Teu presente te condena, general

Depois de desacreditar a ciência, Pazuello quer negar a História

Olhando feio para os jornalistas, Eduardo Pazuello soltou a frase com a habitual arrogância e maus bofes, como se estivesse num exercício de ordem unida com seus recrutas: “Ontem é passado, é para historiador. A partir de agora, só discuto o futuro”.

Ninguém esperava que, além de especialista em logística, o general que comanda o Ministério da Saúde fosse também historiador. Afinal, a História é uma ciência —e, como tal, deve ser negada. Se não existiu ditadura militar no Brasil, o que dizer das Guerras Médicas, no século 5º a.C., relatadas por Heródoto, o pai da História?

Pazuello não precisaria voltar tão longe no tempo. Bastaria ler o livro “A Bailarina da Morte”, de Lilia Schwarcz e Heloisa Starling. Nele, está descrita a disseminação da gripe espanhola no país, em 1918, e como a calamidade dizimou, no mínimo, 50 mil brasileiros. Na época, a população era de menos de 30 milhões de habitantes, dois terços dos quais se infectaram. Depois de 100 anos, meu general, o senhor deveria ter aprendido alguma coisa.

As dificuldades e os equívocos do passado —negação da ciência, curas milagrosas, aprofundamento das desigualdades sociais, descaso com os doentes— repetiram-se todos no presente, com maior gravidade. Pode-se dizer que os “erros” fizeram parte do próprio plano de governo no enfrentamento à Covid-19.

Para alguns, a realidade paralela, a historinha para gado dormir. Para a maioria, a História com H maiúsculo, cheia de medo, angústia e sofrimento, desenrolada diante de nossos olhos e narrada no calor da hora pela imprensa. É o material sobre o qual os historiadores irão se debruçar, contextualizando os atos criminosos que contribuíram para irradiar a pandemia.

O general Pazuello diz que, agora, só lhe interessa discutir o futuro. Não há o que discutir. As provas de sua condenação estão sendo produzidas no presente.

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Vale a pena ver de novo

Notas para uma biografia do generalete Pazzuelo

O currículo do general intendente Eduardo Pazuello não é daqueles que podem orgulhar alguém. Ao contrário. Foi aluno medíocre na Academia Militar, tanto que ficou entre os últimos e só lhe restou escolher a intendência. Para ele já não havia vagas na Infantaria, na Artilharia ou na Cavalaria.

Tudo bem, aos trancos e barrancos, em 1984 formou-se na Academia Militar das Agulhas Negras como oficial de Intendência. Como comandante de unidade não deixou saudade e muito menos exemplo meritório. Ao contrário. Vejam este: no dia 11 de janeiro de 2005, o então tenente-coronel Eduardo Pazuello, pôs, como castigo, um soldado para puxar carroça no lugar do cavalo.

Pequeno exemplo de sua trajetória no Exército. Algoz dos subordinados, era uma bajulador dos superiores, característica que chamou a atenção de Bolsonaro quando quis um ministro subserviente.

Há mais sobre Pazuello e não é bonito. Em maio de 2020, uma reportagem da Agência Sportlight revelou que Pazuello alegou “uso não comercial” em um contrato de 13 anos feito com a Infraero e uma empresa que faturava R$ 6 mil por aluno de paraquedismo. Foi acusado de improbidade administrativa.

Em 24 de novembro de 2005, o site do Senado replicou a reportagem do Jornal do Brasil “Do quartel para o ferro-velho”. Segundo a publicação, ele “Pode ser responsável pelo maior desvio de munição da História do Exército Brasileiro”. O general gordote comandava o Depósito Central de Munição do Exército Brasileiro em Paracambi (RJ).

Nosso jornalismo investigativo ainda não levantou a história completa deste general gordinho, baixinho, sinistro e de estatura moral ao rés do chão. Mas a amostra é suficiente para entender seu caráter e sua desfaçatez ao bajular o presidente Bolsonaro, cometer charlatanismo ao receitar cloroquina e ivermectina, e mentir todo o tempo para esconder a incompetência do governo Bolsonaro, mesmo que isso signifique a morte de milhares de brasileiros todos os dias.

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Bolsonaro executou ‘uma estratégia institucional de propagação de coronavírus’

A linha de tempo mais macabra da história da saúde pública do Brasil emerge da pesquisa das normas produzidas pelo Governo de Jair Messias Bolsonaro relacionadas à pandemia de covid-19. Num esforço conjunto, desde março de 2020, o Centro de Pesquisas e Estudos de Direito Sanitário (CEPEDISA) da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da Universidade de São Paulo (USP) e a Conectas Direitos Humanos, uma das mais respeitadas organizações de justiça da América Latina, se dedicam a coletar e esmiuçar as normas federais e estaduais relativas ao novo coronavírus, produzindo um boletim chamado Direitos na Pandemia – Mapeamento e Análise das Normas Jurídicas de Resposta à Covid-19 no Brasil.

Nesta quinta-feira (21/1), lançam uma edição especial na qual fazem uma afirmação contundente: “Nossa pesquisa revelou a existência de uma estratégia institucional de propagação do vírus, promovida pelo Governo brasileiro sob a liderança da Presidência da República”.

Obtida com exclusividade pelo EL PAÍS, a análise da produção de portarias, medidas provisórias, resoluções, instruções normativas, leis, decisões e decretos do Governo federal, assim como o levantamento das falas públicas do presidente, desenham o mapa que fez do Brasil um dos países mais afetados pela covid-19 e, ao contrário de outras nações do mundo, ainda sem uma campanha de vacinação com cronograma confiável. Não é possível mensurar quantas das mais de 212.000 mortes de brasileiros poderiam ter sido evitadas se, sob a liderança de Bolsonaro, o Governo não tivesse executado um projeto de propagação do vírus. Mas é razoável afirmar que muitas pessoas teriam hoje suas mães, pais, irmãos e filhos vivos caso não houvesse um projeto institucional do Governo brasileiro para a disseminação da covid-19.

Há intenção, há plano e há ação sistemática nas normas do Governo e nas manifestações de Bolsonaro, segundo aponta o estudo. “Os resultados afastam a persistente interpretação de que haveria incompetência e negligência de parte do governo federal na gestão da pandemia. Bem ao contrário, a sistematização de dados, ainda que incompletos em razão da falta de espaço na publicação para tantos eventos, revela o empenho e a eficiência da atuação da União em prol da ampla disseminação do vírus no território nacional, declaradamente com o objetivo de retomar a atividade econômica o mais rápido possível e a qualquer custo”, afirma o editorial da publicação. “Esperamos que essa linha do tempo ofereça uma visão de conjunto de um processo que vivemos de forma fragmentada e muitas vezes confusa”.

Eliane Brum

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O consumidor e as ações contra os bancos

Nos serviços defeituosos dos bancos para com os consumidores, a prescrição é de 5 (cinco) anos, em reparação de danos que envolvam danos causados por fato do produto ou do serviço. A reparação civil, nos termos do Código Civil, prescreve em 3 (três) anos.

Uma turma recursal do juizado especial federal do Rio Grande do Sul aplicou a prescrição de 3(três) anos por entender que não se tratava de fato do serviço.

O cartão de crédito foi furtado e as compras não foram reconhecidas, mas o banco acabou cobrando as parcelas e o consumidor foi inscrito em órgão de proteção de crédito.

Respeitosamente, a decisão está completamente errada pois a relação é de direito do consumidor e o dano se estabeleceu em virtude de fato do serviço relacionado com a prestação de serviço danosa por parte do banco.

Não se pode afastar a aplicação do Código de Defesa do Consumidor das instituições bancárias (Súmula 297 – STJ), e na prática a decisão fez isto, pois aplicou a prescrição de 3 (três) anos do Código Civil.

A segurança legitimamente esperada do consumidor e a sua legítima boa-fé caracterizam fato do serviço e assim incide a prescrição de cinco anos do CDC.

O correto, em termos legislativos, seria aumentar o prazo da prescrição do Código Civil que foi bastante reduzido em relação ao Código anterior.

Os bancos recebem os maiores juros do mundo, e tratamento privilegiado pelo Direito.  Tudo isto, tem que acabar, mas falta vontade e interesse político.  Os banqueiros são os verdadeiros reis do Brasil. Continue lendo

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Portfólio

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Na nossa fila de privilégios e direitos, as crianças ocupam o último lugar

Por que todos os sindicatos de profissionais que trabalham presencialmente não impetram ações judiciais, como o dos professores?

Raphaela dos Santos, 5, de Paraisópolis, esqueceu como escrever seu nome e os números. Ana Júlia, 5, quase vizinha, ainda escreve seu primeiro nome, mas não o segundo. A Prefeitura de São Paulo não definiu data para reabertura das escolas, mas garante que aplicará medidas de recuperação de conteúdos que “eventualmente foram perdidos” (Folha, 27/12). 2020 ficará na memória como o ano em que o Brasil tirou a máscara, evidenciando que, na nossa fila de privilégios e direitos, as crianças ocupam o último lugar.

“Não venha comparar as nossas escolas com as da Europa!” Benin, Chade, Burkina Faso, Guiné Equatorial, República do Congo, Serra Leoa e Cabo Verde —anote esses nomes, professor. São alguns dos países africanos que, em outubro, já tinham retomado aulas presenciais. Sugiro uma atividade para o dia distante da volta à escola: colori-los no mapa. Título: onde sobrevive o direito à educação.

“A vida primeiro! As crianças infectarão os professores e seus próprios familiares.” A ciência diz coisa diferente. Crianças não são grupo de risco e não participam significativamente da cadeia de transmissão. Mas, ao que parece, o consenso científico vale apenas quando não colide com os interesses corporativos. E, de mais a mais, sempre haverá algum “especialista” de rede social disponível para afirmar o que se quer ouvir.

“Só depois da vacina —e da reforma física dos edifícios escolares.” A Apeoesp, que recusa o retorno antes da Volta do Messias (o Jesus, não o Jair), solicitou ao STF a vacinação dos professores na “primeira etapa”, antes da maioria dos idosos. Não está só: junta-se a entidades de promotores e ao próprio STF, que pediram à Anvisa o mesmo privilégio. De qualquer modo, as vacinas não foram testadas em crianças, justamente porque não pertencem aos grupos de risco. Assim, por enquanto, nem mesmo se planeja a imunização de crianças. O álibi perdurará.

“Ação judicial em defesa da vida.” A Apeoesp impetrou um mandado de segurança no TJ de São Paulo “para que as aulas presenciais não retornem em plena pandemia”. Na prática, se os juízes cederem à chantagem sindical, a rede estadual de escolas públicas permanecerá fechada ao longo de todo o primeiro semestre. É missão dos professores ensinar a lição da igualdade de direitos. Por que todos os sindicatos de profissionais que trabalham presencialmente não impetram ações judiciais similares?

“Greve geral, pela vida!” Médicos e enfermeiros não fizeram paralisação. Motoristas, comerciários, entregadores compareceram todos os dias. Trabalhadores dos setores essenciais circularam em ônibus, trens e metrô. A quarentena de uns depende da aglomeração de outros. Mas a chantagem funciona: políticos espertos, como Covas, sempre temem a ira santa dos sindicatos de professores.

No site da Apeoesp aparece um mapa colorido com os 320 municípios paulistas que “rejeitam o retorno precoce das aulas presenciais”. A peça cartográfica foi atualizada em meados de outubro, precisamente quando completou-se a reabertura escolar naqueles sete países africanos. É uma ilustração sem igual da escala de prioridades, da mendacidade e do oportunismo de nossa elite política, da qual faz parte a aristocracia sindical docente.

O mapa deve ser guardado —e não só para os cursos de ciência política. Algum dia, a Raphaela aprenderá a ler. Saberá, então, quem sabotou a vida dela, em nome da vida.

Publicado em Demétrio Magnolli - Folha de São Paulo | Deixar um comentário
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Sem remédio

Ela tira três dias de férias e vai parar no hospital porque parar é insuportável

Ela está sem remédio e então, às quatro da manhã de uma quarta-feira, tem seis ideias para livros infantis e grava áudios longos para seu editor. Seu editor gosta de duas ideias e pergunta se está tudo bem MESMO. Ela está sem remédio e então, enquanto vê um filme, tem quatro ideias de podcasts e grava áudios longos para produtores de podcasts, mas é sábado nove da noite e eles respondem “escuto na segunda” e ela deita no chão da sala e, enquanto vê o filme que deveria servir para que relaxasse e se divertisse, começa a fazer abdominais pois não tem tempo a perder e precisa otimizar o tempo e esse filme parece realmente ótimo e renderia uma resenha, uma coluna e talvez esse mesmo filme dê uma ideia de livro ou podcast ou roteiro e abdominais, ela bem sabe, pioram sua cervicalgia então ela manda mensagens para seu reumatologista e também para sua professora de pilates que, por ser sábado à noite, não respondem de imediato. Então ela resolve ver o filme fazendo listas do que precisa resolver sobre a saúde de sua filha que está ótima, é bem verdade, a filha está maravilhosa, mas não vai ao dentista há mais de um ano, mas é pandemia, mas mesmo assim ela precisa escrever DENTISTA na lista pra que isso pare de gritar dentro do seu cérebro e ela também escreve tudo o que precisa decidir e resolver sobre a obra da sua casa e toda a sua vida profissional de hoje até 2022. E ela faz listas porque é a única forma de ela ficar vendo o filme.

Seu marido pede que ela apenas veja o filme e então ela volta a se sentar no sofá e, escondida, ela começa a cutucar uma bolha no dedão e que delícia cutucar a bolha até que está quase na carne e ela segue cutucando e sai um pouco de sangue. A pele morta e dura e pontuda e ela enfia a ponta da casca do dedão dentro da unha do dedão da mão. E essa dor é gostosa. Será que ela fez bem em ficar sem remédio? Claro que fez. Ela vai meditar e correr e fazer muita terapia e estudar muita psicanálise e vai ficar sem remédios porque eles incham e dão uma pança metade molenga metade inchada estranha e ela sabe que são os remédios que retêm liquido e retˆm também, em um limbo canalha, toda a sua intensidade e vontade de transar e vontade de fazer tantas coisas mas tantas coisas que sometimes são duas da tarde e seu corpo dói tanto que acabou o dia e dói tipo o corpo inteiro inflamado e latejando e ela precisa deitar e deitar é uma merda pois ela gosta de otimizar o tempo. Então ela deita com seu caderno de listas e anota ideias e grava áudios longos para pessoas que curtem algumas das ideias mas perguntam que horas ela vai fazer tudo isso uma vez que ela já não está conseguindo fazer o que tem pra fazer. Ela tira três dias de férias e vai parar no hospital porque parar é insuportável.

Ela está sem remédios e já sente o enjoo chegar e ela estava meio com saudade disso. Do mal-estar meio que permanente e meio que todo dia que faz com que ela não deseje enfiar 67 pães com queijos e doce de leite pra dentro do corpo. Com remédio ela não tem o mal-estar que tantas vezes a fez ir embora de todos os lugares. Mas o bem-estar que ela tem com os remédios faz com que ela queira passar chocolate na parede e comer a parede e ela estava cansada dessa fome que não é ela e desse corpo que consegue ir pra todos os lugares sem medo e sem emoção (e sometimes é tanta emoção que por isso dá medo) mas que não é exatamente o dela. E agora até a pressão voltou a baixar e isso é um saco realmente mas é melhor do que uma pressão absolutamente estável e um olhar passível e equilibrado e que não se importa. Ela se importa tanto que dá medo e que saudade desse medo. Foram três anos sem gritar e arrumar encrenca e brigar e odiar e parece ótimo isso, nossa que pessoa funcional e madura. Mas é uma merda porque, socorro, olhem em volta, precisamos gritar e brigar. E ela escutou Strokes bem alto no carro e ficou inteira arrepiada e, perdão matrimônio, agora ela vê algumas pessoas, de todos os credos e gêneros e idades, e fantasia com elas. Antes ela via as pessoas e falava “obrigada”. Ela está sem remédios e isso é assustador e lindo e vai durar pouco mas ela vai aproveitar. Ela agarra e cheira e beija tanto a sua filha como se depois de três anos pudesse sorver sua filha sem a bolha da correção psíquica e hormonal. Sua filha diz “chega, mamãe, para, tá muito” e nunca chega e nunca para e é uma devoção tão avassaladora que dá medo e dá enjoo e a pressão cai e tá tudo bem.

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Flagrantes da vida real

Elas. Mafalda Café Bistrô. © Maringas Maciel

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Sessão da meia-noite no Bacacheri

Em Nomadland, após o colapso econômico de uma cidade na zona rural de Nevada, nos Estados Unidos, Fern (Frances McDormand), uma mulher de 60 anos, entra em sua van e parte para a estrada, vivendo uma vida fora da sociedade convencional como uma nômade moderna.

1h 48min /Drama. Direção:Chloé Zhao. Elenco:Frances McDormand, David Strathairn, Linda May. Nacionalidade EUA

Nada como começar o meu ano cinematográfico com uma verdadeira maravilha: Nomadland. Um road movie com tantas e tão sensíveis camadas que fica até difícil contá-las. Frances McDormand dá mais uma daquelas interpretações definitivas e a diretora Chloé Zhao convida você a assistir ao filme dezenas de vezes para aprender como se faz cinema. O retrato de um estilo de vida íntimo e solitário, mas recheado de grandes histórias humanas, grande dignidade e daquela boa humanidade, que não tem fronteiras. Tem espírito, fraternidade, afetividade, respeito e aceitação. E como pano de fundo a pintura de um país, os EUA, que não tem o menor cuidado com seus cidadãos, apesar das aparências. Nomadland é poesia, poesia e poesia em meio à aridez da sobrevivência. (Edson Bueno)

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Olho nele!

Sou obrigado a concordar com o senador Tasso Jereissati, em entrevista aos repórteres Renan Truffi e Vanderson Lima, “As instituições precisarão ser fortes, trincar os dentes”.

O ex-governador do Ceará referia-se ao atual panorama nacional, desgovernado pelo capitão Messias, após a desmoralização final do seu ídolo, o insano Donald Trump, a quem o desequilibrado de Brasília devota fidelidade canina e que lhe servirá sempre de modelo. Como se sabe, o homem do topete alaranjado foi derrotado nas urnas. No entanto, inconformado de deixar a Casa Branca, inventou fraude nas eleições e conclamou uma tropa de baderneiros a invadir o Capitólio, em Washington, sede do parlamento americano. Uma centena dos estúpidos arruaceiros foi recolhida ao xadrez pela polícia e o candidato eleito, passado o sobressalto, tomou posse nessa quarta-feira, posto que nos EUA as instituições são fortes. E é exatamente isso que preocupa o senador Jereissati: terão as instituições brasileiras a mesma força?

Infelizmente, não têm. Se tivessem, Jair Messias Bolsonaro já teria sofrido processo de impeachment e sido arredado do poder. A conclusão é do ex-ministro do Supremo Tribunal Federal Carlos Ayres Brito, para quem “o conjunto da obra [de JMB] sinaliza o cometimento de crime de responsabilidade”. E, como tal, sujeita-o ao impedimento, sansão aplicável “àquele presidente que adota como estilo um ódio governamental de ser, uma incompatibilidade com a Constituição”.

Segundo a jornalista Cristina Serra, que trocou o microfone de reportagem da Rede Globo de Televisão por uma coluna de opinião na Folha de S. Paulo, Bolsonaro hoje só “tem duas preocupações na vida: salvar a pele dos filhos suspeitos de cometer crimes e preparar as bases para um golpe na eleição de 2022”.

A apuração dos desmandos e traquinagens do clã têm sido contida pelo controle da Polícia Federal, pela escolha do novo e submisso Procurador Geral da República, candidato à vaga do ministro Marco Aurélio de Mello no STF, e pela já introdução de um ministro gente nossa no Supremo Tribunal Federal. As coisas caminham a passos de tartaruga e a lentidão do Judiciário está aí para ajudar.

Quanto ao segundo objetivo, o capitão já vem dando sinais do que pretende fazer. Ainda recentemente, lançou uma nova pérola condizente com a sua opção pelo apocalipse: “Se não tivermos o voto impresso em 22, nós vamos ter problema pior que os Estados Unidos”. Quer dizer, começa a preparar o caminho valendo-se da lição recebida de Trump. Como tem tudo para perder a reeleição, uma hipotética fraude eleitoral será uma boa desculpa para a resistência. Tudo como o seu mentor. Donald culpou o voto pelo correio pelo seu fracasso. Bolsonaro vai tentar desqualificar as urnas eletrônicas, as mesmas que lhe deram a vitória em 2018. Se perder a reeleição, o que é altamente provável, a culpa será delas, ainda que o sistema seja seguro e invejado pelo mundo. Continue lendo

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Carta de Bolsonaro a Biden foi lida às gargalhadas

Os americanos têm nos arquivos cada trumpice de Bolsonaro, por mais ínfima e secreta

Lisboa, no verão de 1975, devia ser a cidade mais excitante do mundo para um jornalista. Era o auge da Revolução dos Cravos, que, no ano anterior, derrubara uma ditadura de 48 anos. O governo do premiê Vasco Gonçalves, na prática comunista, estava sendo pressionado pela extrema esquerda a radicalizar e, com isso, deu-se um festival de tomada de empresas, ocupação de fábricas e nacionalização dos bancos. Dizia-se que Portugal sairia da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), liderada pelos EUA, e se juntaria ao Pacto de Varsóvia, dominado pela URSS.

Morando e trabalhando lá, fui ao Pabe, botequim dos correspondentes estrangeiros, encontrar um bem informado repórter americano. “Os russos não têm interesse em Portugal”, ele disse. “Imagine um país comunista na Europa, de porta para o Atlântico! Isso só lhes traria problemas com os EUA. O que eles querem é Angola”. Referia-se à ainda colônia portuguesa, às vésperas da independência depois de longa guerra contra a metrópole recém-encerrada pelo governo Vasco. “Assim que Angola ficar formalmente livre, os russos irão em busca de seu petróleo e deixarão Portugal falando sozinho”, completou.

No dia 11 de novembro, Portugal e os grupos de guerrilha assinaram a independência de Angola, e o MPLA (Movimento pela Libertação de Angola, pró-URSS) tomou o poder. Duas semanas depois, no dia 25, um golpe liquidou a Revolução dos Cravos. O repórter sabia o que dizia. Claro, seu informante era a CIA.

Se os americanos sabem até o que vai acontecer, imagine como não são seus arquivos. De Jair Bolsonaro, por exemplo, eles têm cada trumpismo, por mais ínfimo. De Ernesto Araújo, ministro do Exterior, e Ricardo Salles, do Meio Ambiente, cada ato público ou secreto, legal ou ilegal —e tudo em assuntos de seu interesse.

Em Washington, a carta de Bolsonaro ao presidente Joe Biden foi lida às gargalhadas.

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#ForaErnestoAraújo!

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Tão cedo não teremos vacina para todos

Enquanto isso, o ministro da Saúde, o general pesadelo, mente

Não teremos vacina para todos. Pelo menos não tão cedo. A incompetência e o descaso de Jair Bolsonaro e dos patetas dos seus assessores colocaram uma nação inteira na vergonhosa, sem dizer calamitosa, posição de levar um tombo na corrida da imunização.

Depois de um dia de esperança com o início da vacinação, a realidade. E a realidade é que estamos nas mãos dos chineses, que riem por último do festival de grosserias dos nossos representantes.
O estoque da Coronavac deve durar até o final de janeiro. A AstraZeneca só deve começar a chegar em março. Bolsonaro desdenhou, cancelou compras, pôs em dúvida a eficácia dos imunizantes, seu governo se opôs —e depois voltou atrás— à quebra de patentes proposta pela Índia. E agora não conseguimos matéria-prima para abastecer a Fiocruz e o Instituto Butantan.

Num evento em comemoração ao dia de São Sebastião, na Arquidiocese do Rio, a cientista Margareth Dalcomo, um dos principais nomes no combate à Covid-19, verbalizou a angústia de milhões de pessoas ao falar sobre a derrota do governo na compra dos imunizantes. “O que é que pode justificar que o Brasil não tenha as vacinas disponíveis para a sua população (…) A não ser a absoluta incompetência diplomática do Brasil…”

Enquanto isso, o ministro da Saúde, o general Pesadelo, mente que sua pasta nunca ofereceu tratamento precoce para a doença. Felizmente a notícia e o print são eternos. Para completar a lambança, um aplicativo do ministério indica cloroquina e antibiótico até para casos não comprovados de infecção pelo coronavírus. Tem náusea e diarreia? A solução, segundo o governo, é o “kit-Covid”.

Se depender do governo, no dia de sabe-deus-quando. Quem diria, mas a vacina, mais precisamente a falta dela, ainda vai derrubar Bolsonaro.

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O Brasil dos 3 patetas não tem maneira de dar certo

No período em que convivi com o banqueiro Walther Moreira Salles, o Brasil estava em moratória e havia a necessidade de uma negociação penosa com os credores e governos nacionais. Em um de nossos almoços, um dos filhos indagou como ele faria pra renegociar a dívida, ele que foi o grande negociador da dívida externa brasileira nos anos 50.

Ele foi objetivo. Chegaria nos Estados Unidos e marcaria um encontro com um irmão do presidente George Bush em um clube de tênis em Nova York. Depois, encontro com outro americano ilustre em um clube social de Washington. Indaguei dele sobre as tecnicalidades da negociação. Moreira Salles foi sucinto:

– Podem existir computadores, planilhas, tecnicalidades. Mas, na diplomacia nada substitui as relações pessoais.

Nos últimos tempos, o chanceler Ernesto Araújo, o idiota, se vangloriava do país ter se tornado um pária internacional. Confrontado com a realidade, assumiu-se como pária: “Sim, o Brasil hoje fala de liberdade através do mundo. Se isso faz de nós um pária internacional, então que sejamos esse pária”.

Hoje a vacinação depende de produtos ativos importados da China e do Índia. E não há uma interlocução sequer entre Itamarati e a diplomacia desses países.

Luís Nassif

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