Fiz com ele as revistas TV-Programas, Guiatur, Directa e Programas e outras aventuras no mundo jornalístico-cultural. Sempre nos entendemos bem e eu admirava a faísca adiantada de Renato, uma pessoa adiante do seu tempo, apesar da passagem dos anos. É um pioneiro por natureza.

Há ainda um terceiro, que só conheci quando iniciei o período de militância advocatícia: Márcio Augusto Nobre Pereira, então vizinho de andar no Edifício José Loureiro, da Praça Zacarias. Márcio seguiu as pegadas do pai, o saudoso dr. Mauro, e dele recebeu a receita de uma advocacia decente e eficiente, que, mais do que tudo, honra a profissão.

No Tribunal de Justiça, vários colegas logo viraram amigos: Roberto Portugal, Romeu Felipe Bacellar Filho, Edson Dallagassa, Eurico de Paiva Vidal Jr., Norberto Elísio Pavelec, Vilmar Farias, Jacob Holzmann Netto, Alcebíades de Almeida Faria Neto, Mário Montanha Teixeira Filho…

Mas quero hoje destacar apenas um e homenageá-lo em nome de todos os demais: Civan Lopes. Ambos ingressamos no TJ no final dos anos 50, como serventes “extranumerário mensalista, referência XI”. Trabalhávamos na mesma sala, tínhamos os mesmos sonhos e os mesmos ideais. Fizemos a jornada juntos, até chegarmos ao cume da carreira de assessores jurídicos (hoje, consultores) e de diretores de departamento. Levamos o serviço público com seriedade, agimos sempre com presteza no cumprimento do dever e, no tempo certo, aposentamo-nos com a certeza do dever cumprido, com dignidade e competência. Quer dizer: apenas cumprimos com as nossas obrigações, embora nem sempre seja assim.

Por onde passou, na Secretaria do Tribunal de Justiça, Civan marcou presença e deixou a sua contribuição para o aperfeiçoamento do serviço.

Um outro fato levou a estreitar ainda mais os nossos laços de amizade: Raquel, com quem Civan viria a se casar, era amiga de infância, quase irmã, da minha Cleonice. Civan e Raquel e eu e Cleonice estamos hoje casados há 62 anos.

Mais uma coincidência, se isso existe: tanto eu como Civan temos os prenomes criados da fusão de sílabas dos nomes de nossos pais. Eu sou Célio derivado de Alice e de Honestálio; Civan, de Cid e Vanda.

Hoje, no limiar dos 80 anos de idade, gozando as regalias das aposentadorias, acredito que cumprimos um preceito que estabelecemos entre nós, há mais de 60 anos, quase como uma brincadeira: “Não podemos passar por este mundo sem deixar uma marca”.

Modéstia à parte, deixamos.

P.S. I – E aproveito a oportunidade para incluir na lista de amizades um neo-amigo, Roberto José da Silva, o nosso Zé Beto, que, muito mais do que editor, é um novo amigo que eu respeito e quero muito bem.

P.S. II – Com este texto quero desejar a todos, amigos ou leitores, os meus votos sinceros de um Ano Novo repleto de saúde, paz e alegria. Que todos os problemas, angústias e sofrimentos tenham ficado para traz. E que 2024 nasça resplandecente, sem tanta miséria e sem tanta desigualdade social

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Mural da História – 2021 – S.O.S. FAS

Há muitos meses vejo a mesma cena. Hoje, fui tomado pela irritação. Na ponte sobre o Rio Barigui, na fronteira do Seminário (Nossa Senhora Aparecida) com o Campo Comprido (Eduardo Sprada), a partir das 17 horas, conforme testemunho de um comerciante local (sim, desci do carro e entrei no estabelecimento em busca de informações, aproveitei para comprar algum alimento para doação no próprio local), aproximadamente 6 indigentes começam a se juntar e dividir uma garrafa de cachaça, com certeza obtida com os recursos arrecadados pela mendicância durante o dia.

Só dois ou três usam máscara. Alguns em idade avançada. A garrafa passa de boca em boca, o que, convenhamos é um brutal risco em tempos pandêmicos. São todos extremamente vulneráveis, esquálidos, sujos e vestidos com trapos. Não tomam banho há meses e estão cabeludos e barbudos. Acabado o álcool, dormem por ali mesmo e saem muito cedo para mendigar. São, conforme depoimento do comerciante, mansos e pacíficos. Desde que ali chegaram nunca agrediram ninguém, quer com gestos ou palavras.

O mesmo comerciante disse que já ligou para FAS – Fundação de Ação Social da Prefeitura Municipal de Curitiba, mais de 10 vezes. Sempre dizem que vão lá, mas nunca foram. Fica aqui consignado o S.O.S. Como a FAS é municipal, aproveito o ensejo para desejar melhoras ao burgomestre, que se recupere prontamente e não fiquem sequelas.

1960|2023

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Mural da História – 1980

Eu estava saindo do Jornal do Estado, junto com Reynaldo Jardim e Tiago Recchia asumiu o posto.

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Lições de um ano violento

O ano que acaba foi muito violento. Outros também foram, mas nem tanto. O ataque sangrento do Hamas e as consequências dele assombram os últimos meses de 2023.

Depois de tudo o que vi e li, estupros, execuções covardes, corpos infantis sendo resgatados dos escombros, escolas e hospitais bombardeados, cheguei a escrever que perdi minha fé no ser humano. Ao longo dos dias, ajudado por algumas leituras, concluí que minha fé no ser humano era apenas uma ilusão, o tipo de ilusão que talvez valha a pena manter com a ressalva de que estamos conscientes dela.

Num texto de John Gray sobre os astecas, constato uma nova maneira de ver a violência. Para eles havia um caos subjacente, e a violência do Estado refletia a violência do cosmo e dos deuses. Matavam gente em larga escala, em sacrifícios ritualescos. Foi como se percebessem que não podiam abrir mão da violência e decidiram santificá-la. Segundo Gray, conferiam um lugar central para os impulsos, algo que o pensamento moderno nega.

Os astecas não se chocavam se seus governantes se comportassem com a arbitrariedade de um deus. Para eles, os seres humanos estavam fadados a viver num mundo em que os governantes eram seus inimigos, mas asseguravam um tipo de ordem que, sem eles, não seria possível.

Tudo isso ficou nos tempos remotos. Mas a violência reaparece sempre com nova roupagem. Os guerrilheiros tâmeis no Sri Lanka inventaram o homem-bomba, mais tarde encontrado no Líbano. Era uma violência destinada a construir um novo mundo. Terroristas árabes detonam suas bombas com a esperança de encontrar dezenas de virgens no além.

O pensamento ocidental, segundo Gray, formula saídas ilusórias como a tese de Thomas Hobbes segundo a qual os humanos temem a morte violenta e fazem um contrato para instaurar um governante de poderes ilimitados que exija obediência. Para Gray é uma visão enganadora, porque os humanos em Hobbes são fantasiados para inventar a solução de um problema que não conseguem resolver: conciliar os imperativos da paz com as exigências de suas paixões.

Durante algum tempo cheguei a pensar que a paz era o horizonte da humanidade. Uma ilusão estimulada pelo fato de as grandes potências, nos últimos anos, não fazerem guerra entre si. Mas temem o poder de destruição de um conflito atômico e fazem inúmeras guerras por procuração: armam, treinam aliados, invadem e bombardeiam outros países.

Hoje é dia de refletir sobre o Natal. Mas o Natal não pode ser comemorado em Belém, onde Jesus nasceu. É a guerra. Esse próprio momento de solidariedade e respeito ao próximo que o cristianismo nos oferece pode ser visto de outras maneiras.

Publicado em Fernando Gabeira - O Globo | Deixar um comentário
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Estakanovistas

VOCÊS são estakanovistas, disse à moça e ao rapaz bibliotecários que vieram organizar a barafunda aqui de casa. Falei com maldade, não expliquei, era para espicaçar a curiosidade dos dois. É que como leitor tenho um certo preconceito contra bibliotecários, o de achar que não passam do título dos livros, o suficiente para catalogar e devolver à estante (burrice minha de achar que bibliotecário tem tempo e pachorra para bisbilhotar livros). Na hora ficaram quietos. No intervalo do cafezinho vieram compenetrados falar comigo: “não sei se agradecemos o elogio ou lamentamos o xingamento”. Claro que foram à Wikipedia – como também fui para puxar a foto de Alexei Stakhanov, o herói da União Soviética de Stálin, que superava ao quadruplo as cotas individuais de produção de carvão.

O mérito não foi procurar nos livros, milhares de trabalhos escolares são obra da inteligência quase artificial da Wikipedia. O bacana está no especular entre elogio ou xingamento, sacada dos dois. É que de um lado Stakhanov foi celebrado pela produção e de outro criticado por exceder os limites desta. Para os comunistas igualitaristas da época, ao exceder suas cotas Stakhanov estabelecia um padrão de desigualdade, quebrando o princípio do marxismo clássico. De minha parte vejo meus bibliotecários como estakanovistas do padrão estalinista: combinei pagamento em parcelas no limite estimado de quatro meses de trabalho. Pois não há de ver que em mês e meio os dois concluíram o serviço? Bem que os trotskystas diziam que o estalinismo era um capitalismo ao avesso. 

Publicado em Rogério Distéfano - O Insulto Diário | Deixar um comentário
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Que país foi este?

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Mural da História – 2017

Pryscila Vieira, na exposião “Solda vê TV”, Café Parangolé. © VeraSolda

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Um que eu tenho

01. Life Is A Journey
02. A Rock And A Hard Place
03. Um Lar Longe De Casa
04. Mi Deh Yah
05. What a World
06. Focus
07. Better Days
08. The Best
09. Are You Ready
10. Jamaica
11. Tell The world
12. John Jones
13. Feelin Blue
14. Working For The Man

Mi Deh Yah, Clinton Fearon. Boogie Brown Productions|1606 SW 104th Street #239| Seattle WA 98146 USA. Para ouvir de bermuda e chinelão.

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Benett- Chargista da Folha de S.Paulo e editor do Plural.

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Fala, loucura!

Com a voz, a Loucura. Neste libelo do teólogo Erasmo de Rotterdam (1469-1536), quem fala é a Loucura. Sempre vista apenas como uma doença ou como uma característica negativa e indesejada, aqui ela é personificada na forma mais encantadora. E, já que ninguém mais lhe dá crédito por tudo o que faz pela humanidade, ela tece elogios a si mesma. O que seria da raça dos homens se a insanidade não os impulsionasse na direção do casamento?

Seria suportável a vida, com suas desilusões e desventuras, se a Loucura não suprisse as pessoas de um ímpeto irracional e incoerente? Não é mérito da Loucura haver no mundo laços de amizade que nos liguem a seres imperfeitos e defeituosos? Nas entrelinhas de Elogios da Loucura, o humanista Erasmo critica todos osracionalistas e escolásticos ortodoxos que punham o homem a serviço da razão (e não o contrário) e estende um véu de compaixão por sobre a natureza humana.

Pois a Loucura está em toda parte, e todos se identificarão com algum tipo de loucos contemplados pelo autor. Afinal, como ele próprio diz: “Está escrito no primeiro capítulo de Eclesiastes: O número de loucos é infinito. Ora, esse número infinito compreende todos os homens, com exceção de uns poucos, e duvido que alguma vez se tenha visto esses poucos”. 

Portanto, amigo, se você está rasgando merda ou comendo dinheiro (e vice-versa), fique tranquilo. Nem tudo está perdido. Coleção L&PM Pocket, Volume 278, 2007, tradução de Paulo Neves. Quem procurar, acha.

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